sábado, 27 de março de 2021

Sensatez é do que precisamos!

 

Quando António Costa considera que sensatez é o que todos deveremos ter nesta fase da pandemia particularmente agravada por essa Europa fora, mas aqui  controlada, também dá a receita para o que deveriam ser os comportamentos das forças políticas à esquerda ou à direita, numa altura de desejável unidade nacional, mas aproveitada pelas oposições para injustificáveis chicanas políticas. Uma das «reivindicações», que as esquerdas fazem tem a ver com a urgência em se quebrarem as patentes das farmacêuticas e garantir uma produção pública das vacinas.

Dito assim parece anseio mais do que justificável, porque em conformidade com o verdadeiro interesse coletivo. O pior é traduzir os desejos em realidades, porque as vacinas em causa são fabricadas de acordo com processos industriais para os quais concorrem dezenas de matérias-primas ou elaboradas nos cinco continentes, cuja cadeia de comercialização é demasiado complexa para quem os inicia praticamente a partir do zero.

Vale a pena apostar na capacidade nacional de fabrico destas e doutras vacinas ? Sem dúvida e o governo já mostrou disponibilidade para apoiar quem se diz capacitado para tal. Mas, agora, em cima do acontecimento, quando as brasas estão a escaldar por baixo dos nossos pés, basear o discurso crítico antigoverno com tais argumentos só pode demonstrar uma inaceitável desonestidade intelectual. E esta qualificação aplica-se como uma luva a Catarina Martins, que de tal tem dado amplas demonstrações nos meses mais recentes.

Nas direitas há quem se iluda com a proatividade de Rui Rio quanto à escolha dos seus candidatos para as autárquicas. E querem iludir-se com o suposto medo suscitado por Carlos Moedas enquanto putativo opositor de Fernando Medina. Daí invocar-se a convocatória para ser ouvido na comissão parlamentar sobre o Novo Banco como prova evidente desse receio. Ora, como João Paulo Correia demonstra num texto de opinião hoje inserido no «Público» não é mais do que justificável a audição daquele a quem, mês e meio antes do conhecido desenlace do GES e do seu Banco, levava José Manuel Espírito Santo a lançar para a ata do conselho superior do grupo o lapidar: “O Moedas” O Moedas! Eu punha o Moedas a funcionar!”?

Que o pôs assim o confirmaram as reuniões com o governo, que se seguiram e foram confirmadas numa das audições desta semana. Que o seu lobbying para ajudar Ricardo Salgado & Cª se estendeu a Bruxelas, também não sobram dúvidas. Como ainda mais se confirmará que Moedas e todos os seus parceiros do governo de Passos Coelho tinham plena noção do castelo de cartas do Banco prestes a ruir e aceitaram de bom grado a enorme vigarice, que foi a operação de aumento de capital.

Convenhamos que um tal curriculum não se pode aceitar para quem pretenda exercer cargos públicos sob pena de neles voltar a dar primazia aos interesses privados em detrimento do bem comum.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Truculenta deve ser a tia deles!

 

Em pelo menos dois dos jornais hoje lidos e publicados encontrei a expressão «truculento» para designar o ministro Pedro Nuno Santos a propósito da ida a uma comissão parlamentar para testemunhar a respeito dos problemas por que passa a Groundforce.

Na escolha da expressão há o intento de depreciar, de desvalorizar. Algo do género: não o levem muito a sério, porque ele é como é. E por isso o «jornalista», que se responsabilizou pelo «Expresso Curto» pedia que lhe explicassem muito devagarinho onde estava o problema. Aparentemente não sendo loiro, Filipe Garcia comportava-se enquanto tal se nos ativermos aos estereótipos das anedotas sobre a referida cor do cabelo.

E, no entanto, o que Pedro Nuno Santos informou no parlamento foi de liminar clareza: o governo PSD/CDS decidiu entregar a Groundforce a Alfredo Casimiro naquela dinâmica de privatizações, que tanto entusiasmava Passos Coelho, Vítor Gaspar, Paulo Portas, Carlos Moedas ou Maria Luís Albuquerque e arranjou-lhe forma de lhe dar um autêntico negócio da China: primeiro financiaram-no em 7,6 milhões de euros para, depois, e quando o «esplendoroso» governo da troika já via o anunciado fim no horizonte, ele adquiriu a empresa por 3,6 milhões de euros. Razão porque Pedro Nuno Santos deixou sem resposta o desalentado deputado centrista, que se julgava capaz de o pôr em xeque, ao perguntar-lhe: “Quem não gostaria de fazer um negócio destes?”

No Observador a «insuspeita» Helena Garrido constatava que aqui estava um eloquente exemplo de favorecimento a um “capitalista sem capital”, ao mesmo tempo que o não menos «inquestionável» Manuel Carvalho no Público considerava o caso como demonstrativo de no esplendoroso mundo do capitalismo pátrio, o mérito, o esforço, a frugalidade ou a transparência sempre valeram menos do que a esperteza que mantém portas sempre abertas no Terreiro do Paço.“ Só se esqueceu de dizer que isso foi obviamente verdadeiro enquanto o governo apadrinhado pelo «amordaçado» de Boliqueime estava a desnortear o rumo do país.

O que sempre muito aprecio em Pedro Nuno Santos é esse estilo “pão, pão, queijo, queijo”, que tanto parece incomodar alguma gente de sensibilidade muito delicada, quando se trata de ter de dar razão a quem se situa determinadamente à esquerda. Felizmente que vão sendo muitos os portugueses, que me secundam nessa apreciação do ministro. E que se disporão a apoiá-lo, quando as circunstâncias assim o ditarem.

quarta-feira, 24 de março de 2021

E não se justifica que busquemos fontes de informação alternativas?

