A revisão de um filme, que já não via há mais de quatro décadas, reacendeu-me o pensamento sobre a consciência, há muito havida, sobre o carácter intrinsecamente pernicioso do sistema capitalista.
Em Alien, de Ridley Scott, um robô está disposto a sacrificar toda a tripulação da nave Nostromo para permitir aos patrões a aquisição de um espécime com suposto potencial lucrativo nas suas estratégias de investimento futuro. Entre a atração da acumulação do capital e a condenação à morte de quem possa ser trucidado nesse processo, os oligarcas não sentem um ínfimo sobressalto sobre a melhor decisão a tomarem de acordo com os seus interesses.
Coincidiu essa revisão da matéria dada com a notícia da falência de três bancos norte-americanos, um dos quais fora considerado magnífico pela Forbes apenas quatro dias atrás. Logo complementada com a garantia de ressarcimento dos depositantes, muitos deles pródigos na apreciação dos mercados financeiros como se de casinos se tratassem. Dando razão ao insuspeito João Miguel Tavares ao constatar na sua crónica de hoje o vivermos num tempo em que quando o investidor arrisca e corre bem, ganha muito dinheiro. Quando arrisca e corre mal, o contribuinte paga.
Que, de súbito, tenha perpassado um calafrio em muitas instituições financeiras europeias ao darem com a quebra súbita do Crédit Suisse nas bolsas internacionais, só veio dar razão a quem olha para toda a estrutura financeira do capitalismo global e nela pressente a solidez de um castelo de cartas.
Embora seja inabalável a utopia dos nossos ultraliberais, ao execrarem a mínima tentativa de regulação, que evite os males maiores ao contrariar a falsa mão invisível dos mercados capaz de gerar virtuosos equilíbrios a longo prazo. Aquele a que poucos chegariam tão distópico seria o caos em que nos mergulhariam.
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