quarta-feira, 29 de maio de 2024

O PIB português já provavelmente acima do do Japão

 

Atrasado nas leituras, que gostaria de ter atualizadas com ritmo mais conveniente, só agora li o ensaio publicado pelo economista Manuel Caldeira Cabral na Visão de 9 de maio transato, e que não vi abordado na comunicação social com o enfoque costumeiro se as conclusões fossem as opostas. Baseando-se nos números do insuspeito Eurostat, e confirmados pelos do FMI, demonstra-se que os governos de António Costa fizeram convergir o PIB português com o das maiores economias - aquelas com quem nos pretendemos comparar! - e distanciou-nos dos de países como a Roménia e a Hungria, que serviram de cabeças de cartaz para uma campanha mentirosa das direitas.

Ainda mais surpreendente: os números em causa dão-nos já à frente do Japão que, décadas a fio, mereceu tantos encómios dos ultraliberais fascinados pela forma como os consórcios orientais conseguiram docilizar os explorados e convencê-los de merecerem péssimas condições de vida por não se dedicarem ao trabalho com o afã dos que acabavam, invariavelmente, por nele sucumbir por esgotamento.

Foi essa dinâmica que o ainda presidente e a procuradora geral da República puseram em causa com a interrupção da anterior legislatura. E será mais do que provável que a fraqueza deste (des)governo deite a perder uma herança de que não é digno.

Para mais vasto conhecimento dos que andam a ter da economia as falácias de José Gomes Ferreira e congéneres aqui fica o início desse texto notável a título de sua sinopse:

 

Os dados do Eurostat saídos em abril mostram que, nos últimos oito anos, Portugal convergiu com todos os países mais ricos do mundo que integram o G7, e que convergiu com a maioria destes países a um ritmo semelhante ao do período de ouro que se seguiu à nossa entrada na CEE. Revelam também algo surpreendente: Portugal pode já ter ultrapassado o Japão e, até 2030, se o ritmo de convergência se mantiver, poderá igualar o PIB per capita de Espanha.

Nos últimos anos, a discussão pública sobre convergência foi dominada pela ideia de que estaríamos a ser ultrapassados. Ficámos tão focados a olhar pelo retrovisor, preocupados com os países que estavam atrás de nós, que não olhámos para o que estava a passar-se à nossa frente, isto é, não vimos que nos estávamos a aproximar, a bom ritmo, dos países mais ricos.

Olhando pelo retrovisor, dedicámos muito tempo a discutir que íamos ser ultrapassados pela Roménia ou pela Hungria. Tal não aconteceu. Em 2023, estes países, em vez de nos ultrapassarem, ficaram um pouco mais para trás. Mas este olhar pelo retrovisor fez com que só estejamos a tomar consciência de que é possível ultrapassar o Japão quando já o ultrapassámos.

Os dados do Eurostat mostram que, entre 2015 e 2023, Portugal não foi ultrapassado por nenhum país de Leste. A evolução dos últimos três anos, em que o País cresceu mais do que os países de Leste, e as previsões para os seguintes anos sugerem que, nos próximos dois ou três anos, também não deverá acontecer nenhuma ultrapassagem.

Estaremos a meio de um novo período de forte convergência com os países mais ricos?

Aos dados do Eurostat podemos juntar as recentes previsões do FMI, que confirmam que a tendência de convergência deverá manter-se nos próximos anos. As estimativas e as previsões para o triénio de 2023-2025 colocam Portugal, nestes três anos, a crescer mais do dobro do que a Zona Euro, e a crescer mais do que sete dos 11 países de Leste, que integram a UE- 27, sugerindo que a convergência que aconteceu, entre 2015 e 2023, deverá continuar em 2024 e 2025.

O percurso já percorrido, entre 2015 e 2023, estas previsões (para 2024 e 2025) e o facto de o País estar com a balança corrente e de capital e o saldo das contas públicas positivos reforçam a ideia de que Portugal pode estar a meio de um ciclo de convergência tão positivo como o dos 15 anos que se seguiram à entrada na CEE.

