quarta-feira, 31 de julho de 2019

Os percalços de um arrivista


No século XIX era comum ver os jovens europeus a demandarem a Itália para cumprirem um percurso iniciático, que os traria de volta mais sábios e maduros.
Boris Johnson decidiu dar uma volta pelo que ainda constitui o Reino Unido e dificilmente recolherá os benefícios desse exemplo do passado. Na Escócia ouviu a primeira-ministra dizer-lhe que um brexit sem acordo equivalerá a novo referendo para suscitar a almejada independência. Na Irlanda avisaram-no que nem pensasse em repor as fronteiras com o vizinho do sul. E no País de Gales garantiram-lhe que não eram tolos para se deixarem enganar com o dinheiro, que ele lhes prometia.
Vai ser um interessante caso de estudo acompanhar os percalços de Boris enquanto não for corrido de Downing Street.  Por muito que confie no pensamento mágico, ele sai-lhe serôdio, sem brilho. Embora não seja de excluir que, face à possibilidade de se ver merecidamente humilhado, o vejamos subitamente conquistado para a ideia de infletir 180º no que vem defendendo. Quem lhe conhece o carácter (ou a sua falta!) sabe que não seria a primeira vez, nem provavelmente a última, em que daria o dito pelo não dito...
Fica por esclarecer que ganharíamos alguma coisa com essa permanente vocação inglesa para, associada a polacos, húngaros e outros que tais, estilhaçarem o que a União Europeia poderia ser no que melhor representassem os seus ideais democráticos.

Combater os vírus com antibióticos eficientes


Desta vez com epicentro no «Jornal de Notícias«, mas logo replicado noutros órgãos da comunicação social, está em curso uma campanha antissocialista com contornos muito semelhantes à perpetrada há quatro anos. Na altura ela não impediu que Passos Coelho fosse à espera de Godot para uma paragem onde ele nunca chegou a aparecer-lhe, mas a votação do PS saiu claramente aquém da merecida pelas propostas do seu programa eleitoral.
O esforço dos que estão a congeminar a atual campanha visa o mesmo: sabem que António Costa será o próximo primeiro-ministro, mas tudo fazem para que fique tão fragilizado quanto o permitam as sucessivas levas de ataques preparados para saírem cirurgicamente nesta altura.
É por isso que a reação tem de ser forte e determinada: pedir à PGR que esclareça sobre as histórias de contratos públicos entre algumas instituições do Estado e os familiares de alguns governantes, por quem não são tuteladas, pode frustrar os intentos dos conspiracionistas. Limitar-lhes a virulência com eficazes antibióticos pode ser meio caminho andado para que as direitas, que se acoitam atrás de tais campanhas, tenham o merecido troco no dia 6 de outubro.
Porque razão deverão os familiares de quem chega ao governo impedidos de exercerem a sua atividade profissional como até aí haviam feito?

