Uma das medidas emblemáticas do governo colaboracionista de Vichy durante a Segunda Guerra Mundial foi retirar a nacionalidade a todos quantos considerava indignos de manter a cidadania francesa. Assim se facilitou a perseguição aos judeus e o seu envio nos comboios da morte para os campos de extermínio.
Setenta e cinco anos depois um governo francês, ademais tido como socialista, prepara-se para repetir a mesma sanção sobre todos quantos se comprovem ligados a redes terroristas, contando para tal com a aprovação quase unânime do eleitorado.
No entanto, há quem se indigne! Muito justamente.
Não está em causa a repulsa que os atentados de janeiro ou de novembro nos devem merecer. Já tudo foi dito sobre o quanto de bárbaro eles pressupuseram. Mas devem as emoções comandar decisões políticas, que se sabem quase sempre injustificadas se tomadas em função delas?
Quem está exultante com a aviltante lei de Manuel Valls é a extrema-direita, que vê assim reconhecida a sua “razão” há muito propagandeada. Ao querer caçar com os lobos, a esquerda francesa arrisca-se a lá deixar a pele!
Anne Hidalgo, a presidente da câmara parisiense, coloca a questão da forma adequada: sendo a questão da cidadania irrelevante para a operacionalidade da luta antiterrorista, vale a pena pô-la em causa de uma forma, que viola os valores republicanos e socialistas? É que, mesmo quando se tomam medidas simbólicas, fica o sério risco de, com elas, se perder a identidade...
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