quinta-feira, 31 de julho de 2014

O azar de termos connosco um menino que chora

Este blogue comportou diversos posts a propósito da excelente entrevista dada por António Costa a São José Almeida e a Nuno Sá Lourenço na edição do «Público», que elucidou substantivamente sobre qual é o projeto do atual Presidente da Câmara de Lisboa para o exercício do cargo de primeiro-ministro.
Para os seus apoiantes, entre os quais me incluo, essa entrevista foi excelente no seu conteúdo, porque além de dar resposta credível e consistente a muitas das questões levantadas pelos seus detratores, também teve a elevação de poupar o ainda secretário-geral a comentários e juízos de valor, que ele porventura mereceria.
Mas convenhamos que, em carácter, António Costa revela-se um verdadeiro senhor, ao contrário de Seguro cuja personalidade complexada o leva a um tipo de argumentação lamentável e totalmente inadequada para quem preza os valores socialistas.
Dizia Augusto Santos Silva com muita argúcia que, quem hoje chegasse a Portugal e não conhecesse os dois candidatos às primárias do PS, tomaria Costa como aquele que é desafiado e Seguro por aquele que desafia. Quando a realidade é exatamente a contrária.
A entrevista hoje publicada na «Visão» suscita-me vários comentários - e por isso a ela voltarei em vários posts! - mas começou por me criar esta dúvida: pondo-me na pele de um apoiante de Seguro, ficaria agradado com a imagem por ele dada? É este o tipo de argumentação que se espera de um líder? Deteta-se nalgum canto da entrevista algo que soe realmente a “socialista”?
Eu diria que não a todas essas questões. Mas admito que não consigo ser propriamente tão objetivo, quanto esse desafio pressuporia.
Nessa entrevista, Seguro repete exaustivamente a pose do menino que chora. E se eventualmente entre os seus apoiantes abundarão os corações piegas, que verterão sentidas lágrimas por esses discursos compassivos, também quero acreditar sobrarem muitos para quem já cansa esse lado do menino que se queixa repetidamente do dói-dói.
Procurando sensibilizar, de facto, essas almas mais sensíveis, Seguro diz-se triste e desiludido “por pessoas nas quais confiamos. Já tive alguns dissabores, pois não convivo com a hipocrisia, o cinismo, a mentira e a golpada.
Seria interessante pedir a Seguro que explicasse o que para ele significam, de facto, esses conceitos - à luz do que foram os seus comportamentos durante todo o tempo de militância no Partido e, sobretudo, durante o período da governação de José Sócrates. O que classificará ele das suas atitudes, quando soprava para os jornais as suas divergências com as políticas então seguidas e tratava de secundar Mário Nogueira no acicatar dos professores? Talvez cinismo e hipocrisia não destoassem das várias possibilidades para qualificar as suas atitudes de então.
E quanto ao célebre momento em que António Costa estava a ser entrevistado por Paulo Magalhães e por Constança Cunha e Sá para a TVI  durante o Congresso de 2011 e ele se veio impor e expulsar da cadeira o seu camarada de partido? Como a designaríamos? Golpada, eu diria que não ficaria mal.
O problema dos moralistas, como Seguro pretende ser com as suas implícitas lições de moral, é que por norma as pedradas acabam em ricochete sobre os seus telhados de vidro.
Mas outra característica vem complementar esse lado compungido: a sua raiz beirã.
Já o sabíamos da biografia escrita por Eduarda Maio sobre José Sócrates, que aparecendo ao mesmo tempo nas hostes socialistas da Distrital de Castelo Branco sempre se verificara uma inveja notória de Seguro pelo brilhantismo e capacidade de afirmação daquele. Já então alimentava complexos de inferioridade, que a idade não conseguiram morigerar.
Na entrevista ele revela os seus complexos de “provinciano” perante o brilho da intelligentsia  da capital: “Houve sempre uma certa Lisboa que tentou impedir a progressão de quem não pertencesse ao inner circle.
Quando ele reclama o facto de não lhe terem dado valor no passado, vê-se que ficaram dessas alturas, feridas difíceis de cicatrizar. Por exemplo, quando da Convenção da Esquerda Democrática dos anos 80 lembra que ele e António Costa tinham responsabilidades na organização do evento para os jovens. Mas: “Puseram-me logo à margem. Havia muita intriga e tentativas de separação.
Despeito que se repetiu durante os governos de Sócrates: “Estava na sombra, mas não por opção. Sócrates nunca me convidou para desempenhar funções que tivessem mais protagonismo. Fui presidente da Comissão de Educação e da Comissão de Economia. E deram-me a possibilidade de reformar o Parlamento.
Não cabe na cabeça de Seguro que o facto de ter sido “posto à margem” ou não o convidarem para desempenhar as funções que o seu inchado ego reclamava (e, no entanto, cita as que lhe couberam de facto!) terá explicação no facto de não lhe terem reconhecidas competências, nem capacidades para tal, mas pelas tais intrigas de que se sentiu sempre vítima.
Perante o balanço destes três anos de (lamentável) liderança só podemos dar razão a quem nele viu o personagem limitado, que se revelou agora em todo  seu esplendor. É que cada vez que fala, cada vez que toca ferrinhos, Seguro dá vontade de pegar num célebre provérbio e traduzi-lo assim: “Hora a hora, ele só piora!”


