quarta-feira, 31 de maio de 2023

O aparvalhamento das massas

 

Não gosto de ceder ao pessimismo, e sempre procuro vislumbrar nos desaires as oportunidades para resultados, que se verifiquem opostos em prazos tangivelmente aceitáveis. Mas reconheço, que os resultados recentes nas eleições gregas, turcas ou espanholas, devem fazer soar as campainhas nos quartéis-generais das esquerdas e pô-las a refletir nas virtudes dos projetos frentistas, tipo geringonça, quando vêm portadores de esperança de vida melhor para quem neles possa votar.

Sem prejuízo de António Costa retirar lições quanto a não terem bastado a Sanchez os  bons resultados na economia para colher apoio de quem lucrou com as suas medidas sociais - como se os bolsos mais confortados não signifiquem reconhecimento quanto a quem os remediou! -, também Mariana Mortágua deveria olhar para o efeito dos «casos» e «casinhos» responsáveis pelos maus resultados socialistas aqui ao lado para não se aprestar a tão perversamente os empolar. Nesse sentido reitere-se a sageza comunista, que os dissocia de qualquer abordagem substantiva do que mais deverá importar aos portugueses.

Vivemos, de facto, tempos inquietantes em que as dinâmicas ainda pendem para as extremas-direitas sem que os democratas consigam para dotar-se dos devidos antídotos. Tanto mais que a liberdade de imprensa é torpedeada constantemente por quem aposta na satisfação da agenda de interesses desse mesmo setor extremista do patronato, que detém televisões, rádios e jornais e quase dela exclui qualquer cheiro a visões progressistas da realidade.

Na altura em que uma apresentadora de televisão enche pavilhões à conta da sua mensagem sobre os pensamentos mágicos, reconheça-se que as direitas têm sido extremamente eficazes no aparvalhamento de boa parte da população. E, acaso não se as consiga infletir, as consequências só podem ser particularmente graves a médio prazo. 

segunda-feira, 29 de maio de 2023

As questões que Mário Dionísio continua a sugerir

 

Excelente evocação a de Mário Dionísio por António Araújo no Público deste fim-de-semana a pretexto da publicação do quarto volume do seu diarístico Passageiro Clandestino.

Escrito antes da notícia da morte de Eduarda, a filha do escritor-pintor, e sua devotada sacerdotisa no templo a ele dedicado numa das encostas do castelo de Lisboa, o artigo anota a existência de dois ritmos distintos nos textos, que Dionísio ia produzindo: um mais lento quando pensava nos rumos da Revolução, outro mais rápido quando narrava as vicissitudes inerentes aos cargos para que ia sendo nomeado, ou regressava à zona de conforto representada pelas aulas no Liceu Camões, os serões na casa da Rua Elias Garcia ou o retiro em Ranholas.

Questão interessante a levantada no dia 15 de março de 1977, quando as ilusões suscitadas pelo 25 de abril tendiam para a retoma do destino medíocre, que se adivinhava na previsível tomada do poder pela direita sácarneirista. Efeito de quatro séculos de Inquisição e de meio século de fascismo? Provavelmente, que assim continua a acontecer neste primeiro quartel do século XXI.

Araújo lança, porém, uma dúvida pertinente: não seria esse obscurantismo religioso e a ascensão de Salazar e seus sucedâneos no poder (Cavaco e Passos Coelho como exemplos mais óbvios, que incluiriam um Marcelo com superior inteligência e sofisticação) a consequência de uma geografia, que nos condenou a vivermos sempre na periferia e num país de solos pobres, que impeliria à emigração dos mais ousados, quiçá mais talentosos?

Questão oportuna numa altura em que vemos Fátima encher-se de acéfalos peregrinos e as televisões a darem gás a essa gesta salazarenta...

sábado, 27 de maio de 2023

Às vezes dá-me para soltar o mais exaltado vernáculo!

