quinta-feira, 27 de julho de 2023

Piromanias

 

Palavras e expressões feias me vêm à mente a propósito da mais recente barbaridade cometida por Marcelo relativamente ao governo num fútil exercício de vingança, que toma os professores como seus idiotas úteis.

Não lhe estava a passar despercebida a quebra da dinâmica de luta dessa classe profissional a respeito da mítica recuperação do tempo de serviço devida às muitas alterações aduzidas no seu estatuto e rendimentos pelas medidas entretanto aplicadas pela equipa ministerial de João Costa. Mormente a passagem ao quadro de número substancial dos que, até aqui, tinham vivido com a casa às costas em tantos anos de precariedade. Marcelo tinha de arranjar forma de se ressarcir da derrota pela galambada do primeiro-ministro! E, vai daí, não arranjou melhor arma do que reatear um incêndio já em fase de rescaldo.

Neste verão climaticamente escaldante Marcelo é um pirómano disposto a usar os escassos fósforos que a diluída promessa de dissolução da Assembleia da República lhe deixaram ainda ao alcance...

quarta-feira, 26 de julho de 2023

À margem da visita do Papa

 

Enquanto ateu, sinto natural distanciamento em relação às notícias televisivas dedicadas ao evento religioso, que traz de volta a Portugal um Papa, que me merece mais indiferença, que simpatia. Em alternativa vale a pena olhar para outras fontes informativas e para os sinais por elas proporcionados em relação ao futuro a curto/ médio prazo.

Por exemplo a newsletter do Expresso da lavra de David Dinis, que aborda as eleições espanholas e procura convencer os dirigentes do PSD a dissociarem-se mais afirmativamente do Chega para se livrarem dos amargos de boca sofridos pelo Partido Popular no último fim de semana: “(...) aos olhos dos eleitores, o Chega é tóxico e quem estiver perto acaba contaminado. E acrescento isto: como prova o que aconteceu a Feijóo, não basta dizer que não assim por alto em Lisboa e aceitar o que aconteceu nos Açores. Assim como não serve de nada dizer que é “inusitado” se o PP não conseguir formar governo em Espanha quando se aceitou, bateu palmas até, quando o seu PSD açoriano fez a geringonça de direita para tirar o PS do poder - mesmo sendo apenas o segundo mais votado. A incoerência tem um preço.”

O problema dos comentadores da direita é resolverem a notória quadratura do círculo, que é facilitar o regresso ao pote da sua área política dispensando a bengala da sua ala mais extremista!

Surgem igualmente números que fazem pensar: segundo o mais recente relatório do FMI a China volta a passar os 5% de crescimento no PIB e a economia russa está a recuperar. Ao invés sobra à zona euro um débil crescimento com a Alemanha mergulhada na recessão. 

Se a isso acrescentarmos o artigo do “Financial Times” em que Gideon Rachman assinala um progressivo distanciamento da economia europeia relativamente à norte-americana - se em 2008 os PIBs de ambas equivaliam-se agora o da primeira quase se fica por metade do da segunda! - entende-se melhor quem anda a fazer figura de urso na atual conjuntura de guerra a leste.

E, no entanto, não falta quem continue a pugnar pelas mitómanas “reformas estruturais”. Ricardo Paes Mamede sugere uma contrarresposta a quem delas faz parangonas nos seus discursos políticos: perguntar-lhes em que consistirão essas reformas. E já o seu balbuciar hesitante denunciará as dúvidas sobre se significarão mais desregulação, liberalização dos mercados e privatizações. Porque não sobram exemplos sobre o quão danosas se revelaram, quando levadas, efetivamente, á prática!

Daí haja particular sapiência no economista do ISCTE, quando conclui: “para o desenvolvimento do país, em muitos casos, importa mais ter boas políticas do que grandes reformas.” 

terça-feira, 25 de julho de 2023

Geringoncemos pois, que essa é a grande alternativa!

 

Tenho de dar razão a Mariana Mortágua, quando enfatiza o desaparecimento parlamentar dos liberais espanhóis como tão relevante quanto a quebra indisfarçável da extrema-direita. De facto a Democracia precisa de libertar-se de todos os lastros, que a entravam e radicam em conceitos, que já deveriam estar bem mortos e enterrados no caixote do lixo da História, sejam eles os populismos xenófobos, sejam as empoeiradas aldrabices dos neoliberais.

Mas as eleições de anteontem nas várias nações vizinhas deveriam impelir as esquerdas lusas a recolher as devidas lições: é unindo forças, que conseguem somar-se numa imparável dinâmica de imposição de melhores e mais igualitárias políticas. E a beligerância entre si só aproveita a quem quer reverter as conquistas entretanto alcançadas.

As direções do Bloco e do PCP deveriam lembrar-se quanto minguam, quando entram numa guerra fratricida contra os socialistas. Mas estes também não devem mascarar políticas de direita com um argumentário tão vazio, quanto mistificatório.

