terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Não foi o necessário, mas já se avançou alguma coisa

 

Para exercer a minha profissão fui obrigado a vincular-me durante uns anos a uma ordem profissional, apesar de terem sido os estudos e a experiência a conferirem-me as devidas competências. No entanto, essa atividade dependia de ter um número certificado pela instituição corporativa a que tinha de pagar quota mensal. Se para o sindicato sempre paguei e continuo a pagar de bom grado o meu contributo para que exista, nunca me conformei com os gastos inerentes a essa obrigação de alimentar uma instituição com cujos objetivos nunca concordei, sobretudo por não ter legitimidade para interferir no meu contrato de trabalho com a entidade patronal ou no relacionamento com a administração pública.

Para incrementar essa antipatia assisti nestes anos mais recentes a indecorosas interferências dos bastonários na política, sempre contra o Partido Socialista, como se a razão de ser dos seus mandatos fosse a de apoiar as direitas o mais possível. Nos que têm mandado nos médicos, nos enfermeiros ou, mais recentemente, nos advogados, tem sido uma tripa-forra de comportamentos apostados em virar o país para o rumo contrário ao que a Constituição de 1976 definia como direção a seguir.

Foi preciso que a União Europeia viesse exigir a limitação dos poderes das ordens para se legislar nesse sentido, agora com a ratificação do Tribunal Constitucional, que não deu provimento às tentativas de Marcelo de tudo manter na mesma sob a aparente capa de mudanças de pormenor. Mas ainda não chegámos ao que deveria ser o objetivo de uma verdadeira reforma de fundo sobre o assunto: a que implicasse a extinção das Ordens e a assumpção das suas funções relevantes por um ou mais órgãos independentes e acima de qualquer suspeita sobre os objetivos políticos inerentes. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

IVG, turismo, hipercapitalismo e livros a arderem

 

1. No meio do frenesim noticioso, que tende a valorizar o frívolo imediato em detrimento do que tem maior substância e efeitos duradouros, vem passando quase despercebido o sistemático boicote à interrupção voluntária da gravidez no SNS, complementado com relatos de afrontosa desconsideração para com as mulheres, que ali a pretendam concretizar.

Quando, vencendo os preconceitos das direitas e da Igreja Católica, a Assembleia da República derrubou essa barreira, iludimo-nos com a irreversibilidade de tal conquista civilizacional. Afinal não basta relativizar esse otimismo com os recuos verificados nos Estados Unidos por conta dos fanatismo republicano. Também por cá se verifica esse recuo, singularmente numa altura em que as esquerdas alcançaram maiorias confortáveis, que deveriam acautelar a consolidação dessa e doutras conquistas em tempos tidas como fraturantes.

O ministro Manuel Pizarro parece ter ficado genuinamente surpreendido com a notícia. Esperemos que se incumba de a tornar numa espécie de passo atrás, que justifica o salto para os dois adiante, que todo o progresso pressupõe.

2. Desde 2019 o turismo constitui mais de metade das exportações tendo um peso no PIB que é quatro vezes maior que o da Alemanha, superando igualmente os dos principais destinos turísticos europeus.

Seria estulta a atitude de não se aproveitar o providencial maná, que nos tem caído do céu por obra e graça de uma guerra a leste da qual se querem distanciar, tanto quanto possível, os que usufruem as suas férias. Mas mal seria que o governo esquecesse a importância de preparar o futuro imediato, quando essa atividade, polarizada nos setores turísticos e imobiliários, transferir-se-á para outros destinos obedecendo à atração por novas modas.

A riqueza produzida terá de provir de investimentos, que garantam consolidados e menos efémeros retornos.

3. Em entrevista a pretexto do lançamento do seu mais recente título (“Medir o Racismo, Vencer as Discriminações”), Thomas Piketty continua a apostar na alternativa socialista ao ainda dominante hipercapitalismo. Aquele que, segundo dados de 2021, faz com que menos de três mil pessoas possuam 3,5% da riqueza mundial, enquanto mais de 50% da população apenas detenha 2%. Ou que, relativamente a Portugal, o mesmo relatório revele que o “1% constituído pelos mais abonados possuam quase 26% da riqueza, com 10% a serem donos de 61% e 50% a apenas deterem 3,5%. Os 40% das classes médias não conseguem mais de 10% da riqueza individual.