terça-feira, 29 de julho de 2014

Mudar humanamente as circunstâncias

Barreiro será a cidade onde António Costa se apresentará logo à noite para explanar o projeto com que pretende transformar qualitativamente a vida dos portugueses nos próximos dez anos.
O regresso a essa cidade motivam-me reminiscências infantis ocorridas há mais de meio século. Na altura o clube preferido por quase toda a família do lado paterno era o F.C. Porto, levando-a a comparecer em peso nos campos e estádios da Grande Lisboa sempre que ali o clube jogava na condição de visitante.
Seixal, Amora, Montijo, Setúbal e Barreiro eram deslocações que cumpríamos a partir da Caparica, onde quase todos morávamos, na expectativa de regressarmos satisfeitos a casa, seja porque o jogo se saldaria por uma vitória, seja porque, na pior das hipóteses ocorreria um empate. Já as idas a Lisboa, seja aos estádios do Benfica, do Sporting ou do Belenenses acabavam invariavelmente mal, porque a derrota era quase sempre certa.
Mas das idas ao Barreiro - e foram muitas quer para ver os jogos com o Barreirense, quer com a Cuf - houve uma que me ficou particularmente na memória embora ainda fosse um petiz de quatro ou cinco anos. Ocorreu no antigo campo do Barreirense, situado quase ao lado do rio, onde, de repente e sem aviso, ficámos imerso em densa nuvem.
Muitos anos depois, quando falávamos sobre o assunto, estalava a controvérsia: entre tios e primos havia, de um lado, os que se lembravam de se ter tratado de nevoeiro, outros que apostavam numa manifestação da poluição oriunda das fábricas então ali abundantes.
A verdade é que ficámos sem ver nada do que se passava em campo, ficando a partida momentaneamente interrompida.
O fenómeno não durou muito tempo e depressa o árbitro voltava a pôr os jogadores de um e do outro lado, a prosseguir com o que estavam a fazer.
A recordação faz sentido, quando os detratores de António Costa o conotam com o messianismo, que tomou a cultura portuguesa desde a batalha de Alcácer-Quibir. A associação de ideias a essa memória infantil também surge como inevitável para evocar a célebre citação de Ortega y Gasset, que dizia: "O homem é o homem e a sua circunstância".
Quem acusa António Costa de messianismo opera de forma muito conformada para com essas circunstâncias: nas crises, quem se apresenta com soluções, tende logo a ser tido como um d. sebastião chegado em dia de nevoeiro.
Mas essa, infelizmente, tem sido a característica comportamental da direita e dos socialistas durante estes últimos três anos: aceitando as imposições da troika como circunstâncias impossíveis de contornar, a elas se submeteram, ora de bom grado como sucedeu com os governantes, ora com a pose lastimosa que sempre tem caracterizado o ainda secretário-geral do PS. Se sebastianismo conformista tem sucedido neste período, vimo-lo da parte dos que asseveraram não ser possível qualquer outra alternativa.
A 15 de setembro de 2012, quando o país se levantou para manifestar a sua indignação com o que passos coelho e paulo portas estavam a destruir, os portugueses já se confessavam ávidos de quem lhes surgisse a propor uma alternativa credível para quanto estavam já a sofrer.
Esse foi o momento de revelação quanto ao que poderíamos esperar desta direção do PS: as circunstâncias surgiam-lhe muito acima das suas capacidades para as transformar.
“Qual é a pressa?” ou “Não vou prometer nada que não consiga cumprir” são expressões, que ficarão indelevelmente coladas a um político, que decidiu fazer uma demonstração prática e eloquente do princípio de Peter: estavam os portugueses à espera de encontrarem uma luzinha, mesmo que débil, ao fundo do túnel e o que viam do principal partido da oposição era a complacência mais ou menos renitente com as medidas de austeridade impostas pelo governo sob o alibi de provirem da troika.
Foi, porque o Partido Socialista não esteve à altura das circunstâncias, que a grande manifestação de 2 de março de 2013 já foi um doloroso desfile de gente triste e sem ter em quem confiar as suas aspirações de mudança. Tornava-se inevitável o que se viria a verificar nas autárquicas e nas europeias: um PS com vitórias pífias (também escandalizaria que, com tanta diatribe cometida pela direita, assim não fosse!), mas sem conseguir galvanizar os eleitores para a urgente necessidade de mudança.
Quando António Costa surgiu a disponibilizar-se para cumprir esse objetivo, é claro que suscitou o entusiasmo de uma grande maioria dos portugueses. E por isso mesmo, semana a semana, os auditórios onde expressa essa mesma vontade vão-se enchendo com quem se vem afirmar disposto a contribuir com o seu esforço e entusiasmo por modificar tais circunstâncias.
Se também quisermos ver aqui alguma manifestação do fenómeno sebastianista ele é encarnado pelos milhares de portugueses, que se confessam fartos de todos os sacrifícios impostos para fazer diminuir a dívida e afinal coroados com o seu agravamento até à atual dimensão insustentável.  Porque António Costa rejeita que seja ele, só por si, a criar esse milagre.
Ele realizar-se-á mediante o contributo de todas as forças políticas, sociais e económicas, que acreditem na urgência dessa mudança e na criação das condições para que ela se torne possível.
Por isso, mais do que a frase de Ortega y Gasset, deveremos ter presentes as palavras de outro sábio, que tem a vantagem de muito profundamente ter conhecido a “alma lusa”: José Saramago. Foi o nosso Nobel quem reviu muito oportunamente as palavras do filósofo espanhol, concluindo: “Se o homem é formado pelas circunstâncias, então é preciso formar as circunstâncias humanamente”.
Não encontro melhor fórmula para classificar a agenda proposta por António Costa para os próximos dez anos: precisamos de um país em que sejam as pessoas a ditar os limites das circunstâncias! Com pressa e prometendo o que com elas será possível concretizar!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ganhar por muitos para muito fazer!