Os dados económicos sobre a situação presente e sobre os últimos anos são muito positivos, mas não nos devem levar a pensar que o trabalho está feito. Devem antes chamar a atenção para a importância de se manter as políticas e a dinâmica que permitiram atingi-los, ao mesmo tempo que se corrigem aspetos que podem melhorá-los. 

terça-feira, 28 de maio de 2024

Quase a chegarmos ao centenário do 28 de maio

 

Tanto quanto parece o fervor comemorativo das direitas a respeito da data de 25 de novembro terá esmorecido com a resposta popular dada à situação política presente na manifestação do 25 de abril.

Acaso a manipulação da História surtisse efeito e conseguissem arregimentar multidões que, verdadeiramente, se estão borrifando para as suas falácias, e seria vê-las a, daqui a dois anos, quererem comemorar o centenário do 28 de maio, inicialmente dissociado da sua evolução para o salazarismo em prol da regenerescência de um país “afundado” pelos republicanos - logo associados aos socialistas do presente pelos comentadores  saudosos do Integralismo Lusitano! - para depois ser enfatizado pelos que, com o mesmo entusiasmo dos proponentes do tal livro sobre a identidade nacional e o seu conceito de família, logo recuperariam a importância de quem trouxe a paz dos cemitérios ao país depois de tantos cenários de ingovernabilidade.

Tendo em conta o que Marcelo conseguiu como saldo dos seus dois mandatos persistem, porém, as condições para que os saudosistas do Estado Novo encontrem terreno fértil para as suas mistificações. Para já o filho de um dos principais ministros do fascismo bem soube como replicar  as circunstâncias adversas em que os portugueses se viram a partir de 1926.

Que a criatura de Belém se diga alheia à confusão, que provocou, diz muito sobre a sua intrínseca natureza. E só dá razão aos que nunca sequer equacionaram a possibilidade de o apoiarem. Até porque, fazendo História alternativa sempre poderemos imaginar como estaríamos se fosse António Sampaio da Nóvoa a estar a concluir o seu segundo mandato. 

segunda-feira, 27 de maio de 2024

As opções masoquistas de quem aspira a bem mais

 

Acontece com quase todos os povos: quase sempre escolhem gente inegavelmente má para os liderar, e só de vez em quando apoiam líderes brilhantes e competentes, que iniciam percursos para futuros mais bonançosos.

Na Madeira a pobreza da maioria da população sugeriria a necessidade de sacudir o fadário de, desde a Revolução de Abril, terem um Jardim e um Albuquerque a ditar-lhes a continuação da sina. E, no entanto há o paradoxo do eleitorado erradicar o Bloco e a CDU da Assembleia Regional e manter o Partido Socialista na dimensão anterior.

Faz pensar na pertinência de uma espécie de masoquismo ilhéu, que leva os adjacentes compatriotas – os açorianos também assim decidiram! - a suportarem políticas, que os mantém na cepa torta, e a “quererem” vê-las prosseguidas. Sobretudo quando são, invariável e exclusivamente, do interesse de quem, diariamente, os explora.

No continente o mesmo passou-se em 10 de março: cedendo à manipulação dos vários poderes (presidencial, judicial e mediático), que tudo fez para derrubar um governo de maioria absoluta, que estava a produzir resultados meritórios, reconhecidos pelas próprias instituições internacionais, os portugueses deram a oportunidade para que um exemplo paradigmático de um homem sem qualidades, mas hábil no oportunismo arrivista, pudesse ser primeiro-ministro. Nesse sentido o maquiavelismo de Marcelo em prol dos seus resultou em pleno: Montenegro, Albuquerque e Bolieiro equivalem-se em mediocridade e em incompetência para melhorarem a qualidade de vida de quem (des)governam.

Passado este tempo de padecimentos autoinfligidos esperemos que outra lucidez devolva aos povos lusos a orientação de quem melhor vá ao encontro dos seus coletivos interesses.

sábado, 25 de maio de 2024

A teimosa cegueira de quem apoia os crimes sionistas

 

Chegam-me relatos das alegadas violações na carnificina de 7 de outubro supostamente recolhidos pelas autoridades israelitas junto de alguns prisioneiros palestinianos. Enviam-me os que insistem em olhar para a realidade em Gaza com um filtro maniqueísta, que faz duns santos e outros manifestos diabos.

