quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

As abjurações de Assis

Como foi possível ter-me batido por Francisco Assis como secretário-geral em vez de António José Seguro com quem sempre alimentara uma desafinidade eletiva?
Ao ler o texto hoje inserido no «Público» e intitulado «Um ano, seis personagens» já nem dá para me indignar: dando de António Costa uma imagem completamente divergente com a que quase todos os socialistas o vêem e prevendo-lhe o fim próximo deste Governo, Assis revela-se mau perdedor, porque só se pode ler esta posição como oriunda de quem chegou a imaginar a possibilidade de chegar finalmente à liderança do Partido e viu tal horizonte esfumar-se por um canudo.
Quanto aos elogios a passos coelho e à ambiguidade na forma como aprecia todo o longo consulado de cavaco silva, só confirmam o que já se adivinhava: Francisco Assis é hoje um político de direita e o seu lugar deixou de ser no Partido onde ainda é deputado europeu...

Ora toma, que já levaste!

Quando Edward Snowden denunciou a NSA como sendo um verdadeiro Big Brother dos tempos modernos, capaz de espiolhar as comunicações de qualquer pessoa a nível mundial, os congressistas e senadores republicanos acusaram-no de traidor defendendo convictamente a legislação criada por george dabliú depois do 11 de setembro (o «Patriot Act»), que possibilitou essa intensificação da espionagem.
Mas, agora, os mesmos “patriotas” estão indignados com a notícia de muitos deles andarem a ser ouvidos nas suas conversas com Netanyahu, sobretudo em tudo quanto dizia respeito ao seu intento de sabotagem dos acordos com o Irão sobre a questão da energia nuclear. Afinal, na sua perspetiva, Obama mentira quando asseverara ter dado instruções à agência de espionagem para que o não fizesse com os líderes dos países aliados.
Ora, coloca-se precisamente essa questão: o governo de Israel estava, então, a ser um aliado ou um opositor à política norte-americana de retoma do diálogo diplomático com Teerão? Mas, com maior razão o jornalista inglês Glenn Greenwald, por quem Snowden dera a conhecer as suas revelações, virou ao contrário o argumento desses mesmos republicanos a respeito de quem achara muito bem serem espiados: se não fizeram nada de censurável qual o problema de serem objeto de tal vigilância?
A direita tem sempre essa mácula identitária: tudo o que aprova, quando se trata de prejudicar os outros, passa a merecer a sua indignação, quando ela própria se vê tratada da mesma maneira.
Ora toma, que já levaste!

Quem quer caçar com lobos

Uma das medidas emblemáticas do governo colaboracionista de Vichy durante a Segunda Guerra Mundial foi retirar a nacionalidade a todos quantos considerava indignos de manter a cidadania francesa. Assim se facilitou a perseguição aos judeus e o seu envio nos comboios da morte para os campos de extermínio.
Setenta e cinco anos depois um governo francês, ademais tido como socialista, prepara-se para repetir a mesma sanção sobre todos quantos se comprovem ligados a redes terroristas, contando para tal com a aprovação quase unânime do eleitorado.
No entanto, há quem se indigne! Muito justamente.
Não está em causa a repulsa que os atentados de janeiro ou de novembro nos devem merecer. Já tudo foi dito sobre o quanto de bárbaro eles pressupuseram.  Mas devem as emoções comandar decisões políticas, que se sabem quase sempre injustificadas se tomadas em função delas?
Quem está exultante com a aviltante lei de Manuel Valls é a extrema-direita, que vê assim reconhecida a sua “razão” há muito propagandeada. Ao querer caçar com os lobos, a esquerda francesa arrisca-se a lá deixar a pele!
Anne Hidalgo, a presidente da câmara parisiense, coloca a questão da forma adequada: sendo a questão da cidadania irrelevante para a operacionalidade da luta antiterrorista, vale a pena pô-la em causa de uma forma, que viola os valores republicanos e socialistas? É que, mesmo quando se tomam medidas simbólicas, fica o sério risco de, com elas, se perder a identidade...