Mais um domingo pungente para António José Seguro, que viu recusada a tribuna do Congresso do PSOE e não pôde assim alardear para as câmaras das televisões o “bom relacionamento” com outros partidos socialistas europeus.
Perdido ingloriamente o grande momento previsto para o fim-de-semana, que poderia contrabalançar as eloquentes imagens da Convenção de Aveiro, Seguro limitou-se a passar por mais um anónimo evento em Oliveira do Hospital onde voltou a recorrer ao «número do queixinhas» acusando António Costa de andar a repetir o que ele tem dito há muito tempo.
Convenhamos que se tratou de queixinha infundada, dado que se lhe conhecem inúmeros exemplos de ter dito uma coisa e o seu contrário em prazos muito curtos. Não lhe será, pois, difícil ouvir o edil de Lisboa e convencer-se de que já terá dito algo parecido...
Semana a semana os dissabores de Seguro e dos seus apoiantes vão em crescendo: veem António Costa a liderar uma dinâmica e um apoio entusiástico de milhares de pessoas que confiam numa verdadeira viragem no Partido Socialista a alavancar o início de uma governação competente e virada para o que verdadeiramente contribuirá para a transformação do país. Pelo contrário, a campanha do ainda secretário-geral vai prosseguindo entre o deserto de apoiantes e de propostas credíveis e os episódios caricatos dignos dos mais involuntários bufões.
Mas, com instinto matador, António Costa aproveitou a tribuna de Aveiro para esclarecer as questões que os seguristas iam difundindo nas redes sociais como não andando por ele a ser respondidas. No discurso de encerramento da Convenção comprometeu-se a:
a) lutar por uma nova leitura do Tratado Orçamental que lhe permita ajustar as metas ao ciclo económico.  O que significa batalhar pelo equilíbrio entre o serviço da dívida e as necessidades de investimento da nossa economia, aproveitando a mudança de discurso já constatável em muitos responsáveis europeus a começar por Jean Claude Juncker;
b) pedir a “maioria absoluta”  para formar o próximo governo, porque ainda não é crível encontrar à esquerda quem mostre disponibilidade” para “assumir a responsabilidade” de governar. Mas fechou completamente a porta aos atuais PSD e CDS, porquepara sermos alternativa ao Governo não podemos ser governo com quem faz parte do atual Governo.”
c) um plano de curto prazo para a recuperação económica e social travando a austeridade respeitando os direitos dos pensionistas a contarem com a estabilidade das pensões já formadas, favorecendo a capitalização das empresas recorrendo ao BCE, ao BEI e ao “próximo Quadro Comunitário de Apoio” e utilizando a Caixa Geral de Depósitos como Banco de Fomento da economia;
Numa referência mais explícita a Seguro salientou que “esta não é uma questão pessoal, é uma questão política. Queremos mesmo ser uma alternativa ou uma mera alternância ao Governo que está em funções? É que para ser alternância basta ganhar por poucochinho, e quem está disposto a ganhar por poucochinho é porque está disponível para fazer poucochinho.