No fundo nem mesmo Mário Soares ignorou os malefícios de, numa fase específica do pós-Revolução, ter metido o Socialismo na gaveta...

domingo, 23 de julho de 2023

Mudanças previsíveis a curto/ médio prazo

 

As inquietantes temperaturas altíssimas na bacia mediterrânica europeia fazem-se acompanhar de fenómenos climáticos extremos como o do tornado em Itália, acompanhado de grandes bolas de granizo. E a Acrópole viu fechado o seu acesso nas horas de calor mais intenso privando multidões de turistas de justificarem a sua aposta na sufocante Grécia estival. Ao mesmo tempo as eleições espanholas serão condicionadas pelos efeitos devastadores do clima na agricultura, mormente no comprometimento das culturas do sul andaluz, dada a impossibilidade das flores, das folhas e dos frutos não resistirem a temperaturas de 43ºC.

As mudanças económicas aceleram-se no sul da Europa e Portugal não escapará à tendência: fartos do calor, dos preços e das multidões, as hordas de turistas, que nos enchem os cofres, zarparão para outras latitudes, enquanto as estufas do Sudoeste Alentejano deixarão de fazer sentido perante a sucessão de secas.

Será bom que António Costa se livre de vez dos casos e casinhos e se focalize em encontrar soluções para o cenário, que se vislumbra próximo.

sábado, 22 de julho de 2023

Pouca pólvora para quem tanto a desejava ter

 

O debate sobre o estado da Nação e a reunião do Conselho de Estado falharam na pólvora, que congeminaram ter os que encomendaram a sondagem á Católica com conclusões pré-definidas.

António Costa continua a dar um baile às oposições na arena parlamentar e nem as tentativas implicitamente confessadas de um dos seus protagonistas para a assemelhar a casa de alterne, basta para credibilizar uma crise desmentida pelos números.

Marcelo, por outro lado, teve de meter a viola no saco depois de andar semanas a preparar o terreno para a dissolução da Assembleia e a convocação de novas eleições. Pelo contrário até teve de engolir a afronta da manutenção de João Galamba no governo não se privando Costa de com este sarcasticamente conferenciar tão-só adivinhe a altura propícia para os colherem as imagens televisivas.

Quanto à sondagem valeria a pena compará-la com a da mesma instituição antes das eleições de 30 de janeiro de 2023 em vez de teimarem em contrapor-lhe os resultados efetivos. É que veríamos pouco diferentes os seus números atuais com os que previa antes da consumação da maioria absoluta. Mas essa é conclusão que, nem as direções de (des)informação do Público, nem da RTP, se atrevem a formular.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Entorses opinativas e estudos sérios

 

1. Quase em simultâneo conheceu-se uma sondagem da Universidade Católica e um estudo do Instituto para as Políticas públicas do ISCTE, que não podiam ser mais contraditórios nos propósitos e conclusões. 

A encomenda feita à Universidade Católica - já em si uma opção ideológica evidente! - tinha subjacentes as conclusões, que pretendia ratificar: jornais, rádios e televisões manipulam as informações semanas a fio e, depois, tentam credibilizá-las como se constituíssem o verdadeiro pulsar da opinião pública. Um clássico, quando se pretende condicionar o pensamento coletivo na direção pretendida pelos que pretendem ser seus fraudulentos guardiões.

O estudo do ISCTE é o contrário do que se propõe na sondagem: estuda-se aprofundadamente a realidade económica e social do país e defende-se a intervenção do Estado para solucionar desafios estruturais nas áreas dela mais candentes: a habitação, a justiça, a saúde e a educação.

A sondagem da Católica é um mero fait divers estival enquanto o estudo do ISCTE reitera as orientações para que devem ser canalizadas as políticas públicas.

2. O Bloco e o PAN apresentaram propostas para garantir que haja maior representação feminina na composição do elenco do Tribunal Constitucional.

Para qualquer socialista digno desse nome elas deveriam merecer pronto apoio. Mas alguns deputados, como Sérgio Sousa Pinto ou Marcos Perestrello confessaram-se seus tenazes opositores. Caso para perguntar sobre o que andam ainda a fazer nessa bancada parlamentar, quando o seu pensamento se enquadra no dos partidos das direitas?

3. Nada me diz o tipo de música criada pelos artistas, que ensaiavam e tinham sede no centro comercial STOP. Mas não deixa de ser vergonhosa a atitude de Rui Moreira e sua equipa à frente da Câmara do Porto, quando se trata da defesa dos interesses dos especuladores imobiliários de que são diligentes provedores.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Não foi propriamente um refresco

 

Inquietantes os sinais dados pelo ministério público e pela PSP na semana transata quando, apesar de estar a usufruir em pleno a família vinda da diáspora, não pude ignorar o significado das notícias de abertura dos telejornais. A começar pelas buscas à casa de Rui Rio e das sedes do PSD, que não justificaram a ideia de pimenta em olhos alheios constituírem um refresco para quem por ela não se vê, de imediato, atingido.