Não ponho em causa, que alguns casos de iníqua maldade tenham acontecido nesse dia e nos seguintes embora alguns dos raptados entretanto libertados pelo Hamas tenham reconhecido a relativa humanidade com que foram cuidados. Mas, numa altura em que já perdeu a guerra da opinião pública internacional, e em que mais países vão reconhecendo a Palestina como Estado independente, não admira que a clique criminosa de Netanyahu jogue com os mais desesperados dos trunfos sob a forma de “confissões” mais ou menos exageradas ao sabor do que julgam impressionar os seus apoiantes, mesmo reduzidos em número e capacidade de influência em cada dia que passa.

Que haja quem os valorize, quando está em curso um inegável genocídio contra a população palestiniana, só demonstra que esse minguado exército de prosélitos procura agarrar-se aos argumentos mais ilógicos para procurarem justificação para o que o não tem. 

sexta-feira, 24 de maio de 2024

A pressa arrivista

 

O fartar vilanagem do (des)governo nestes últimos dias - com exonerações e nomeações, decisões sobre aeroporto e nova ponte sobre o Tejo, ou o acordo com os sindicatos dos professores da sua área política, só têm um significado: dar a sensação de existir de facto. Importa a Montenegro & Cª limitarem os danos de um resultado nas europeias, que quase todas as sondagens dão como dificilmente virem a saldar-se por uma vitória, ou mesmo por um empate técnico.

É claro que a desculpa esfarrapada já está mais do que preparada - as ilações nacionais não poderem ser tomadas, sobretudo em função do seu âmbito e da provável dimensão da abstenção -, mas o mal anda a ser feito apressadamente nesta ânsia de mostrar trabalho, que já com gente competente tem que se diga, quanto mais por ambiciosos arrivistas.

O Partido Socialista tem de se cuidar: as circunstâncias em que lhe voltará a encarar com a correção das contas públicas não serão mais fáceis do que as vislumbradas em 2016, quando teve das demais esquerdas a ajuda para as levar bom porto. E com o apoio entusiasmado das extremas-direitas, a medíocre Ursula já anda a exigir mais “reformas estruturais” sabendo nós muito bem o que isso significarão. Schauble já morreu e o ministro dinamarquês do Eurogrupo já não fala de vinho e mulheres do sul da Europa, mas persiste  a obstinação em garantir lucros aos mesmos do costume.

As semanas vindouras, com medidas a sugerirem um poço sem fundo donde brotam líquidas transparências, serão pagas com língua de palmo nos orçamentos seguintes a começar pelo de 2025, que Marcelo pretende fazer o PS engolir com a chantagem de pôr em risco o PPR. Ele já prognostica difícil digestão, sobretudo para o eleitorado hélas confrontado com as escolhas feitas em 10 de março.

terça-feira, 21 de maio de 2024

Uma solução tão óbvia

 

1. Há quem se iluda com a suposta perenidade das direitas no poder quer pela fraqueza das esquerdas, que insistem em se desunir (França e Itália) ou repetir calamitosas terceiras vias (Inglaterra e Alemanha), quer pela aparente ascensão das suas versões mais extremas (Itália, Hungria, Países Baixos).

Dado que nenhuma dessas forças políticas têm resposta para os desafios colocados pelas sociedades atuais quanto aos direitos fundamentais, mormente a saúde e a habitação, será crível que colham tempestades dos tornados, que vêm lançando um pouco por todo o lado. E que os exemplos de Espanha ainda em curso, e o de Portugal no tempo da Geringonça, venham ao de cima como demonstração de existir caminho para andar quando as esquerdas olham para o que as pode unir, relativizando a importância de quanto as possa separar.

É só uma questão de tempo...

2. A formiga entusiasmada com a poeira que - ajudada pelo elefante em que está montada -, deixa atrás de si, é a melhor metáfora ouvida por estes dias a propósito da aprovação por Luís Montenegro da localização do novo aeroporto. Sugeriu-a Ana Drago num programa televisivo de debate político dado todo o trabalho de monta ter sido feito pelo governo anterior.

