Joellen, Danielle ou Fletcher não se conhecem entre si, mas têm em comum o olhar, as sobrancelhas altas ou o mesmo gesto de passarem a mão pelos cabelos atrás da orelha. Desde que souberam, mais cedo ou mais tarde, que tinham nascido a partir de inseminação artificial, cada um deles não deixou de imaginar o aspeto desse pai invisível, designado pelo nº 150 do certificado de tal operação. Alguns acabam por encontrá-lo na sequência de um artigo sobre essa busca.
O homem que todos procuram chama-se Jeffrey Harrison e é um hippie, que vive na Califórnia. Quando dera o seu esperma, motivava-o o dinheiro assim recebido para o ajudar a pagar as contas. E é claro que a sua vida irá ser perturbada pela irrupção dessa inesperada e numerosa progenitura.
De que pai se é filho, quando se nasce de uma inseminação artificial a partir de uma ejaculação anónima recolhida numa proveta? O anonimato desse homem a quem uns quantos devem o nascimento e uma parte do seu património genético poderá calar a necessidade de inscrever a sua existência numa filiação precisa?
Se a mãe sempre dissera a Joellen, que não tinha pai, mas sim um dador, ela nunca desistira de encontrar esse progenitor de quem herdara as suas sobrancelhas elevadas. Um indivíduo escolhido pela mãe entre dezenas de outros candidatos baseada num perfil digno de um garanhão: 28 anos, raça branca, 1,80 metros, 77 Kgs, cabelo castanho, olhos azuis, boa audição, boa debtadura, excelente estado físico.
Ao encontrar alguns dos meio-irmãos e meio-irmãs provenientes do mesmo macho reprodutor - que vendia o esperma duas a três vezes por semana por 25 a 50 dólares por ejaculação - ela parte ao encontro desse vagabundo místico, que vive na roulotte com os seus cães e pássaros numa praia californiana.
Dirigido com a ligeireza de uma comédia romântica, «Dador Anónimo» segue a busca de Joellen e semeando conclusões de uma banalidade enternecedora. Por entre tais sequências faz-se uma incursão ao banco de esperma Cryobank, que reivindica sessenta mil nascimentos a partir dos seus «masturbatoriuns» com paredes revestidas de revistas pornográficas.
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