 

1. Patética a reação de alguns políticos e comentadores laranja sobre as reações socialistas às afirmações de Cavaco Silva numa reunião do seu partido: o seu nervosismo revelaria incómodo com a contundência das palavras do filho do gasolineiro de Boliqueime.

Posso asseverar que não me senti nem mais nem menos incomodado com tais propósitos: a personagem que, para mal dos nossos pecadilhos, tivemos de aturar tanto tempo a azucrinar-nos as vidas, causa sempre a mesma urticária. Se é certo que a política deve suscitar racionalidade fria e ponderada, é impossível evitar o mais exaltado vernáculo quando aparece no ecrã. E isso não é, porque seja importante o que diz - quem se dá ao trabalho de o ouvir? - mas por indispor a sua sinistra aparição!

2. A melhor reação à mesma assombração foi a de José Sócrates, que lembrou como a idade pode ajudar alguém a ser mais sábio ou, em contrapartida, a tornar-se mais velhaco no ressentimento rancoroso, que denuncia a infelicidade em que vive.

Cavaco é exemplo desta segunda versão de envelhecimento. Sem que mereça pinga de solidariedade por tão malfadado se confessar.

3. Claro que o mais sofisticado Marcelo não anda distante dessa deriva amargurada: adivinhando-se condenado a ser mera citação no rodapé da História destas décadas, e fracassada a tentativa de devolver o pote aos apaniguados, vai fazendo os possíveis para não desaparecer dos noticiários televisivos. Agora arranjou a convocação de dois Conselhos de Estado para as próximas semanas assim tendo a certeza de manter ainda alguma relevância pública. Mesmo que nada de substancial saia dessas reuniões...

4. Confiança é o que António Costa transparece ao enfrentar uma oposição parlamentar e mediática, que o quis defenestrar, mas vê o enjoo nauseado associar-se à campanha de casos e casinhos em torno da TAP e do ministério que a tutela. O Expresso dá conta de uma suposta frase a nortear o núcleo duto do governo - “com 0,4% de défice é fácil andar em campanha” - provavelmente inventada na redação do semanário, mas expressiva quanto à obsessão da sua direção editorial: também ela sabe que a economia tenderá a consolidar a ação governativa e a suscitar o apoio de quem com ela beneficiará.

5. Quase nunca concordando com as opiniões de Miguel Sousa Tavares tenho de dar a mão à palmatória a respeito da forma como analisa os trabalhos da dita Comissão de Inquérito Parlamentar à TAP: “isto causa muito ruído e muito escândalo mediático, mas nada tem a ver com política, nada tem a ver com jornalismo e nada tem a ver com o exercício parlamentar de fiscalização da atividade governativa.”

6. E há enfim o tal caso Tutti Frutti com que um canal televisivo buscou encontrar combustível para reacender um incêndio, que adivinha prestes a finar-se quanto ao ocorrido na TAP ou com João Galamba. Que tenha servido para uma curiosa guerra civil dentro do grupo parlamentar o PSD só demonstra o desnorte de uma oposição política sem engenho para contrariar uma realidade que a ultrapassa. Mesmo contando com a colaboração de uma procuradora para quem sete anos não bastaram para dar como arquivadas as suspeitas, que não soube fundamentar como verdadeiras. 

sexta-feira, 26 de maio de 2023

O sexo dos anjos e o que é verdadeiramente importante

 

1. Conhece-se o exemplo histórico: o debate sobre o sexo dos anjos na Constantinopla cercada pelos exércitos, que a iriam invadir e não encontrariam a devida resistência.

É isso o que parece suceder no debate parlamentar sobre as vicissitudes decorrentes da indemnização atribuída a uma antiga administradora da TAP e culminada nas pouco edificantes cenas no Ministério das Infraestruturas. Quando o país está a viver uma terrível seca, prenunciadora dos efeitos de alterações climáticas, que se instalam bastante mais cedo do que previam os otimistas, não é sobre esse problema e a forma de lhe reagir, que as oposições se preocupam. Embora adivinhemos que não tardarão a acusar o governo por não estar a fazer o que, por com elas ter de se distrair, está a secundarizar.

