terça-feira, 31 de janeiro de 2023

No rescaldo da entrevista

 

Compreende-se que António Costa tenha sentido a necessidade de dar a entrevista de ontem à RTP. A reconhecida argúcia não o leva a minimizar os sucessivos sinais de Marcelo Rebelo de Sousa quanto à hipótese de, mais uma vez, dissolver a Assembleia da República tão-só os resultados das europeias de 2024 lhe correrem de feição, ou seja, com as direitas capazes de se geringonçarem. Isso mesmo o viu mandar publicar no «Expresso» de sábado passado através da sua porta-voz oficiosa Ângela Silva.

Terá valido a pena o esforço, tão condicionado se viu pela camisa de onze varas a que o entrevistador o quis sujeitar, mediante um manhoso script  de que se não quis desviar nem um milímetro?

Estou convencido que sim apesar dos desconchavados comentários dos comentadores e dos representantes dos partidos políticos no balanço da conversa.

Em primeiro lugar António Costa veio-se dissociar da condição de saco de pancada em que se viu convertido nas últimas semanas para reafirmar a importância de focalizar-se no que verdadeiramente interessa aos portugueses: a ameaçada qualidade de vida.

Depois, porque sabe positivos os resultados na economia, ademais com tendência para melhorarem significativamente com a progressiva aplicação dos fundos europeus previstos no PRR. E que se traduzirá na continuação das melhorias sentidas desde 2015 em muitos estratos sociais.

E ele contará decerto com a mediocridade das direitas, grotescas no seu constante maldizer, sem nada de substantivo a proporem como solução para esta conjuntura subordinada a uma inflação causada por fatores exógenos.

Faltará desativar a bomba artilhada pelo terrorista de um pseudossindicato dos professores, eloquente exemplo de como, mais do que uma doença, o aparente esquerdismo anda de mãos dadas com a extrema-direita (se é que no âmago não saiu do mesmo ovo!). Mas, mesmo isso, será apenas uma questão de tempo, porque depressa enjoa o que é demais... 

domingo, 29 de janeiro de 2023

Uma das piores invenções humanas

 

Confesso que nunca acompanhei o entusiasmo de uns quantos amigos pelo Papa Francisco em cujo pontificado não vejo grandes sinais de rutura com os dos seus antecessores. Poderá parecer menos odioso do que o sinistro João Paulo II, ou menos antipático do que o agora finado Bento XVI, mas o antigo bispo Bergoglio tem de se incumbir da sobrevivência de uma metafísica absurda, e vai agindo em conformidade, adaptando-se a cada circunstância, como aliás sucedeu na Argentina dos generais com cuja ditadura comprovadamente pactuou.

Anda a facilitar os inquéritos sobre os abusos sexuais na Igreja? Pois anda, mas poderia evitá-los face à dimensão dos sucessivos escândalos?

Pronuncia alguns discursos aparentemente anticapitalistas criticando a ganância de uns, e mostrando-se compadecido com a pobreza de outros? Uma vez mais põe a Igreja em modo de limitação de danos, tão ostensiva tem sido o seu conúbio histórico com os poderosos, os que de si se servem para manter aperreados os seus inquietos rebanhos.

E o que dizer da cristalização de posições perante as novas realidades sexuais e de género? Não foi Francisco quem, por estes dias, descansou os homossexuais quanto a não estarem a cometer um crime (como disse?), mas persistirem na condição de impenitentes pecadores?

Não alinho, pois, nas críticas de não existir sintonia entre o feitio do Papa e os dispendiosíssimos altares para a festarola católica de agosto aqui em Lisboa. Na realidade parece evidente neles conjugarem-se o sentido de negócio da empresa de construção civil do regime (a que agora contratou Paulo Portas para administrador!) e a ridícula saloiice de Carlos Moedas, cujos múltiplos complexos de inferioridade (de classe donde proveio, de altura, de aspeto nerd, etc.) justificaram tão faraónicas opções.