Oportunista, o ainda primeiro-ministro limitou-se a colher os respetivos frutos. Nesse sentido tem, de facto, a dimensão de uma formiga, ademais bem menos trabalhadora que a da fábula em que tem a cigarra por comparsa.

3. Texto exemplar, a que não é necessário nada acrescentar, o de Daniel Oliveira sobre a forma como os poderes lusos andam a tratar os para cá emigrados em busca de melhor vida. De facto tratamos mal os imigrantes: “Nas estufas, nas casas lotadas da Mouraria, na AIMA, interessa é quanto se pode tirar desta vaca leiteira. Dão 1,6 mil milhões de lucro à segurança social, são 10% de um país envelhecido e 13% da população empregada e estão a repovoar o território. São explorados pelas máfias, pelo patrão, pelo senhorio e pelo Estado. E, quando são espancados, a culpa ainda é deles.

(...) A imigração é uma boa notícia. Quem a recusa está a recusar a riqueza económica, social, cultural e política que a diversidade nos oferece. Deseja-nos orgulhosamente sós, puramente brancos e saudosamente decadentes.”  

domingo, 19 de maio de 2024

Um breve fenómeno

 

Alguns momentos benignos poderiam ter feito pensar que, até agora, Aguiar Branco estaria em condições de continuar a dignificar o seu cargo como o fizeram todos os antecessores, mas o episódio desta semana, a propósito da atoarda racista do meliante do costume, demonstrou termos entrado numa outra conduta, que o desprestigia. Porque, no ano do 50º aniversário da Revolução de Abril, e como disse Pedro Nuno Santos, o combate contra o fascismo deve nortear os democratas todos os dias, sem esmorecer e sem falaciosas desculpas sobre, com ele dar-se ou não importância a quem a não deveria ter.

A realidade é como é, e o elefante veio instalar-se no meio da sala. Agora é altura de arranjar forma de o devolver à origem, ou seja a esse lado selvagem em que matar e morrer obedecem a códigos, que não são os de uma sociedade civilizada. Transformando a passagem deste hiato incómodo numa espécie de meteoro tão fugaz quanto o que, na noite passada, encantou uns quantos basbaques...

sábado, 18 de maio de 2024

Os lucros excessivos e a impaciência dos insatisfeitos

 

Não é que o governo anterior tenha dado sinais de contrariar essa tendência, mas decerto estarão bem mais descansadas as administrações dos cinco maiores bancos a operarem entre nós ao anunciarem que, no primeiro trimestre, andaram a recolher 560 mil euros de lucros por hora só à conta da diferença entre os juros cobrados e os propiciados aos clientes.

Até por uma questão de pudor, Fernando Medina teria de anuir com o estupor, que a notícia provoca na opinião de quem olha para ela com a indignação de quem vê o país evoluir no sentido contrário ao desejável, ou seja numa maior desigualdade entre os poucos que enriquecem e todos os demais que não passam da cepa torta. E assim seria provável que a maioria absoluta servisse para menorizar o escândalo.

Com Sarmento à frente das Finanças, os senhores do Santander, BCP, BCI, CGD e Novo Banco não arriscam arrelias: quem, à capa de uma campanha bombástica em torno do novo aeroporto deu ao amigo Arnaut a benesse pretendida, mesmo que à custa do sossego dos lisboetas, também arranjará artes de iludir o ultraje, quiçá revestindo-o de outra iniciativa inócua, capaz de entusiasmar os mediáticos comentadores do costume.

E, no entanto, ela (a Terra, claro!) move-se. E é só esperar por que junto das hordas de insatisfeitos, que tão bem souberam agitar contra o governo anterior, as corporações sindicais ou inorgânicas, tenham de lhes conter a impaciência por só proporem umas migalhas... 

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Contributos para mais umas quantas notas de rodapé

 

Por muito “ingénuos”, que certos telecomentadores se mostrem, a história conta-se mais ou menos assim: desafiado pela iminência do primeiro debate quinzenal com a oposição, Luís Montenegro terá convocado os assessores e ponderado no que poderia utilizar como argumentos a seu favor, quando mais do que provável seria imputarem-lhe os saneamentos políticos e a inação durante o primeiro mês de guardião do “pote”.

