domingo, 30 de setembro de 2012

POLÍTICA: Estilhaçou-se o suposto consenso social que tanto agradava à troika!


Tudo começou verdadeiramente com a falência da Lehman Brothers em Setembro de 2008. Qual rio  que, antes de secar, ainda dá sinais enganadores de recuperado vigor, o capitalismo fundamentado no domínio dos mercados financeiros está em vias de ruir com fragor.
Multiplicam-se ações de rua, mobilizam-se bloggers e outras ferramentas da net, distribuem-se filmes, livros e cd’s com testemunhos de quem explica ou anuncia o advento de novos paradigmas - em suma, revivem-se as sábias palavras de Eric Hobsbawn em como estes são, de facto, tempos difíceis, mas bastante interessantes.
E as mudanças ganham súbita rapidez neste tipo de ambiente de crise. Tudo se acelera, encurtando as distâncias temporais entre as expectativas dos acontecimentos e a sua superação. Se Brecht fosse vivo encontraria razões de sobra para voltar a achar que aquele que está vivo não diga nunca NUNCA!
Bem podem os defensores dos princípios políticos, hoje em vias de serem atirados para o caixote do lixo, da falta de alternativas ou da imprescindibilidade das troikas, que as circunstâncias vão demonstrando a vacuidade dos seus discursos.
Reconhece Pedro Marques Lopes na sua coluna semanal no «Diário de Notícias», que a torrente de acontecimentos é tal que a palavra dita ou escrita já perdeu atualidade no segundo seguinte. Acontecimentos, estudos, notícias que seriam dissecadas e permaneceriam no espaço público muito tempo são rapidamente substituídos por outros. Não, agora não é só a voracidade dos media, a necessidade de manter o fluxo de notícias, o facto de vivermos afogados em informação e pseudoinformação. O clima está mais que propício à confusão de acontecimentos, aos mais variados conflitos, às mais estapafúrdias declarações, à confusão entre assuntos de facto relevantes e outros absurdamente irrelevantes.
Será desta confusão, que emergirá um quadro estruturado de discurso político capaz de redundar num tipo de organização de tipo novo assente numa maior participação dos cidadãos ou, ao invés, uma ditadura, que lhes maniete as bocas, os olhos e os ouvidos. Esperemos que, a bem da democracia, assistamos a uma substituição da falida democracia representativa por um novo modelo de democracia direta, como os islandeses já estão a experimentar.
É claro que existem alturas em que as sociedades parecem ilustrar na perfeição a teoria do caos: entre dois opostos, acabam por cair para um dos lados. Para Arménio Carlos, ao discursar na grande manifestação de ontem a tendência deverá ser a de uma reorientação para os direitos das maiorias: O povo está a perder o medo e a mostrar que quer ir para a frente, lutar pelo presente e salvaguardar o futuro das gerações."
É o que receiam muitos dos comentadores que viram com deleite a queda abrupta do governo de José Sócrates e a chegada da troika para, menos de ano e meio depois, darem-se conta de estar em risco todo o processo ideológico, que supunham imparável. É o que explica a espantosa intervenção de António Borges no Algarve. Constata o editorialista do «Diário de Noticias» que no momento em que o próprio Governo está empenhado na fase de rescaldo do fogo provocado pela TSU, e precisava de todos os bombeiros disponíveis, eis que surge António Borges, mais uma vez, como incendiário de serviço.
Adivinha-se no autor de tais palavras um lamento por ver destruído todo um cenário em que implicitamente deixa entrever, que se revia. Mas é a realidade com os seus indicadores sempre a desviarem-se para piores desempenhos, que demonstram a evidência descrita no mesmo jornal por José Manuel Pureza:  O Governo e a troika invocaram desde o início, em favor do seu programa para o País, a base social e política alargada de que dispunham. Essa base social, se alguma vez existiu, estilhaçou-se. A mentira do discurso da regeneração pelo empobrecimento ficou escancarada: um milhão e trezentas mil pessoas que podem e querem trabalhar e não conseguem trabalho; uma dívida que não para de crescer; um défice que em vez de recuar avança (será 124% do PIB em 2013) é realidade a mais para ser disfarçada em projeções de quem não sabe nada sobre o País nem sobre a vida para além do Excel.
Se o mês de Setembro reduziu a credibilidade do Governo à Insignificância, esperemos por um Outubro igualmente acelerado, que apresse o empurrão final de tal gente para as medíocres carreiras donde jamais deveriam ter emergido.

POLÍTICA: Segurança de Passos impede TVI de filmar

POLÍTICA: Debate temático os "Desafios da denúncia do memorando".


