sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

And the winner is...


Perante a sondagem publicada no «Expresso» só posso reafirmar o otimismo perante o que politicamente teremos como cenário a partir da noite de 30 de janeiro. Encurtou-se a distância entre o PS e o PSD, agora reduzida à vantagem de sete pontos? Não há que estranhar esse facto tendo em conta o habitual efeito de momentânea alavancagem sempre associado aos congressos partidários. Ora Rui Rio ganhou as primárias do PSD  e teve horas e horas de tempo de antena nas televisões onde houve quem o promovesse a santo redentor das combalidas direitas lusitanas. Ademais, olha-se para ver quem pior se situou desde a última análise e vê-se que é o Chega quem anda a pagar as favas para caucionar essa subida.

Convenhamos que havendo quem vá minguando as ambições de Ventura, mesmo preferindo-lhe quem anda a replicar o mesmo tipo de discurso antissistema - mesmo sempre a ele tendo pertencido! - nenhum mal virá por isso ao mundo.

Por esta altura a corte de Rio inquietar-se-á porventura com a percentagem significativa de eleitores a verem benefícios na maioria absoluta. E estando o PS dela tão próximo não será difícil conjeturar que quem se diga pronto a votar no PSD, mude de orientação de voto mais para a esquerda em prol da ansiada estabilidade.

É claro que o PCP e, sobretudo, o Bloco irão maldizer essa hipótese por se saberem condenados à irrelevância nos anos próximos, esfumando-se o tipo de influência que vinham tendo nas políticas governativas até ao chumbo do Orçamento. Porque, mesmo convocados para a aritmética de apoio a um governo próximo desse feito, terão  colhido renovada comprovação de como os portugueses não gostam de os ver levantarem-se com as bancadas das direitas, quando se trata de derrubar um governo do PS. Sobretudo os que tanto podem votar nos socialistas como nos bloquistas consoante estes lhes parecerem, ou não, capazes de se livrarem da condição de partido de protesto para se assumirem como potenciais parceiros de governo. A mais recente votação para o Orçamento terá desmotivado quem não se compadece com doenças infantis de teor esquerdista e prefere o pássaro na mão aos dois a voar.

Quanto aos restantes partidos das direitas que haverá a dizer? Alguns deles arriscam nem sequer terem quem por eles se sente em São Bento. Hipótese que também inclui os do lado contrário com os Verdes e o Livre a ficarem pelo caminho. Porque ao PCP os deputados, que lhe restam já serão poucos para as suas declinantes ambições e a Rui Tavares ficará a constatação de não lhe surgir nesga possível no meio de uma prometida polarização entre a esquerda e a direita tal qual os jornais e as televisões quererão vender. Mesmo que, resultado final dos onze contra onze, volte a ganhar a Alemanha, perdão, o Partido Socialista... 

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

As tretas dos que mitificam o passado

 

Aprecio o estilo desempoeirado de Matos Fernandes, o ministro do Ambiente, que não se escusa a chamar os bois pelos nomes, quando se trata de lhes desmontar os pífios argumentos com que pretendem pôr em causa as políticas do governo por si tuteladas.  Hoje cuidou de trata-los por “cavalheiros” que, dias atrás, tinham lançado um texto no «Público» a elogiarem o que era feito dantes, quando se envolviam as autarquias e as populações locais na cogestão das áreas protegidas. E apodou de “tretas” essa nostalgia do passado, porque não só não tinha evitado a desertificação crescente dessas zonas do país, que perderam 20% da sua população, como tinha-se traduzido na redução significativa dos investimentos públicos que, nos governos liderados pelo PSD, as tinham deixado praticamente à míngua. Ademais, esses “cavalheiros” demonstravam um total desconhecimento do que pretendem os autarcas, que são agentes políticos conscientes de quanto a valorização dos seus territórios poderão infletir a sua perda de competitividade.

Brilhante, pois, todo um texto , que conclui com um último comentário para com tais críticos: “o passado que defendem foi um passado de disparate de que muito poucos têm saudades.” 