As decisões sobre o aeroporto, o TGV e a terceira travessia do Tejo eram fato feito à medida da urgência do momento: não só António Costa deixara-lhe a autoestrada pronta para por ela circular como - mais importante ainda! - sendo matérias mediáticas não o obrigam a sobre elas agir no imediato, podendo adiar ad eternum, qualquer passo nesse sentido. Tanto mais que adiar foi coisa, que sempre pode criticar em quem o antecedeu.

Já quanto ao aumento da atividade no aeroporto de Lisboa - dando assim plena satisfação às pretensões do amigo Arnaut! - foi dito e feito. Se não soubéssemos como o atual elenco (des)governativo estará prevenido quanto à coscuvilhice dos procuradores do ministério público, seria interessante conhecermos as conversas em que Pinto Luz terá combinado com a Vinci o aumento em quase 20% os voos diários a sobrevoarem a capital, ou a malcriada ministra do Trabalho terá convidado para provedor da Santa Casa um economista dado como pouco sério na gestão de um banco moçambicano. Muito provavelmente teríamos uma dimensão adulta para aquilo que um caso como o do centro de dados em Sines não passaria de coisa de meninos.

Ao fim de um mês, e mais do que ambíguas exonerações à parte, este tempo de Montenegro tem sido o de um singular vazio de decisões, que condiz com a inconsequência da sua existência. Prefigura-se mais um período da nossa História que, a ter alguma relevância, ficará cingida às das notas de rodapé. 

terça-feira, 14 de maio de 2024

Freaks desgovernados

 

Quando deparo com imagens dos ministros deste (des)governo penso invariavelmente num velho filme que o Tod Browning rodou em 1932: Freaks. Porque aquela gente integra uma galeriazinha de horrores de aspeto mais ou menos convencional, mas eivada de índoles, que as torna verdadeiramente monstruosas.

Veja-se o inenarrável ministro das Finanças, que quis abrilhantar-se à conta da repescagem de ter o país de tanga e, ontem, a desdizer-se na reunião do Eurogrupo, onde lhe pediram explicações sobre as mentiras proferidas a respeito da herança colhida de Fernando Medina. Ou a antiga bastonária dos Farmacêuticos, nomeada por Fernando Araújo para liderar o Hospital de Santa Maria demonstrando não ter unhas para tal guitarra mas, depois, a desconsiderar o “padrinho”, que lhe expusera tão evidente incompetência. Ou a ministra do Trabalho que, apesar dos pergaminhos aristocráticos, revelou tanta falta de chá na forma como enlameou Ana Jorge e, por isso mesmo, se viu denunciada quanto à  fétida personalidade.

Os resultados de tão vetusta gente resume-se a mão cheia de nada, e outra de coisa nenhuma para quem mais precisa comprovando-se isso mesmo no pacote para a habitação, que apresentou por estes dias. A não ser para o senhorios e os especuladores do alojamento local, que ganharam mãos ainda mais livres no empurrarem para os subúrbios os poucos, que ainda iam conseguindo arte de viverem nas grandes cidades.

Voz dos donos, a comunicação social achou importante a falácia e até a vendeu como alteração estratégica de um governo que feito roda mandada no mês anterior, prometeria ser doravante roda mandante da ação política.

Não sobrarão dúvidas a ninguém em como algo de novo acontecerá no final do ano, quando for discutido o orçamento para o próximo ano e advirá uma de duas hipóteses: ou novas eleições, que poderão devolver às esquerdas a maioria parlamentar, ou a definitiva rendição da AD à versão trauliteira da extrema-direita, já que a costela liberal desta última continua com escrúpulos em ligar-se à que vê como indigesta.