A Educação e o nosso futuro

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Um compromisso com o futuro de todos nós

Na sua mensagem de Ano Novo, o Prof. Sampaio da Nóvoa incentivou os portugueses a contribuírem para a mudança necessária à satisfação das suas aspirações, porque “quem espera nunca alcança”.
Inconformado com o país desigual em que Portugal se tornou, essa mudança terá o objetivo de o fazer mais próximo das democracias avançadas onde a distância entre quem quase tudo tem e a grande maioria dos desvalidos já não tem os contornos indignos de nós conhecidos.
Para Sampaio da Nóvoa “a política em Portugal tem tática a mais e estratégia a menos, tem curto prazo a mais e compromissos de longo prazo a menos. As únicas reformas eficazes, as que duram e mudam a face do país, são aquelas em que as pessoas acreditam e de que todos se sentem parte. São as que trazem uma ideia de futuro para mudar o presente. Quero assumir compromissos, a começar por um compromisso com os jovens, porque neles está o futuro de todos nós”.
É por isso que temos de apostar, ainda mais na educação e no conhecimento, encontrando maneiras inovadores de levar este último às empresas, de forma a ganharmos o desafio da competitividade.
Ao contrário das demais candidaturas, quase todas elas enfeudadas a variantes do passado recente de que nos queremos libertar, a de Sampaio da Nóvoa é a única capaz de apoiar a concretização de um futuro à medida do que merecemos alcançar.

Cada tiro cada melro

1. Ainda a discussão sobre a resolução do Banif não tinha arrefecido e eis o Novo Banco novamente na berlinda por causa de mais uns milhões chorudos a terem de ser encontrados para lhe garantir o exigido aumento de capital. Desta vez sem se voltarem a pedir mais uns trocos aos contribuintes, mas com a sensação de ainda não nos ficarmos por aqui quanto às surpresas oriundas do setor bancário.
Qual castelo de cartas toda a narrativa criada pela direita para manter a ilusão de um país em crescimento da riqueza e do emprego vai caindo com tal fragor, que paulo portas já cuidou de se ir albergar sob chapéu mais eficiente do que o da liderança do CDS. A sua conhecida argucia já o terá levado a intuir, que os tempos não estão de feição para continuar com os seus sound bites de bom efeito, mas sem ponta de escrúpulo.
A situação económica, e particularmente a financeira, anuncia-se ainda mais exigente do que António Costa provavelmente conjeturaria encontrar, mas não lhe detetamos qualquer sinal de intimidação. Pelo contrário provém de várias direções os elogios sobre a coragem com que está a enfrentar estas primeiras, e enormíssimas dificuldades. Adivinha-se-lhe, pois, um futuro longo e radioso à frente dos destinos do país.

2. No «Diário Económico», Pedro Silva Pereira aborda os cinco principais desafios com que a União Europeia se confrontará durante o próximo ano. São eles: a crise dos refugiados, o terrorismo e as ameaças à segurança dos cidadãos, a reforma da União Económica e Monetária, o referendo do Reino Unido e a recuperação da economia e da convergência.
Curiosamente, o deputado socialista esquece um dos mais graves problemas europeus e que não tem sido enfrentado com a determinação necessária: as derivas totalitárias verificadas na Hungria de Victor Orban e na Polónia de  Kaczyński.
Perante o sufoco em que vive a oposição, sem direitos de expressão nem de liberdade de imprensa, seria lícito exigir à Comissão Europeia sanções dissuasoras para outras aventuras de extrema-direita. Em nome da Democracia...
3. Em Inglaterra as cheias voltam a ser notícia e David Cameron vê-se em apuros: a oposição aproveitou para lhe atirar à cara com os cortes de 27% no orçamento destinado a combater tais ameaças.
Não é, pois, apenas em Portugal, que a direita está a enfrentar as consequências dos seus tão amados cortes nos orçamentos das rubricas essenciais para o bem público.
4. Os números continuam a assustar e a indignar: em apenas dois anos, entre 2010 e 2012, morreram cem mil elefantes africanos, quase todos por ação dos caçadores furtivos, que continuam a alimentar o mercado mundial do proscrito marfim.
Numa altura em que cresce a consciência da necessidade de se defenderem as espécies ameaçadas, tarda uma ação internacional eficiente contra a continuidade deste crime ambiental...