Perante tais desigualdades como acreditar que a marxista luta de classes não continua na ordem do dia?

4. Não será assunto que pareça incomodar quem olha para a guerra na Ucrânia por filtros maniqueístas, mas parece particularmente revelador a depuração - até mesmo a pública queima! - das obras de Tolstoi ou Dostoievski das bibliotecas do país liderado por quem Marcelo agora agraciou com mais do que discutível medalha. É que, na Alemanha dos anos 30, o mesmo sucedeu com os livros associados aos judeus...

domingo, 26 de fevereiro de 2023

A pertinência de uma questão

 

As ruas de Lisboa vão-se animando com sucessivas manifestações contra o governo. E, no entanto, fica a dúvida se alguma esquerda mais radical, ou setores profissionais como os dos professores, não têm a consciência de estarem a facilitar o crescimento da extrema direita, que muito pior lhes fará se vier a ser poder.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Os direitos não absolutos dos que os julgam ter!

 

1. O alarido das várias direitas para sabotarem a legislação do governo relativa à habitação tem merecido os mais descabelados argumentos, todos eles coincidentes com a associação do direito à propriedade a algo de absoluto, de ilimitado. Nas televisões, maioritariamente ocupadas pelos defensores de um fanatizado ultraliberalismo, tende-se a ignorar que metade dos países da União Europeia controlam as rendas e Lisboa é a capital com maior número de alojamentos locais por cem mil habitantes.

Num texto bem estruturado sobre o assunto, Daniel Oliveira defende que  as coisas não se podem desequilibrar de tal forma que o acumular de poupanças de uns esmifre completamente as poupanças de outros”. Porque “a propriedade não é um direito sagrado. Ficar com uma casa vazia, para ser valorizada, numa cidade onde haja grande pressão no mercado de habitação é comparável ao açambarcamento. Quem queira transformar casas onde elas faltam num ativo financeiro vazio não pode fazê-lo, porque o seu interesse causa um dano desproporcionado ao interesse comum.”

2. Até o insuspeito João Miguel Tavares se incomoda com um dos mais desvairados comentadores da nossa praça, há anos a publicar os mais odiosos propósitos em diversas publicações, que lhe dão importância enquanto membro assumido da Opus Dei. Agora, a propósito dos abusos sexuais sobre milhares de crianças nas últimas décadas, o padre Gonçalo Portocarrero de Almada - é ele que o cronista do «Público» verbera! - consegue a proeza de considerar a Igreja Católica vítima de todo o fluxo noticioso das últimas semanas, não deixando de desqualificar o carácter anónimo de muitos dos que revelaram o seu sofrimento à comissão independente.

Num texto em que, por uma vez lhe damos razão, o Tavares considera Portocarrero “a cara chapada do clericalismo que conduziu a décadas e décadas de encobrimento. É preciso ter muita lata para continuar a exibi-lo com este despudor após tudo o que foi revelado, e do imenso mal que a Igreja – enquanto estrutura opaca, silenciadora e cúmplice, sim – causou àqueles que confiaram nela.”

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O descaramento das direitas mais radicais e imperialistas

 

1. As propostas do governo para resolver a crise de habitação nas grandes cidades, e suas cinturas metropolitanas, estão a motivar reações histéricas do que, comummente, se associa ao centro-direita, embora a expressão mais não seja do que um eufemismo para caracterizar a direita pura e dura.

Só que, agora, de Montenegro a Marques Mendes, essa direita vai-se aproximando da sua tendência mais extrema, associando as políticas governamentais a “socialismo” ou mesmo ao “comunismo” o que seria risível acaso não fosse estratégia pensada para ostracizar as metas que deveriam ser os polos ideológicos orientadores das nossas sociedades do século XXI.

Como comenta Carmo Afonso na sua crónica de ontem “o PSD está apostado em que todo o eleitorado à direita esteja radicalizado. Mas talvez se engane. Os portugueses são um eleitorado fino como o azeite. Como pretendem convencer os portugueses de que Costa é comunista se ele é apontado como exemplo na União Europeia e se, como primeiro-ministro, segue à risca uma agenda liberal social? Ou será que a UE também é marxista?”