Abundam, de facto, os freaks nas direitas que, por má sina, temos de aturar. E, se não vejam-se os doze votos do “público português” atribuídos à canção dos genocidas israelitas em contraponto com o júri oficial, que a ignorou. Mas, procurando iludir-se com relevância efémera, andam por aí uns reacionários sem pejo de abrirem os cordões à bolsa para, mediante as chamadas de valor acrescentado, julgarem possível a distorção da realidade. Afinal a mesma gente que, em tempos, deu a Salazar a falsa coroa de português mais popular da História lusa.

Só não dá para ter vergonha de tal gente porque, freaks por freaks, eles há-os em todas as geografias.

domingo, 12 de maio de 2024

Os dois passos adiante seguem dentro de momentos

 

Não sei se o Pedro Nuno Santos gosta da obra do Leonard Cohen, mas ao ouvi-lo anunciar que vai ganhar as europeias para, logo a seguir, ganhar Portugal, lembrei-me do ritmo galvanizador de “First we take Manhattan, then we take Berlin”. Porque é disso que se trata: os trinta dias de desorientação da equipa de Montenegro têm sido tão elucidativos quanto à incompetência e impreparação de quem a integra, que serão muitos os que estarão arrependidos com o castigo, que quiseram dar ao Partido Socialista em 10 de março. E serão esses a garantir a vitória em 9 de junho, que servirá de trampolim para a reposição da normalidade democrática interrompida pelo golpe de Estado promovido pelos procuradores do ministério público.

Agora até gente insuspeita de simpatias socialistas, como é o caso do diretor do «Expresso», reconhece um claro cheiro a urgência nas substituições de titulares de cargos públicos em que são risíveis as justificações quanto à sua competência. “O novo governo optou por uma caça às bruxas, com acusações apressadas e pouco sustentadas, para justificar saneamentos políticos em áreas sensíveis”, lê-se na coluna do referido João Vieira Pereira. E, na «Visão», Rui Tavares Guedes apimenta o escrutínio deste momento político com lapidar conclusão: “quando se governa com lentidão nas decisões, mas com rapidez nas demissões (ainda por cima mal explicadas), abre-se uma avenida para o populismo”. Embora queira acreditar que serão os partidos das esquerdas a melhor rentabilizarem a deceção dos eleitores com a manifesta falta de jeito dos políticos das direitas para acolherem-lhes as expetativas de vida menos difícil.

Após breve interlúdio para gáudio de Marcelo e dos boys de Lucília Gago, voltemos à tradição de termos as esquerdas maioritárias a garantirem os dois passos por diante depois de tão atabalhoado passo atrás.

terça-feira, 7 de maio de 2024

Um desgoverno acabrunhado

 

Em tempos - que já lá vão! - costumava-se dar o benefício da dúvida a um governo durante cem dias para ver quanto valeria. Com o da Aliança Democrática nem foi preciso um mês para aferir o nenhum mérito. Para além do logotipo e uns quantos saneamentos indisfarçavelmente políticos, que legado fica da sua ação?

Acabrunhado, Montenegro foge aos jornalistas para furtar-se a explicar o inexplicável, e de pouco lhe servirão tribunas como as do jantar do aniversário do PPD, porque lembra invariavelmente a canção de Mina sobre a futilidade de certas parole.

Pedro Nuno Santos tem razão plena, quando diz ser este (des)governo quem aposta em provocar novas eleições no mais curto prazo possível antes que se torne ainda mais evidente o quanto se distancia a prática das promessas com que quis embalar o eleitorado.

Esta permanente instabilidade não tenderá a facilitar a réplica da vigarice cometida em tempos por Cavaco Silva para conseguir a maioria absoluta. Até porque a memória curta dos portugueses chega para lembrar o que, para além da campanha criada por sucessivas corporações para derrubar o governo anterior, este estava de facto a concretizar para dar satisfação às suas necessidades.

Embora desejasse que viessem essas novas eleições, que reencaminhassem o país para o trilho do que foi interrompido com as de 10 de março, desconfio que o desejo de conservar o poder seja tanto nas hostes laranjas que, mais facilmente, darão a Ventura aquilo que ele lhes exigirá.

domingo, 5 de maio de 2024

Um gélido banho de realidade

 

Pode haver quem seja suficientemente distraído para não ver aquilo que o seu preconceito tornou cego, mas também desconfio não faltarem desiludidos com este desgoverno, com que julgaram ver satisfeitas muitas das suas ânsias, e de que encontram como resposta um gélido banho de realidade.