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ser ou não ser irrevogável

O anúncio do abandono da liderança do CDS por parte de paulo portas é a mais óbvia confissão de derrota pela direita trauliteira, que se apossou do poder durante quatro anos e o julgou fazer coisa sua duradouramente à custa de muita propaganda. 
Agora que claudicou o projeto de tudo privatizar em proveito de monopólios estrangeiros e de reduzir ao mínimo as remunerações e os  direitos de quem trabalha, portas percebeu a merecida e longa travessia no deserto prometida para si e para os seus cúmplices .
Que quererá fazer a seguir? Ganhar uma tribuna como a que marques mendes usufrui para, assim, imitar a estratégia marcelista e arriscar uma eventual candidatura presidencial? É uma hipótese credível já que não o adivinhamos a acomodar-se a uma eventual reforma dourada.
Podemos sempre conjeturar a hipótese de o ver  alvo de investigação para detetar tudo quanto sucedera com compras de submarinos e outros equipamentos militares no período em que foi ministro da defesa, mas convenhamos ser algo de impensável com este ministério público. 
Para o CDS, a saída de portas constituirá uma tragédia com dimensão shakespeareana, porque já se adivinham cenas pouco edificantes dentro das muralhas do castelo do Largo do Caldas: o facto de portas ter designado seis deputados para tomarem a palavra nos próximos debates parlamentares já está a causar crispação entre os que se recusam a ver neles a pequena short list de onde sairá o próximo líder. E a verdade é que em nenhum deles se adivinham as capacidades inequívocas de portas na arte da retórica para impedir o partido de se reduzir à exiguidade das suas limitações ideológicas.  Ou seja, a menos do que a lotação de um táxi...
O que joão almeida ou cecília meireles demonstraram nas intervenções da semana transata - e que foram quase unanimemente criticadas  nos jornais e nas televisões! - é a impossibilidade de aspirarem às competências do seu dececionado guru no equilíbrio periclitante entre as diversos grupos de interesses, que condicionam o comportamento político do partido. Aqueles que andarão, agora, a lançar piropos a António Costa na esperança de conseguirem refrear o obsceno fluxo de rendimentos dos mais pobres para os que já quase tudo têm.
Sendo difícil arriscar prognósticos, pode-se perspetivar uma reestruturação da direita portuguesa a médio prazo em torno do novo líder do PSD, aclamado quando passos decidir acompanhar o seu vice na retirada estratégica para os bastidores do palco político...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Um sorriso de confiança

Na secção das cartas dos leitores de um dos jornais deste fim-de-semana, podia-se ler um texto bastante ilustrativo do estado de alma dos eleitores da direita ainda inconformados com a derrota dos partidos por eles apoiados.
Nessa carta o autor lamentava a votação parlamentar do Orçamento Retificativo, prevendo muitas outras situações em que a direita apoiará as iniciativas do governo, sobretudo quando este não contar com o apoio do Bloco ou do PCP.
Conformado com a forte probabilidade de ver António Costa manter-se como primeiro-ministro nos próximos quatro anos, o escriba mostrava particular irritação com o seu “sorriso trocista” durante todo o debate, que antecedeu aquela votação.
O texto em causa permite-nos retirar duas conclusões principais: a primeira é a de estar a ocorrer uma forte ressaca nos que se indignaram com a reviravolta política pela qual viram atirados para a oposição os partidos da coligação em que tinham votado. Como todas as ressacas mais intensas, a recuperação fá-los despertar para uma realidade surpreendente, que ainda mal conseguem divisar nos seus olhos semicerrados pela luz intensa com que são agora iluminados. Depois, há a considerar o conformismo dos que já estão mais despertos para o que vislumbram à sua volta e sentem-se algo confundidos com a falta de referências a que se agarrarem.
O caso Banif poderá abanar muitos dos que tinham comprado as ilusões vendidas por passos coelho e por paulo portas nos meses que antecederam as eleições. A ponto de vir a suceder algo contrário ao que se verificou há um quarto de século, quando já ninguém conseguia aturar a maioria absoluta de cavaco silva e não havia quem confessasse nele ter votado.
Daqui a algum tempo, quando a ação governativa de António Costa mantiver a sagacidade de que já deu mostras neste mês, será difícil encontrar quem confesse ter votado em passos coelho e em paulo portas. Nessa altura não espantará o entusiasmo dos recém-convertidos naqueles que, ainda há um par de meses, insultavam os socialistas…
Mas este previsível sucesso de António Costa - mesmo perante as imprevisíveis dificuldades com que se deparará a breve trecho - muito deve à sua inteligência. É que, perante o fracasso dos partidos socialistas e sociais-democratas um pouco por toda a Europa, ele intuiu a alternativa capaz de travar esse desiderato aparentemente inevitável: recuperar a matriz original do PS, que prefere uma mudança efetiva do paradigma implementado nos últimos anos às ilusões reformistas tão do agrado da tendência interna, que os acontecimentos recentes condenaram ao silêncio.
Em vez de mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma (Lampedusa dixit…), António Costa promete uma transformação profunda da forma de fazer política e de quem por ela deve ser prioritariamente beneficiada, para que tudo fique bastante diferente para melhor. Por isso mesmo, o sorriso por alguns lido como “trocista” não o é. Ele espelha a confiança de se singrar numa direção onde se adivinham ventos mais de feição. E isso faz dele, indubitavelmente, a Personalidade nacional do Ano de 2015.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Uma revolução mais do que aparente

