terça-feira, 25 de setembro de 2012

POLÍTICA: uma noite de Passos Coelho sem pesadelos


É provável que Passos Coelho tenha ido para a cama mais descansado esta noite, esperançado em dormir finalmente o sono dos justos. Desta feita terá contado libertar-se dos insistentes pesadelos de multidões de manifestantes de um lado e de catadupas de patrões do outro, a chamarem-lhe os piores nomes.
Lá para consigo terá pensado: «O pior já passou!». E ao endireitar a almofada, antes de apagar a luz, ainda poderá ter esboçado um sorriso ao lembrar o provérbio popular: «Com papas e bolos se enganam os tolos!».
Porque se trata de um garoto, que se julga muito esperto, dormirá descansado e acordará com menos olheiras. E brincará porventura com Gaspar a tal respeito, quando o encontrar pela manhã:
- Então, óh Vítor! Ainda com essa cara de morto-vivo?
O Gaspar, que é outro tipo de garoto - daquele do tipo marrão, que vive enfronhado nos livros sem olhar para a rua - olhá-lo-á com tristeza: é que as suas leituras durante as horas de insónia não o terão descansado. Bem procurou em Friedman ou em Hayek as respostas para o total desfasamento da realidade com as suas contas no excel, que os defuntos gurus não lhe deram respostas.
Bem, pelo contrário, apenas lhe afiançaram estar tudo certinho nos seus números e que o resultado na realidade tinha de ser mesmo aquele que mostrou, orgulhoso, ao padrinho Schäuble. Aquele que gostava de lhe passar a mão pelo lombo e o incitava a continuar o seu esforço de moralização dos hábitos despesistas dos seus preguiçosos compatriotas.
Já a madrugada despontava, quando a dúvida se lhe terá insinuado: «será que tudo quanto li está errado? Afinal o Stiglitz ou o Krugman é que terão razão?»
E terá sido com uma ponta de angústia, que tomado o pequeno almoço, ajeitou a gravata para regressar ao calvário de todos os seus dias.
Esse pessimismo refletido no seu rosto contagiará de imediato o Pedro, de súbito cético quanto à bondade das alterações apresentadas à Concertação Social.
Será que os funcionários públicos, os reformados e os pensionistas deixarão de ir às próximas manifestações, já que lhes prometeu o pagamento de parte dos subsídios em 2013? Será que os trabalhadores do privado ainda quererão reivindicar alguma coisa depois de lhes ter devolvido os 7%, que lhes ia retirar com a TSU, mesmo que lhes vá descontar mais com a revisão das tabelas do IRS? E será que o Paulo não lhe voltará a dar uma facada à má-fila assim que o tiver novamente a jeito?
Inquieto ele lá voltará à rotina do dia-a-dia, agora muito mais descansada desde que reviu a agenda e diminuiu ao mínimo as visitas a fábricas e a conferências, pelo menos enquanto se mantiverem os coros de protesto à sua espera.
Olhando para os papéis em cima da secretária concluirá, conformado: «pelo menos dormi uma noite em beleza!»



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