2. Numa altura em que Biden, e todo o seu séquito na Nato, atiram com mais óleo para a fogueira ucraniana é a paz a parecer terrivelmente distante, tendo em conta o rasto de destruição e de mortes acumuladas neste último ano. Fácil é lembrar os impasses da Primeira Guerra quando, meses a fio, verificava-se o tipo de situação que levou Erich Maria Remarque a caracterizá-la no título do seu mais famoso romance: A Oeste Nada de Novo. Agora é do leste que, hélas, nada de esperançoso ocorre.

José Pedro Teixeira Fernandes, que se socorre desse paralelismo, constata a ilusão de ambos os lados julgarem possível uma vitória total ou, pelo menos, esmagadora, para obrigarem o adversário a capitular.

3. No meio dessa tragédia acabam por ser ridículas as ameaças de Antony Blinken a Pequim quanto à tentação de ajudar ainda mais a Federação Russa. Se um dos lados não se priva de enviar farta quantidade de armamentos para quem apoia, ficará à espera que do outro se fique impávido perante a certeza de, acaso a vitória na guerra atual pendesse para o Ocidente, não víssemos a Nato a avançar rapidamente para o prolongado cerco à China como tão eficazmente fez à Rússia desde a implosão da URSS em 1989?

O secretário de Estado norte-americano anda a menosprezar a inteligência chinesa ao revelar-se tão descarado nas suas pretensões imperialistas! 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Habitação, desigualdades e dimensões infinitas

 

1. Triste espetáculo o das oposições relativamente à ambiciosa reforma anunciada pelo governo para superar o problema da habitação, que se tem agravado seriamente nos anos mais recentes - aqueles em que os vistos gold lançados por Paulo Portas e as facilidades concedidas ao alojamento local redundaram em desequilíbrios sérios num tipo de urgência social há muito por resolver.

Se o direito a habitação, própria ou arrendada, constitui um imperativo constitucional, o governo revela determinação em dar resposta - mesmo que tardia! - ao que se tornou a desesperada busca das famílias e de pessoas sós para encontrarem um espaço, que sintam dignamente seu.

Que as direitas se sintam chocadas com o que entendem lesivo dos interesses especuladores, e as esquerdas enjeitem ver as potencialidades do que será implementado no imediato, e no longo prazo, só mostra que impera nas oposições a vontade de só maldizerem sem proporem alternativas viáveis e passíveis de chegarem aos anunciados resultados, se não mesmo aos que poderiam ser melhores.

O que assustará uns e outros é concluírem que, partindo o governo para uma nova fase da sua intervenção política - a dos atos, mais do que a das palavras! - ficarão cada vez mais cingidas aos incómodos de uma azia para que dificilmente encontrarão remédio!

2. Não é novidade, apenas a confirmação da característica de um sistema económico, que tarda em ver-se substituído por outro, mais decente e justo: as quinze famílias mais ricas de Portugal acumulam mais de 10% do PIB nacional. E, nalguns casos, até fazem gala em julgarem-se merecedores de uma condição, que só devem ao berço dourado em que nasceram e à persistência de uma organização político-social talhada para manter as coisas tal qual estão. E, no entanto, Galileu bem constatava que a Terra continua a girar.

3. Quão pequenos somos, quando olhamos para o catálogo de 3,32 mil milhões de objetos celestes catalogados como pertencentes à Via Láctea e agora acessíveis a quem aceder ao site do Dark Energy Camera Plane Survey, câmara instalada no Observatório Interamericano de Cerro Tololo no Chile. Perante tão infinita grandeza só podemos olhar para certos umbigos muito inchados e concluirmos quão ridículos são na pesporrência da sua ilusória importância. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Os pecados da padralhada

 


1. Com pompa e circunstância vimos confirmadas as suspeitas sobre a reiterada prática de abuso sexual nas igrejas católicas lusas durante as décadas mais recentes. Ficando plenamente justificada a razão porque, em criança, fui precoce herético, fugindo da então quase obrigatória catequese, ao ponto de nem a primeira cumprir. Preferia as animadas brincadeiras com outros travessos miúdos da minha idade, todos dedicando à padralhada a mesma obstinada indiferença.

Em anos mais recentes gozei perversamente com quem confessara ser acólito numa paróquia nortenha e ainda lamento a ambígua sina dos meninos e meninas, quando os vejo fardados de escuteiros na igreja mais próxima do bairro onde moro.

Como resulta do relatório elaborado pela comissão liderada por Pedro Strecht os seminários, os confessionários das igrejas e as salas onde os padres se trajam, comportam perigos, que convém poupar às nossas inocentes criancinhas...