Há quem ainda duvide que existam respostas alternativas ao atual estado das coisas. As respostas vão aparecendo com uma frequência cada vez mais frequente e elucidativa.

sábado, 29 de setembro de 2012

POLÍTICA: um governo apoiado em adiantados mentais


António Borges tem o condão de nos surpreender, o que constitui uma qualidade assinalável nos dias que correm. E tanto maior quanto as suas espantosas afirmações dispensam qualquer caricatura quanto ao pensamento da sua escola de pensamento.
Ao chamar burros aos empresários que contestaram a «inteligente» forma de retirar dinheiro aos trabalhadores para o transferir de imediato para o capital, ele volta a revelar a sua natureza.
Recorde-se Brecht quando sugeria que se demitisse o povo, quando o bem intencionado ditador não conseguia convencê-lo da bondade das suas políticas.
É claro que Borges nem sequer sabe que há povo. Pode imaginá-lo nos seus números de financeiro apenas apostado em garantir dividendos aos seus patrões, sejam eles quais forem desde a Goldman Sachs a alguns outros especuladores, que enriquecem obscenamente com o seu desempenho. Agora o que não sabíamos era que ele também precisa de demitir os empresários, supostamente seus putativos aliados, só porque não são suficientemente inteligentes para compreenderem a argúcia da sua proposta é algo que ficámos a saber neste fim de semana.
Há uns anos andámos (mal) servidos de um ministro das Finanças, que se crismava de adiantado mental. Hoje ele é um dos mais entusiásticos apoiantes das políticas deste governo. Não sabíamos é que existe outro adiantado mental a competir com ele em «boas» ideias para promover uma dada ideia de país. Que pena sentirão por não serem incompreendidos.
Só os podemos imaginar como uma espécie de Calimeros a contas com um mundo tão avesso à bondade dos seus sonhos.
 António Borges tem o condão de nos surpreender, o que constitui uma qualidade assinalável nos dias que correm. E tanto maior quanto as suas espantosas afirmações dispensam qualquer caricatura quanto ao pensamento da sua escola de pensamento.
Ao chamar burros aos empresários que contestaram a «inteligente» forma de retirar dinheiro aos trabalhadores para o transferir de imediato para o capital, ele volta a revelar a sua natureza.
Recorde-se Brecht quando sugeria que se demitisse o povo, quando o bem intencionado ditador não conseguia convencê-lo da bondade das suas políticas.
É claro que Borges nem sequer sabe que há povo. Pode imaginá-lo nos seus números de financeiro apenas apostado em garantir dividendos aos seus patrões, sejam eles quais forem desde a Goldman Sachs a alguns outros especuladores, que enriquecem obscenamente com o seu desempenho. Agora o que não sabíamos era que ele também precisa de demitir os empresários, supostamente seus putativos aliados, só porque não são suficientemente inteligentes para compreenderem a argúcia da sua proposta é algo que ficámos a saber neste fim de semana.
Há uns anos andámos (mal) servidos de um ministro das Finanças, que se crismava de adiantado mental. Hoje ele é um dos mais entusiásticos apoiantes das políticas deste governo. Não sabíamos é que existe outro adiantado mental a competir com ele em «boas» ideias para promover uma dada ideia de país. Que pena sentirão por não serem incompreendidos.
Só os podemos imaginar como uma espécie de Calimeros a contas com um mundo tão avesso à bondade dos seus sonhos.