Os pais culpados? Talvez não de todo, mas já os «jornalistas»...

 

Tiago Luz Pedro, responsável pelo editorial de hoje no «Público», veio carpir sobre leite derramado, por já não ser possível “salvar as escolas” devido ao prolongamento do período em que permanecerão fechadas devido à baixa percentagem das crianças vacinadas, pedindo ao mesmo tempo que não se culpem os pais por terem-se escusado a levar os filhos à inoculação da preventiva proteção. Em alternativa quer atirar as culpas para cima do governo pela “comunicação desastrada” como se não nos lembrássemos de muitas reportagens televisivas com repórteres à porta das escolas ávidos pelo testemunho de mães e pais atónitos com a pergunta sobre se iriam ou não autorizar a vacinação dos filhos como se, implicitamente, os sujeitassem a indefinidos perigos.

Ao contrário do que diz o jornalista do «Público» não foram as autoridades quem falharam ao informarem serem seguras as vacinas, mas os jornalistas que procuraram criar um título de abertura de telejornal ou de primeira página do jornal com o que não deveria ser por eles usado enquanto tal. E a que, naturalmente, os partidos das direitas, mais ou menos negacionistas, se agarraram como lobos esfaimados desejosos de servirem-se das inocentes criancinhas para indecentes libelos contra o governo.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A sabotagem da Democracia por dentro

 

Aprender no passado as lições a colher para não repetir os idos erros no futuro é regra muito glosada, mas esquecida quando mais se justifica. E se dou mais crédito às metodologias dos historiadores dos Annales, em detrimento de uma disciplina feita de protagonistas, como se eles fossem exclusivos responsáveis pelas direções tomadas pelas civilizações nos seus pontos de viragem, vale a pena determo-nos nalguns deles para encontrarmos explicação para algumas dessas significativas transformações.

Kurt von Schleicher e Franz von Papen são dois desses exemplos: ambos ambicionaram utilizar Hitler como sua marioneta, capaz de os levar ao poder e afastar de vez a esquerda emergente, capaz de bolchevizar a Alemanha e derrubar o poder económico da sua classe social. Ambos com poder para influenciar o velho marechal Hindenburg que, como presidente, tinha o poder de empossar e demitir chanceleres, ora trabalharem a par, ora em oposição um ao outro. E sem se darem conta de como o feitiço virava-se contra o feiticeiro: julgando manipular o cabo de guerra austríaco, foram por eles manipulados e depois afastados. No caso de Schleicher até assassinado.

Embora Ventura não tenha o carisma de Hitler - embora lhe replique o narcisismo! - há nele a mesma vontade de sabotar por dentro a democracia  utilizando em seu favor os políticos dos partidos das direitas. É o caso de Rui Rio, que já deu sinal de dele se aproximar nos Açores e cujo discurso final no Congresso do PSD plasmou alguns aspetos relevantes do do seu suposto rival.

No momento atual seria bom que os políticos das direitas olhassem para a História da Alemanha entre 1930 e 1933 e dela retirassem as convenientes lições para não serem uma espécie de arroseurs arrosés.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

E eis Susana a mostrar-se merecedora do seu redil

 

As presidenciais já decorreram há quase um ano, mas algumas dúvidas por essa altura relacionadas com uma candidatura que não apoiei - e por isso me continuo a congratular! -, a de Ana Gomes, vão-se esclarecendo por si mesmas. Por exemplo sobre o que faria no rol das apoiantes à «socialista», que só diz mal do seu partido, a professora de economia da Nova SBE Susana Peralta. É que os seus textos regulares no «Público» apontam invariavelmente para uma empenhada visão de um tipo de capitalismo que, não sendo neoliberal, também dificilmente se enquadra no que vai sendo defendido pelos seus cultores neokeynesianos.

No texto desta semana a referida comentadora vai desconchavar de alto a baixo o plano para a recuperação da TAP gizado pela equipa de Pedro Nuno Santos (ainda sobra a questão de saber para que foi ele apoiar a truculenta candidata presidencial), servindo-se de argumentos de um dos fundadores da Iniciativa Liberal: Carlos Guimarães Pinto.