Que se trata de uma novela artificial podemos conclui-lo dando razão a António Costa quando, a propósito da intervenção do SIS, comenta: “quando desaparece um documento classificado, devem as autoridades comunicar? Sim. As autoridades devem agir? Sim. Alguém deu ordens, orientações? Não. Tudo o resto são pormenores para animar uma novela”. Que tem a ver com a perceção das direitas em como lhes resta pouco tempo para porem em causa um governo fadado para, por inversão do ciclo económico, demonstrar a eficácia da maior parte das suas políticas.

2. Outro problema com que as direitas pouco se preocupam, a não ser pela vertente populista do seu lado mais extremista: a impunidade com que os bancos andam a associar as comissões e a subida dos juros nos créditos à habitação com a ninharia com que remuneram os depósitos.

Especulação é uma realidade, que os banqueiros não conseguem iludir. Mas que as direitas tudo farão para normalizar como sendo próprio de um “mercado a funcionar”.

terça-feira, 23 de maio de 2023

Obscuros becos e largas avenidas

 

O argumento faz todo o sentido: numa altura em que somam-se boas notícias na Economia, decerto repercutíveis  nos bolsos dos portugueses, não admira que Marcelo, Cavaco, televisões & Cª acelerem nos ataques ao governo.

Sentem o tempo a encurtar-se para evitarem o que pressentem: não tardará que a situação sociopolítica se inflita e vejam frustradas as expetativas quanto a derrubarem quem sempre têm detestado. Estamos no intervalo de uma batalha em que uns se esfalfam a compensar a medíocre, mas empolada ambição, com o recurso a intrigas, manipulações e mentiras, que forcem a História a inclinar-se aos seus interesses. E os outros, os que verdadeiramente detêm as chaves para abrirem avenidas mais largas em direção ao futuro, o vão preparando ... e construindo! 

domingo, 21 de maio de 2023

As múmias voltam a atacar

 

As direitas sofrem de congénita inveja: sabemo-lo desde as muitas mágoas por se ver, anos a fio, afastada do tal pote recheado de muitas alegrias para as suas ambições.

Desconhecemos se terá algo a ver com o sucesso da exposição dedicada a Ramsés II, que suscita multidões de parisienses e turistas na direção de La Villette, mas o reaparecimento de Cavaco, com a boca cheia do tal veneno sobre o qual andamos há anos a congeminar a altura em que morderá finalmente a língua, só quererá dizer isso: à míngua de eficácia na sua estratégia política as direitas vão às catacumbas e trazem de lá tão anacrónica criatura.

Teve alguma importância aquilo que disse? Quanto muito animou por algumas horas as redações das várias televisões apostadas em aproveitarem os mínimos motivos para dizerem de António Costa o que Maomé não teve imaginação bastante para maldizer o toucinho. Mas, não contentes com uma, as direitas ainda tiveram direito à segunda múmia que, invejosa do expetante destaque dada à primeira, cuidou de se mascarar de calceteiro e arrastar atrás de si uma trupe de estagiários de jornalismo e consolidar o papel de maior desestabilizador da República.

Como saldo da semana tivemos uma comissão parlamentar em que as direitas, mais o seu providencial aliado Pedro Filipe Soares, pretenderam fritar João Galamba em lume brando mandando às malvas os factos mais óbvios: o Frederico roubou um computador, que não lhe pertencia, e quis ganhar os quinze minutos de fama conferidos por quem não quer saber da TAP para nada e só anseia pela queda do governo. Objetivo: lá pôr as direitas coligadas com o Chega! Assim anseia a vasta coligação dos seus deputados e seus paus mandados nas televisões. Onde Catarina Martins exulta de contentamento pelo desempenho de idiota útil, que ela e os correligionários vão cumprindo... 