domingo, 27 de julho de 2014

A Lei de Murphy aplicada a Seguro

A semana de campanha para as eleições no Partido Socialista voltou a ser penosa para os militantes orgulhosos do património do Partido e que veem o seu ainda secretário-geral comportar-se de forma indigna para quem ocupa essas funções.
A propósito do lamentável espetáculo dos ferrinhos em Condeixa houve quem comentasse o facto de, em tempos, Mário Soares também ter agido de forma aparentemente semelhante. Mas o azar para Seguro é que desculpava-se ao fundador do Partido os seus desvios à gravitas inerente a um líder partidário, porque ele já adquirira junto do eleitorado a complacência carinhosa de quem o tratava de «bochechas».
Pode-se não concordar com a natureza dos comportamentos, mas há quem se dê à graça e todos riem do seu jeito e há os que o tentam imitar e soam a grotesco. Seguro conta-se entre estes últimos: pode querer imitar alguns modelos, que conseguiram ter sucesso na vulgarização dos seus gestos - o caso do «paulinho das feiras» constitui um deles por muito que o queira negar - mas tudo lhe sai mal.
Desde que essas imagens, logo tornadas virais nas redes sociais, começaram a ser conhecidas, qualquer militante tem de passar pelo incómodo de as ver repetidamente exibidas em tudo quanto é programa de televisão apostado em explorar vertentes humorísticas. E só ter como paliativo a ideia de que tudo não tem passado de um ciclo lamentável, em breve substituído por outro mais conforme com o que se espera do maior Partido português.
Mas este sábado não foi mais bonançoso para o ainda secretário-geral: para contrariar a imagem das centenas de participantes na Convenção de Aveiro não arranjou melhor alternativa, que não fosse a visita à quase desértica feira do Baião, na companhia do respetivo presidente da câmara, e fechar-se depois no hotel local para falar online com oito interlocutores ao mesmo tempo.
Por muito que alguns canais tudo fizessem para diluir essa diferença, ela mediaticamente gritante.
Mas que tinha Seguro a dizer a quem se dispusera a participar naquela charla? Nada de substantivo!
Uma jovem emigrante no Brasil questionou-o sobre a questão dos jovens muito qualificados, que o país desperdiçou obrigando-os a procurar futuro noutras latitudes, e o melhor que Seguro conseguiu articular foi a impossibilidade de lhe arranjar emprego, mas que, enquanto primeiro-ministro, iria fazer todos os possíveis para que todos pudessem voltar.
Confirmava-se uma vez mais a imagem de que tudo o que diz está colado com cuspo, sem mostrar um conhecimento consistente dos dossiês sobre os quais se pronuncia.
E. de facto, sempre que abre a boca para dizer o que pensa do país, da economia e da situação em que vivem os portugueses, é para repetir sempre a mesma coisa, que de substantivo nada tem.
Por isso mesmo um comentador escrevia num jornal, que António José Seguro ilustra na perfeição a conhecida Lei de Murphy: tudo o que lhe pode correr mal, acabará de facto por acontecer-lhe!


