1. Durante os quase dois anos e meio que, enquanto socialista, tive António José Seguro como secretário-geral, e Maria de Belém como presidente do Partido, nunca me senti representado por eles. As suas ideias e, sobretudo, comportamentos, nunca coincidiram com os padrões do que entendia serem, efetivamente, as da matriz do Partido.
Não fossem os trinta anos de filiação e, sobretudo, a esperança de se conseguir operar uma mudança efetiva à primeira oportunidade e talvez tivesse imitado quantos optaram por se ligarem ao Bloco de Esquerda ou por esperarem um projeto do tipo do Livre em que se voltassem a reconhecer.
Felizmente António Costa avançou no desafio para a liderança e esse foi o momento decisivo para regressar à política ativa e abandonar as tamanquinhas em que me ia acomodando.
Hoje vivo a felicidade de ter um Governo com que me reconheço no seu todo e num projeto de convergência de toda a esquerda, sempre ambicionado desde há quarenta anos. Porque sempre tive para comigo a noção de que o PCP ou o Bloco podem ser adversários políticos, mas o PSD ou o CDS correspondem à outra trincheira, à daqueles com que nunca nos podemos identificar por pretenderem o contrário do que ambicionamos: uma sociedade mais justa e igualitária, em que todos os cidadãos sejam respeitados.
Mas esta felicidade - que, como José Vítor Malheiros dizia há dias no «Público» - é a de todos os democratas, só poderá completar-se com Sampaio da Nóvoa como Presidente da República. Porque é o único dos três principais candidatos a identificar-se plenamente com o novo ciclo político comandado pelas diversas esquerdas.
Quer Marcelo, enquanto representante oficial dos partidos agora derrotados, quer Maria de Belém por tudo quanto fez contra António Costa durante as Primárias e durante a própria pré-campanha para as legislativas, é personalidade em quem não se pode de modo algum confiar. E isso mesmo o confirmou na entrevista de ontem ao «Jornal de Negócios», onde disse que não enjeitaria dissolver a Assembleia da República se estivessem em causa os compromissos europeus, denunciando a sua ordem de prioridades, que tem os cidadãos como nela secundários .
Só faltou mesmo confessar que também dissolveria essa mesma Assembleia se estivessem em causa os superiores interesses da banca ou da indústria farmacêutica de que sempre foi ativa lobista no Parlamento...
2. No debate, que antecedeu a moção de rejeição, foi delicioso ver a direita ostentar todo o fel, que a vem aziando, ao impedir-se de reconhecer a António Costa o tratamento formal e respeitoso enquanto primeiro-ministro.
Entre «primeiro-ministro não eleito» e «chefe do governo», os oradores empàfiados morderam-se para escusarem-se ao que não gostariam de reconhecer em António Costa. Como escrevia Ferreira Fernandes no «DN» “Primeiro-ministro sozinho é que não, é pecado capital, quem o disser denuncia-se como assinante do Avante”.
Por agora irão entreter-se em tais demonstrações tardias da sua tão prezada “novilíngua”, mas não será por muito tempo. Aceitam-se apostas por quantas semanas ainda perdurarão este tipo de bravatas, que só denunciam o despeito dos maus perdedores...
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