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Um trânsfuga, uma desbocada e um quase desconhecido

 

1. Confesso a escassa paciência para ouvir a sessão da Comissão de Inquérito Parlamentar, que justificou emissão especial na televisão da família Balsemão, mas o pouco a que assisti bastou para comprovar a péssima opinião sobre a personalidade do assessor do Ministério das Infraestruturas, que já adivinhara de acordo com as informações anteriores. O antigo bloquista, depois trânsfuga por outras tendências da extrema-esquerda até orientar-se aceleradamente para o polo contrário, quiçá ao encontro da mãe, conhecida devota do partido de André Ventura, mostrou-se desmerecedor da confiança, que chegou a ser nele depositada. E só uma oposição apostada em aproveitar os casos e casinhos para iludir a falta de alternativa às políticas do governo e aos seus bons resultados, pode acreditar nas mentiras de alguém que tão sem escrúpulos cospe na mão de quem até recentemente o alimentou.

2. Maria Filomena Mónica foi surpreendente na conversa com João Céu e Silva ao confessar o alívio por ter cancro em vez do temido Alzheimer, que vira a mãe sofrer durante onze anos. Num e noutro caso não sei qual preferir: parece-me uma opção do tipo de escolha entre a peste a lepra, porque ambos são terríveis e não há como aos dois ter querido evitar. Embora no nosso caso, e tragicamente, a realidade se tenha vindo à prévia intenção.

3. Nesse tipo de biografias ganham relevância os segredos de alcova e este é também o caso: a revelação das orgias sexuais de alguns conhecidos católicos progressistas lisboetas não deixa de suscitar equívoca surpresa. Sobretudo pela ligeireza de ser oferecida aos leitores, quando os visados já cá não andam para a poderem desmentir...

4. A imprensa desvaloriza Paulo Raimundo dando-o como incapaz de conseguir a notoriedade necessária para obstar ao progressivo crepúsculo do seu partido.

Não me apressaria a juízo tão comum: as muitas viagens, que vai cumprindo por esse país profundo, surtirão algum efeito e a vaga de fundo poderá revelar-se intensa quando os lépidos urubus menos esperem...

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Os inimagináveis possíveis

 

As notícias, umas mais recentes, outras requentadas, vão justificando a incredulidade perante o que comportam. Por exemplo, como pode Carlos Moedas disfarçar a conivência tática com o Chega, quando aprovou a pífia ação do protesto organizado nas proximidades da sede do Partido Socialista? Ou, sabendo-se agora quem é Frederico Pinheiro, como foi possível que Pedro Nuno Santos o tenha convidado para assessor do Ministério das Infraestruturas? Ou como a oposição imagina fazer dele seu baluarte, quando são tão evidentes as falhas de sua lavra nos dias sujeitos à ilegítima inquirição da Comissão de Inquérito sobre a TAP que, temporalmente, nem sequer abrange o período a que eles respeitam? Ou como é possível estar em curso uma catástrofe ecológica no Baixo Sado e não surgem alternativas estratégicas (desde centrais de dessalinização até à eliminação dos projetos turísticos para a península de Troia sem esquecer a remoção das estufas, que secaram os lençóis freáticos), capazes de evitarem os piores cenários? Ou como ignorar o aumento do trabalho infantil nos Estados Unidos, sobretudo onde a maioria republicana consegue a desregulação dos direitos laborais e a proteção dos das crianças sem mostrar o menor escrúpulo?

Muitas outras questões similares poderiam aqui ser alinhadas. Ficam umas quantas que, tendo diversos culpados por atos ou omissões, indiciam uma fase do capitalismo em que sobram trogloditas e gananciosos, tardando   o urgente dobre de finados por um sistema económico, que ameaça com caóticas distopias se não for substituído pelo que prometa e cumpra maior liberdade, justiça e igualdade. 

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Combater mais eficazmente as estratégias do costume

 

O que me anda a surpreender pela negativa nos socialistas é a impreparação para responder à mesma estratégia das direitas nas anteriores governações por maioria absoluta (ou quase). Quer António Guterres, quer José Sócrates foram sujeitos a empolado escrutínio mediático, que transformou casinhos em “escândalos” semanas a fio explorados por quem lhes pretendia afetar a credibilidade.