sábado, 26 de julho de 2014

Invariavelmente os indicadores vão estando todos no vermelho!

Sem surpresas vão-se sucedendo relatórios a confirmarem o que as vários setores da Esquerda, e até gente sensata da Direita, tem dito nos últimos meses: tal qual está comprometida em juros e em prazos de pagamento, a dívida portuguesa não terá possibilidades de se conseguir resolver. Sendo urgente, senão renegociá-la, pelo menos garantir-lhe a sua reestruturação mediante juros mais baixos e alargamento dos prazos de ressarcimento.
No Relatório do Eurostat relativo ao primeiro trimestre Portugal já apresentava uma dívida próxima dos 221 mil milhões de euros, ou seja mais sete mil milhões do que nos três meses anteriores e um valor que correspondia a 132,9% do Produto Interno Bruto (PIB).
Desmentindo o que passos coelho e os seus pares têm dito e redito, o país registou o terceiro maior crescimento de dívida na União Europeia em termos de percentagem do PIB, depois da Eslovénia e da Hungria.  O efeito bola de neve continua a produzir-se e quanto mais tarde for atacado pior para a generalidade dos cidadãos.
Se tomarmos outro padrão comparativo - o da dimensão da dívida portuguesa face ao PIB - também Portugal figura no terceiro lugar dos estados da União Europeia com um rácio mais desfavorável. Em primeiro está a Grécia, com 174,1%, e em segundo surge a Itália, com 135,6%.
Entretanto o Ministério das Finanças já apresentou os dados sobre o défice público das Administrações Públicas durante os primeiros seis meses deste ano, que demonstraram um agravamento em mais  149 milhões de euros do que o registado em igual período de 2013.
A ministra quis justificar esse resultado com o pagamento do subsídio de férias mais cedo do que no ano passado, com o chumbo do Tribunal Constitucional aos cortes salariais e com o aumento da despesa com juros. Mas é esta última a verdadeira causa da degradação contínua das contas públicas: o pagamento dos juros da dívida pública cresceu 10,5% quando o orçamento previa 2,2% para a totalidade do ano no Orçamento do Estado.
Faz, por isso mesmo, todo o sentido o que António Costa tem dito sobre esta matéria e que tem sido muito mais constante, consistente e coerente do que o ziguezagueante discurso de Seguro: Na Europa, hoje, as coisas estão a mudar. Já não é só o Governo espanhol, não é só o Governo italiano, não é só o Governo francês que tem esta posição. Portanto, há um Governo português que está do lado errado do debate europeu. Temos de ter um Governo em Portugal que esteja do lado certo do debate europeu em defesa dos interesses de Portugal. Este argumento que o Governo apresenta de que na Europa não é possível mudar, isso acontece porque o Governo não se bate por isso. Por isso, o primeiro passo para mudar de política na Europa é mudar de Governo em Portugal.
O novo governo a sair das próximas legislativas –que esperamos seja liderado por António Costa e conte com uma maioria muito significativa  - não poderá deixar de mostrar uma inquebrantável proatividade junto da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu, do Banco Central Europeu e, sobretudo, junto dos governos igualmente acossados pelas pressões pró-austeritárias dos países do Norte da Europa para que aconteça uma flexibilização do Tratado Orçamental. Construindo novas alianças dentro do espaço europeu, será possível agir sobre a principal condicionante, que impede o almejado crescimento económico.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

As culpas de ter cão e... de não o ter?