POLÍTICA: a origem da crise


A entrevista dada por Fernando Medina a Anabela Mota Ribeiro e publicada no «Jornal de Negócios» de sexta-feira, 28 de setembro, é bastante interessante a vários títulos pelo que merece ser abordada em vários textos deste blogue.
Comecemos pela origem da crise: sabe-se que Passos Coelho e Paulo Portas conseguiram a maioria absoluta para a sua coligação graças à utilização intensiva de uma tremenda mentira - a de que ela resultou das políticas do governo de José Sócrates, responsáveis pelo despesismo e pelas gorduras de que havia empolado o Estado!
Lamentavelmente essa mentira - tantas vezes repetida! - ainda é aceite como boa pelos ingénuos e pelos sectários, que recusam entender o enquadramento da estratégia do então governo socialista numa visão ambiciosa de modernização e de intensificação do potencial dos portugueses para construírem um país consonante com os mais avançados da União Europeia.
Mas, hoje, e ao mesmo tempo, que exploram o estafado argumento da pesada herança recebida do governo anterior, os ministros do PSD e do CDS não hesitam em desculpar-se com os constrangimentos exteriores sempre que têm de justificar as suas medidas. Mais: querem até ilibar as responsabilidades que lhes cabem atirando para outrem a autoria das suas estratégias, mesmo correndo o risco de pronto desmentido.
Quem não se lembra da recente versão segundo a qual a TSU seria uma imposição da troika, o que o representante etíope da mesma não tardou a negar!
Vejamos então como Fernando Medina explica a origem da crise, com argumentos que ninguém ousará negar: esta é uma crise sistémica, não é uma crise nacional. É uma crise da construção da zona euro no seu fundamental, não é uma crise da dívida pública.
E, mais adiante: Aderimos a uma moeda que foi percecionada (…) como sendo uma moeda sem risco. O que levou à convergência quase total das taxas de juro dentro dos vários estados soberanos.(…) Convergência que aconteceu independentemente das evoluções das dívidas públicas dos países.
A crise deflagra quando este mecanismo de seguro é quebrado (…) depois da falência da Lehman Brothers . (…) De 2009 para a frente assistimos a um recrudescer da crise, com tomadas de decisão ao nível do Conselho Europeu que (…) não tinham em vista resolver a crise. Tudo isto vai acontecendo até à tomada de decisão do BCE - de credor de último recurso.
 O que está em causa nas crises hoje vividas por irlandeses, gregos, portugueses, espanhóis, italianos e outros povos do sul da Europa, é a incapacidade da União e das suas instituições em se mostrarem à altura dos acontecimentos. Durão Barroso, por exemplo, é um dos principais culpados, seja por não propor soluções em tempo útil, seja por não encontrar forças nem argumentos para combater as intransigências alemãs, finlandesas ou holandesas.
Bem esperou José Sócrates, que acontecesse uma viragem política facilitadora da sua estratégia patriótica! E batalhava arduamente nos conselhos europeus para que tal sucedesse.
Infelizmente ainda vinha longe a vitória de Hollande em França ou a subida eleitoral dos trabalhistas holandeses. Mesmo nessa altura, ainda Merkel não sofrera tão esclarecedoras derrotas nas eleições estaduais em que a Alemanha se divide.
À posteriori podemos reconhecer que o PEC4 acabaria por nada resolver já que a referida decisão de Mário Draghi só agora ocorreu. Por isso poderemos acusar José Sócrates de ter protagonizado uma estratégia ousada e ter falhado por imperativo da maioria política da direita nas instituições e nos governos europeus. Mas ninguém lhe pode negar a coragem de ter tentado até ao limite das suas possibilidades. Daí que esteja por fazer a correção da imagem pública desgastada com que saiu da atividade política direta à conta desse fracasso e, sobretudo, da tremenda campanha mediática que, com mentiras e meias verdades, dele construiu uma má, mas imerecida fama.






FILME: «Young@Heart» de Stephen Walker (2007)



Há filmes que são autênticas pérolas. Passam-nos ao lado, sem darmos por eles, a menos que voz avisada nos alerte para a sua imprescindível descoberta. Ou, então, o acaso acaba por estar do nosso lado e rende-nos um par de horas de indescritível satisfação.
«Young@heart» até passou no Festival Indie há três anos, mas sobram escassos testemunhos dessa apresentação.
Agora a RTP2, em verdadeira missão de serviço público - pelo menos enquanto os Relvas e os Pontes a não destruírem -, permitiu-nos nova oportunidade de descobri-lo. E que descoberta!
Tudo começa com a enérgica Eileen, de 92 anos, a cantar um dos grandes hinos dos The Clash: «Shall I Stay or Shall I go?». Em off, Stephen Walker, o realizador, pergunta-lhe se não acha estranho, na sua idade, pôr-se a cantar temas punk, mas qual quê, ela está para isso e para muito mais, como se verá na hora e meia seguinte em que se multiplica em ousados exercícios de sedução aos homens que a rodeiam. Quão distante está a timidez, que a caracterizava na infância!
Mas para o realizador inglês o fascínio pelo coro de Northampton, Massachusetts, que dá título ao filme, começou em Londres aonde os vira num dos seus concertos. Enquanto não arranjou forma de atravessar o Atlântico para reencontrar os seus elementos enquanto, em seis semanas, se preparavam para o concerto seguinte, não descansou. Como reconhece enquanto balanço, ganhou de repente duas dúzias de avós!
Conhecemos assim o notável Bob Cilman que fundou a instituição em 1982 e continua a ser o seu diretor artístico. O carinho, a paciência, mas também a severidade com que leva os seus cantores a entoarem temas de referência da música rock, desde James Brown a Talking Heads, dos Ramones aos Somic Youth, dos Coldplay a Jimi Hendrix, fundamenta o seu sucesso.
Mas também conhecemos a vida pessoal de muitos desses cantores e cantoras, dois dos quais falecerão durante a rodagem, suscitando momentos memoráveis como aquele em que, uma hora depois de saberem uma dessas infaustas notícias, cantam «Forever Young» para uma plateia constituída por quem está encarcerado num estabelecimento prisional, mas não
O que Walker nos oferece é uma outra forma de encarar a condição de sénior, nunca desistindo de ser jovem no coração, mesmo que à custa de muito sofrimento físico. O esforço feito por muitos deles para não faltarem aos ensaios e darem o seu melhor constitui um belo exemplo de determinação e de inconformismo perante as limitações. Aqui não existem alibis, nem quaisquer outras formas de desculpas. E é por isso que, mesmo renovando continuamente os que a morte vai levando, o coro Young at Heart continua com uma bem preenchida agenda de concertos, quer pelos Estados Unidos, quer pela Europa.
«Como podemos não continuar?», interroga-se enfaticamente Bob Cilman. É que constitui essa a melhor homenagem aos que já entraram definitivamente para a história do grupo.