Compreende-se que, nos sofisticados corredores da universidade de Carcavelos, ela tenha as lentes distorcidas pelo que peroram os seus patrões, mormente os que financiam aquele campus. Afinal não podemos esquecer a altura em que Susana Peralta quis sair do redil e quase viu em perigo os seus estipêndios e demais mordomias da sua condição. Parece que os resultados estão à vista: ao juntar-se à campanha contra a política daquele a quem, por momentos, se terá juntado aquando do apoio a Ana Gomes, ela demonstra a quem a lê, e a quem lhe paga, que as tentações socialistas se quedaram por ali. 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Deixemo-lo então funcionar, né?

 

1. Os números validam o que é conhecido da enormíssima maioria dos portugueses, mas mantém-se a teimosia idiota de uma minguada franja de negacionistas: as vacinas protegem havendo fortes probabilidades de chegar ao hospital, e até ficar entubado nos cuidados intensivos, a quem delas se tiver escusado.

Quantos dos que aprendem a verdade à custa de ficarem doentes manifestam depois o arrependimento por terem preferido os dislates das fake news  das redes sociais? Embora a raridade com que assumem publicamente o engano denuncie a vergonha de assim se exporem, muito haveria a ganhar com esses sinceros testemunhos como forma de mais rapidamente convencerem os descrentes igualmente eivados da sua fútil caturrice. Mas quando se ouve uma responsável da Iniciativa Liberal a queixar-se da falta de «evidências científicas» para secundar as medidas restritivas decididas pelo governo para estes dias, compreende-se que até nos mais modernaços dos prosélitos das direitas tudo serve para negar o que a lucidez elucida no nosso dia-a-dia.  E que, por aqueles lados, a Ciência pouco parece ter a ver com números.

2. João Leão apareceu a ufanar-se dos mais recentes indicadores da economia, agora divulgados pelo INE, e a SIC logo deu tempo de antena a um sujeito de uma qualquer Confederação de PME’s, que diz do ministro pior que Maomé nem sequer se atreveria a proferir em relação ao chouriço.

Convenhamos que quem quer ter um negócio arrisca-se a ter prejuízos em função das circunstâncias, umas devidas à sua deficiente leitura das necessidades do mercado, outras vezes por ocorrerem outras razões para a falência tornar-se um facto. Mas essa é consequência de se viver no capitalismo, sendo crível que quase todos quantos se sintam representados por aquele Pisco até se persignem de horror perante a palavra socialismo.

Para quem aspira ver o capitalismo definitivamente morto e enterrado, como é o meu caso, fica o aparente paradoxo de tal gente só vir queixar-se dos poucos apoios do Estado, quando as coisas lhes correm mal, nem sequer querendo que ele se intrometa no seu “laissez faire, laissez passer”, quando os lucros se lhes amontoam.

Se é para vivermos numa sociedade capitalista ao gosto dos liberais com menos ou mais iniciativa, então que não venham pedir dinheiro a todos nós - os contribuintes para o Estado - quando as coisas lhes correm mal. Se é para vivermos numa sociedade de mercado, deixemo-lo então funcionar, não é?

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

E lá se foi um argumento maledicente para a campanha eleitoral das direitas

 

Convenhamos que não faltam relatos de náufragos afogados com a praia à vista ou de quem morreu de sede no meio do deserto com a miragem de opulento oásis a dar-lhe a ilusão da iminente salvação.

Rui Rio prepara-se para viver experiência semelhante, porque se tem passado de vitória em vitória, quase por certo conhecerá a derrota final, aquela em que todos quantos no Congresso do PSD esconderam as armas debaixo das farpelas, delas as voltarão as trazer à vista tão-só tenham o ensejo de vingarem as humilhações recentes.