O merecido troco dado a uns pífios politiqueiros


Perante as graves acusações, que pendiam sobre o ministério, que dirige, Eduardo Cabrita poderia tê-las resolvido muito facilmente demitindo o secretário de Estado e dando como aceites as denúncias feitas nos dias mais recentes a respeito das golas antifumo ou dos contratos feitos por uma empresa de Arouca com a Universidade do Porto ou a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Minimizavam-se os danos políticos, deixava-se o caso cair no esquecimento e voltava-se à eficaz luta contra os incêndios, quer de origem fortuita, quer de causas criminosas.
Mas pode Eduardo Cabrita ser quem não é? Escrevi-o aqui há um par de dias que, tão-só se sinta motivado pela razão, não há quem o trave. E ai de quem, então, se atreve a pôr-se a jeito.
A história da gola parece exemplarmente resolvida com o ensaio solicitado à Universidade de Coimbra na pessoa do insuspeito Xavier Viegas que, semanas atrás, «abrilhantara» uma ação de campanha de Rui Rio. Segundo o relatório emitido pelo referido professor as golas não são inflamáveis face ao fogo, apenas se deixam perfurar, não constituindo nenhum risco para quem as utilize.
Quanto aos contratos da empresa de construção de Arouca, que tem o filho do secretário de Estado como sócio minoritário, só os cães-de-fila de Paulo Morais, escudados numa duvidosa associação, que diz defender a transparência, podem pôr em causa a probidade do governante. Acaso a Universidade do Porto e a Câmara de Vila Franca de Xira não dispõem de autonomia para estabelecerem contratos com quem quiserem? Devem alguma subordinação ao governo e àquele secretário de Estado em particular?
Os «moralistas», que agem a soldo de óbvias intenções eleitorais tenderiam a criar uma tal situação que qualquer pessoa motivada a servir o seu país numa função pública condenaria inevitavelmente os familiares a ficarem tolhidos nas respetivas atividades profissionais. Reportando esta situação a um texto anterior em que defendia a necessidade da mulher de César ser e parecer séria, enjeito a aparente contradição, porque quem pelos seus atos não deve, não teme as subsequentes consequências. O pedido do governo à Procuradora para definir uma jurisprudência, até agora inexistente sobre o assunto, deverá resolver as falsas dúvidas dos que delas se serviram para a politiquice mais rasteira.
Resta o documento que o ainda presidente do SIRESP distribuiu abundantemente por toda a imprensa como retaliação por se saber condenado ao desemprego com a recente negociação do controle desse sistema de comunicações para o Estado. O escorraçado personagem decidiu arrasar um relatório lavrado por uma comissão independente recheada de especialistas sobre matéria de que ele arroga único doutor. Há bonifácios que, de facto, desmerecem o significado do nome que têm...
Uma vez mais, Eduardo Cabrita mostra que não é homem para se render a quem o procura injustamente atingir. O contra-ataque sai-lhe fortemente escudado em argumentos, que só menorizam quem o decidiu atingir...

terça-feira, 30 de julho de 2019

Não serei eu a verter uma lágrima por uma sobrestimada coleção


Não tenho grandes estados de alma relativamente à possibilidade de se vir a perder a Coleção Berardo acaso os bancos, que a mandaram arrestar, decidirem escamoteá-la das mãos do Estado e a quiserem vender. Muito embora tenha obras interessantes ela peca por banal, quando comparada com as que podemos apreciar nas grandes capitais europeias. Comparem-se as obras disponíveis em Belém com as expostas no Centre Pompidou, no Reina Sofia ou no Tate Modern e temos de reconhecer como estamos a falar de patamares completamente distintos.  Não se pode esquecer que a motivação para a constituição desse acervo sempre foi o da especulação, por muito que quem se incumbiu da compra das obras na sua primeira fase fosse pessoa de inequívoco bom gosto e alguns dos seus curadores tenham procurado maximizar a sua divulgação com investimentos irrisórios.
Quando José Sócrates decidiu pôr o Estado a pagar as despesas de conservação de tal património tinha uma excelente intenção: apesar do que Museu do Chiado ou a Fundação Serralves já representavam, o país não contava com uma coleção de Arte Contemporânea de nível internacional, que justificasse o turismo cultural de quem proviesse de outras origens. Poderia estar aí um ponto de partida para que Portugal viesse a integrar o circuito europeu das grandes exposições e atraísse um tipo de visitantes diferente do que procura as praias, o surf ou a boa comida. Mas a realidade manda reconhecer que a coleção Berardo não só condicionou o projeto pensado por António Mega Ferreira para o CCB como serviu, sobretudo, para a promoção publicitária do especulador madeirense, que ganhou com ela anos a fio de boa imprensa.
A acontecer, a eventual dissolução da coleção, poderá dar a oportunidade a quem tutela a Cultura de regressar ao ponto de partida tecendo uma estratégia consistente, que alie a promoção dos artistas nacionais e seja criteriosa na aquisição do que o mercado global da arte prodigalizar. Até porque os anos vindouros tendem a descentralizar-se do eixo atlântico e a focar-se nas propostas estéticas vindas da Ásia ou de África.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Há cancros que merecem urgente biópsia e subsequente cirurgia!


