segunda-feira, 30 de abril de 2012

As previsíveis preocupações da Srª Merkel


Os tempos estão a mudar. O que faz pensar quanto se mantém atual a velha canção de Bob Dylan.
Senão vejamos: a uma semana de vermos François Hollande marcar uma viragem simbólica na evolução política europeia, a Sra. Merkel vê-se a contas com uma greve dos metalúrgicos alemães, que não hesitam em exigir 6% de aumento nas suas remunerações. E nesse confronto com as suas políticas ela não se depara com gente frouxa como o nosso primeiro-ministro ou o secretário-geral da UGT. O forte sindicato IG Metall promete luta rija para prevalecer os direitos dos seus associados e conta com argumentos suficientes para fazer dobrar as intenções contrárias dos que estão do outro lado da barricada.
Se somarmos a essa realidade a queda do governo holandês, ideologicamente emparelhado com a austeridade a qualquer preço da teimosa vizinha, e a provável subida eleitoral dos partidos à esquerda do centrão grego, podemos considerar pertinentes as expetativas de a mudança passar a reorientar-se para a redução das enormíssimas desigualdades sociais alimentadas pelos partidos de direita e dos que, social-democratas de nome, contaminaram a esquerda reformista com a terceira via para o capitalismo selvagem.
Assim se compreende que, ainda enchendo o seu discurso de ameaças ao eleitorado francês pela sua previsível escolha, a Srª Merkel e os seus cúmplices já se vejam obrigados a ir falando em crescimento económico. Não adivinham que a procissão ainda vai no adro...

As citações do dia


É preciso entendermos que a legalidade, pelos votos, em que assenta este Governo, não legitima as suas malfeitorias. Entre a legalidade e a legitimidade vai o passo que separa a democracia da tirania. E esta "democracia" em que vivemos não é mais do que um regime de "superfície." Além de incultos, como se tem verificado amplamente, estes indivíduos são soberbos e com a consistência política comum a quem julga que quer, pode e manda.
Baptista Bastos, Jornal de Negócios

Quem mentiu ou mente ao povo soberano não pode invocar nenhuma legitimidade para exercer cargos públicos. Quem mente aos eleitores perde todas as legitimidades democráticas, incluindo - diria mesmo: sobretudo - a de governar. Em rigor não se pode representar aqueles que foram enganados. A mentira ou até a simples omissão da verdade gera um vício de representação que esvazia o mandato político de toda a legitimidade democrática.
Marinho Pinto, Jornal de Notícias

A juventude passa com o tempo, costuma dizer-se; a precariedade, a menos que a esconjuremos, envelhecerá connosco.  
Bruno Sena Martins, Arrastão

O endividamento das famílias, das empresas e dos Estados tem servido para discursos simplistas, que ignoram a mutação que se operou no capitalismo desde os anos 80. Hoje, toda a economia e toda a sociedade vive para financiar a banca e os mercados financeiros em vez de acontecer o oposto. O que tem de acontecer para voltar a pôr as instituições financeiras no lugar que lhes tem de caber é global e exige uma extraordinária coragem política.
Daniel Oliveira, Expresso

sexta-feira, 27 de abril de 2012

VASCO GRAÇA MOURA ... PIM


Este fim-de-semana decorre mais uma festa da música no Centro Cultural de Belém. Ainda preparado pela competente gestão de Mega Ferreira, promete mais umas dezenas de bons espetáculos tendo desta feita a Voz como grande motivo inspirador.
Mas, desta feita, e ao contrário do que tem sucedido nos últimos anos, vou primar pela ausência por um bom motivo: se Groucho Marx jamais poderia aceitar pertencer a um clube, que o integrasse como sócio, também eu direi ser incompatível a frequência de um espaço dirigido por esse símbolo do pedantismo laranja, que se chama Vasco Graça Moura.
Há quem o considere bom poeta e até o apresente como homem culto e de grandes qualidades.
Não é essa a minha opinião: ele representa tudo quanto detesto num suposto intelectual, ou seja a troglodítica forma de encarar a política, insultando quem se situa à esquerda, bem demonstrada quando insultou o eleitorado por ter dado votações maioritárias a José Sócrates.
Se, em definitivo, optei pelo novo Acordo Ortográfico foi por VGM se apresentar como seu mediático opositor. Agora que desisto da condição de Amigo do CCB e de frequentador dos seus espetáculos é como medida higiénica para me não deixar conspurcar pelo que ele representa.
O ambíguo Almada Negreiros causticou o detestável Dantas no manifesto em que arrasava tudo quanto de reacionário ele representava. Que pena não ter hoje um discípulo que, com idêntica ironia e eficácia, seja capaz de traduzir em palavras assassinas o quanto Vasco Graça Moura e a sua adjunta Dalila Rodrigues representam como representantes do governo que, desde o 25 de Abril, mais avesso se mostra a tudo quanto á cultura diz respeito...