Uma das esperanças do confirmado líder do PSD residia na possibilidade de Bruxelas chumbar o plano para a viabilização da TAP. Que não se verificou! A estratégia de Pedro Nuno Santos sobrepôs-se a todas as sabotagens, boicotes e outras operações de lobbing, e até poderá considerar-se um favor o que a Comissão Europeia estipula em relação ao negócio da manutenção no Brasil, que se revelou um escoadouro de dinheiro, finalmente cerceado já tarde e a más horas. Nada a dizer, igualmente, em relação às participações na Groundforce ou na Cateringpor, muito embora se possa temer sobre quem tomará conta de tais atividades, dado o histórico acumulado na primeira com as tropelias de um afilhado de Passos Coelho, que tanto prejudicou a economia portuguesa em anos recentes com a forma chico esperta como quis esconder a intenção de só ter por objetivo a transferência de avultadas verbas para paraísos fiscais deixando-a descapitalizada e com a tesouraria a descoberto.

Claro que as direitas quererão vender a ideia de ficarmos com uma TAP no diminutivo em vez da empresa determinante para servir de pivot a várias outras dela dependentes. Mas são os números a desmentir os argumentos dos maledicentes: os 96 aviões com que fica são ainda três acima dos que possuía em 2018, altura em que ninguém se atrevia a classifica-la diminuta.

Pode-se lamentar que o figurão irlandês da Ryanair possa aproveitar os 18 horários, que a TAP é forçada a facultar, mas está aí um trabalho sério a fazer: o de demonstrar que os preços baixos dos bilhetes não justificam a valorização de quem tão frequentemente tem insultado os portugueses com recurso a argumentos demagógicos elucidativos sobre o tipo de ideias fascizantes, que imperam naquela cabeça. Que haja quem continue a esquecer os princípios e aceite fazer-se transportar por esse concorrente da TAP só mostra faltar a muitos dos nossos compatriotas uma espinha direita, porque facilmente se acomodam a grotesca e gelatinosa curvatura.

Que poderá alegar Rui Rio para presumir-se com competências para governar Portugal? Não tendo uma visão de desenvolvimento sustentado para o país, sendo capaz de defender tudo e o seu contrário, esperemos que  tenha a votação merecida em 30 de janeiro.  Regressando lestamente ao anonimato donde sempre saiu sem que nada de assinalável tenha constituído legado da sua passagem pela boca de cena.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

A caução «jornalística» de um passismo por recauchutar

 

Ao vermos os telejornais são comuns as reportagens, que pretendem mostrar a gestão de Carlos Moedas em Lisboa como uma sucessão de notícias positivas. O centro de vacinação do Parque das Nações, os testes gratuitos ao covid ou os descontos do IRS nos rendimentos dos munícipes - tudo parece ajustado para que se dê do trabalho do novo presidente um salto qualitativo em relação ao que Fernando Medina vinha desenvolvendo nos anos recentes. Mas a realidade manda reconhecer que, do seu programa eleitoral, Moedas ainda não lançou um só dos objetivos prometidos estando-lhe perspetivado incontornável calvário a curto e médio prazo dada a maioria negativa que, contra ele, sucessivamente votará na assembleia municipal.

Enquanto o pau vai e volta, pode usufruir a luz dos projetores que o consideram o novo herói laranja, mesmo que tenha agido claramente contra Rio na fase anterior à das primárias do seu partido e apostasse na bem sucedida campanha de manter Passos Coelho vivo na memória dos seus como se de Sebastião se tratasse à espera de dia de nevoeiro. Pode-se reconhecer que, tendo o passismo caído por manifesta obsolescência, Moedas não se priva de manter esse epifenómeno de má memória dentro de si.

Tem até o benefício de ser promovido pelo «Público» como uma das doze figuras do ano numa demonstração de como um certo jornalismo olha para a vistosa árvore e é incapaz de entender o que a tornou relevante numa conjuntura muito particular, que se limitou a replicar as circunstâncias em tempos vividas por João Soares quando viu o excelente trabalho autárquico cerceado pela tralha santanista, que só deixou para a posteridade um túnel, que muitos entenderam desnecessário, sobretudo para uma perspetiva urbana mais tarde ou mais cedo limitativa da livre circulação automóvel pela cidade.