«Porque se pode acabar com tudo menos com os bancos?» é a pergunta que Pacheco Pereira formula no «Público» de ontem, onde manifesta discordância com a solução encontrada para o Banif, mas reconhece a dificuldade de António Costa conseguir impor a Bruxelas a que melhor serviria os interesses nacionais - a integração na Caixa Geral de Depósitos.
Tudo quanto aconteceu com o Banco madeirense é a eloquente demonstração dos efeitos de se ter feito “ascender ao poder uma mistura de ideólogos radicais de direita, de aparelhos partidários de grande incompetência e que nada sabem do seu país, de gente medíocre que se tornou salvífica pelo serviço que prestaram a interesses particulares presentes na economia”.
O espanto que nos pode tomar só se deve ao facto de serem já tantas as demonstrações de incompetência, senão mesmo de dolo por negligência ou por corrupção da vasta corte de passos coelho nos quatro anos de poder, que não se compreende o apoio por ele ainda conservado, se nos ativermos aos indicadores dados pelas sondagens.
Para já sabe-se que a suposta panaceia, que evitaria a repetição dos custos para o contribuinte suscitados pelo caso BPN - o tão aclamado Fundo de Resolução! - esvaziou-se ao primeiro percalço. Hoje, os demais bancos do sistema financeiro não estão dispostos ou não têm capacidade para suportar os custos da falência de um “irmão” seu.
No artigo aqui referenciado, Pacheco Pereira estabelece uma linha vermelha sensata para distinguir o que deverá permanecer no setor público e o que admite ser privatizado: “Não sou contra as privatizações, mas há interesses nacionais que só o carácter público garante, até porque para uma empresa privada não são rentáveis e esse mesmo critério não existe numa empresa pública. Sim, os contribuintes pagam para haver bancos portugueses na Venezuela, para haver voos para a Guiné-Bissau, como pagam o Instituto Camões e a RTP África, porque se considera que o “superior interesse nacional” assim o exige e o Estado não é uma empresa”.
A conclusão do texto  é um apelo aos mais liberais, que teimam em manter-se cristalizados nas suas certezas mesmo quando elas são totalmente cilindradas pela realidade: “É que para sairmos desta lama que nos tolhe temos que pensar diferente, falar diferente, e fazer diferente. Nem que seja pouco diferente, visto que, como isto está, basta um pouco de diferença para parecer uma revolução. Por isso, ó ideólogos, valia a pena ser mais economicamente liberal com os bancos e menos com as pessoas, mas isso hoje parece radicalismo”.
Ao contrário do antigo dirigente do PSD não me conformarei com pequenas diferenças em relação ao passado. A revolução do tempo novo anunciado por este atual governo, deverá traduzir-se em  mais do que aparências: a  perceção dos cidadãos de terem mais dinheiro nos bolsos e melhores serviços públicos para corresponderem ás suas necessidades serão determinantes para perspetivar um projeto duradouro de transformação, que estigmatize definitivamente o passado representado pelo PSD e pelo CDS.

sábado, 26 de dezembro de 2015

A mobilização das energias de mudança

A consolidação do novo ciclo político é uma das ambições assumidas pelo Prof. Sampaio da Nóvoa, sem que isso pretenda significar um alinhamento incondicional com o governo de António Costa, ao contrário do que irão tentar defender os seus críticos, que quererão contrariar a efetiva independência da sua candidatura..
É que o novo ciclo político não diz apenas respeito aos socialistas em particular, nem aos demais eleitores de esquerda, que exultaram com a viabilização do novo Governo. Este novo ciclo diz respeito a toda a sociedade portuguesa que anseia por um país mais próspero e onde não se continue a assistir à inaceitável sangria dos mais jovens e dos que maiores competências profissionais possuem e são forçados à diáspora.
A perspetiva de só ser possível governar com cortes nos salários, nas regalias sociais e nas pensões dos mais velhos, não é a da grande maioria dos portugueses como se viu nas eleições de 4 de outubro. E muitos dos que ainda votaram nos arautos da austeridade terão ido ao engano, porque apostaram objetivamente em programas políticos opostos aos dos seus interesses. Por isso mesmo serão estes últimos os que mais facilmente compreenderão, a curto e a médio prazo, como estavam enganados. Até porque esses mesmos ideólogos do austericídio não terão o mínimo pudor em voltarem a ser os maiores defensores do que antes execravam!
O novo ciclo de que fala Sampaio da Nóvoa é, pois, o de um país encarrilhado novamente na direção do destino, que lhe é prometido pela aposta no conhecimento, na inovação e na aposta das capacidades empreendedoras de tantos portugueses.
Não podemos esquecer que, apesar de terem a boca cheia de apostas no empreendedorismo, não houve nenhum resultado prático das promessas feitas pelo anterior governo aos apoios, que iria investir em projetos inovadores, porque no essencial limitou-se a beneficiar as grandes empresas, quase todas detidas por acionistas, se não mesmo por Estados estrangeiros.
O que Sampaio da Nóvoa porém realça é a intenção de sempre respeitar as escolhas feitas pelos portugueses nos atos eleitorais em que manifestem as suas opções. E a realidade presente é a de um governo com uma maioria parlamentar, que ele respeita e secunda, com a sua cooperação institucional.
É que outro valor essencial defendido pelo futuro Presidente da República é o da estabilidade: só com ela haverá possibilidade de proceder às reformas, às mudanças e à capacidade de projetar Portugal para aquilo que os portugueses necessitam.
Mas tratar-se-á de uma estabilidade, que não significa estagnação. Deverá ser uma estabilidade necessária para criar as condições para um Portugal diferente. Porque temos todas as condições para isso: os jovens qualificados, a nossa ciência, os empresários competentes ansiosos por se libertarem das burocracias.
Trata-se, pois, de conjugar e potenciar essas energias de mudança e mobilizá-las para que se cumpram as melhores esperanças dos que já quase as haviam perdido...