Penso nos polícias, que se imaginaram com subsídios  iguais aos dos colegas da Judiciária, ou nos professores apostados em recuperarem rapidamente o tal tempo de serviço, a que outros funcionários públicos poderiam aspirar.

Olhando para um primeiro-ministro mudo por desconhecer que dizer, ministros céleres a despedir e a difamar gente competente, mas depois admirados por não os terem a fazer aquilo que não sabem, anuncia-se uma tempestade tão intensa, quanto parece estagnada esta bonança.

O verão está para vir e os hospitais voltarão a estar num caos, que as televisões - tão desejosas de o denunciar, quando o imputavam ao governo anterior - não conseguirão iludir, e as ruas serão estreitas para conter a deceção dos que veem a situação piorar, quando não se contentavam com os avanços assim assim.

E entre os que se arrepiam com este duche frio está a caquética criatura ainda suficientemente lúcida para perceber quão falhada foi a missão a que se dera, e julgara concluída com a demissão de António Costa. Afinal aqueles a quem pretendera devolver o pote demonstram ser tão desajeitados, que só resta desejar que não o partam. Porque para recuperar os danos já os socialistas se preparam... 

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Vai ser curta a festa deles, pá!

 

Voltasse ao mundo dos vivos, e quisesse replicar uma análise semelhante à que produziu sobre o 18 de Brumário de Luis Bonaparte, que diria Karl Marx desta enésima repetição de um governo da AD? Se é certo que teve o cuidado de anteceder a expressão “pelo menos” na constatação da tendência da História para se replicar, que haverá a acrescentar à tragédia (cavaquista) da primeira vez - e dando de barato ter o sácarneirismo sido breve prólogo aos malefícios do filho de Boliqueime! - e à farsa santanista subsequente? Depois da palhaçada protagonizada pelo autarca da Figueira da Foz, que se pode esperar deste interlúdio montenegrista senão a vigência de uma permanente trapaça?

Isso mesmo o confirmou Miranda Sarmento com a indesculpável comunicação de ontem, quando quis iludir a incapacidade para cumprir todas as promessas, que o suposto choque fiscal e o mirífico crescimento exponencial da economia lhe prodigalizaria. Agora que as contas começam a exigir-lhe a assinatura para serem pagas o presumido centeno do PSD vê-se no mesmo filme de há duas décadas quando Durão Barroso comprovou não ter dedos para tão exigente guitarra, e aproveitou para dar às de vila diogo tão-só a conjuntura veio ao encontro do seu congénito oportunismo (e isso digo-o eu que o tive por colega de liceu nos idos anos 70 e já então sentia por ele uma forte antipatia!).

Encontrar saída para o embrincado labirinto em que se vê, eis o que Sarmento e seus colegas sentirão como urgente, cientes de estarem a percorrer um caminho de pedras em vez da celestial estrada de tijolos amarelos, que os deveria levar para o outro lado do arco-íris. Porque, em vez de céus claros eles tendem-lhes a ser assaz nebulosos.

Imagino a deceção de quantos se julgaram potencialmente satisfeitos nos anseios de uma vida melhor ao confiarem o voto a quem tantas vezes já deu provas de incompetência e insensibilidade social. Não admira que, sentindo curta a festa, o governo cuide de arranjar emprego para os amigos o mais rapidamente possível mesmo recorrendo a argumentos  injuriosos. É torpe o que os seus ministros fizeram a Fernando Araújo ou a Ana Jorge esperando-se por novos episódios nas semanas vindouras. 

Sendo a pressa má conselheira será inevitável o tombo a curto prazo. Para desgosto de um Marcelo, que terá julgado cumprido o desígnio de afastar as esquerdas do poder e as verá de volta a curto trecho. Até porque, como o demonstraram as manifestações da semana transata, são muitos mais os milhões apostados em defenderem os valores de Abril do que quantos, por perfídia ou ignorância, se deixam embalar pela conversa patranheira do farsante-mor...