terça-feira, 4 de setembro de 2012

POLÍTICA: voltar a ter a coluna na posição vertical!


Começa a ser confrangedor assistir aos debates televisivos de João Galamba com deputados ou outros representantes da direita governamental. É que até dá pena ver a triste figura em que estes últimos incorrem ao serem esmagados pela argumentação do deputado socialista.
Esta noite, no «Vice-Versa» da RTP Informação, coube  a vez a Luís Meneses do PSD.
Avisado e já ciente da tareia esperada, o filho do munícipe de Gaia, julgou munir-se de munição suficiente levando consigo uma citação do oponente julgando apanhá-lo em contradição. O que se seguiu foi uma disparatada tentativa de justificação da falência do Governo de Passos Coelho procurando dissociar este do desastre para que empurrou o país. E as circunstâncias eram tanto mais desfavoráveis a Meneses quanto a troika decidira nessa mesma tarde alijar quaisquer responsabilidades suas nesse mesmo desastre, atribuindo-o por inteiro ao seu suposto «bom aluno».
E foi aí que João Galamba destroçou quaisquer veleidades de Meneses justificar o injustificável: nunca Passos Coelho deveria ter esquecido que a troika representa os interesses dos credores enquanto o Governo português deveria ter sempre presente a defesa dos que cabem aos seus cidadãos.
Não o disse, mas esteve implícito que, enquanto o Governo anterior era liderado por quem demonstrava ter coluna vertebral, mesmo que considerado arrogante por uns quantos, o que se lhe seguiu foi com gente de espinha gelatinosa, tão apostada em se curvar que nunca mais se conseguirá verticalizar.
A visita da troika promete - para mal de todos nós! - demonstrar que nada se ganha em ser-se hipersubserviente, só se ganhando o respeito das instituições com que lidamos se soubermos trata-las como parceiros com interesses a considerar, mas com a obrigação de atenderem aos nossos.
Vem, pois, aí mais um pacote de medidas altamente lesivas das mais desfavorecidas classes sociais do nosso país, incluindo esse estrato intermédio tão importante para garantir o consumo interno e empurrada para tão súbita quanto gravosa pauperização.
Se na sua mais recente crónica no «Expresso», Miguel Sousa Tavares fazia um diagnóstico objetivo da presente realidade e questionava o que sobre ela iriam fazer o Governo e a troika, os sinais hoje transmitidos aos parceiros sociais dão ainda maior ênfase ao último parágrafo desse texto, que concluía assim:
Um ano e meio decorrido, depois de ter aceitado os sacrifícios impostos com uma resiliência que todos reconhecem, os portugueses têm o direito de esperar que o Governo e a troika lhes digam o que correu mal e porquê, e o que vai ser mudado ou revisto.
E não adianta vi rem com desculpas sobre a conjuntura externa, porque esta é a mesma maio ria que não aceitava essa explicação ao governo anterior.
Não adianta virem di zer que a situação era bem pior do que esperavam, pois que nos juraram que conheciam bem a situação e estavam preparados para governar (e ainda espe ramos prova do "desvio colossal"...).
Su pondo que, quer o Governo quer a troi ka, não tenham a humildade de reco nhecer que falharam no diagnóstico e na solução, é de esperar, pelo menos, que não venham, simplesmente, propor-nos mais do mesmo. Estamos pobres e descrentes, todavia ainda não estúpidos de todo.
De facto estamos mais pobres, mas não nos deixamos comer por parvos. Como, aliás, Paulo Portas, assisadamente, também o vai demonstrando ao negar a reforma autárquica ao parceiro da coligação, depressa condenado à solidão dos derrotados.
O que significa que a crise política está bem mais próxima do que a maioria dos comentadores previa. E o país irá precisar de recuperar a atitude manifestada por João Galamba no debate com que começámos este texto: respondendo com firmeza aos credores confrontando-os com a inevitabilidade de se recuperar a lógica de ganhos mútuos num negócio, que extravasa este cantinho à beira-mar plantado e diz respeito a toda a economia do eixo atlântico.

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