A história em torno das golas antifumo continua a render juros às direitas e aos meios de comunicação social por elas inspirados, mas comporta, igualmente, a necessidade de um trabalho sério dentro do PS para eliminar as causas deste tipo de situações, que são comuns a todos os partidos, quando chegam à órbita do poder. Armando-se em virgens impolutas, os políticos do PSD ou do CDS vêm manifestar-se indignados com o caso, mas só os tolos ou os inocentes (que para o caso se equivalem!) acreditam que não têm telhados de vidro.
Sabemo-lo bem que têm e só não vêm sendo desmascarados, porque a Justiça se tornou zarolha nas últimas décadas e, quer juízes, quer procuradores, escamoteiam culpas à direita, porfiando em endossa-las quase exclusivamente à esquerda.
Agora que as listas de deputados estão escolhidas e nos motivam justificados descontentamentos não é difícil encontrar aqui e ali alguns putativos candidatos, que integram grupos bem identificáveis, conhecidos por buscarem mais facilmente os seus próprios interesses do que os do Partido, para não falar dos que mais os deveriam preocupar: a generalidade dos portugueses.
É bem conhecida a minha prática de fazer campanha de militante de base noutro concelho, escusando-me a fazê-lo naquele onde (ainda) resido. Por um lado, porque fica esclarecido não me mover qualquer ambição, que não seja propagandear as propostas do PS junto de quem as deve conhecer - como diz um grande amigo meu sou dos que pagam para fazer política repudiando quem nela aposta colher benefícios em proveito próprio! - mas também para não caucionar um grupelho, que sempre disse cobras e lagartos de António Costa, quando ele era ainda só candidato a secretário-geral do Partido. Agora essa meia-dúzia de «militantes» colam-se-lhe para solicitarem empregos à medida das desmedidas ambições, que não dos seus reais talentos.
O caso das golas é elucidativo de uma certa cultura, que importa extirpar do Partido Socialista. Como diz o ditado não basta à mulher de César ser séria. E, infelizmente, vegetam internamente alguns cancros, que merecem biópsia e consequente cirurgia. Posso consolar-me com o facto de o candidato do concelho em que resido ter hipóteses remotas de vir a sentar-se na Assembleia da República. Mas, que importa! Por inação dos órgãos nacionais e distritais, ele e os seus cúmplices continuarão a causar danos presentes e potenciais prejuízos futuros se, como sucedeu, com o presidente da concelhia de Arouca, acabarem convidados para assessorarem algum ministério no futuro governo.

domingo, 28 de julho de 2019

À primeira muitos caem, à segunda só os tolos


Até admito que possa haver algo de incorreto - ainda que aposte em nada de ilegal! - na história das golas com produtos inflamáveis. Um acessório, que custa pouco mais de um euro não pode equiparar-se ao que, para fins semelhantes, custa cinquenta vezes mais. Mas acaso as populações as utilizassem, crendo-se protegidas, e continuassem vestidas com roupa inflamável - que é quase toda a comercializada! - não estariam melhor poupadas aos efeitos de um incêndio. Eis um exemplo explicito como uma notícia, que não chega a ser fake no conteúdo, o é na sua substância mais relevante.
Não deixa de ser elucidativo, que a comunicação social faça do assunto matéria privilegiada de abertura de telejornais e, pior ainda, que gente com dois dedos de testa lhe dê tal importância. Nesse sentido este episódio lembra a mesma técnica de alienação dos eleitores utilizada pelos mesmos círculos conspirativos que, há quatro anos, fizeram um banzé com uns cartazes onde, supostamente, apareciam pessoas, depois histericamente desagradadas por lhes terem utilizado a imagem para um objetivo, que não tinham cuidado de indagar quando as haviam convidado a posar para neles figurarem.
A estratégia repete-se: as direitas agarrarão em todos os assuntos, por mais ridículos que sejam, para evitarem a anunciada derrota vexatória de outubro. Creem porventura que, a exemplo do sucedido então, conseguirão minimizar a merecida penalização a que se sujeitarão.
Há quatro anos houve muitos que se iludiram e deram votos a Passos Coelho, que tanto se esforçara por lhes infernizar a vida nos quatro anos anteriores. É tempo de se lembrarem que, à primeira, muitos caem nas trapaças, mas à segunda só os tolos se deixam iludir.

