quinta-feira, 30 de março de 2023

A sórdida mediocridade

 

1. Quando é Paulo Baldaia a classifica-lo de terrorista, ou Nuno Melo a acusá-lo de “exacerbar ódios”, só pode concluir-se que a nauseabunda criatura não refreia a natureza oportunista e a todos os meios recorre para alcançar o seu objetivo: o de manter a notoriedade para que o não talhava o talento, mas descobriu possível pelos contínuos discursos de ódio. “Alquimista maligno” o apelidou Carmo Afonso, dando-o como expressão da raiva dos que nada compreendem dos enleados impasses nos seus dias e o apoiam porque, já nada almejando, apostam no quanto pior melhor. E, de facto, a execrável besta adora o papel para que se descobriu fadado, o de provedor dos enraivecidos frustrados!

2. Sempre alimentei curiosidade sobre o que sentiriam quantos deram sentido às respetivas vidas dedicando-as à luta pelas grandes transformações sociais, porque acreditaram seriamente em valores generosos como os da fraternidade e igualdade, mas tiveram a desdita de se lhes associarem filhos que, decerto, desmerecem os ventres maternos, quase por certo, de excelsas senhoras, que não imaginariam os epítetos a si imerecidamente endossados, justificados pela pulhice dos rebentos.

Moedas é exemplo maior desse tipo de curiosidade, porque nascido em família de comunistas, converteu-se em quem é: um arrivista capaz de falsear a história para organizar um comício a propósito da erradicação das barracas em Lisboa e noutros municípios, apagando da fotografia quem mais por isso fez. Com idêntica falta de escrúpulos quanto aos meios a utilizar, não é menos perigoso do que o outro abominável  mostrengo: alimenta-o a mesma ambição de adquirir a relevância pública pela qual possa disfarçar a sórdida mediocridade... 

domingo, 26 de março de 2023

E o mundo continua a girar!

 

Enquanto Marcelo e Costa se entretêm com evento menor nas cálidas temperaturas do Caribe, não faltam horas de debates televisivos sobre os enfatizados arrufos entre ambos. Como se fossem novidade, ou pressupusessem alguma mudança substantiva quanto ao que ditará a relação institucional até ao dia em que o selfieman mudar de funções e voltar ao comentário televisivo com o mesmo estatuto, que foi o seu antes de, para mal dos nossos pecados, impor-se-nos como mais alto magistrado da Nação, privando-nos de quem (Sampaio da Nóvoa) o seria com outra elevação e gravitas.

Por regra os opinadores do momento sobrevalorizam a inteligência pérfida do professor e minimizam a do antigo aluno. Como se querem enganar! António Costa já leva muitos anos de política para saber como contornar os constrangimentos, que lhe querem impor. E não fossem algumas das suas opções para quem quer a acompanhá-lo no elenco governativo, ou a injustificada preocupação em facilitar a sucessão ao seu putativo delfim - em detrimento de quem se tornou o seu patinho feio! - e não haveria, que muito apontar ao seu legado durante estes sete anos: porque enfrentou a pesada herança passista, a começar pela dívida pública e a acabar na indecorosa privatização da TAP, para depois salvaguardar os portugueses dos efeitos da pandemia. Assim como, perante a guerra na Ucrânia, tem sabido preservar o crescimento económico, o controlo do desemprego e a subida no preço dos recursos energéticos.

Falta resolver alguns focos de contestação social ou baixar a inflação dos produtos alimentares? Claro que sim! Mas, como corredor de fundo que é, não tem encontrado arte de vencer os não menos difíceis desafios com que se tem deparado?

Talvez lhe falte, ainda assim, o conselho avisado do pai, que estaria porventura a, nesta altura, adverti-lo por ter pendido durante cinco anos mais para a esquerda com a colaboração das esquerdas e, ganha a maioria absoluta, se ter iludido com as virtudes de um reposicionamento ao suposto centro que -, Macron o está agora a sentir na pele! - a poucos agradará: nem aos que mais explorados se sentem, nem aos que, impenitentemente gananciosos!, não deixam de, sempre que podem, lançar-lhe o veneno da sua vera personalidade (vide o escandaloso discurso do patrão cujo ordenado mensal é centenas de vezes maior do que a média dos que para ele trabalham!).