Não! Em definitivo julgo que Carmo Afonso alinha em espúria ilusão, quando escreve: “arrisco dizer que este Papa não seria favorável a um despesismo desta natureza num contexto em que milhões de pessoas vivem dificuldades para pagar a renda, ou a prestação, da casa, a fatura da eletricidade e a própria alimentação”.

Seria louvável que assim fosse, mas olho para os aparentes votos de pobreza franciscana como mera estratégia de marketing de um inteligentíssimo jesuíta, que tem colhido o efeito pretendido nuns quantos inocentes. Porque, na realidade, os vários deuses, a cuja pala tanto sofrimento se causa por esse mundo fora, continuam a ser das mais detestáveis criações humanas.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Pagar para confirmarmos o que já sabemos

 

Dois sociólogos decidiram, com a plena colaboração de André Ventura, “estudar” quem são os apoiantes do Chega.

O resultado desse trabalho, pretensamente científico, é um chorrilho de lapalissadas consonantes com o que sabemos sobre tal gente: sem pejo assumem-se como racistas e xenófobos. E, contrariando certos mitos que por aí circulam, provém ideologicamente de anteriores ligações maioritárias ao PSD e ao CDS.

Se era para sabermos isso, questionam-se os custos que pagámos - os autores do “estudo” estão ligados a instituições públicas! - para confirmar tão evidentes conclusões. Ademais, o admirador de Bolsonaro vê-se confortado na ideia de manter um discurso odioso como forma de se saber bem sucedido nos seus propósitos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

E, agora, ainda mais indisposto me sinto!!!

 

Nas últimas semanas, ao passar pela ponte Vasco da Gama no sentido sul-norte, vou acompanhando os trabalhos preparatórios do terreno onde decorrerá a festarola católica lá para o verão. E, impenitente ateu, tenho-me interrogado sobre o que isso me custará nos bolsos nada tendo a ver com os preconceitos absurdos de quem acredita em espúrias metafísicas. Porque, nem que me sinta esbugalhado num cêntimo, considero demasiado caro o investimento pessoal, que me não trará nenhum retorno.

O orçamento para o altar - fora tudo quanto além dele a pândega nos custará! - foi-nos agora apresentado e é um tremendo escândalo embora depressa confirmemos que, ao contrário dos recentes casos e casinhos com membros do governo, depressa se evaporará da nossa agenda mediática monopolizada pelas direitas.

E, no entanto, muitas questões imediatas se tornam pertinentes: como foi contemplada com tão lauto negócio uma empresa de construção civil, que acabou de contratar Paulo Portas para a sua administração? Quão parvos Moedas julga que somos ao prometer a utilização da estrutura para eventos futuros? Ou será que se dispõe a subsidiar novas preleções de uma irritante locutora especialista em encontrar merchandising da “nossa senhora” nos seus luxuosos sapatos? E como se coaduna a obscena organização da farra com a pretendida imagem franciscana da principal vedeta da mesma?

Indignado já andava com o custo público de uma coisa, que me irrita pelo fútil objetivo. E, agora, ainda mais indisposto me sinto!!!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Lunáticos liberais e um mundo à volta a pô-los em causa

 

1. António Costa vai-se mantendo como líder do Partido Socialista e do Governo, enquanto os outros partidos vão substituindo os respetivos cabeças-de-cartaz. Até ver, e provavelmente à exceção do PCP onde Paulo Raimundo vai fazendo caminho a substituir o cansado Jerónimo de Sousa, nenhum desses novos “homens ao leme” trazem qualquer suplemento de alma às suas hostes direitistas, que revelando-se como sendo “mais do mesmo”, ou seja “muito poucochinho” para aspirarem a substituírem os atuais detentores do poder.

No (ou na, como a propósito se interrogou Ricardo Araújo Pereira) Iniciativa Liberal foi esse efeito de redundância, que se consagrou com Rui Rocha. Com a novidade de existir uma evidente fratura entre vencedores e vencidos, que lhes não augura nada de bom nos tempos que se seguem.

Fica, para já, a piada da noite: a anunciada ambição de chegarem aos 15%.