 

Há aquele ditado português que diz da vantagem de nos juntarmos aos bons, porque melhores seremos, acontecendo o inverso se aos maus nos associarmos. Isso é particularmente verdadeiro se esses bons ou maus foram os meios de que nos servirmos para estarmos informados.

É conhecida a diabolização que certas figuras mediáticas fazem das redes sociais - Clara Ferreira Alves, Miguel Sousa Tavares ou Pacheco Pereira são três exemplos daqueles que se julgavam fadados para manipularem as opiniões alheias com alguma exclusividade e as veem fugir para outros suportes, que não os da sua ideológica preferência. Mas como refere Yves Citton, a quem ontem aqui aludi, as redes sociais possibilitaram a expansão das mentiras veiculadas pelo movimento QAnon, mas por outro lado deram ensejo a que dinâmicas de sentido contrário ganhassem ímpeto como sucedeu com o «Black Lives Matter».

Na escolha para nos informarmos importa sobretudo privilegiarmos o que nos der garantias de racionalidade, objetividade e preocupação em ser verdadeiro. Porque, como dizia, o sempre por mim muito citado Antonio Gramsci, só a verdade é revolucionária.

Ora o que verificamos com a imprensa que nos vem sendo servida? Por exemplo o caso da vacinação indevida de umas quantas pessoas, que causou particular sururu enquanto pareceu apenas verificada quando ligadas ao Partido Socialista mas estranhamente a perder gás desinformativo, quando se avolumaram as atribuíveis a quem se conotava com partidos das direitas? Arma de arremesso oportuna para quem sempre procura fazer do governo saco de boxe, mas que era bem de ver que, em muitos desses casos esteve em causa aquela célebre máxima de “em tempo de guerra não se limpam armas”, vacinando-se quem está mais a jeito  como forma de evitar que se atirassem para o lixo as vacinas momentaneamente excedentárias. E, no entanto, assim se perdeu por exemplo um bom vereador que, em Lisboa, estava a fazer trabalho reconhecidamente competente!

Ou a complacência com que a mesma imprensa trata Rui Rio cujas incoerências se vão atropelando umas às outras, ora achando bem a segmentação das autárquicas em duas semanas, ora considerando-a sinal de desvalorização do PS quanto a essa consulta eleitoral, como ao mesmo tempo aprova um candidato para Gaia que é o maior acionista privado da SAD do F.C. Porto depois de ter dito da associação entre futebol e política aquilo que Maomé não ousara ir tão longe quando se tratara de esconjurar o toucinho.

Perante uma imprensa tradicional, que se revela tão pouco objetiva, e até mesmo mentirosa, como não se tornar inevitável a procura por fontes alternativas para buscar melhor informação? 

terça-feira, 23 de março de 2021

O que deverão ser as estratégias futuras para melhorar a realidade

 

Não compro totalmente a tese do suíço Yves Citton, que anda a ser entrevistado na imprensa francesa a propósito do seu recente ensaio «Faire avec. Conflits, coalitions, contagions. O que ele propõe é a necessidade de se adotarem novas estratégias para combater os conflitos radicalizados e inéditos que se anunciam para os próximos tempos, marcados pela ameaça ambiental e a agudização das desigualdades entre os muitos ricos e a maioria dos que a pandemia ainda fez mais pobres. Embora o sindicalismo tenha perdido muito do seu fulgor - sobretudo quando surgiram centrais sindicais destinadas a perturbarem as lutas dos trabalhadores a soldo dos interesses dos patrões - não deixa de ser comovente a determinação dos milhares de assalariados da Amazon na pequena cidade de Bessemer no Alabama, que enfrentam ameaças e chantagens da poderosa multinacional e pretendem ver-se representados por uma estrutura sua representativa.

Se as nossas televisões mal falam das realidades internacionais para lá das que têm a ver com a pandemia - ou provavelmente a respeito do mais recente massacre com armas no Colorado, porque este é sempre tema auspicioso para quem gere a agenda dos telejornais! - nenhuma referência se fará a este exemplo de luta de classes nos Estados Unidos, mesmo que, por estes dias, o ator Danny Glover e várias estrelas da NFL tenham acorrido ao local para demonstrarem o seu apoio.

E, no entanto, Citton tem razão quando considera que devemos lutar contra as estratificações das lutas porque, por exemplo, quando andamos a querer soluções para o aquecimento global, não podemos esquecer que 90 multinacionais conseguem em conjunto ser responsáveis por 2/3 das emissões de gases com efeitos de estufa na atmosfera. Existe, pois, toda a lógica em associar a luta contra o capitalismo e suas desigualdades com o combate ecológico, muito embora isso seja coisa, por exemplo, completamente impercetível para um dos nossos supostos partidos próambientais, o PAN, que por estes dias anda a mudar de liderança com a promessa de voltar à suposta matriz original que é a de nem ser de esquerda, nem de direita, mas sobretudo afirmando-se antissocialista. Convenhamos que os dirigentes desse partido ganhariam alguma coisa em identificarem-se com o que vai sendo conceptualizado por muitos dos que pensam a sociedade e lhe sugerem as vias para que se torne coisa mais higiénica, ou seja menos desigual, mais justa e sustentável. A menos que o PAN confirme aquilo que sempre lhe adivinhámos como vocação: servir de boa consciência a uma juventude pequeno-burguesa com pretensões modernaças e totalmente à deriva quanto ao que mais interessa à sociedade humana para verdadeiramente evoluir. As novas estratégias políticas sugeridas por Citton não passam decididamente por aí.