No meio de tudo isto, que resta do palavreado de Marcelo e da sibilina resposta de Costa? Um mero pretexto para gente pouco séria compor a carantonha e proferir as mais disparatadas previsões como se os fadasse o talento dos oráculos.

O povo falaria da caravana a passar enquanto os cães ladram, mas o bem mais sábio Galileu redarguiria que, como sempre sucede, a Terra continua a girar...

quinta-feira, 23 de março de 2023

Xeques preparatórios dos mates e genuflexões

 

1. Gostei de ver António Costa ao ataque no debate parlamentar de ontem porque, não só voltou a pôr no bolso todos os que com ele quiseram terçar armas de retórica, como sobretudo endereçou palavras a Marcelo e a Cavaco, que lhes terão dado ensejo de desconfiarem de iminente otite. Sobretudo ao atual inquilino de Belém, que colou implicitamente ao personagem criticado num célebre gag de Ricardo Araújo Pereira sobre haver quem fala, fala, mas nada faz. Porque o que António Costa disse foi precisamente isso mesmo: "A razão pela qual prefiro funções executivas é que nas outras fala-se, fala-se, fala-se e nas funções executivas faz-se ou não se faz. E a medida do que se faz está nos resultados".

2. Esclarecedora, igualmente, a posição do governo sobre o futuro da TAP, mantendo o Estado com percentagem suficiente na estrutura acionista para assegurar os objetivos, que sempre definiu como prioritários: a defesa do hub de Lisboa, a preservação das rotas aéreas mais utilizadas pela nossa diáspora além-Atlântico e em África e a importância da companhia enquanto instrumento de desenvolvimento para vários setores da nossa atividade económica.

Na comissão parlamentar a que compareceu João Galamba foi igual a si mesmo: competente e sem falinhas mansas para com quem merece investigação séria sobre a forma como quis privatizar a empresa em 2015 e pactuou com os negócios ambíguos do sr. Neeleman.

3. Não estranhamos que André Ventura tenha confessas afinidades eletivas com o padre Mário Rui Pedras, que a Comissão Independente identificou como um dos suspeitos de abusos de sexuais ainda em atividade na diocese de Lisboa. Podemos especular sobre como terá sido o conbíbio (versão Herman José), que Ventura e o padre em causa terão desenvolvido nos anos em que o deputado viveu na Residência de São Nicolau, onde o seu atual diretor espiritual era tão influente. Vamos lá a ver se a verve do humorista dedica saboroso momento, quando esta novidade merecer a sua oportuna abordagem...

terça-feira, 21 de março de 2023

Uma cimeira para refrear intenções imperialistas

 

A cimeira entre Putin e XI Jinping, a decorrer por estes dias em Moscovo, assusta os norte-americanos ao verem reforçada a aliança sino-russa capaz de lhes contrariar a ambição de serem exclusivos xerifes num espaço global a eles hostil por conhecerem-se bem demais todos os crimes e agressões perpetrados ao longo da sua história, quando fizeram aos mexicanos aquilo de que agora acusam a Rússia, causaram genocídios em Hiroshima ou no Vietname (com napalm) sem jamais se sujeitarem a qualquer acusação por um qualquer Tribunal Penal Internacional, ou invadiram nações ou derrubaram governos legítimos com os mais inconsistentes pretextos (o de terem por  exemplo armas de destruição maciça).

Ao ouvirem-se os clamores de Biden e do seu secretário de Estado contra os crimes russos na Ucrânia temos de nos espantar com a sua falta de escrúpulos. Porque, se há quem não tenha legitimidade moral para condenar o expansionismo do Kremlin são os Estados Unidos, que tiveram a sua Crimeia na época em que absorveram o Texas, o Novo México e outros estados do norte do México, ou perpetraram milhões de vítimas por conta das suas muitas intervenções imperialistas, com que quiseram impor a “pax” americana nos vários continentes.

Putin e Xi Jingping não são democratas segundo os padrões ocidentais? Claro que não o são, sobretudo em liberdades tão fundamentais quanto são as do pensamento, associação ou imprensa. Mas, convenhamos que esta última é uma farsa, quando todos os meios de des)informação estão nas mãos de quem se sabe, limitando assim as demais liberdades a essa manipulação das narrativas por quem possui a riqueza e a usufrui das obscenas desigualdades em relação aos que vão sendo acossados na mais extrema miséria.