Quando a esperança volta a fazer sentido...

Sabemos que Pedro Santos Guerreiro não costuma ser um comentador muito assertivo para tudo quanto diga respeito à esquerda em geral, e ao Partido Socialista em particular.
No entanto, na sua crónica semanal no «Expresso» ele reconhece o óbvio a propósito do Banif, e que só ganha maior expressão por ser ele a escreve-lo: “Passos Coelho foi covarde. Maria Luís Albuquerque foi relapsa. Ambos foram calculistas, não quiseram pôr em risco a ‘saída limpa’.” E sobre António Costa acrescenta “que não se acobardou como Passos Coelho e deu a cara no desfecho do Banif.”
No semanário de Balsemão confirma-se o que se adivinhava: já em novembro, ainda na vigência do XX Governo, Maria Luís foi avisada por Carlos Costa da urgência de uma solução, pois a Comissão Europeia queria liquidar o banco sobre cuja viabilidade duvidava desde 2013. Como de costume, a ex-ministra das Finanças deixou a situação agravar-se com medo de que lhe escaldasse as mãos. Na futura Comissão de Inquérito não me admiraria vê-la invocar, despudoradamente, a impossibilidade de assim fazer por integrar um governo de gestão. Mas, nessa altura, espero que lhe lembrem como esse estatuto não impediu esse mesmo governo de proceder à venda apressada e indecorosa da TAP:
Mais adiante, e continuando na mesma fonte informativa, identifico-me plenamente com a revolução proposta por Daniel Oliveira, que sugere uma regra para o futuro: “se é privado pode falir, se é garantido pelos contribuintes tem de ser público”  porque “não podemos continuar a aceitar um capitalismo que socializa o risco, nem um sistema de apoios que transfere ainda mais recursos do Estado e da economia para um sistema financeiro parasitário e inimputável”.
A mudança de ciclo político ainda não significou alcançar-se esse objetivo mas para lá caminhamos, tanto mais que um dos grandes protetores deste tipo de gestão bancária - Cavaco Silva - está prestes a voltar às catacumbas da História de onde, em má hora, regressou para nos atazanar durante mais dez anos. Agora, como não subscrever o suspiro de Miguel de Sousa Tavares, que confessa estar a contar os dias que faltam para nos livrarmos de vez deste pesadelo presidencial?
Em dia de celebração natalícia não fica muito mais para comentar. De importante apenas mais dois sintomas do que significaram os quatro anos do austericidio cometido entre 2011 e 2015: pelo menos registaram-se cinco mortes por aneurisma no Hospital de São José devido aos cortes na saúde decididos por Paulo Macedo e o agravamento em mais 42 mil pessoas do número de idosos pobres no país em apenas um ano. Em 2014 eles já eram 360 mil sujeitos a enormes privações por não contarem com o merecido apoio da Segurança Social.
Será exaltante ouvir hoje o candidato Sampaio da Nóvoa enunciar a Visão de esperança, que espera ver aplicada ao futuro próximo do país na imprescindível entrevista que dará à TVI no seu jornal das 20 horas...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O Califado aqui mesmo à nossa porta