Como tem sido descurada a estratégia de combater essa contínua demolição à fiabilidade, assente em assassínios de carácter mais do que em argumentos realmente fundamentados?

Pode ser que os bons resultados na economia operem o milagre de devolver a esperança, que justificou o apoio nas mais recentes eleições, mas importará fazer mais do que até aqui. Sobretudo porque não bastará esperar pela imperícia de Montenegro, ou pela associação de Ventura ao bicho-papão para pôr cobro a um mais do que merecido afastamento do pote a quem por ele tão gananciosamente suspira.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Um homem perplexo a querer ressurgir do anonimato

 

Nos trinta e muitos anos, que levo de militância no Partido Socialista, nunca me senti tão incomodado com a sua direção como nos três anos de liderança de António José Seguro. Não votara nele - mesmo obrigando-me a optar por Francisco Assis como mal menor! - e sempre antipatizara com a insidiosa forma como procurara cativar simpatias nos militantes durante os últimos congressos da época de José Sócrates.

Em rigor não eram só as ideias, que me dissociavam de Seguro e nada tinham a ver com o que entendia ser um Partido Socialista digno do seu nome. Era o seu próprio estilo manhoso, que o fazia procurar empatias fazendo por decorar o nome de familiares daqueles a quem se dirigia e sobre quem pretendia saber da saúde e bem estar.

Foi com entusiasmo que participei na campanha de António Costa para o substituir como secretário-geral. Participei em comícios e outros eventos destinados a impor uma candidatura, que libertasse o partido de uma linha programática, quase culminada num vergonhoso acordo com Passos Coelho sob a égide de Cavaco Silva. E foi de grande alegria a noite em que, no antigo cinema Roma, comunguei com muitos outros camaradas a vitória do atual secretário-geral.

Pode-se imaginar o meu assumido desagrado com o reaparecimento de um Seguro, que se vem dizer perplexo com o atual estado do país e predispondo-se a voltar à sua maligna participação política. Por mim bem poderia manter-se no anonimato a que se remeteu desde há oito anos...

terça-feira, 9 de maio de 2023

À espera do sebastião

 

Marcha fúnebre chamou Carmo Afonso à anunciada saída de cena de Luis Montenegro, substituído por um Passos Coelho, por quem a direita mediática suspira esquecendo-se da lição da História sobre a repetição de certos eventos, primeiro na forma de tragédia, depois na de ridícula farsa.

Quem agora avança estrategicamente com a bizarra casa de Espinho dotada de inusitado número de casas de banho, e declara imprestável o atual líder laranja, quer ignorar a mediocridade congénita do seu putativo herói, que o próprio tem pretendido escamotear em habilidosa gestão dos silêncios.

Se Montenegro deixou Marcelo desarmado perante o evidente atestado de incompetência de denunciar-se incapaz de concorrer a eleições - que acusou pretendidas por António Costa! -, as direitas aspiram por um sebastião reaparecido em manhã de nevoeiro e capaz de lhe ofertar o banquete, que julga exclusivamente nas mãos do Partido Socialista. Para já a colunista do «Público» vê em Montenegro aquele que a direita reconhece como “homem oficialmente considerado imprestável para governar”.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Desabafos!

 


A imagem diz muito e foi a preponderante nos poucos minutos, que demorou a proferir a diatribe anti-Galamba e a ameaçar o governo com raios e coriscos: ao baixar os olhos para o papel, só fugidiamente buscando o contacto visual com a câmara, Marcelo demonstrou quão inseguro está por ver-se desarmado da ameaça, que repetira em fútil bravata nas semanas anteriores. Quando António Costa o desafiou a ir a jogo, dissolvendo a Assembleia e convocando novas eleições, viu-se obrigado a meter a viola no saco e a arejar as ideias em Londres, mesmo que na bafienta cerimónia de coroação do novo espantalho de Westminster.