E a hipocrisia de Biden teve por estes dias mais um assombroso exemplo: dando seguimento ao que fora intenção do antecessor deu autorização para a exploração de novas jazidas de hidrocarbonetos no Alasca. Pondo mais um significativo prego no caixão dos chamados Acordos de Paris sobre o clima!

segunda-feira, 20 de março de 2023

O bom exemplo de Rui Nabeiro e quem não o merece

 

1. A morte de Rui Nabeiro suscitou uma tal unanimidade nacional, que até a aventesma da extrema-direita veio ofender a memória do falecido com palavras, que sabemos hipócritas, meramente para patego (o tipo de gente a ele rendido!) ver!

As evidências - a decência que soube conferir à sua condição de empresário e a ligação próxima ao Partido Socialista! - justificaram-lhe os elogios, mas a melhor homenagem a ele endossada talvez continue a ser Almoço de Domingo, o romance do José Luís Peixoto, que no-lo fez mais intimamente conhecer. E que permitiu ao escritor perceber, que o seu biografado “sempre percebeu que os lucros não existem exclusivamente a nível financeiro”.

2. A ele também se referindo, Carmo Afonso comentou dar que pensar “que o dono de uma indústria demonstre ter o coração mais à esquerda do que um ministro de um governo socialista”. E com isso refere-se ao erro de casting, que é António Costa e Silva enquanto ministro da Economia, autor das lamentáveis declarações de amor às empresas, quando participava na sessão de abertura do congresso da Associação da Indústria de Moldes, e acusando de preconceituosos os que veem o lucro como um pecado.

Pecado não o será, mas exploração da mão-de-obra alheia devia-o saber Costa e Silva há muito tempo, porque assim no-lo demonstrou Karl Marx há quase dois séculos!!!

3. Não são muitas vezes as que comungo do mesmo pensar que Miguel Esteves Cardoso mas, pelos vistos, encontramo-nos na mesma barricada dos que detestam aquele tipo de conversa do bota-abaixo dos que dizem só em Portugal acontecer patáti-patátá com isso enunciando umas quantas razões de crítica para sermos tais quais somos. Por isso subscrevo o que ele hoje publica na sua crónica diária: “Muitas das queixas que se ouvem de Portugal aplicam-se a qualquer país. São tão banais noutros países que ninguém as faz publicamente e, como tal, são invisíveis, levando os portugueses a pensar que não existem – e que só existem em Portugal.” 

domingo, 19 de março de 2023

A monstruosidade, a anarquia e um pequeno bonaparte

 

1. Terá valido a pena desassossegar os frágeis equilíbrios de pessoas traumatizadas na infância e adolescência por padres abusadores, que quiseram convencê-las de  serem instrumentos das vontades divinas? As intervenções públicas de Daniel Sampaio vêm tornar pertinente essa questão tão veemente parece a vontade dos bispos em minimizarem as consequências daquilo que o seu próprio papa classificou de “monstruosidade”. Porque, depois do sério trabalho da comissão independente, o clero nacional aposta na lógica militar do tudo como dantes, quartel general em Abrantes.

Deixarão os portugueses, que essa atitude cobarde persista? Eis algo que motivará a nossa atenção nos próximos tempos.

2. Motivo igualmente de atenção as consequências judiciais e militares do ato de insubordinação cometido pelos quatro sargentos e nove praças de uma unidade da Armada aportada na Madeira.

Se há quem pretenda aproveitar-se do gesto como pretexto para apontar armas ao governo, parece evidente que algo de muito sério poderá explicar o sucedido. Porque este tipo de reivindicações inorgânicas poderá aproveitar a extremos, que se tocam - à descarada coligação do STOP com o Chega - mas nenhum problema de fundo resolve no essencial. E, perante a tendência coletiva para rejeitar a anarquia, não deixa de ser curiosa a adesão das direitas por razões meramente tacticistas. Porventura enganando-se na estratégia como, há muito, vem sendo seu hábito.