BANDA SONORA: «O Dilúvio Universal» de Falvetti


Para os meus diletos amigos, que têm bom gosto musical aqui fica o link para a visão completa do concerto com a cantata barroca «Il Diluvio Universale» de Falvetti. No papel principal o tenor português Fernando Guimarães, que quase de certeza é desconhecido da grande parte dos que aqui o podem descobrir...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ARTES PLÁSTICAS: Samuel Bak at the Carrier Gallery



Samuel Bak é um pintor norte-americano de origem lituana, que assistiu ao terrível genocídio perpetrado pelos nazis sobre a comunidade judaica de Vilnius em 1944. O trauma de, a partir de um refúgio precário, ver rapazes da sua idade a serem chacinados irá repercutir-se na sua obra aonde é comum encontrar pessoas cegas, de olhos descobertos ou tapados, incapazes de discernirem os seus destinos.
Ao sobreviver ao Holocausto, Samuel Bak foi encaminhado para um campo de refugiados da Baviera, havendo um filme da época a apresenta-lo na sua incontrolável tendência para pintar e desenhar. Tinha 12 anos e confirmava os dotes de criança-prodígio, que manifestava essa mesma pulsão desde a mais tenra infância.
Esse período mais remoto da sua vida foi também um dos mais felizes com a família de classe média a mostrar-se incapaz de suspeitar da iminência de uma violentíssima corrente, que não tardaria a empurra-la para a destruição. De facto, em 1941, os pais de Samuel Bak recebem ordem para abandonar a casa familiar e irem residir para o gueto. E só ele e a mãe se livrarão da solução final também ali executada.
Será nessa prisão-ratoeira, que, aos 9 anos, Samuel Bak estreia a sua primeira exposição individual, ao mesmo tempo que iam chegando levas de judeus para a antecâmara da morte, que correspondia a esse espaço circunscrito.
Hoje, aos 79 anos, o artista continua a lidar com a expressão artística da destruição e desumanização que integram as suas memórias de infância. Ele fala sobre o que são consideradas as atrocidades indescritíveis do Holocausto, criando uma linguagem visual muito pessoal para recordar ao mundo os seus momentos mais desesperados. 
Existe uma coleção permanente das suas obras na Galeria Pucker em Boston (EUA) e são muitas as exposições da sua obra nos principais museus e galerias internacionais.

LUGARES. Reykjavik


Na edição desta semana do programa cultural «Metropolis» do canal ARTE, visita-se a Islândia, país em efervescência também no plano cultural.
Foi aí que a crise atual começou por se manifestar, quando o seu sistema financeiro entrou em bancarrota e o país se viu à beira do abismo.
Desde então e graças à mobilização dos seus habitantes, a Islândia reinventou-se com um renovado vigor. Alguns até dizem que foi a falência financeira, que a terá salvo da vertigem em que estava mergulhada.
Segundo Gyrdir Eliasson, o escritor nada poderia ter acontecido de melhor a este povo insular: de repente os cidadãos perderam a confiança nos nababos da finança, revalorizando-se desde então a vida cultural.
Hoje, muitos atores da vida cultural islandesa são também homens políticos, como é o caso de Jón Gnarr, o novo presidente da câmara da capital, hoje adulado pelos seus munícipes como se fosse uma verdadeira estrela pop. Ou o escritor, tradutor e animador televisivo Arthur Bollason, que administra a Icelandair.
É com ele, que Metropolis descobre o bairro mais animado da cidade e onde se sente que das cinzas da crise emergiu uma nova sociedade.
A Islândia figura, pois, como o melhor exemplo de resposta à crise financeira: encarando os credores como entidades com quem se deve negociar em vez de a eles nos submetermos como «bons alunos».
Das longitudes boreais vem a solução para uma crise aparentemente insolúvel, mas aonde a reviravolta implica novos intervenientes com soluções capazes de apelarem às energias mais positivas da sociedade e aplicando políticas completamente opostas às até aí implementadas...