Promete intervir com maior frequência daqui por diante, sempre a afrontar quem entende tê-lo ultrajado? Balelas! Como se, até aqui, tivesse revelado comedida sensatez nos ininterruptos comentários sobre tudo e mais alguma coisa.

Que o faça, pois, porque já se viu quanto a tagarelice o leva não poucas vezes a roçar o disparate!

É claro que os despeitados comentadores, desfeiteados nas previsões, passaram a noite a dizer fragilizado o governo e, sobretudo, o ministro das Infraestruturas. Tenho por mim que o sucedido comporta um lado muito positivo: sabendo que não podem dar o mínimo pretexto para que o agastado rival o verbere, os ministros, e sobretudo quem os lidera, terão maior tento no que farão e mais incentivados se sentirão a produzirem ainda melhores resultados do que aqueles de que se podem orgulhar.

Se o sucedido esta semana significa uma mudança de ciclo só poderemos desejar que se caracterize pelo irreversível (e mais do que merecido!) crepúsculo de Marcelo e a concretização das melhores expetativas, que levaram o eleitorado ao dar ao PS a maioria absoluta...

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Confesso que gostei

Foi um regabofe. Se as cenas indecorosas da semana transata no Ministério das Infraestruturas já o haviam sido - e é pena que assim tenha sucedido! -, que dizer da sucessão de intervenções de comentadores, Marcelo Rebelo de Sousa incluído, a prognosticarem nas várias televisões a “morte política” de mais um dos “jovens turcos”?

Quando, em direto, António Costa a todos mostrou aquele que os franceses designam como o “doigt d’honneur” decerto causou assinalável clamor, mas demonstrou ter a coragem de devolver o inquilino de Belém à condição de figura decorativa e a de afrontar toda a mafia mediática, que se aprestava a colocar na botoeira mais um ministro, que teriam levado ao tapete por exaustão.

Demonstrando um carácter, que pareceu faltar-lhe em ocasiões anteriores, quando permitiu de Marcelo imposições que, constitucionalmente, não lhe caberiam de direito, António Costa pode ter proclamado o ponto de viragem em que, contra quem o tem querido amesquinhar, não o poderão impedir de concretizar um programa que promete deixar o país, e sobretudo os portugueses, muito melhor do que estavam, quando a direita lhes infernizava a vida.

terça-feira, 2 de maio de 2023

Quem não faz nem quer deixar fazer!

 

É sabido que, se detesta todos os socialistas, a direita mediática cultiva particular ódio pelos que, de entre eles, mais lhe pareçam situar-se na franja mais à esquerda.

Quer com Pedro Nuno Santos, quer com João Galamba, a tentativa de amesquinhamento tem sido constante, quer com recurso a deturpações e claras mentiras, quer omitindo os resultados muito positivos da sua ação nos ministérios que dirigiram ou, no segundo caso, dirige.

É certo que o caso do computador roubado e das cenas de pancadaria é lamentável, mas quem, em cargo de responsabilidade, não cometeu o erro de contratar um colaborador, assessor ou adjunto, que se vem a revelar um trágico erro de casting  e comporta-se como carta desfasada de um baralho?

Quem não passou por tal erro de contratação que atire a primeira pedra! Para tal se criou a legislação sobre os despedimentos, cuja legitimidade mais do que justificada neste caso,  tem sido sistematicamente ignorada por quem se serve do suspeito de diversos crimes, contra quem agrediu e contra o Estado, para prosseguir os seus fins.

No entretanto o país vai avançando com resultados económicos invejáveis perante uma oposição, que se agarra a casos e casinhos por não ter como antepor outras políticas, que se revelem mais pródigas nos efeitos.

Bem precisa o governo de ultrapassar este caminho de pedras relacionado com a TAP para, serenamente, cumprir o seu programa e, mediante os recursos do PRR, calar de vez a destemperança verbal das direitas, mais ou menos extremas, que representam aquilo que de pior tem uma sociedade: conter quem não faz nem quer deixar fazer!