2. Não deixa de ser curioso que, enquanto os ultraliberais se digladiavam no Congresso, o mundo à volta vá demonstrando a obsolescência das suas ideias. Disso nos informa o economista Ricardo Paes Mamede num artigo em que aborda a impensável política  dos EUA em 2022: a intervenção proativa do Estado na economia interna pondo em causa as liberdades de um mercado afinal sujeito a protecionismo e subsidiarização, que constituem o pesadelo de qualquer cultor do capitalismo puro e duro.

3. Haverá razões para aceitar a hipótese da insuspeita Raquel Varela sobre a razão de tantos casos e casinhos a afetarem a imagem do governo nas semanas mais recentes: havendo tanto dinheiro a investir no âmbito do PRR será quem sobre ele decidir, que maiores ganhos de popularidade terá com os seus efeitos. Razão para as direitas se saberem numa encruzilhada: ou aproveitam esta conjuntura negativa para derrubarem o governo com a conivência de Marcelo ou arriscam-se a prosseguir, por muitos e bons anos, a merecida travessia do deserto por que vão transitando.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Que las hay, hay...

 

Se quisesse ter uma mente muito retorcida e me pusesse a imaginar uma possível explicação para os sucessivos casos e casinhos que vêm fustigando ministros, secretários de estado e, agora, a deputada Jamila Madeira, encontraria facilmente uma teoria da conspiração para explicar uma tal sanha contra os eleitos e governantes socialistas.

Poderia imaginar, que os financiadores do Observador, da Cofina e do Chega teriam criado uma organização clandestina dotada de meios humanos e materiais suficientes para vasculharem tudo quanto estaria relacionado com esse universo político utilizando-o depois numa lógica tipo gota-a-gota em que, exaurido um, logo outro “escândalo” seria lançado para a praça pública.

Não se trataria apenas do, legalmente, passível de utilizar contra os visados, mas, sobretudo de tudo quanto, “alindado” por hábil trabalho de manipulação, insinuaria um conjunto de mentiras e distorções destinadas a darem como verdadeiras o que de todo o não seriam.

Tratar-se-ia, pois, da profissionalização de quem lhes garantiria matéria para cumprimento a uma estratégia de permanente demolição, a exemplo da  já ensaiada junto dos governos de António Guterres e José Sócrates, e agora mais eficiente nos resultados. Objetivo óbvio: a paralisação da ação governativa e a sua substituição por quantos, na direita facho-conservadora, viriam a legislar de acordo com os seus interesses.

Ao mesmo tempo, e porque Catarina Martins tanto se vai prestando a idiota útil, se não mesmo compagne de route de tal gente, isolar-se-ia o Partido Socialista de forma a dificultar a formação de nova Geringonça. Por isso, e complementarmente, tudo fariam para demolir a reputação de Pedro Nuno Santos, que sabem o mais talhado para essa ameaça, que lhes pode causar sérios engulhos.

É claro que tudo isto mais não é do que uma mera teoria da conspiração. Mas como dizem os espanhóis a propósito das bruxas, que las hay, hay...

Há sempre alguém que diz não!

 

Quando é dia de comemoração da luta dos operários da Marinha Grande que, há oitenta e nove anos, foram os mais consequentes no propósito de, nesse dia, pôr cobro à ditadura salazarista - terá faltado coragem aos que com eles se deveriam conjugar! - sou tentado a ponderar no cenário alternativo eventualmente suscitado pela sua vitória.

Derrubado o salazarismo haveria condições para recuperar a turbulenta democracia parlamentar vivida nos dezasseis anos da primeira República?

Difícil acreditar em tal hipótese, tão forte andava a tendência europeia para se render às ilusões totalitárias que Mussolini consolidara em Itália e Hitler replicava na Alemanha. O fascismo luso, que se implantara entre esses dois modelos “inspiradores”, constituía uma inevitabilidade tão significativo era o analfabetismo da população e o seu controle por obra e graça de uma sinistra Igreja Católica e dos caciques, que dela se davam como tão devotos quanto esse presidente do Conselho, lesto em afastar os militares golpistas do 28 de maio e em criar uma ditadura à sua imagem e semelhança.