Não! Não é imagem, que se obtenha na Síria ou no Iraque: em Osve, na Bósnia, a bandeira negra do chamado Estado Islâmico está hasteada orgulhosamente pelos seus habitantes. Em plena Europa, uma povoação ostenta o seu entusiasmo pelo fundamentalismo assassino, que tem assombrado os receios do resto do Continente.
Osve fica a cento e trinta quilómetros de Sarajevo e tem fama de constituir centro de treino para os terroristas dispostos a matarem-se e, sobretudo, a matarem em nome do Profeta. Quem a visita encontra homens vestidos com túnicas e longas barbas e as mulheres escondidas nas negras burqas.
O islamismo ali professado é o de inspiração wahhabita, que impera na Arábia Saudita, e já nada tem a ver com o do passado, quando ali se acreditava na tolerância e no convívio ameno com os outros credos.
A mudança ocorreu como corolário lógico da intervenção norte-americana com a Sérvia de Milosevic. Como sempre acontece com as intervenções planeadas no Pentágono, o que fica depois das guerras aprovadas pelo Senado e pelo Capitólio, é bastante pior do que se propagandeava querer-se eliminar.
Nesse período entre 1992 e 1995, e em nome da djihad, muitos extremistas oriundos dos mais diversos países muçulmanos acorreram à Bósnia para ajudar os seus émulos locais a imporem uma independência mais do que controversa.
Associações e fundações “caritativas” muçulmanas - quase todas dos países do Golfo Pérsico - apoiaram financeiramente os islamistas bósnios, induzindo-os a imporem a sua retrógrada mundividência. Como poderiam eles opor-se se o povo estava esfomeado e cercado?
Os sauditas até financiaram a construção da mesquita Fahd Abdul Aziz em Serajevo, belo edifício em mármore cinzento, mas exclusivamente dedicado à prática e ao ensino da  variante wahhabita e obscurantista do islão.
O que inquieta muitos dos que olham para os Balcãs com uma perspetiva muito diversa dos que continuam a diabolizar os sérvios e a escamotear o crime de se ter posto termo a uma nação jugoslava, pacífica e tolerante,  é a ascensão do islamismo salafista na Albânia e na Bósnia. A partir desse centro nevrálgico em  Sarajevo, os fundamentalistas começaram a tomar de assalto todas as mesquitas da região e a torna-la no potencial santuário de novos ataques do seu inquietante califado.
E, no entanto, a atenção dos media  e das instituições internacionais continua focalizada no que se passa na Síria ou no Iraque, sem tomarem a devida atenção ao que ocorre no Iemen ou na Península Balcânica.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A urgência de tudo mudar

Passada semana e meia sobre a derrota da Frente Nacional nas eleições regionais, há quem respire de alívio no Hexágono: no final a esquerda e a direita continuam a partilhar a liderança de todo o território, graças à reação salutar de milhões de eleitores, que decidiram pôr de lado as suas preferências partidárias e concentraram o voto na preservação do que lhes pareceu essencial.
Poderei dar fé do meu inabalável panglossianismo, mas os quase 7 milhões de votos conseguidos pela extrema-direita não me assustam por muito que eles pareçam ter uma base de sustentabilidade maior do que a outrora conhecida pelo pai le pen ou, anteriormente, por poujade.
Fenómenos desse tipo, ou crescem de uma forma exponencial, como sucedeu com o fascismo italiano ou com o nazismo - que utilizaram para tal uma estratégia de violência agora menos possível nas atuais circunstâncias sociais e políticas! - ou incham até à sua máxima expressão e começam depois a esvaziar. Tanto mais que a Frente Nacional chegou a esta altura eleitoral com o doping dos atentados terroristas do mês anterior.
Acredito que muitos dos que se entusiasmaram com a possibilidade de elegerem um criptofascista para as suas regiões e os viram derrotados, voltem a ponderar na possibilidade de reverterem o voto para quem, entre a esquerda e a direita tradicional, possa representar melhor as suas aspirações. E, tal como houve uma súbita transição de votos do Partido Comunista francês para a Frente Nacional, não é despautério enunciar a vontade de ver a mesma volubilidade ocorrer no sentido inverso. Até porque, apesar de existirem condições ideais para ver ali reproduzidos os fenómenos Syriza ou Podemos, a França ainda não contou com uma extrema-esquerda capaz de sair da sua natureza grupuscular.
As lições que a esquerda, sobretudo a socialista, deverão reter dos resultados de 14 de dezembro é a falácia de prosseguir com políticas quase passadas a papel químico das que a direita aplicaria. A História é fértil em exemplos de casos de escolhas do produto genuíno pelos eleitorados, quando a esquerda se metamorfoseia em simulacros da direita.
É por isso que aumentam as vozes dos que reclamam uma mudança significativa no PS francês, a começar pela definição de quem se apresentará como seu candidato às eleições presidenciais de 2017.
«Tout changer» é a palavra de ordem, que começa  a ganhar expressão nas hostes ainda lideradas pelo erro de casting que foi François Hollande. Porque o melhor presente que se poderia dar a marine le pen nessas eleições seria confrontar-se com os mesmos de 2012. E o que a França em particular, e a Europa em geral, menos precisa, é de uma extrema-direita forte no país, que melhor representa os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que asseguram a sua matriz.