CIÊNCIA: inovações e prémios



A leitura da imprensa científica vai-nos dando informações interessantes sobre algumas linhas de investigação, que poderão vir a ter reflexos positivos na nossa vida futura ou alertar-nos para riscos para os quais deveremos assumir estratégias preventivas.
Começando por um estudo científico enquadrável na segunda dessas vertentes, uma equipa australiana concluiu agora que, desde 1950, o ritmo a que a água dos oceanos se evapora aumentou em 4% devido ao aquecimento global. De facto, o ar da atmosfera contém cada vez mais vapor de água.
A consequência imediata: a amplificação dos contrastes geográficos entre as regiões áridas condenadas a ficarem mais secas e as húmidas sujeitas a maiores índices de pluviosidade.
Entretanto, na medicina está-se a prever um aumento exponencial dos casos de hepatite C nos próximos três a cinco anos, já que esse vírus mortífero disseminou-se de forma epidémica há cerca de vinte cinco anos, graças a seringas infetadas ou a transfusões de sangue, e esse é o prazo para se manifestar sob a forma de cirroses ou de cancros no fígado.
É por isso que os principais laboratórios farmacêuticos estão a conhecer uma verdadeira corrida de contrarrelógio para contarem com medicamentos de grande eficácia no mais curto prazo, sendo expectável a possibilidade de se conseguir alcançar a própria cura de tais efeitos.
Os estudos científicos agora apresentados apontam para a possibilidade de, a exemplo da sida, esta estirpe da doença deixar de significar uma condenação definitiva. Pelo menos na Europa e na América do Norte já que, por exemplo em África - aonde ela assume dimensões preocupantes - os efeitos nas taxas de mortalidade não se reduzirão tão cedo quanto o necessário para a maioria dos que já estão infetados.
A terminar, e enquanto surgem muitas inovações a nível da nanotecnologia, que nos permitirão produzir bens com extrema precisão, maximizando a utilização de recursos e os rendimentos subsequentes - hoje apenas possíveis numa lógica utópica - foram entregues os prémios Ignobel 2012. Entre os quais (e é sobre ele o filme inserido neste post), um dispositivo concebido para acabar de vez com discursos tagarelas.
Quem diz que a ciência não cria coisas úteis?

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

POLÍTICA: Acasos muito pouco ocasionais!


Há quinze meses o governo de José Sócrates caiu na sequência de uma campanha alicerçada na conjugação de cinco setores particularmente atiçados contra as suas políticas:
· os magistrados, que não lhe perdoavam a redução de privilégios corporativos de que usufruíam e continuam a usufruir;
· os banqueiros, que tinham lucrado fortunas com as grandes obras públicas e viram na viragem do ciclo político a forma de continuarem a enriquecer com a compra das dívidas soberanas;
· alguns jornalistas de deontologia particularmente duvidosa que, nos seus pasquins e telejornais, patrocinaram um assassínio do carácter do primeiro-ministro de então como nunca se tinha visto;
· os professores que, comandados pela FENPROF do dirigente comunista Mário Nogueira, puseram em causa o programa destinado a uma escola de maior qualidade, quando existia uma aposta clara na melhoria das capacidades de todos os portugueses através do programa das Novas Oportunidades, que tanto emprego lhes facultava;
· os farmacêuticos que, liderados pela sua organização mais representativa , ainda estavam a atuar de forma revanchista contra o Partido Socialista, que procurara retirar-lhes o monopólio através das farmácias nos hospitais;
Não deixa de ser curioso que, completamente desbaratados estes dois últimos setores profissionais pelas políticas do governo de Passos Coelho, que agudizou a situação de desemprego para os professores e condenou seiscentas farmácias à falência, os três outros setores se tenham unido nos últimos dias - mais precisamente desde a manifestação do dia 15 de setembro - para voltar a retirar das gavetas velhos fantasmas ou multiplicar elogios a um Governo ferido de morte.
Este facto indicia bem o receio de tais setores em verem Portugal sair do atoleiro em que só alguns beneficiam claramente da crise e pretendem prolonga-la tanto quanto possível. Senão vejamos: é o próprio Procurador Pinto Monteiro quem reconhece que, em tantos anos de magistratura, nunca terá visto um acórdão como o emitido no julgamento do caso Freeport, por ele liminarmente classificado de processo político. Da mesma forma a magistratura decidiu avançar com mediáticas buscas na casa de três ex-governantes socialistas exatamente no momento em que as baterias estavam apontadas ao rotundo fracasso das políticas de austeridade de Passos Coelho.
É claro que não sobram dúvidas de que a demonstrada inocência futura de tais políticos dificilmente será resgatada da lama a eles endereçada por estas ações oportunistas “convenientemente” mediatizadas pelos suspeitos do costume, aos quais os jornalistas honestos são obrigados a colar-se sob pena de se verem acusados de omitirem informação tida por relevante.
A tudo isto somam-se os rasgados elogios de Ricardo Salgado e Fernando Ulrich à suposta recuperação das finanças públicas numa repetição de um tipo de discurso já emitido por António Borges há algumas semanas e então ouvidas como paradigma das anedotas sem graça.
É claro que ao vermos tais afirmações só nos podemos lembrar como foram eles os principais responsáveis pela vinda da troika ao acossarem despudoradamente o governo de Sócrates sob a invocação de falsas ilações de, então, já não existir dinheiro para pagar ordenados aos funcionários públicos ou pensões aos reformados.
A complementar esta atividade de tentativa de recauchutagem a uma estratégia, que já meteu água por todos os lados, soma-se a decisão da coligação PSD/CDS em reduzir as contribuições para os partidos e para as campanhas eleitorais num discurso demagógico, que esconde o essencial: os atuais políticos são tão medíocres que acautelam remunerações das funções públicas tão baixas quanto possíveis, de forma a delas fazer desertar os mais competentes, aqueles cujo conhecimento poderia contribuir para a implementação de outro tipo de governação...