3. Quanto àquele que houve quem caracterizasse como uma espécie de Cavaco com perfil de Eanes, que o futuro nos livre de tal hipótese presidenciável. E, na altura certa, que Augusto Santos Silva se afirme como o mais arguto para liderar, a partir de Belém, o que necessário for necessário para minguar as aspirações do oportunista da extrema-direita, senão mesmo ilegalizá-lo como afronta que é para a Constituição da República.

quinta-feira, 16 de março de 2023

O caos em que nos querem precipitar os ultraliberais

 

A revisão de um filme, que já não via há mais de quatro décadas, reacendeu-me o pensamento sobre a consciência, há muito havida, sobre o carácter intrinsecamente pernicioso do sistema capitalista.

Em Alien, de Ridley Scott, um robô está disposto a sacrificar toda a tripulação da nave Nostromo para permitir aos patrões a aquisição de um espécime com suposto potencial lucrativo nas suas estratégias de investimento futuro. Entre a atração da acumulação do capital e a condenação à morte de quem possa ser trucidado nesse processo, os oligarcas não sentem um ínfimo sobressalto sobre a melhor decisão a tomarem de acordo com os seus interesses.

Coincidiu essa revisão da matéria dada com a notícia da falência de três bancos norte-americanos, um dos quais fora considerado magnífico pela Forbes apenas quatro dias atrás. Logo complementada com a garantia de ressarcimento dos depositantes, muitos deles pródigos na apreciação dos mercados financeiros como se de casinos se tratassem. Dando razão ao insuspeito João Miguel Tavares ao constatar na sua crónica de hoje o vivermos num tempo em que quando o investidor arrisca e corre bem, ganha muito dinheiro. Quando arrisca e corre mal, o contribuinte paga.

Que, de súbito, tenha perpassado um calafrio em muitas instituições financeiras europeias ao darem com a quebra súbita do Crédit Suisse nas bolsas internacionais, só veio dar razão a quem olha para toda a estrutura financeira do capitalismo global e nela pressente a solidez de um castelo de cartas.

Embora seja inabalável a utopia dos nossos ultraliberais, ao execrarem a mínima tentativa de regulação, que evite os males maiores ao contrariar a falsa mão invisível dos mercados capaz de gerar virtuosos equilíbrios a longo prazo. Aquele a que poucos chegariam tão distópico seria o caos em que nos mergulhariam.

TAP, inflação e xenofobia

 


1. Mantendo dúvidas quanto aos danos causados no interesse público por toda a demagogia lavrada na imprensa a propósito da indemnização a Alexandra Reis e o quanto a intervenção de alguns protagonistas - mormente Marcelo! - poderá ter agravado a sucessão de decisões, que culminaram na malfadada conferência de imprensa em que vimos Fernando Medina a desqualificar João Galamba  enquanto ministro de tutela da empresa, parece óbvio um maior interesse no cabal esclarecimento do negócio entre David Neeleman e a Airbus, que lhe permitiu comprar a TAP sem nela injetar um cêntimo seu.

Se a questão da demissão da CEO francesa colide com o sucesso do plano de recuperação da empresa e a possibilidade de acautelar uma eventual participação do Estado português na empresa após a privatização, o que configura o conluio do último governo de Passos Coelho com o consórcio Gateway é um crime indisfarçável e uma reiterada prática de entregar a gente mais do que suspeita aquilo que a todos nós pertencia. E, se isso não significar a condenação definitiva do antigo primeiro-ministro e de vários dos seus ministros e secretários de Estado como indignos de voltarem a assumir cargos governativos, muito mal andará este país, se insiste em aceitar vigarices de tal dimensão...

2. Sem surpresa vimos a RTP a promover-se como provedora dos interesses da Sonae ou da Jerónimo Martins defendendo-lhes as práticas especulativas e atirando para cima dos produtores a quase exclusiva culpa pelo aumento do preço dos produtos alimentares. Como se a especificidade portuguesa nesse fenómeno não demonstrasse o logro inerente à cortina de fumo agora lançada com a habitual expressão de gáudio de José Rodrigues dos Santos, quando anuncia algo do interesse das empresas, que mais nos exploram. E continuam a não faltar as tentativas de impor um abaixamento do IVA que - está cá provado e lá fora! - ser forma expedita desses mesmos protagonistas embolsarem ainda maiores margens de lucro!