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As citações do dia


Este não é um Governo de cravos mas uma companhia de cravas, tantas e tais são as maneiras e vias que o Executivo descobriu e aplicou para ir aos bolsos dos cidadãos.
João Paulo Guerra, Diário Económico

O novo imposto alimentar ‘produzido' por Assunção Cristas é uma forma, expedita, de sacar mais dinheiro aos contribuintes/consumidores em vez de avaliar os recursos financeiros que já são alocados a esta área e utilizá-los da melhor forma, de forma mais eficaz e eficiente. 
António Costa, diretor do Diário Económico

De onde veio este espírito positivo com que o Presidente espera agora mobilizar o ânimo dos portugueses e convencer o Mundo? Os argumentos apontados no discurso do Presidente poderão surpreender os espíritos mais sensíveis mas resumem-se nisto: as razões para acreditarmos no futuro residem no progresso que o País fez principalmente na última década - a tal que se dizia perdida!
Pedro Silva Pereira, Diário Económico

O 25 de abril não é uma data sem conteúdo político. Exatamente: não é o 10 de junho. Tem um significado. Sobretudo para aqueles que, como Soares, Alegre, os militares de abril e tantos outros, nele tiveram um papel ativo. E há momentos em que escolhemos com quem os celebramos. E em que celebrá-los com quem tem pelos valores do 25 de abril um evidente desprezo pode ser insuportável.
Daniel Oliveira, Expresso

quarta-feira, 25 de abril de 2012

3 Pianos Traz outro amigo também & Perpetuum Mobile

O veredicto da História


É claro que a notícia do dia foi a do desaparecimento esperado de Miguel Portas, que teve algo de simbólico: ele que foi um dos que lutaram ativamente pelo sucesso do 25 de Abril, acaba por falecer na execrada data de 24, que nos habituámos a considerar como símbolo de tudo quanto o fascismo representava.
Nesse sentido, e pegando num comentário de Vasco Lourenço sobre o veredicto da História, quando desqualificava o inacreditável comentário de Passos Coelho sobre a ausência de Mário Soares das cerimónias oficiais do 25 de Abril, Miguel Portas ficará recordado por bons motivos. O que não sucederá decerto com o atual primeiro-ministro cuja ação política se arrisca a ficar registada como sinónima de empobrecimento irreversível de milhares de portugueses. Se todos os dias surgem novos indicadores sobre os efeitos dramáticos da política desenvolvida pelo Governo, os de hoje são terrivelmente eloquentes: nunca como agora surgiram tantos lutos em crianças portuguesas, já que aumentaram significativamente as que viram os pais suicidarem-se ou morrerem em acidentes de automóvel (como se sabe, outra forma encapotada de pôr fim à vida).
É por isso que faz todo o sentido a ressurreição do espírito combativo vivido no 25 de Abril… para que se volte a acreditar em futuros melhores!

terça-feira, 24 de abril de 2012

MAIS UM GOVERNO DE DIREITA A IR ABAIXO


Passou quase despercebida, mas tratou-se verdadeiramente da notícia do dia: a queda do governo de direita holandês. Que teve o seu quê de irónico: tratava-se de um dos mais acintosos defensores da ortodoxia do défice, causticando Portugal e a Grécia por não conseguirem apresentar valores abaixo dos 3% do PIB. E propondo naturalmente a sua exclusão do euro.
Agora esse governo cai, vítima do seu próprio veneno: como teria de lançar novas medidas de austeridade para alcançar aquele objetivo, viu-as recusadas pela fortíssima extrema-direita, cujo populismo jamais permitiria associar-se a tão antipática medida para os seus eleitores.
Resultado: mais um governo de direita a cair, ainda antes do de Sarkozy. Com a forte probabilidade de um regresso da esquerda ao poder, mesmo contando com a oposição dos siameses de Marine le Pen nos pólderes dos Países Baixos.
Fica a noção de que a esquerda não tardará a liderar diversos países europeus, mas com o desafio de retirar argumentos a fascistas e neonazis. O que significa a urgência de encontrar um discurso político e ideológico capaz de, com inteligência, atrair os jovens e os operários, cujos medos e limitados conhecimentos, os tornam permeáveis à demagogia mais despudorada...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Casablanca La Marseillaise