sábado, 27 de julho de 2019

Um grande dirigente socialista no presente e no futuro


Quem me costuma ler sabe da admiração, que nutro pela ação política e ideário de Pedro Nuno Santos. Estando  quase totalmente de acordo com  a direção do Partido Socialista é o atual Ministro das Infraestruturas, que mais justifica a eliminação do advérbio. E isso conforma-se na entrevista hoje concedida ao «Público» em que pré-justifica o que fará (e ainda não anuncia) se os motoristas de transportes vierem a cumprir a anunciada greve: “Quando estamos numa negociação, temos que estar de boa-fé. No protocolo assinado, havia o compromisso de que enquanto as negociações decorressem se garantia paz social. É um erro que no meio de um processo negocial se proceda desta maneira.”
Sobre a ferrovia dá-nos garantias de um futuro bem mais radioso para o setor, tornando-o determinante no desenvolvimento futuro do país. Além de antever a possibilidade de viajarmos de comboio entre Lisboa e o Porto demorando-nos apenas uma hora, considera-a estratégica para a criação de uma nova grande área metropolitana entre as duas maiores cidades do país. E esbate as ilusões aos que, cingindo-se às supostas imposições da União Europeia, continuam a bater-se pela privatização da CP: “não tenho a menor dúvida de que aquilo que precisamos em Portugal, para benefício do nosso país e do nosso povo, é termos uma CP forte, uma CP grande, uma CP a servir bem o país e os portugueses. E isso implica um contrato de serviço público entre o Estado e a empresa. A minha preocupação é conseguir que a mobilidade em Portugal funcione bem e isso faz-se com a CP. Da mesma forma que acho, e que este partido acha, que a prestação de cuidados de saúde funciona melhor se tivermos um Serviço Nacional de Saúde universal e público. Da mesma forma que este Governo e este partido acham que a melhor forma de nós promovermos a qualificação do povo se faz com a escola universal e pública. Da mesma forma que acho que a mobilidade em Portugal será assegurada com maior qualidade, segurança e conforto através de uma grande empresa pública. A CP já deu muito a este país. Deve ser respeitada por todos nós. O contrato de serviço público é uma questão de justiça. Há uma coisa interessante: todos os interesses privados a quererem vir para cá só falam da Linha de Cascais e da Linha do Norte. Porque são as únicas superavitárias. Nunca vi ninguém interessado em operar nas outras.”
Conclua-se com o seu estruturado pensamento quanto ao futuro das esquerdas europeias e com o qual estou 200% de acordo: precisamos levar para a Europa o que defendo no plano nacional. Uma clara distinção entre a esquerda e a direita e que a confusão que houve durante muitos anos entre o centro-esquerda e o centro-direita desapareça, porque isso prejudica a democracia. No plano nacional, estamos a fazer isso com sucesso, ganha a democracia portuguesa. Temos de conseguir fazer isto no plano europeu porque ganhará a democracia europeia. (...) Os socialistas têm de ter um programa claramente distinto em relação aos conservadores e aos liberais para a Europa e devem-se bater por ele contra essas famílias políticas europeias.”
Não surpreende que considere fundamental esta peça jornalística e aqui lhe enfatize alguns dos trechos, que mais me agradaram.