BANDA SONORA: um cântico outonal

POLÍTICA: quanto mais esbraceja mais se afunda!


São múltiplos os sinais de desespero do Governo de Passos Coelho que, qual afogado a esbracejar enquanto se afunda, vai projetando água em todas as direções sem compreender quanto acelera assim o seu mergulho definitivo.
Um dos banqueiros, que mais contribuiu para derrubar José Sócrates e promover o seu companheiro de partido - estamos a falar de João Salgueiro - já vem reconhecer que o Governo liderado por Pedro Passos Coelho “não estava preparado para tomar conta do poder”.
Mas essa falta de preparação é um mito, que se vai colando à imagem do primeiro-ministro da mesma forma que, apesar de ter reiteradamente mentido aos portugueses  e favorecido amigos e conhecidos com prebendas obscenas, ainda continua a ser escandalosamente apresentado por alguns comentadores como «honesto»!!!
Aliás é o insuspeito editorial do «Diário Económico», que reconhece, a respeito das buscas policiais efetuadas em casa de antigos governantes socialistas, que as diligências da Justiça surgem numa altura em que o Governo de coligação PSD/CDS está em dificuldades e com o PS a subir nas sondagens. 
O que não suscita dúvidas é a intenção de Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar, Carlos Moedas e Miguel Relvas em aplicarem em Portugal as mesmas receitas que o tenebroso «tea party» pretenderia impor nos EUA numa agenda de extrema-direita, aqui apoiada pela chanceler alemã.
Só que, diz Hugo Mendes no blogue «Jugular não é só o crescimento que é incompatível com a austeridade (os defensores da austeridade expansionista andam um pouco escondidos); e já não é apenas a austeridade que é incompatível consigo própria, dado que não permite cumprir as metas fixadas (os ajustamentos orçamentais têm falhado ano após ano na Grécia, em Portugal, em Espanha); fundamentalmente, esta austeridade é incompatível com a manutenção da uma democracia estável. (…)
Nada que incomodasse os ideólogos deste modelo de capitalismo selvagem, se tivessem a certeza de que os polícias e os militares fossem fiáveis na repressão da contestação pública. Só que sobram sinais de isso poder não ser assim tão certo. O diretor do «Diário Económico» aventa a tal respeito que a fragmentação da zona euro está em marcha há dois anos, mas está a chegar a um ponto de não-retorno, e já não é nos mercados, é nas ruas. Perigoso, porque, aí, nas ruas, não haverá um ‘Super-Mário' que nos salve.
Pois! Poderemos não ter um dos pupilos da Goldman Sachs a «salvar-nos», mas poderão emergir as novas formas de democracia, que não se satisfaçam com o seu modelo representativo e ganhem substância numa maior participação de todos na definição do seu futuro…
A tal ocorrer o perigo para que o jornalista em causa alerta poderá transferir-se para o campo dos que têm sempre ganho nestes anos recentes...


POLÍTICA: o vento também sopra noutras latitudes...

POLÍTICA: Sábado há manif!


Em Madrid e em Atenas as ruas voltam a encher-se de manifestantes suficientemente decididos a contestarem as políticas de austeridade dos seus governos para enfrentarem corajosamente a brutalidade policial.
E, na edição de hoje do «Diário de Notícias», o escritor Baptista Bastos acredita que os acontecimentos dos últimos dias desfizeram o mito da passividade coletiva dos portugueses.
Eles compreenderam que a personalidade de Pedro Passos Coelho funciona na base de registos nunca garantidos pelas ciências sociais e, até, negados pela História recente. O ultraneoliberalismo de que se faz eco encaminha-nos para uma situação irremediável.
É para a evitar que, na edição online do «Expresso», Daniel Oliveira propõe um caminho alternativo não isento de sacrifícios, mas em que a luz ao fundo do túnel poderá deixa de ser a de um comboio a vir em sentido contrário.
A sua proposta acaba por não diferir muito do proposto há uns meses pelo deputado socialista Pedro Nuno Santos: tratar a troika e os credores não como nossos amigos a quem devemos tratar com a máxima deferência, mas como representantes de interesses com que devemos negociar uma saída diferente para a crise. Imitando o exemplo islandês, que tem suscitado tão bons resultados positivos num quadro de emergência igualmente complicado.
Escreve Daniel Oliveira: Os mercados financiam quem cresce. Não financiam alunos bem comportados que definham. Dirão: caloteiros não conseguem crédito. Mas não é evidente que só crescendo poderemos evitar o calote?
Torna-se evidente - e é já Manuela Ferreira Leite quem o reconhece - que por este caminho só teremos a certeza do abismo. Que é aquele para onde Passos Coelho nos quer teimosamente precipitar.
É por isso que, a exemplo de gregos e espanhóis, devemos encher as ruas das nossas cidades em todas as oportunidades possíveis, à medida que vão sendo convocados novos protestos. E no blogue «Arrastão», o Miguel Cardina encontrou uma forma inteligente - e metafórica! - para replicar esse mesmo apelo. Com a devida vénia transcrevo-o na íntegra:
Uma das palavras do momento é "devolver". Por exemplo: o governo pretende "devolver" um dos subsídios aos trabalhadores do público. Vejamos as coisas com uma metáfora (parece que andam eficazes). Pedro assaltou-lhe o quintal e roubou duas laranjas. Você barafustou mas Pedro tem as costas quentes. Entretanto, houve quem levasse as coisas a um juiz, que admoestou o gatuno: "desta vez passa mas não volte a fazer o mesmo". Apanhado agora em cima do muro a tentar furtar uma laranja, Pedro esclarece: "não, não estou a roubar uma laranja. Estou a "devolver" a outra que ficou por roubar!". Ao mesmo tempo, claro, que prepara o assalto aos quintais do lado. Sábado há manif.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