Em 1934 os operários da Marinha Grande constituíram uma espécie de quixotes tentados a exigirem de si o que lhes seria impossível. Esperançados em que fosse esse o momento de forçar o provável destino, considerado apenas um bocadinho mais difícil de alcançar. Tanto que só aconteceria quarenta anos depois! Mas também os recordamos como aqueles que Manuel Alegre homenageou no na Trova do Vento que passa e que Adriano tão admiravelmente cantou: Mesmo na noite mais triste /
Em tempo de servidão / Há sempre alguém que resiste /
Há sempre alguém que diz não 

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A tal centelha que causará imprevisível fogo

 

O encontro de gente muito endinheirada em Davos coincidiu com a publicação de relatórios insuspeitos sobre aquilo que Marx definiu como a acumulação de capital capaz de justificar uma agudização da luta de classes: da riqueza criada desde 2020, num total de 42 triliões de dólares, 2/3 foram parar aos bolsos de 1% da população mundial  à custa da quebra do rendimento dos mais pobres e dos Estados, que lhes deveriam assegurar os apoios sociais. Segundo o Banco Mundial esse 1% da população detém 38% da riqueza acumulada enquanto 50% sobrevivem (mal) com apenas 2%.

Segundo a revista «Exame» de dezembro, as 25 famílias mais ricas de Portugal aumentaram o património em 3,3 mil milhões de euros durante o ano de 2022, entre elas se contando as que, no ramo de distribuição, tanto gostam de se associar à caridadezinha das ações da tia Jonet.

Assustado com as previsíveis consequências destes números o diretor do «Público» implora por medidas redistributivas capazes de salvarem o capitalismo, que para ele é sinónimo de democracia. Equiparação que não faz qualquer sentido, tão evidente é que à democracia de uns (que, além da riqueza, também detêm os meios de desinformação com que manipulam as mentes dos incautos crédulos nesse missal) corresponde a sofrida miséria de tantos milhões para quem é urgente demonstrar a pertinência de um outro tipo de organização económica e social. E quanto mais se lhes aperta o garrote na garganta, mais violentamente espernearão no momento de, como dizia um arguto chinês, uma fortuita centelha incendiar toda a pradaria. 

domingo, 15 de janeiro de 2023

Naftalina, minúsculos ratos e frustrados Darth Vaders

 

1. O fascínio pela “naftalina inglesa”: é assim que Carmo Afonso define o suposto êxito editorial do testemunho do filho mais novo de Diana de Gales que, por estes dias, aparece nas montras e principais escaparates das livrarias.

Para este jacobino, republicano  e ateu, o fenómeno não consegue explicar-se senão pela intenção de quem nos explora em entreter-nos com histórias de reis e princesas, ora transformadas em contos de encantar, ora em segredos de alcova para que se força o olhar no libidinoso deleite dos voyeurs impotentes. O essencial, a tal luta de classes inerente à evolução dos acontecimentos humanos, tende a ficar-nos invisível aos olhos por tal tipo de poeira.

Fiquemo-nos, ainda assim, por mais um prego metido no caixão de uma instituição, que os tempos e os protagonistas vão dessacralizando, remetendo-a para a esfera das coisas obsoletas. Mesmo de quem ainda as vá usando como ferramenta útil aos seus propósitos!

2. António Costa pretendia mais, mas a procuradoria-geral da República e os tribunais livraram os respetivos traseiros da seringa. O pretendido escrutínio de quem vai para o governo reduziu-se a ínfimo rato, que a montanha prometera parir em coisa mais vistosa.

Para quem o apoia e nele confia, há a expetativa de ver infletido o rumo destas semanas, que acumularam sucessivos e desnecessários flops.

