sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A sucessiva desmontagem da narrativa

As notícias mais recentes sobre o Banif e o Novo Banco deram a Pacheco Pereira o ensejo de prever que o crescente descrédito do anterior governo na opinião pública muito deverá ao seu comportamento relativamente ao sistema financeiro e às privatizações.
Sabemos que a notável - e competentíssima! - campanha eleitoral do PSD e do CDS durante todo o ano de 2015 conduziu a um resultado injusto nas eleições de 4 de outubro, quando mereceram um apoio exagerado de eleitores, que tinham sido seriamente prejudicados pela sua ação governativa.
Uma intoxicação propagandística, que recorreu ao processo contra José Sócrates, às consecutivas tentativas de assassinato de carácter contra António Costa e à criação de uma ideia cor-de-rosa sobre o país, verdadeiramente por eles pintado com as cores escuras do luto dos que partiram ou dos que, ficando, se sentiram miserabilizar.
Pouco a pouco a “narrativa” vai caindo: assim aconteceu com a sobretaxa, assim está já a suceder a respeito da promessa de não sobrarem custos para os contribuintes com as atribulações do setor financeiro.
O que a realidade vai demonstrando é a revelação da verdadeira face de quem, fraudulentamente, andou a enganar os portugueses e ainda quis que eles lhes agradecessem com o seu voto.
Muito embora se reconheça a dificuldade de milhares de votantes no PàF em reconhecerem a verdade - terem-se comportado como uns lorpas! -  as consecutivas revelações sobre a verdadeira face de passos coelho e de paulo portas fá-los-ão atinar.
A derradeira tentativa da direita em evitar o naufrágio da sua arrombada nau foi a de evitar ao máximo a tomada de posse de António Costa, com a cumplicidade de cavaco silva e sob o argumento da ilegitimidade. Agora que ele se esvaiu, quer passos, quer portas já intuíram a longa travessia no deserto que os espera e, por isso mesmo, puseram fim à coligação, que figura no imaginário coletivo como representando tudo aquilo que não tardará a comprometê-los enquanto herança do passado, que sabem ir cair-lhes em cima. E, também por isso, os setores do PSD ligados a rui rio começam a movimentar-se, afirmando aquilo que já se lhes afigura como inevitável: nunca passos coelho lhes poderá devolver o acesso ao poder. E, se outra demonstração lhes faltasse, o despedimento de Mourinho do Chelsea aí está a lembrá-lo: quando aparenta repetir-se, a História já não o faz como tragédia, mas como mera farsa.
Desmascaradas as mentiras relativas ao setor financeiro, importa transitar para o outro dossiê escaldante: o das privatizações, porque desde a venda da EDP aos chineses (com o consequente prémio a catroga) até ao mais do que suspeito negócio da TAP, tudo nele cheira a esturro e motiva as maiores suspeitas. E, nesse sentido, talvez não faça mal ao Ministério Público recuperar alguma da perdida credibilidade ao lançar-se em matérias de investigação realmente consistentes.
Se o caso BPN comprovou a promiscuidade entre o poder laranja e os negócios privados sem que a Justiça neles nada tenha visto de suspeito, talvez seja o momento certo para identificar onde radicam os maiores focos de corrupção de que o país tem padecido nestes últimos anos.

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