Despudores e banhos no Tejo

Compreende-se bem o aturdimento de João Galamba quando, ontem de manhã na Assembleia da República, confessou não saber se deveria chorar, se rir, da intervenção do deputado joão almeida do CDS. É que todo o país já percebeu o quanto de negligência, senão mesmo de dolo, caracteriza o que foi a ação do governo de passos coelho e de paulo portas, para que o grupo parlamentar deste último mostre tão escasso pudor.
O que aconteceu com o Banif nada teve a ver com a notícia de jornal ou com a degradação acelerada nestas últimas semanas: foram três longos anos a corroborar-se a inviabilidade económica do banco sem que a direita cuidasse de resolver a situação. E essa é uma mácula de que não se livrará tão facilmente, quanto o julgam os seus responsáveis.  Por muito que esse inqualificável josé gomes ferreira continue a agitar na SIC a tese da ilegitimidade deste governo e lhe faltem competências económicas para compreender o fundamento do montante envolvido.
Por isso mesmo os títulos, que acentuam a ironia de passos coelho «dar a mão a Costa», como o sugere o «i», tenha fortes probabilidades de se voltarem a repetir doravante com alguma frequência: é que o PSD, já compreendeu o benefício de limitar o desgaste das sucessivas bombocas, que ainda estarão para rebentar, não só suscitadas pelas decisões eleitoralistas de marilú albuquerque, mas igualmente advindas das de outros ministérios, como foi exemplo lapidar a morte de um jovem no Hospital de São José pelos cortes decididos por paulo macedo.
Se daqui a alguns meses já se atribuirão culpas a este governo, tudo quanto acontecer de negativo nas próximas semanas só tem um responsável e esse é o XIX governo constitucional.
Será nesse enquadramento, que passos coelho será obrigado a dar orientação de voto ao seu grupo parlamentar de modo a garantir o assentimento às decisões do governo de António Costa: é que, a viragem nas sondagens não tardará e será a direita laranja a não conseguir manter-se cristalizada na sua posição protestativa.
De portas & Cª já se adivinha o que se seguirá: o uso constante da demagogia, dos argumentos fraudulentos, para tentar a recuperação dos votos nos eleitorados, de que se quis fazer provedor, mas a quem traiu tão ostensivamente nos últimos quatro anos.
As intervenções de cecília meireles e de joão almeida têm o condão de nos confortar na suspeita de vermos o CDS reduzir-se à dimensão do partido do táxi, senão mesmo da lambreta.
Falando em sondagens, sobra-nos a das presidenciais, agora publicada no «Expresso».
Temos marcelo a julgar-se candeia, que vai à frente, sem perceber o quanto se prejudica com o convencimento de tudo se reduzir a um passeio até à sua incontornável vitória nas urnas. Todos nos lembramos de um antigo presidente da Câmara de Lisboa, que julgou ter a reeleição garantida e não cuidou de por ela batalhar, perdendo ingloriamente os frutos do bom trabalho então cumprido.
Os números mostram que, à primeira volta, a vitória está longe de se revelar garantida - no erro máximo do estudo ela fica na linha de água dos 50%! - constituindo uma mera ilusão a ideia de subir facilmente dez pontos percentuais numa segunda volta.
Deixemos os debates televisivos ocorrer, com Sampaio da Nóvoa, Edgar Silva e Marisa Matias a desfeitearem marcelo e maria de belém para que tudo se mantenha em aberto para a segunda volta. E, nesse embate final de marcelo contra Nóvoa, o brilhantismo da argumentação deste último relativamente ao país por que todos ansiamos, bastará para devolver o candidato de passos e portas aos clarividentes banhos no Tejo...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Néscia, mentecapta e … culpada!