Não será de espantar que o jornal dirigido por Manuel de Carvalho mantenha a estratégia de torpedear o que cheire a socialismo e aposte todas as fichas num certo 30 de janeiro onde aspira a ver promovido ao patamar dois graus acima da sua competência um Rui Rio, que até dos companheiros merece reservas quanto à possibilidade de vir a ser eficaz distribuidor das mordomias oferecidas pelo improvável acesso ao pote. O editorial do diretor do «Público» procura manter em chama viva o desafio de Montenegro no Congresso como se um partido capaz de aliar-se ao Chega para tomar o poder nos Açores mereça qualquer crédito quanto ao que fará ou não num cenário pós-eleitoral. Mas Carvalho teima em considerar pertinente o que é episódica bravata de um dos tais passistas, incapazes de se libertaram de quem os inspira. 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Uma questão de carapuças

 

1. Não é preciso ser letrado para saber que chapéus há muitos, mas cada um é livre de enfiar a carapuça, que melhor lhe aprouver por muito quadrada, que seja a sua cabeça. O problema reside no que acabam por denunciar as suas escolhas.

Semanas atrás houve quem quisesse enfiar a de Salazar com a habitual pose de pimpão, que ainda acabará por o fazer estampar-se, quando a sua insignificância arrivista ficar evidente perante os seus muito iludidos seguidores. Este fim-de-semana constatámos que sobra quem se sinta confortável com a inspiração de um Trump em desconcertante escolha de marketing político, tendo em conta o parco apreço aqui dedicado ao dono de tão alaranjada trunfa.

Num e noutro caso as piscadelas de olho aos prosélitos falam por si e revelam o que vai na alma de gente sem quaisquer ideias para o país, mas julgando ter futuro na espúria maledicência contra quem as tem. Porque bem podem os meios de comunicação repetir a receita goebbelsiana  de mentir muito - de sempre mentir! -, que as teses sobre o suposto desgaste da ainda atual solução governativa peca por falta de demonstração. Que haverá a dizer sobre a capacidade de continuar a superar-se a terrível crise sanitária e económica suscitada pelo coronavírus sem que uma e outra redundem numa descontrolada crise social? Muitas vezes tem sido glosada a questão, mas ela continua a fazer inteiro sentido: será possível não sentir um sobressalto perante a hipótese de toda esta situação ter sido enfrentada por um Passos Coelho, um Rui Rio, um Paulo Rangel ou um qualquer outro cabeça-de-cartaz de uma oposição de direita incapaz de um projeto para um melhor futuro, mas bastando-se à daninha intenção de o tornar ainda mais sombrio do que as alterações climáticas o esboçam?

2. Não deixa de ser eloquente o silêncio dos nossos telejornais quanto à vitória de Gabriel Boric no Chile. Enfatizam-se as novas restrições europeias ou o rasto de destruição causado por um tufão nas Filipinas, mas não há qualquer referência à prodigiosa vitória da esquerda chilena comemorada em exaltantes festas em todas as cidades do lado ocidental da cordilheira andina. E, no entanto, tivesse sido o discípulo de Pinochet a ganhar e não faltaria a sua chamada aos destaques noticiosos de acordo com o que, lamentavelmente, são as escolhas editoriais de quem os dirige.

Derrotando o passado e prometendo políticas que revertam as que privatizaram a saúde e tornaram inacessível a educação aos mais pobres, Boric tem diante de si as alamedas largas referidas por Salvador Allende no seu inesquecível discurso de despedida.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Um primeiro milho atirado aos pardais do passado

 

1. A História repete-se, quer em França, quer em Portugal: a imprensa de direita - ou seja quase toda! - embandeira em arco com os seus líderes acabados de serem eleitos em primárias. Valérie Pécresse no hexágono, Rui Rio nesta cantinho ocidental, são promovidos como protagonistas de uma dinâmica, que lhes poderia assegurar as vitórias respetivas em 2022. Como se a História não seja fértil em exemplos deste tipo de crescimentos proporcionados por momentos particularmente mediáticos, que depois se esfumam. Qualquer politólogo de vão de escada o confirma sem rebuços: se a estranheza inicial tende a iludir uns quantos entediados com os sabores do costume, depressa tendem a vomitar a novidade quando suspeitam de como ela se lhes entranhará.