3. Sim! As anteriores apreciações de Gary Lineker sobre Jeremy Corbyn não poderão ser esquecidas, mas é forçoso reconhecer que ele condenou a nova legislação do governo conservador inglês como algo que faz todo o sentido: o paralelismo com o extermínio dos judeus pelos nazis, que não começou na criação dos campos de concentração, mas na crescente desumanização desses outros erigidos como representantes de um mal absoluto a extirpar. E, por isso, a inflexão da BBC terá equivalido a mais um prego no caixão de um governo conservador, cujo fim inevitável se anuncia nas sondagens. Muito embora os trabalhistas, liderados por Keir Starmer, pouco pareçam ter de esquerda, descendendo da malfadada herança do Tony Blair de má-memória e continuando a esquecer quem eram no tempo de um Michael Foot ou de um Neil Kinnock. 

segunda-feira, 13 de março de 2023

Quem anda a facilitar a vida a Marcelo

 

1. Não é preciso especular muito sobre as intenções de Marcelo relativamente ao que quis transmitir na entrevista desta semana: temeroso de se ver remetido ao papel de corta-fitas e protagonista de selfies, procura manter um ascendente ameaçador sobre o governo numa altura em que este vai multiplicando inabilidades e inconsistências, que confirmam o desajuste de Fernando Medina para o cargo em que António Costa o investiu, e a impossibilidade de João Galamba opor-se a uma decisão - a da demissão da CEO da TAP - com que, pela sua expressão na lamentável conferência de imprensa, manifestamente, pareceu discordar.

Para os socialistas mais preocupados parece estulta a preocupação do primeiro-ministro em selecionar quem quer que lhe suceda à frente do Partido em vez de concentrar-se na sua exclusiva missão: governar bem para desviar as direitas da expectável tomada do poder até 2026.

2. Se a anterior primeira-ministra inglesa foi corrida de Downing Street por manifesta incompetência, o seu sucessor não parece talhado para governação melhor sucedida. A política de imigração imposta pela ministra dessa pasta - cuja tez indoasiática não livra de se revelar xenófoba e racista - associado à suspensão de um influente comentador desportivo, que se atrevera a criticar a legislação em causa, demonstra como as direitas vão resvalando, mais e mais, para as suas extremas idiossincrasias por não terem argumentos nem propostas capazes de darem resposta às muitas crises atuais.

3. A maioria dos bispos mantém um tipo de cegueira perante o avolumar dos casos de pedofilia na Igreja, que prenuncia uma crise que a visita do Papa pouco ajudará a debelar. 

domingo, 12 de março de 2023

A desintoxicação do sinistro ópio

 

Incompreensível a sugestão de quem anda a publicar textos sobre a Igreja Católica e a suposta perda da sua condição de referência moral na vida dos portugueses.

Referência moral? Homessa!

A Igreja da assassina Inquisição, que tanta morte e sofrimento causou, e  quis manter os métodos censórios e persecutórios mesmo quando os tempos mudaram e se viu privada das “fogueiras purificadoras”?

A Igreja, que sempre andou de mão-dada com os poderes reais e os do Estado Novo, expulsando do seu seio quem a desejaria servidora dos interesses dos humilhados e ofendidos que, pelo contrário, ludibriou e explorou?

A Igreja, que se julgou legitimada no afã de submeter à sua vontade - no aborto, na eutanásia - quem não lhe reconhecia os pressupostos em cumprir-lhe os indecorosos preconceitos?

Estes dias de denúncia dos crimes de pedofilia nas sacristias e nos seminários não surpreenderam. Nem tão pouco a cegueira, que leva a maior parte dos bispos a acenarem com justificações, que julgam capazes de calarem o clamor contra o inaceitável encobrimento de práticas, que se adivinham bem mais frequentes do que os números anunciados pela Comissão Independente.

Sabíamos que a religião é o ópio do povo, mas aumenta a esperança de estarmos perante uma desintoxicação, que dê lucidez a quem, na Ciência, pode encontrar tantas respostas para os supostos mistérios, que entendem alimentar sobre a Vida. Feita de matéria e sem nada de transcendente a caracterizá-la.

Desilusão para quem desespera com o tempo fugidio e a inexistência de aléns paradisíacos? É um facto, mas não há como aceitar e encarar cada dia como o propunha o poeta Horácio citado pelo professor John Keating aos seus alunos:  carpe diem quam minimum credula postero!