POLÍTICA: Ventos favoráveis


Numa das mais conhecidas novelas de Joseph Conrad - «The Shadow Line» - um navio à vela fica à deriva no meio do oceano, sob o sol escaldante, que não deixa soprar a mínima brisa. O imediato do navio vai enlouquecendo progressivamente ao recordar que, ali mesmo, naquelas coordenadas, estava o cadáver do antigo comandante, morto na viagem anterior. E só quando esse mesmo imediato se atira borda fora é que cresce a tempestade libertadora e o navio volta a navegar, com todas as velas enfunadas oceano fora.
Vem isto a propósito da suposta literatice de Passos Coelho ao discursar hoje na homenagem a Adriano Moreira, e ao citar Camões prometendo «ventos favoráveis» já a soprar.
Não sabemos se ele tinha presente o lema das manifestações de 15 de setembro («Cessa o medo, sopra o vento»), mas adivinhamos para breve a inevitável imersão do louco imediato, que trouxe o navio até aqui, ainda preso a ideologia morta e afundada na exata medida do seu fracasso económico, financeiro e social.
O vento a soprar é outro, que não o vislumbrado pelo enlouquecido e vaiado (também nesta ocasião!) tripulante da nau...


FILME: «La main tendue - Les arts de l’Islam au Louvre» de Richard Copans



É o grande acontecimento cultural de Paris neste início de outono: a abertura do novo departamento do Louvre dedicado às artes do Islão!
Porque as filas para a aceder a esse antigo pátio - agora coberto com uma pala envidraçada em forma de tapete - são compridas, e porque Paris não fica propriamente aqui ao virar da esquina, vale a pena ver o documentário de Richard Copans, que alterna imagens da arte islâmica em várias zonas geográficas do mundo (Agra, Cairo, Istambul ou Córdova) com entrevistas aos arquitetos e aos museólogos envolvidos na aventura de criarem um novo motivo de interesse para os milhões de visitantes do Louvre.
O resultado é fascinante por muito que esse tipo de arte não esteja nas nossas prioritárias opções de gosto. Mas perceber como um conceito se transformou num espaço concreto em que se procuram explicar as múltiplas vertentes de uma riquíssima civilização justificou bem a hora dedicada a olhar atentamente este filme de Copans.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

POLÍTICA: Ponto de viragem, sem dúvida.


Na tentativa de sacudir a água do capote e imputar ao Governo anterior a grande responsabilidade pela situação em que o país está atualmente, muitos ministros, deputados e dirigentes do PSD vêm seguindo a tática goebbelsiana de repetir mil vezes a mesma mentira para procurarem dá-la como verdadeira perante quem agora os está a julgar na praça pública pelo redondo fracasso das suas políticas.
Como demonstra Sérgio Lavos no blogue Arrastão, o buraco colossal em que estamos metidos vai-se alargando a cada novo relatório da execução orçamental. A previsão de dívida pública para este ano foi revista - e pelo Governo, portanto podemos apostar que ainda vai ser superior - para 119,1%, acima da anterior previsão de 114,4% e bastante acima dos 107,8% de 2011. Para 2013, o Governo prevê que a dívida chegue a uns brutais 124% (será mais, podemos ter a certeza disso) em vez dos 118,6% previstos anteriormente.
Temos, pois, uma execução orçamental em que, em vez de conseguir reduzir o défice, o Governo conseguiu ir agravando-o em 726 milhões de euros entre Julho e Agosto.
Conclui o bloguista: Um virtuoso ciclo de destruição: um pequeno passo para Gaspar, um gigantesco afundanço para a economia portuguesa. Ponto de viragem, sem dúvida.

POLÍTICA: Quem não quer ser lobo, não lhe vista a pele!