De qualquer forma, pegando-se na sondagem da Aximage poder-se-ia participar nesse tipo de elucubrações para questionar com quem Rio conseguiria fazer governo se o Chega e o Iniciativa Liberal andam a minguar e o CDS foi chão que já deu uvas. Isso se infletisse a desvantagem que tem para com António Costa o que nem nas piores conjeturas passa pela cabeça de qualquer socialista, desta vez menos dispostos a ficarem em casa ou a retomarem a votação no seu partido, tão-só constatado o resultado das excessivas facilidades com que imaginaram Medina reeleito em Lisboa.

Seis anos depois o slogan continua a valer como incontornável: Eu Confio em António Costa!

2. Porque não estranhamos o que se passou em Odemira com as agressões inadmissíveis a que alguns emigrantes se sujeitaram quando um bando de sádicos dentro da GNR os quis tomar como focos de diversão? Tendo em conta que Eduardo Cabrita deixou por concluir a depuração das polícias que se encobertaram sob a pantalha do Movimento Zero e que, mais facilmente, se desmascaram enquanto negacionistas das vacinas, que não se aprestaram a tomar, fica para o próximo governo a tarefa de prosseguir a limpeza. Esta deveria passar pela substituição das chefias complacentes com os desmandos dos seus comandados e por uma revisão dos processos de seleção que permitem a entrada desse tipo de gente nas corporações policiais. Afinal de contas não é preciso grande ciência para um qualquer psicólogo identificar diante de si um racista com défices de autoestima e por isso mesmo propenso a vingar-se nos fracos das inseguranças, que em si não consiga resolver.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Mau julgador por si se julga

 

1. Tivesse usufruído da conveniente disponibilidade e já aqui teria vindo a comentar aquilo que é um dos mais reveladores episódios da vida política portuguesa por estes dias: as reações destemperadas de Rui Rio a respeito da captura de João Rendeiro na África do Sul. É certo que outros já opinaram sobre essas declarações, com a devida contenção inerente aos seus cargos, mas o que melhor transmitiu aquilo que eu próprio pensei foi António Filipe, um deputado do PCP por quem tenho particular respeito e consideração.

O que disse ele e aqui me apresso a subscrever? Que Rui Rio muito revela sobre si mesmo ao desrespeitar uma instituição, a Polícia Judiciária, sobre a qual não se conhecem motivos para duvidar da forma íntegra como cumpre a sua missão. É que não só dá mostras de agastamento pelo transe atualmente vivido pelo banqueiro trafulha na África do Sul, como até sugere que, fosse ele primeiro-ministro, cuidaria de decidir onde, quando e como os criminosos em fuga seriam (ou não!) apanhados. Daí o processo de intenções, que associou a António Costa como se este tivesse da governação os mesmos tiques ditatoriais. Porque sabe bem o que faria, acaso estivesse nas suas funções, julga-o capaz de demonstrar a mesma perniciosa conduta. É mesmo caso para reconhecer que o mau julgador por si mesmo se julga.

2. Aparentemente até poderá parecer que replico o modo de pensar de Rui Rio, quando olho para a prisão domiciliária a que foi sujeito Manuel Pinho e a atribuo a propósitos conspirativos. Parece de facto, mas não é! Porque, haja eleições à vista e, tal qual constataria António Vitorino, é festança a que nunca se exime a Dona Constança. Que neste caso assume a forma do juiz Carlos Alexandre e dos seus titereiros no Ministério Público.

É verdade que poucos eleitores associarão o atual Partido Socialista aquele que costumam caricaturar negativamente, mas tanta coisa bem feita produziu no tempo de José Sócrates. Mas como há gente crédula, que se deixou ir na cantilena de alguns jornais e televisões sobre a sua suposta agremiação de malfeitores, quer o juiz de Mação, quer os seus habituais parceiros, tudo fazem para segurarem esses poucos votos desfavoráveis ao PS, impedindo-os de por mérito de António Costa, para ele se aprestam a transferir.