Lições óbvias, mas tão difíceis de aprender


A notícia da rutura das negociações entre o PSOE  e o Unidos Podemos para viabilizar um sólido governo das esquerdas no Palácio de la Moncloa coincidiu com um debate num canal televisivo francês sobre as razões porque os partidos sociais democratas estão a decair, se não mesmo a desaparecer (como ocorreu na Grécia com o PASOK), do mapa político europeu, permitindo o predomínio das direitas, desde as mais liberais (França, Alemanha, Holanda) até às de extrema-direita (Hungria, Polónia ou Itália).
Pedro Sanchez e Pablo Iglésias  revelaram-se incompetentes para chegarem a um acordo, um porque se julgou autossuficiente e confia nas sondagens, que lhe perspetivam grande subida de votos (mas que podem fugir-lhe até ao final do ano!), o outro, porque insiste naqueles erros tão frequentes no nosso Bloco de Esquerda e que um tal Ulianov qualificou de «doença infantil».
Muito embora os líderes das esquerdas europeias pudessem olhar para o exemplo português e dele colher proveitosos ensinamentos, preferem ignorá-lo e repetirem estratégias condenadas ao fracasso. Inebriados no convívio amistoso com o grande patronato e a alta finança, não perceberam que os derrota a falta de contacto direto com as populações trabalhadoras, passando a ser por elas tidos como detestáveis elites.
Há quem julgue possível ganhar eleições com uma intervenção contínua nas redes sociais, como se tivesse deixado de fazer sentido o exercício da política à moda antiga. Criem-se uns apelativos canais youtube e umas páginas  no Instagram, no Facebook ou no Whatsapp e esqueçam-se as visitas a mercados e a bairros problemáticos, a estações multimodais e a centros sociais. Como se iludem! Porque nada substitui a interação com os eleitores, apresentando-lhes propostas consistentes para que vejam melhorada a qualidade de vida, mas  também os oiçam, porque não é difícil comprovar que, além de acorrerem às urnas de voto para elegerem os políticos em que mais confiam, as pessoas estão desejosas de falar, de comunicar as suas preocupações e aspirações. Acaso as esquerdas esqueçam este imperativo de cidadania deixam as redes sociais contaminarem-se com fake news  e outras formas de manipulação das consciências em que as direitas se revelam muito mais competentes como se viu nas vitórias de Trump ou de Balsonaro.
Daí que as esquerdas portuguesas tenham a responsabilidade histórica de persistirem nas convergências futuras, construindo um modelo capaz de confirmar o terror enunciado por Poiares Maduro que, numa entrevista ao «Público», confessa o temor da mexicanização do país. E não é por causa da corrupção do PRI, que o antigo ministro de Passos Coelho se assusta, mas perante a possibilidade de um duradouro exercício do poder pelas esquerdas, já que aquele partido foi absolutamente maioritário no grande país da América Central entre 1929 e 2000.
Se souberem ser inteligentes os partidos da nossa ainda atual maioria parlamentar podem aliar forças para transformar o país durante muitos mandatos. Assim saibam Sanchez e Iglésias imitá-los nesse objetivo...

sexta-feira, 26 de julho de 2019

38ºC ao fim da tarde em Amesterdão


Ao fim da tarde o meu genro enviava-me um print screen do telemóvel dando-me conta dos 38ºC ainda registados na temperatura de Amesterdão no momento em que regressava a casa depois de passar o dia no conforto do ar condicionado do escritório. A vaga de calor por ele reportada está em todos os noticiários europeus, só tendo pouco eco nos nossos por se entreterem com a mais recente birra dos motoristas dos transportes de mercadorias perigosas.
Uma vez mais os diretores de informação dos telejornais lusos preferem o acessório ao essencial por darem importância aos mercenários do volante que, pela sua conduta, nos fazem suspirar pelo momento em que serão merecidamente atirados para o desemprego, porque a tecnologia os tornará dispensáveis. Quando assumimos a ambivalência relativamente às mudanças no mercado do trabalho perante a implementação das novas tecnologias, depressa nos reorientamos para a aceitação desse incontornável futuro perante o terrorismo social dos fantoches manipulados pelo advogado do Maseratti.
Se esses pseudossindicalistas são réplicas das melgas do verão, que chateiam durante umas semanas e acabam por desaparecer sem consequências de maior, as vagas de calor tendem a repetir-se e a tornarem-se mais difíceis de suportar.
Perante a sua crescente frequência e insuportabilidade quem ainda terá o despudor de negar o aquecimento global por que passa o clima à escala mundial? Por quanto tempo conseguirão travar a mudança de paradigma nas nossas sociedades?
O modelo capitalista está em causa, sendo imperioso que se perca a obsessão com o crescimento das economias, porque a sobrevivência da Humanidade dependerá de produzir localmente, consumindo menos e mais eficientemente, reduzindo a quase zero os resíduos, reciclando quase tudo. O futuro depende de uma completa sintonia entre as ideologias igualitárias com as que assentam nos credos ecologistas, condenando à obsolescência as que, nas diversas manifestações das direitas, teimam nos mercados abertos a nível global e na negação dos principais valores contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Entre as esquerdas recicladas nas preocupações relativamente a um planeta sustentável e as direitas, que nos querem empurrar aceleradamente para o apocalipse climático não há que duvidar de quais terão razão de subsistir.
Greta Thunberg é o rosto mais determinado dessa nova geração, que imporá a transformação política e social. No fim da semana passada estava a crescer uma campanha internacional que, em vários países do centro da Europa, a desqualificava enquanto rosto de um insensato histerismo, que poria em causa a qualidade de vida das populações ocidentais. A vaga de calor destes dias veio silenciar essa manobra ideológica, que ainda persistirá em alienar as mentes coletivas até acabar definitivamente desmascarada...