2. A pouco mais de cinco meses da festarola na foz do rio Trancão são múltiplos os sinais de desorientação dos vários atores incumbidos de a organizar. Nada se aprendeu com a Expo 98, quando a liderança de António Mega Ferreira foi providencial para que tudo corresse dentro das melhores expetativas.

Agora, sem a existência de quem tudo coordene, as condições para um indisfarçável flop crescem dia-a-dia.  

3. Leio numa entrevista que o problema da transição energética tem-se agravado nesta conjuntura em que a guerra do sudoeste europeu estabiliza num pantanoso patamar. Seguir-se-á a incógnita sobre como sobreviverão países dependentes das receitas dos hidrocarbonetos e que, sem elas, terão de se reinventar. Cabendo questionar até que ponto a ofensiva imperialista norte-americana em vários tabuleiros (não só o europeu, mas também o asiático!), com a correspondente reação russa ou chinesa, já não são parte substantiva dessa tumultuosa transição energética, que virará do avesso tantas economias globais. 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Aquilo não vale um chavo, quanto mais três milhões!

 

Carlos Moedas lançou a questão quanto a querermos ou não a presença do papa em Portugal.

Para mim - e julgo que para boa parte dos que vão ser seriamente incomodados por essa folclórica iniciativa em agosto - a resposta é clara: não, não quero!

A figura em si - mesmo que menos antipática do que os seus dois antecessores! - merece-me o repúdio de quem lidera a posição autocrática quanto ao direito ao suicídio assistido, por isso mesmo ainda não contemplado na lei da eutanásia, ela própria tão difícil de aprovar pela mesma gente decidida a impor aos outros os valores, que defendem e lhes são estranhos– Ademais, aqui e além, vai-se descaindo com opiniões demonstrativas de, apesar de aparentemente mais arejadas na forma, a Igreja Católica continuar a ser a mesma nos seus conteúdos.

Daí que a conferência de imprensa de Moedas com o bispo ao lado, me tenha soado a fútil: cinco milhões de euros ou quase três, são gastos exagerados para aquilo que não vale um chavo.

Uma nada augusta trindade

 

Esta foi a semana em Luis Montenegro não nos conseguiu surpreender ao superar o já inqualificável Carlos Moedas na defesa de políticas xenófobas e racistas. Daí que não se compreenda a dúvida de uns quantos comentadores televisivos em relação às futuras relações do PSD com o Chega de André Ventura.

Que lhes importa a vida miserável a que milhares de emigrantes se sujeitam em Portugal? Que propostas fundamentadas têm para obviar ao nosso problema demográfico e envelhecimento?

Todos os três competem em oportunismo e má-fé para explorarem os mais insensatos preconceitos nacionais e ganharem votos à conta de falta de valores, que pressentem ter cabimento junto de muitos eleitores.

Não admira que representem os tais setores há algum tempo tão agitados por causa de umas inocentes aulas de Cidadania no ensino secundário. Porque, sabemo-lo bem - e os acontecimentos de Olhão confirmam-no! -, quanta falta elas fazem.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

À procura de águas bonançosas

 

Na entrevista à RTP António Costa disse ter aprendido muito com as difíceis experiências por que passou depois da célebre entrevista do “Habituem-se” à Visão. E, de facto, algo parece estar a mudar no comportamento do primeiro-ministro, apostado em arregaçar as mangas e ir para o terreno a mostrar tudo quanto se vem fazendo por conta dos investimentos previstos no PRR. Com resultados tão promissores, que Marcelo depressa se apressou a querer-se-lhe colar nessas deambulações pelo país.

Não será difícil prosseguir com os bons resultados na economia tendo em conta o que resultou do balanço final do ano de 2022: depois da Irlanda e da Letónia, Portugal foi o terceiro país europeu em crescimento do PIB. Mas, mais difícil e urgente, é superar a fundamentada ideia dos bens públicos - desde a saúde à educação, passando também pela habitação! - serem mercadorias que os interesses privados podem abocanhar sem qualquer escrúpulo.

Sete anos passados sobre a sua chegada ao poder, só podemos lamentar o estado em que vemos as escolas, os hospitais, os centros de saúde, ou o desespero de famílias sem rendimentos para alugarem, e muito menos comprarem, casa nas redondezas  dos sítios onde trabalham.