A notícia do dia é a da vitória de François Hollande na primeira volta das eleições presidenciais francesas, superando Sarkozy em 1,5%.
No entanto, quando se esperava um sucesso de Mélenchon enquanto candidato da esquerda mais radical, foi Marine Le Pen quem fez arrefecer alguns ânimos ao levar a extrema-direita ao seu melhor resultado eleitoral de sempre.
Valerá aos socialistas, que o interesse  da extrema-direita é a de praticar uma espécie de terra queimada no lado mais reacionário do eleitorado francês, arvorando-se como principal voz de oposição ao novo poder da esquerda. Mas a suada vitória de Hollande a 6 de Maio deverá obrigar a esquerda a encarar o novo quadro político francês com muito cuidado para que a serpente não saia do ovo donde promete emergir para susto de todos os democratas.
No mesmo dia 6 de Maio decorrerão igualmente as legislativas gregas. E, sem o mínimo pudor, o líder da direita Samaras promete ilusórios cenários, que sabe jamais poder cumprir. Esperemos que os gregos se recordem de quem foi o responsável principal por esta crise.
Mas, se falamos de ilusões, não devemos omitir o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que foi para a sede do FMI anunciar que Portugal está no bom caminho quanto à criação de mais emprego. Faltará depreender se Gaspar  é um perigoso lunático, que julga-se capaz de transformar sonhos em realidades, ou um impenitente mentiroso, que vai pronunciando discursos políticos feitos de mentiras sem qualquer fundamento de verdade...

sábado, 21 de abril de 2012

A surfar a onda


A imagem do dia é decerto a dos surfistas do Barreiro, que aproveitam as ondas causadas pelos catamarãs da Soflusa para praticarem o desporto favorito. Que melhor exemplo dessa capacidade lusa de caçar com gato, quando não se possui o cão?
No entanto, as más notícias sucedem-se a um ritmo estonteante: as receitas fiscais caíram mais do que o previsto no primeiro trimestre, agravando as contas públicas. O défice do Estado duplicou assim durante este período.
Se ainda fosse Sócrates quem estivesse à frente do Governo, o ribombar de indignações, que soaria por aí. Por ora, apesar da Morgan Stanley prever a inevitabilidade de um segundo resgate em Setembro, os portugueses calam a revolta, que cresce contudo noutro indicador: pela primeira vez Seguro já ultrapassou Passos Coelho nos indicadores da Eurosondagem. O que, face à inabilidade do secretário-geral socialista, diz muito da que revela o primeiro-ministro. Que já pede ajuda aos outros ministros para que o substituam na comunicação com os portugueses. Voluntariosa, Paula Teixeira da Cruz chegou-se à frente e foi lesta a anunciar que os subsídios não voltarão sequer em 2015. O que ainda contribuiu mais para a felicidade geral...

sexta-feira, 20 de abril de 2012


No almoço, que assinalou o 39º aniversário do Partido Socialista, Mário Soares não poupou nas palavras: «Passos Coelho está a fazer um péssimo trabalho».
E, a confirmá-lo aí estão diversos setores da população a sofrer com a ação do Governo:
· A Caritas alerta para o facto de estudantes universitários estarem a ser expulsos de residências universitárias por falta de pagamento. Fontes da Igreja consideram que o Ensino Superior tende a tornar-se coutada privativa das elites, ao contrário do que sucedeu desde o 25 de Abril.
·  Os ativistas do meritório projeto Es.Col.A foram violentamente expulsos da Escola da Fontinha a mando do democrata Rui Rio.
· Os agricultores prejudicados pela seca não conseguiram que, em Bruxelas, Assunção Cristas obtivesse o desbloqueio de 120 milhões de euros, que são devidos ao setor desde o ano transato.
· Os trabalhadores a serem despedidos a partir de agora ainda receberão menos indemnização do que os cortes já entretanto aprovados pressupunham. Pode-se dizer, que são expulsos das empresas com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
Mas, apesar de tudo isto, Vitor Gaspar foi à sede do FMI assegurar que os portugueses «estão completamente dispostos a sacrificar-se». O que levou o Partido Socialista a acusarem-no de estar fora da realidade...
Entretanto e numa política completamente oposta à da Argentina, aonde se acautelaram os interesses nacionais com a recente nacionalização da Repsol, o Governo decidiu travar a aposta nas eólicas e cortar na energia solar, tornando o país mais dependente dos humores dos especuladores do petróleo. E soube-se também que, contrariando o empresário português Pedro Queirós Pereira, o referido Vítor Gaspar e António Borges pretendiam que a Caixa Geral dos Depósitos entregasse a Cimpor diretamente à brasileira Camargo para assegurarem uma rápida entrada de capital. Mesmo ficando o país sem uma das suas escassas empresas de referência…
Mas, como nem tudo são tristezas nacionais, podemos solidarizar-nos com os austríacos da aldeia de Fucking que, fartos dos problemas suscitados por tão equívoco nome, pretendiam mudá-lo para Fugging. O problema é que, havendo já uma terreola com esse nome, viram frustrada a sua pretensão...