Daí que nenhuma similitude exista entre os casos de João Rendeiro ou de Manuel Pinho, muito embora a presunção de inocência de ambos seja condicionada pela pressentida culpabilidade. Só que, no primeiro caso, o calendário terá funcionado casualmente, enquanto no segundo os suspeitos do costume forçaram-no de uma forma, que Sá Fernandes tem motivos para crer quanto à sua ilegitimidade moral.

Há muito que os que têm da Justiça uma versão zarolha denunciaram o seu ambíguo decoro... 

sábado, 11 de dezembro de 2021

De vitória em vitória até à derrota final?

 

Se algo está a acontecer dentro do PSD, que me interessa acompanhar é o quanto nele se criam, ou não, as condições para se bater de igual para igual com o PS nas eleições de 30 de janeiro. Para muitos comentadores da área das direitas, mesmo para quantos tinham apostado todas as fichas em Rangel, Rui Rio saiu revigorado da pugna das diretas e pode prosseguir na senda de vencedor, que lhe apontam como característica, quando os resultados lhe parecem mais desfavoráveis. Esquecem-se, porém, daquela conhecida tese de serem frequentes os casos de quem vá de vitória em vitória ... até à derrota final!

O sucesso do PS parece, porém, facilitado perante a marginalização dos derrotados das listas de deputados e a reação destes, não só no congresso do próximo fim-de-semana, onde se prevê terem a maioria dos delegados, mas também durante o período de campanha eleitoral em que, muitos deles, não se sentirão particularmente estimulados a investirem os seus esforços e os de quantos controlam, para confirmarem o êxito de quem se dispõe a maltratá-los, vedando-lhes o acesso ao almejado pote. Para estes uma derrota de Rio nas legislativas dá o ensejo à outra regra: a de tudo como dantes, quartel general em Abrantes!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Não havia nexexidade!

 

Olho para as listas de candidatos a deputados do Partido Socialista e quase nada tenho a dizer. Há algumas saídas, que se compreendem, e a manutenção daquele que mais admiro - Pedro Nuno Santos - no topo do costume do círculo de Aveiro. Mas ver Sérgio Sousa Pinto em lugar elegível em Lisboa, francamente! Como diria um dos «bonecos» do Herman dos seus tempos áureos, “não havia nexexidade!” É que se os pesos mortos chateiam, pior me agastam os que funcionam como espécie de persistente vírus cuja inexistência deveria ser remetida para o que não se pode contrariar: uma crónica semanal no semanário-mor dos inimigos ideológicos ou os frequentes convites para os seus televisivos sucedâneos.

Eles existem e estão entre nós! Mas felizmente são poucos!


Os negacionistas antivacinas existem e ... estão entre nós. Podiam ser extraterrestres, como na má publicidade de uma série de ficção científica dos anos 60, mas se não vieram d’além-espaço, imitam os vilões dessas distantes fitas em simplismo mental e malfeitoria. E, porque quase ninguém neles crê, esforçam-se por agarrarem-se aos detalhes ínfimos, como se tivessem importância maior que o fundamental.

São gente do Iniciativa Liberal, do Chega e também do PSD, que Rio veio atiçar a veia populista, obscurantista, do partido, atirando para a valeta o seu “aparelho” elitista. O CDS também poderia ser aqui convocado, mas convenhamos que é prudente mantermos dele distância, porque o estado moribundo em que vegeta já o faz exalar insuportável fedor.

Esperançados em encontrarem algo a que se pudessem agarrar e pudessem pôr em causa a aprovação das vacinas para as crianças, querem ler de fio a pavio os pareceres técnicos subjacentes à tomada de posição da Direção Geral de Saúde. Como se percebessem o que quer que fosse do que eles contém.