3. O personagem parecia dotado de enorme clarividência na sua malignidade, ora levando Trump à Casa Branca, ora criando em Itália o embrião de uma chocadeira de novos ovos de serpente. Convenhamos, porém, que já vai acumulando derrotas a mais: para Steve Bannon e o júnior Bolsonaro, que com ele se encontrou algumas semanas atrás para preparar o assalto à Praça dos Três Poderes em Brasília, o saldo da arruaça ficou-se por mais um evidente fracasso. O que, a somar às monumentais perdas de Elon Musk, só nos pode regozijar depois dos receios de, em tão pouco tempo, vermos desfilar tantos Darth Vaders à nossa frente... 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Quase 700 mil euros são uma ninharia comparados com o meio milhão de Alexandra Reis?

 

1. Convenhamos que, se para os jornalistas do telelixo quinhentos mil euros justificam o escândalo, que os levou à insidiosa campanha contra o governo e a administração da TAP, quase setecentos mil com que Luis Montenegro se boletou podem nem merecer uma pequena referência a meio do rol de notícias, que apresentam.

Ontem muito se enfatizou a corrupção de um autarca socialista de Espinho, acrescentando-se, a contragosto, o quase certo comprometimento do antecessor laranja. Não sobrou foi tempo para referenciar os dez contratos por ajuste direto, que Luís Montenegro fez com essa autarquia no tempo desse seu amigo do peito e com a junta de freguesia de Vagos, ascendendo  esse negócio em quase 50% do que Alexandra Reis embolsou para sair da transportadora aérea nacional.

Bem gostaria o telelixo que Montenegro ganhasse força eleitoral juntando os trapinhos com o Ventura e os ultraliberais. O problema é a realidade tender a escaldar os seus protegidos ao mesmo tempo que, como se viu no debate desta quarta-feira, António Costa mostra firme intenção de se deslastrar dos incómodos pesos, que lhe vêm travando a dinâmica de mudança augurada como possível pela maioria absoluta. A mudança no discurso do primeiro-ministro significou o início de dias mais difíceis para os seus detratores quanto a inventarem novos alibis para o darem como cansado, esgotado, em fim de ciclo.

2. Não é que se estranhe a notícia, mas os oceanos estão a acumular quantidades de calor como nunca o tinham feito nos últimos milhares de anos. Tendendo a pressionar as costas continentais e das ilhas com vigor acrescido e pondo em risco a biodiversidade por conta das alterações de salinidade em muitas das suas áreas.

Um relatório alusivo a esse fenómeno só vem confirmar que as alterações climáticas tendem a agravar-se muito mais aceleradamente do que os modelos científicos tenderiam a perspetivar.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Vinte anos depois da morte de João Amaral

 

Passam hoje vinte anos sobre a morte de João Amaral, dirigente comunista, que Carlos Brito recorda num texto de opinião destinado a perspetivar o quanto teria sido determinante a sua ação se a doença fatal o não tivesse levado, ainda não tinha sessenta anos.

Paulo Raimundo, que parece querer reabertas as janelas encerradas há pouco mais de um ano, já manifestou a vontade de ver regressados ao PCP os renovadores que, sem ele e Luis Sá, nunca conseguiram afirmar-se como parte substantiva da esquerda à esquerda do Partido Socialista.

O atual secretário-geral dos comunistas sabe que a recuperação do espírito da Geringonça - mais do que provável quando Pedro Nuno Santos cumprir o seu desígnio! - obrigará a contar com militantes de uma qualidade substantivamente superior aos que, durante quatro anos, a garantiram. E se os renovadores já estarão demasiado velhos para essas andanças será imperativo o sentido de reformulação do que significa ser marxista no século XXI, que Amaral predizia e apontava como aconselhável.

Enquanto socialista não enjeitaria tê-lo como uma das fontes inspiradoras de uma Geringonça-bis, que muito importa reconstituir, quando a maioria absoluta já não servir de escudo suficientemente forte para o PS prosseguir a missão de mudar o país para melhor, muito embora o grupuscular Bloco dela se dissocie irremediavelmente comprovando-se nele a falta de outras figuras próximas de João Amaral - Miguel Portas e João Semedo - que lhe poderiam conferir uma maturidade, aparentemente inacessível...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O muito que há a fazer e a corrigir

 

