sábado, 1 de dezembro de 2012

FILME: «The Rum Diary» de Bruce Robinson


A personalidade de Hunter S. Thompson merece alguma atenção tendo em conta que, apesar de sempre vinculado a excessos de álcool e de drogas, a adesão a motivações políticas de extrema-esquerda numa América donde os sonhos já há muito tinham desaparecido, constitui uma raridade assinalável.
Essa orientação ideológica vincara-se-lhe sobretudo a partir de 1968 quando fazia a reportagem sobre a Convenção Democrata e assistira à violenta carga policial sobre os manifestantes antiguerra do Vietname.
Quer nos livros, quer nos trabalhos jornalísticos a que se dedicou, a influência da beat generation foi determinante, porque não entendeu a escrita de outra forma que não fosse a do testemunho da realidade na primeira pessoa e de forma bastante crítica para com as perspetivas mais convencionais do seu tempo.
Era o jornalismo gonzo em que não existe distinção entre a realidade e a subjetividade do autor, que nela mergulha por inteiro revelando-a e revelando-se.
Um exemplo disso mesmo ocorrera num dos seus trabalhos mais conhecidos, em 1965, que o levara a partilhar o quotidiano dos Hell’s Angels da Califórnia durante um ano até ser por eles violentamente agredido ao compreenderem não existir em Thompson outra intenção, que não fosse fazer dinheiro com o relato sobre as experiências vividas com o bando de motociclistas.
É esse comprometimento num determinado num ambiente, que está retratado em «O Diário a Rum», o filme-homenagem que Johnny Depp produziu e interpretou para eternizar a memória de um dos seus mais queridos amigos. A tal ponto, que terá sido ele a encarregar-se do funeral do escritor, quando ele se suicidou em 2005 em Aspen.
O filme é baseado no romance de Thompson, publicado em 1998, onde retrata a experiência como jornalista numa publicação porto-riquenha, em que o alcoolismo está sempre a condicioná-lo e os amigos são tão peculiares quanto o podem ser um fanático da luta entre galos ou um entusiástico ouvinte de um disco com os discursos de Hitler.
Mas, apesar do exotismo das paisagens e das trapalhadas em que o protagonista e os amigos se metem, o filme de Robinson é pouco interessante, não indo além do padrão das biografias cinematográficas. O que equivale a dizer da importância atribuída à vertente romântica, com a ligação do jornalista à imprudente namorada de um mafioso local.
Quer isto dizer que «The Rum Diary» pouco adianta à divulgação da personalidade de Thompson e torna-se projeto facilmente descartável da memória como se nunca tivesse existido.

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