A ação dos procuradores e da Polícia Judiciária indiciou a intenção óbvia de quem a promoveu: pôr em causa todos os partidos como se fossem iguais na satisfação da cupidez dos seus dirigentes. E teve José Sócrates total razão, quando denunciou como único crime nela patente o de existirem jornalistas à porta do ex-líder laranja quando, às sete da manhã, lhe tocaram à campainha.

Uma vez mais os procuradores criaram um show mediáticos em proveito da sua agenda ideológica, distraindo-se da efetiva missão de mostrarem resultados concretos na luta contra a corrupção. Porque a sua inabilidade e ineficiência leva-os a deixarem prescrever os que tinham sugerido facílimos de comprovar.

Mal esteve igualmente o ministro José Luís Carneiro, que quis secundar a sanha censória do diretor nacional da PSP, na ofensa com um cartoon da RTP sobre o racismo dos colegas franceses. Será que, como alguns aventam, o ministro tem medo de quem tutela e, por isso, foi ao ponto de pressionar a administração da televisão pública para condicionar a liberdade de imprensa dos seus jornalistas?

O caso serviu, porém, para confirmar as afinidades eletivas entre Luis Montenegro e o Chega, demonstrando que a oportunidade fará o ladrão e, a exemplo da direita espanhola, estará iminente a publicação dos banhos sobre o previsível casamento.

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Destinos mais ou menos anunciados

 

O regresso de Pedro Nuno Santos à Assembleia da República e o “badagaio” de Marcelo serviram para dar momentâneo colorido a este verão entediante em que conflitos distantes (o russo-ucraniano e o israelo-palestiniano) não chegam a suscitar suficiente interesse por continuarem a ser mais do mesmo com o seu habitual cortejo de vítimas mais ou menos anónimas.

O impacto mediático de tudo quanto faz o futuro candidato a secretário-geral socialista confirma a seriedade com que é vislumbrado esse futuro destino político. Por muito que António Costa preferisse outro delfim nenhum se compara - em determinação, em consistência ideológica e em habilidade estratégica - com quem sabe ter encontro marcado com o que designou como seu objetivo.

Quanto a Marcelo pouco se estranhará, que estes episódios sucedam. A idade é outra e não se compadece com agendas ambiciosas, sobretudo se somadas as informais às oficiais. Vocacionado para sprints sucessivos, Marcelo não se consegue adaptar á prudência dos corredores de fundo. E, um dia destes, a coisa poderá dar para o torto... 

domingo, 2 de julho de 2023

Bem precisados andamos de quem repense o Manifesto

 

Em França ardem carros e vandalizam-se lojas a pretexto do assassinato de um adolescente por um polícia, que o atingiu intencionalmente como as imagens colhidas por quem estava perto não permitem duvidar.

Uma vez mais, de além-Pirenéus, vêm evidências quanto à possibilidade das nossas organizadas sociedades ficarem distópicas por razões, que continuam a encontrar as devidas explicações nos textos de Marx e de Engels.

Agudizam-se as desigualdades e as revoltas crescem, embora careçam - a exemplo de muitas de há dois séculos! - da tal direção, que levou os filósofos alemães a conjeturarem o manifesto para a criação do partido destinado a encarreirá-las na direção mais eficaz.

Hoje as organizações, que emergiram dessa proposta ideológica, ou desapareceram, ou enredaram-se em pantanosas condições, muito por conta dos péssimos exemplos de quem delas se reclamaram. Mas que o futuro exige a recriação de algo com os mesmos objetivos, adaptado aos novos tempos em que as redes sociais desempenham tão relevante papel, não sobram grandes dúvidas. Até porque, também uma vez mais, comprova-se a total inépcia social-democrata perante a ascensão dos fascismos...

E, se associarmos a emergência climática, aos imperativos ideológicos desse futuro próximo, não falta abrangência a quem deles se possa vir a reclamar...

sábado, 1 de julho de 2023

A doença francesa e os seus sintomas

 

As cenas de violência em França são esclarecedoras sobre o impasse de um sistema económico, que continua a rebentar pelas costuras, tenazmente defendido por banqueiros e especuladores apostados em preservá-lo à custa de privar de futuro (e até do direito à vida!) uma juventude precarizada, mas iludida pelo consumismo e pela puerilidade dos valores difundidos pelas redes sociais.

Que será a extrema-direita a ganhar com tudo isto não sobram dúvidas! Embora possa haver quem, na extrema-esquerda, se engane com os benefícios de um futuro ditado pelo quanto pior melhor para os seus objetivos!