1. Cem por cento de acordo com a conclusão do texto de Alexandra Leitão na edição do «Expresso» de sábado passado. Daí transcrevê-la como assumido subscritor do programa de governo aí explicito: “a solução governativa proporcionada pelo PS não está esgotada, mas devem retirar-se lições do que correu mal até agora. Falta um desígnio ou desígnios claros. É preciso mais cuidado e mais humildade na gestão política e a definição de um modelo de crescimento económico mais eficiente e mais justo, com melhor distribuição da riqueza (que não se consegue apenas com apoios pontuais, por mais importantes que estes sejam). E sobretudo é preciso espírito reformista. Não para fazer as reformas que a direita preconiza e que se reconduzem quase sempre ao jargão “menos Estado”, mas sim as reformas que se esperam de um Governo socialista: tornar os serviços públicos e, em especial, o Serviço Nacional de Saúde mais eficientes, erradicar a pobreza, diminuir as diferenças de rendimentos e a desigualdade social, alterar a legislação laboral no sentido de proteger mais os trabalhadores e fortalecer a contratação coletiva, diversificar as fontes de financiamento da Segurança Social e criar um mercado público de habitação. É para isto que serve a maioria absoluta do PS.”

2. Já que estou com o jornal do clã Balsemão entre mãos, e dada a devida (nenhuma) importância ao que é aí propaganda contra o governo, cabe ainda relevar o texto de Luísa Schmidt sobre o que explicam as recentes cheias em Lisboa, que também serve para o agora sucedido no Porto: “Lisboa sempre foi uma cidade de cheias, atravessada por ribeiras e junto à foz do rio Tejo. O que não tinha até há poucos anos era uma autêntica barragem de prédios em lugares onde nunca deveriam ter sido autorizados. Há duas coisas que não é possível impedir: a chuva de cair e a água de correr de cima para baixo. Parece que em Lisboa há ainda mais duas: a asneira e a irresponsabilidade.”

Pagam-se agora os custos de uma especulação imobiliária, que se focalizou tão-só nos lucros sem equacionar minimamente as consequências de se implantarem edifícios onde eles nunca deveriam ter surgido.

sábado, 7 de janeiro de 2023

Um balão que perdeu ar sem estoirar

 

1. De entre as colunistas do «Público» São João Almeida é uma das que leio com particular atenção por ser das raras com perspetiva menos direitista, que a maioria dos seus parceiros de jornal.

Na edição de hoje ela diz algo com que concordo indubitavelmente: “António Costa tem de começar a mostrar obra, assumir o equilíbrio na governação e a capacidade de liderança” sob pena de incorrer na possibilidade de, neste difícil momento, “em vez de conseguir ultrapassar o muro, (...) acabar a esbarrar contra ele”.

Não é que, pessoalmente, considere preferível um governo sem Pedro Nuno Santos do que com ele - acredito exatamente no contrário! - mas confio na sageza do primeiro-ministro, que tem efetivamente obra para mostrar e muito outra a perfilar-se demonstrável a curto e médio prazo.

Há condições para, daqui a uns meses, já poucos lembrarem os percalços por que agora o governo passou...

2. O próprio Marcelo Rebelo de Sousa ter-se-á assustado com a possibilidade de ver-lhe rebentar estrondoso balão no colo, depois de ter sido o principal estímulo para que ele crescesse. Nesse sentido sentia-se ontem à noite alguma incrédula surpresa nos telejornalistas por, subitamente, se verem sem tapete debaixo dos pés por liminar afastamento da possibilidade de, nesta altura, dissolver a Assembleia da República, tal qual o desejavam a Iniciativa Liberal e os fachos.

3. Confesso admirador do prof. António Sampaio da Nóvoa li atentamente o seu texto de agradecimento aos professores num inequívoco apoio ás suas reivindicações. Mas até o suspeito «Polígrafo» demonstra que, contrariamente ao propalado pelos sindicatos dos professores (e mormente por aquele que um desempregado político fundou para conseguir imerecido destaque público!), nunca o governo propôs a municipalização do recrutamento dos professores, uma das bandeiras que mais os parecem atiçar...