Ouvindo os argumentos das campanhas de António José Seguro e de António Costa não é possível manter a mistificação segundo a qual se tende a fazer crer que pouco os distingue.
De António Costa ouve-se um discurso motivador, que enfatiza a necessidade de resolver as razões estruturais da economia portuguesa, e explicam os bloqueios impeditivos do seu crescimento. Daí a sua agenda para uma década, em que se pretendem concretizar os consensos mais alargados quer a nível das forças políticas, quer sociais. Sobre o ainda secretário-geral do PS nem uma palavra: embora implicitamente o critique, quando define a imprescindibilidade de uma liderança competente, António Costa não alimenta a «política politiqueira» quase sempre presente no discurso de quem apoia Seguro.
È, de facto, confrangedor ouvir este último ou os seus apoiantes, porque o que dizem está sempre fundamentado na lógica de culpar o adversário por ter cão …  e por não o ter. Ou seja, se na Convenção de Aveiro se abordasse o que nela não tem cabimento - a questão da dívida e a sua reestruturação - não faltaria ouvi-los criticar por não serem aí discutidas as questões do Mar, da Cultura ou da Lusofonia. Nesse aspeto os seguristas lembram aqueles “engenheiros civis” de bancada, que vão postar-se perante um edifício acabado de inaugurar e procuram arranjar argumentos para o criticarem: que tem demasiado vidro nas fachadas, que as varandas são minúsculas, que o acesso às garagens é demasiado inclinado, etc.
Como dizia um encarregado, que comigo trabalhou durante uma dúzia de anos, o país está cheio de «engenheiros de obras feitas» e os seguristas bem o confirmam: conseguissem eles ter a capacidade para organizarem uma Convenção como a de Aveiro e estariam porventura menos ressabiados com quem a concretiza.
Foi, por isso, confrangedor ouvir João Soares no “Inferno” do Canal Q, porque a maior crítica que conseguiu formular a respeito de António Costa é a de anunciar a promoção da Cultura à dignidade de contar com um Ministério.  Quando os argumentos atingem este nível de substância, está tudo dito! Ou talvez não, porque, sobranceiro, o filho do antigo Presidente da República ainda diz que é «muito amigo» de António Costa!
Para os debates televisivos, que se anunciam espera-se, pois, o mesmo embaraço, porque as críticas de Seguro a Costa andam sempre pelo mesmo patamar de estultícia: incapaz de conceber uma Visão para o futuro, esperar-se-á dele a ladainha do pobrezinho a quem quiseram extorquir a gamela e por isso se sente traído.
Pelo contrário de António Costa ouvir-se-á algo como o que disse a São José Almeida e a Nuno Sá Lourenço: “Uma das coisas que têm limitado muito a capacidade do PS de corporizar esta maioria que anseia ser alternativa é ter deixado criar um excessivo equívoco que o que o distingue em relação à política do Governo é só uma questão de ritmo e de dose. Ora o problema é que não é uma questão de ritmo nem de dose. É que é preciso um outro caminho e bem diferente.
De facto, foi por não verem diferença bastante entre passos coelho e António José Seguro que os portugueses demonstraram em eleições, que os equiparam no seu (des)favor. O Partido Socialista não pode manter esta imagem, que tem sido dada ao longo destes três anos, em como apenas teria sido menos bruto na aplicação da receita da austeridade.
Agora que ela já provou, que não resulta, é a altura para alinhar o nosso passo pelos países mais desenvolvidos da União Europeia. E por isso o discurso de António Costa é particularmente contundente quando diz: “eu não acredito que Portugal possa ter uma economia competitiva, possa aumentar o nível de produtividade se não investir no seu Estado social. Basta ver na UE quais os países que têm maior nível de produtividade: são aqueles que há mais anos investem na educação, no sistema de saúde, no sistema de segurança social e que, aliás, criam condições para podermos ter uma sociedade mais dinâmica, com capacidade de iniciativa, criativa.