Desejosos de cacofonizarem, por julgarem ser essa a forma de serem levados a sério, esganiçam-se em exigências esdrúxulas. Não há pachorra para tal gente... 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Gente incuravelmente incivilizada

Tenho pelos negacionistas das vacinas uma profunda antipatia, que já vem de muito atrás, quando, em miúdo, me convenceram dos benefícios da injeção no braço para precaver-me de doenças então muito disseminadas. Confiante na ciência, subscrevo-lhe os benefícios por muito que não esqueça as suas facetas perversas, como o são os indecentes lucros das farmacêuticas ou o seu lobbing  em prol da prolongada validade das patentes.

Congratulo-me, pois, com a decisão da Direção Geral da Saúde em relação à proteção das crianças entre os 5 e os 11 anos com um fármaco testado por gente idónea e com conhecimentos científicos inquestionáveis exceto para os perigosos estarolas das teorias da conspiração. É que não serão apenas os 13 mil casos de novas infeções que se evitam, nem os 50 internamentos dos quais 5 nos Cuidados Intensivos. Sabemos bem os efeitos duradouros de uma doença, que deixa graves sequelas muitos dos que a padeceram. Nem tão pouco o facto de terem morrido 5 crianças portuguesas com ela, mesmo havendo quem teime em proclamar que a ela são quase todas incólumes. Que poderão dizer aos pais dessas que já cá não estão?

A vacinação das crianças é mais uma vitória contundente contra gente incivilizada. E, infelizmente, que desse mal não se quer curar!

domingo, 5 de dezembro de 2021

Um voto decisivo no futuro do pais

 

Numa altura em que a variante Ómicron parece confirmar que os mercados andam mais histéricos do que o comum dos cidadãos António Costa foi ao Parque das Nações lembrar o óbvio: as eleições de janeiro serão decisivas para o futuro do país e, ou queremos prosseguir num rumo consonante com os números da OCDE - que dão Portugal como o membro da organização, que mais verá a economia crescer em 2022 -, ou voltaremos à cepa torta, que é a prometida se as direitas conseguirem regressar ao pote ou as outras esquerdas repetirem a estratégia de terra queimada só porque preferem o ótimo ao bom que se lhes oferecia.

Por agora estou mais confiante que em 2015, mas com receios a mais em relação aos sentidos em 2019. Neste último caso queria ver futuro promissor na convergência das esquerdas depois de nem a ter imaginado possível quatro anos antes. Agora sinto-me numa mitigada expetativa quanto ao dia seguinte ao 30 de janeiro. Lamentando que só nas redes sociais possa intervir pois, até ver, as condições presentes (ainda) não nos dão a possibilidade de fazermos o que tanto nos dá gosto nestas alturas: irmos para a rua e, com outros camaradas, apelar ao voto em quem confiamos!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A desonestidade dos que veem árvores sem atender à floresta

 

Não tenho dúvidas quanto seria relativamente fácil seguir a lógica do Bloco de Esquerda em relação à questão do Serviço Nacional de Saúde: aumentavam-se os salários dos médicos e enfermeiros, garantia-se-lhes a carreira por que aspiram e muitos deles virariam costas às clínicas e hospitais privados para dedicarem-se exclusivamente à saúde pública. E até nem faltaria dinheiro para tal, porque bastaria investir nessa nova política o que se gasta com horas extraordinárias e com tarefeiros.

O problema do Bloco é não ter honestidade suficiente para reconhecer que o problema não está só nalgumas árvores, mas em toda a floresta. Aumentem-se os rendimentos e regalias de algumas das profissões vinculadas ao setor público e logo todas as outras pretenderiam condições semelhantes, desde magistrados e juízes a professores, polícias e pessoal administrativo, sem esquecer os técnicos e os políticos (por sinal dos mais mal pagos de todos!). E dinheiro para tanto há? Não existe aquela ladainha demagógica e mentirosa de vivermos num país com Estado a mais e dinheiro a menos para os privados?

Aceda-se a derrubar uma carta e é todo o equilíbrio precário nas remunerações dos que trabalham para o Estado, que cairá como castelo de cartas. E por isso estamos perante desafios para cujas soluções a sensatez tem de se ajustar com a morosa transformação.