Na revista, que o pôs em causa com a escolha jornalística da pose majestática na capa, a diretora dizia-o ainda recentemente “timoneiro desorientado e desfocado com polémicas e casos entre a tripulação”.

Tendo em conta quem tal diz, podemos relativizar o exagerado juízo, mas como há sempre um fundo de verdade na mais habilidosa das mentiras, bom será que António Costa se agarre ao leme e, sem tergiversações, leve esta barca para águas bonançosas... 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

A importância de ser, mas também de parecer

 

1. A greve dos professores tem suscitado animados debates sobre se a preocupação do governo socialista com as “contas certas” não anda a ser contraproducente na forma como se vão degradando os serviços públicos, mormente nas áreas da educação e da saúde.

Assumido defensor do governo quero crer que o balanço destes sete anos tem sido positivo, sobretudo conjeturando o que resultaria da sua alternativa de direita. Mas, acompanhando o que vai ficando implícito das palavras de Alexandra Leitão, talvez vá sendo altura de aligeirar o foco com a dívida e lançar políticas que, não só sejam de esquerda, mas também o pareçam. Porque, de outro modo, poderão multiplicar-se os discursos oportunistas sobre quase ser a mesma coisa votar socialista ou ppd e assim haver a tentação de experimentar a aparente e falsa variante. Tanto mais que nada de bom se prefigura quando emerge uma forma de anarco-sindicalismo inorgânico de que só beneficia o extremismo à direita.

2. A luta de classes vai-se agudizando na exata medida em que as desigualdades crescem  de acordo com os números oficiais: entre 2010 e 2017 os gestores de topo das empresas aumentaram os rendimentos em 50%, passando de 24:1 no rácio relativamente ao salário médio para 33:1. E, no caso da Jerónimo Martins - razão bastante para não entrar dentro de nenhum Pingo Doce - o seu presidente ganha 262 vezes o salário médio dos seus trabalhadores.

3. Que a Terra continua a girar constata-se em Israel, onde já nem sequer são apenas os eleitores anti-Netanyahu a manifestarem-se contra a sua deriva fascizante, porque a eles se somam muitas empresas e as próprias instituições bancárias internacionais. que poem em causa a estabilidade em que assentam os seus negócios.

E, no Brasil, Lula está a conseguir que os garimpeiros abandonem a reserva do povo yanomami depois de nele acelerarem as condições para o levarem ao extermínio. Talvez a Amazónia se salvaguarde da criminosa destruição a que Bolsonaro a devotou...

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Homens com evidente falta de caráter

 

Não são muitas as vezes em que concordo com Pedro Marques Lopes, ou não haja uma enorme distância de valores entre a sua perspetiva ideológica de direita e a minha. Mas não posso estar mais de acordo, quando manifesta o enorme espanto por Durão Barroso - que já se revelava indisfarçavelmente medíocre quando partilhávamos os corredores do Liceu de Almada entre 1971 e 1973 - ter-se alcandorado a primeiro-ministro de Portugal, presidente da Comissão Europeia e, enfim, a alto quadro da Goldman Sachs. No seu caso o célebre princípio de Peter foi em muito demonstrado por excesso!

Mas se lhe faltava a inteligência, tinha de sobra a manha dos oportunistas, que sobem alto quando procuram dar satisfação às ambições arrivistas. E prova-se que, tão-só quem o teve, e tem, por marioneta o soubesse obsequioso para com os seus objetivos, levá-lo-ia ao colo enquanto se lhes revelasse útil. Ora, Durão Barroso, no papel de mordomo da célebre cimeira dos Açores, logo lhes mostrou ser de tudo capaz para engordar lautamente em quilos a barriga e em euros, ou dólares, as contas bancárias.

Que a Universidade Católica lhe tenha agora dado um doutoramento honoris causa só indigna uma instituição, que deveria ser mais exigente com quem reconhece méritos para tal honra.

Pedro Marques Lopes vai, porém, mais longe, ao equiparar a falta de qualidades dessa inenarrável personagem com a de Carlos Moedas, que lhe vai tentando replicar as estratégias, ambicionando chegar a idênticas mordomias. Os vários exemplos da sua atuação enquanto presidente da câmara de Lisboa no último ano já o dão como um inegável flop, mesmo para muitos que nele votaram então. Um sujeito que procura assacar a outrem as culpas, que são apenas suas, bem patenteia o tipo de (falta de) carácter, que o norteia.