Eu que nunca vivi da política, embora nunca tenha deixado de militar nas causas em que acredito, sempre execrei o discurso populista contra os políticos.
Sempre defendi que não se deve misturar Manuel Germano com género humano (Mário de Carvalho dixit…) e que, como em todas as atividades, existem os que são bons e os que são maus. Tanto mais que representam classes sociais por cujos interesses deverão pugnar, sem descurar a obrigação ética de levarem em conta o interesse geral.
É por isso que os três primeiros parágrafos da crónica de Pedro Tadeu no «Diário de Notícias» de hoje me mereceram algum estremecimento, logo diluído pelo distanciamento do próprio autor quanto à leitura mais primária das suas palavras. Mas convenhamos que Miguel Macedo ao invocar a fábula da cigarra e da formiga num discurso emitido este fim-de-semana pôs-se a jeito de lhe lembrarem o provérbio de mandar não vestir a pele de lobo quem por ele não quer ser tomado. Senão atenhamo-nos a esses três elucidativos parágrafos:
Miguel Macedo nasceu em Braga, em 1959, licenciou-se em Direito. Foi deputado à Assembleia da República na V, VI, VII, VIII, X e XI legislaturas. Nesta última foi líder parlamentar do PSD.
Conseguiu ir para o Governo como Secretário de Estado da Juventude do XI Governo Constitucional (Cavaco Silva era o primeiro-ministro) e, mais tarde, como secretário de Estado da Justiça dos XV (Durão Barroso) e XVI governos (Santana Lopes). É ministro da Administração Interna de Passos Coelho. Foi vereador da Câmara Municipal de Braga entre 1993 e 1997 e membro da Assembleia Municipal de Braga. Foi secretário-geral do PSD entre 2005 e 2007.
Se eu fosse parvo diria, apressado: "este tipo é uma cigarra, consegue viver à custa do contribuinte desde 1987. Desde os 28 anos de idade que é político profissional... Vá mas é trabalhar!"

POLÍTICA: mais uma do Romney

POLÍTICA: o embuste das exportações


Na hora informativa da Ana Lourenço na Sic Notícias, o jornalista Nicolau Santos acaba de nos prestar valiosa informação sobre as exportações nacionais, tão incensadas pelo atual Governo como exemplo de sucesso da aplicação das suas políticas.
Já sabíamos que uma das componentes desse «sucesso» era o ouro, que as famílias compraram em época de maior folga e de que agora se desfazem a preço desfavorável para garantir alguma liquidez para os seus asfixiantes compromissos financeiros.
Nessa negociata só alguns oportunistas, que viram nessa efémera atividade uma forma de ganharem margens de lucro obscenas, é que ficam a ganhar!
Mas novidade são outras duas importantes componentes desse importante indicador financeiro:
· a venda especulativa de medicamentos para outros países, mesmo que isso implique faltarem para os nossos doentes, incapazes de os encontrarem nas farmácias.
· o regresso ao mercado exterior de muitas viaturas importadas para serem aqui comercializadas e que, face ao retrocesso no consumo, deixaram de ter compradores;
É por isso que o discurso sobre a sustentabilidade das nossas exportações, eixo fundamental da prometida redução do défice, é uma vigarice como muitos dos argumentos hoje proferidos pelos ministros e apoiantes deste desacreditado Governo, que não olham à mais despudorada demagogia para adiarem o mais possível o desenlace que os espera.


POLÍTICA: A esquerda e a resposta à delinquência


No programa «28 minutes» do canal franco-alemão ARTE, discutia-se hoje se o ministro do Interior Manuel Valls não estará a replicar a postura do sarkozismo perante muitas vertentes da disfuncionalidade social em França. E recordavam-se alguns episódios: a expulsão dos ciganos romenos, a proibição de manifestações de fundamentalistas islâmicos em frente à Mesquita de Paris, o policiamento reforçado de Marselha ou a sua proclamada falta de entusiasmo pelo reconhecimento do direito de voto aos emigrantes.
Resultado: enquanto Hollande desce nas sondagens, Valls sobe imparavelmente.
Mas há muito que, a tal respeito, a esquerda costuma esquecer uma evidência: por muito que a delinquência tenha causas sociais, que importa corrigir (e daí a importância em garantir o direito a habitação, saúde, educação, etc.) já são irreversíveis muitos casos de gente desestruturada capaz de atentar contra bens e pessoas sem se ater a quaisquer escrúpulos.
Para tais casos - mesmo que suscitando pruridos éticos - não existe outra solução senão a repressão. Complementada se possível com verdadeiras políticas de reinserção social e profissional.
O que não se pode nunca é deixar à direita - e bem sabemos quanto Paulo Portas sempre teve grande sucesso a tal respeito junto dos taxistas e aparentados! - a oportunidade de cavalgar na onda da suposta segurança pública, já que ela nunca poderá ser uma questão de direita ou de esquerda, filiando-se sim nos imperativos de uma estratégia republicana.
Nesse sentido - e muito embora haja quem sinta alguns amargos de boca ao ter de reconhecê-lo! - mas a razão estará desta vez com a musculada política de Manuel Valls.