No atual quadro parlamentar cabe uma deputada, que consegue sempre surpreender pela negativa.  Tem nome de poetisa, mas só se lhe conhece prosa mal amanhada e, embora morena, ajusta-se lapidarmente ao que o anedotário nacional sempre atribuiu às loiras. Trata-se, obviamente, de cecília meireles, cujas intervenções dão pleno significado a termos pouco usados no nosso vocabulário político atual, mas fazem pleno sentido: néscia e mentecapta.
Ouvi-lhe a intervenção relativamente ao Banif na sessão da Comissão Parlamentar, endereçada a Mário Centeno, e nem queria crer no que ela dizia: pois, então, já com o BCE a retirar ao Banif o acesso regular a financiamento, ainda pretendia adiar a resolução para o próximo ano, como se o banco conseguisse sequer manter as portas abertas a partir de segunda-feira?
Pode-se-lhe desculpar o facto de se tratar de uma advogada, que não teria propriamente vocação para abordar questões económicas e financeiras, mas é justamente por isso mesmo que a cultura portuguesa inventou o provérbio do sapateiro que nunca deveria ter ousado pegar no rabecão.
Sendo evidente que a culpa de tudo quanto aconteceu com o Banif só pode ser assacada a passos coelho, a paulo portas, a maria luís albuquerque e a carlos costa, a estratégia de passa culpas do CDS só pode ser vista como estupidamente inábil.
Já a do PSD procura ser um pouco mais inteligente, porque baseada na lógica de partir para o ataque como melhor forma de defesa.
Escolheu para tal a nova «estrela emergente» entre os gorilas das hostes laranjas, que é o deputado leitão. Quem lhe anda a mudar as fraldas, já percebeu ter ali pupilo capaz de espernear e berrar alto, o que, na circunstância, poderá impedir que se ouçam os argumentos mais pausados dos que têm por si a razão dos factos.
Ficou, uma vez mais demonstrada, a evidência de faltar razão a quem procura falar mais alto, fazer milhentas perguntas, piruetando por elas, repetindo-as e misturando-as numa retórica que só a ele ilude.
Os factos são como são e o Banif permitiu desmascarar com maior facilidade a sujidade da «saída limpa» e a gestão eleitoralista da governação como forma de iludir o eleitorado, mesmo fazendo-lhe pagar bem caro o custo da adiada calendarização dos problemas mais bicudos.
Têm toda a razão os que se indignam com o facto de, há uns anos a esta parte, os bancos não estarem a financiar a economia nacional, antes valendo-se dos impostos dos contribuintes para se aguentarem e propiciarem os bónus aos seus quadros superiores.
E, mesmo com cavaco a repetir alarvidades no desfile de Halloween retardado, que foi um tal Conselho da Diáspora em Cascais, o próprio guru dos neoliberais lusos teve de se confessar chocado com os acontecimentos dos últimos dias.
Muito apropriadamente o editorial do «Público» de hoje, questiona se, até certo ponto, não foi por adivinhar estas bombas de relógio, que António Costa mal deu tempo a passos coelho para se iludir com a possibilidade de manter o pote à custa de um falso «bloco do arco da governação».
Os tempos adivinham-se duros para uma direita cada vez mais confrontada com a forma dolosa como desgovernou o país nos últimos quatro anos.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A coragem de agarrar os problemas em vez de os adiar

A resolução da crise do Banif, através da sua venda ao Banco Santander, demonstrou o que já se sabia, mas muitos portugueses não quiseram ver até ao dia 4 de outubro: por motivos eleitoralistas, e mesmo sabendo dos custos agravados, que implicariam para os contribuintes, passos coelho e paulo portas escusaram-se a cumprir as suas obrigações e tornaram-se responsáveis pelo adiamento de um caso, que exigia medidas atempadas. Contaram, igualmente, com o conluio do governador do Banco de Portugal, que demonstrou ser um erro de casting por incompetência, negligência ou intenção ideológica, muito embora permaneça agarrado a um cargo, onde sempre tem favorecido a direita, nomeadamente recrutando pessoas dessa área política, como ocorreu com o filho de durão barroso.
Em contraponto, os portugueses constatam ter hoje um primeiro-ministro corajoso, que chama a si a resolução dos problemas mais complicados sem se escudar nos «reguladores» e não teme transmitir-lhes as razões das suas decisões com a devida transparência. Que contraste com o antecessor, que teve meses para limitar os custos da operação agora concluída e a deixou como «herança» para quem lhe sucedeu!
As primeiras semanas deste Governo têm sido férteis em demonstrações quanto a vivermos num tempo novo, de efetiva rutura com a autocracia e a nebulosidade dos comportamentos anteriores. Daí que, sem dispor de boa parte dos meios de difusão das suas mentiras, seja provável um progressivo definhamento da direita nas sondagens, gerando as condições propícias para a contestação às suas lideranças.
 Será nessa altura que a identidade de quem estiver em Belém ganhará particular acutilância: é que marcelo não mexerá um dedo para defender passos coelho ou paulo portas, mas terá a tentação de o fazer se o PSD e o CDS tiverem lideranças com que sinta maiores afinidades.
É por isso que importará aos que se identificam com a nova maioria parlamentar não se deixarem iludir com os discursos assertivos do candidato da direita em relação às decisões de António Costa: vivemos uma transformação ainda demasiado frágil e sujeita a muitas dificuldades, sabotagens e obstáculos. É isso que torna tão crucial a questão presidencial: os que pretendem ver consolidada a mudança agora em curso, só poderão apostar no candidato mais identificado com ela - António Sampaio da Nóvoa.
Não nos faltem pois as energias para o levar à vitória...