sábado, 30 de junho de 2012

A ESQUERDA E OS EXTREMISMOS


Enquanto decorre o julgamento de Peter Mangs, acusado de vários atentados contra imigrantes radicados em Malmö, a sociedade sueca discute a forma de contrariar o crescimento dos casos de racismo. É que as sociedades nórdicas, outrora mobilizadas para políticas de apoio às populações do Terceiro Mundo, estão a derivar para posições xenófobas, que encontraram particular extremismo nas  matanças assumidas pelo norueguês Anders Breivik.
No seu primarismo, os mais conservadores sentem-se ameaçados pela aparente invasão de estrangeiros que, por menos dinheiro, ocupam empregos de exigência mitigada até então exercidos por quem não possuía competências nem conhecimentos para os mais especializados.
É essa a razão porque a generalidade do proletariado europeu tem deslocado a sua orientação política das formações comunistas para as de extrema-direita. Um fenómeno que a esquerda ainda não soube contrariar eficazmente ao recusar-se a equacionar a exequibilidade do comportamento paternalista com que tem encarado o fenómeno migratório.
A esquerda não tem explorado com consistência o argumento  - ademais fácil de demonstrar - do papel dessa emigração na compensação do envelhecimento progressivo das populações mais endinheiradas e a necessidade de assegurar, através dos descontos nas retribuições, a sustentabilidade das pensões e reformas futuras.
Mas, por outro lado, a esquerda tem ignorado o fenómeno da delinquência para que são empurrados muitos desses recém-chegados de África ou da Ásia, despojados de conhecimentos suficientes para encontrarem trabalho remunerado.
Deixar à direita a suposta capacidade para resolver os problemas de insegurança por via da repressão ou da deportação, só facilita a propagação de um discurso populista com eco garantido nos mais influenciáveis.
O problema da emigração ainda tem de ser analisado na sua vertente religiosa, já que cresce a insatisfação progressiva de muitos dos europeus pela ostensiva ocupação do espaço público com os sinais de um inquietante proselitismo islâmico.
Ora, em vez de se limitar a defender a liberdade religiosa como dogma, a esquerda esqueceu-se de quanto muitos dos seus ideólogos novecentistas já tinham refletido sobre o assunto e concluído pela incompatibilidade entre a transcendência mística e as exigências da transformação social.
Ópio do povo, chamou-lhe justamente Lenine. E não foi porque a revolução bolchevique deu no que deu, que a referida opinião do seu inspirador deixou de ter menos fundamento.
Se contrariar o tipo de conformismo, que as demais religiões incutem nos explorados, constitui um imperativo da esquerda, quando o islamismo radical se transforma numa doutrina fascizante, ainda mais se deve intensificar aquela atitude. Nomeadamente com a intervenção ativa junto dos jovens de origem árabe ou africana, demonstrando-lhes não ser essa a via para verem respeitados os seus direitos  e satisfeitas as suas ambições.
O debate em curso na Escandinávia diz-nos respeito a todos. E sobretudo aos que anseiam por ver a esquerda eximir-se dos seus impasses e encontrar respostas estratégicas adequadas aos desafios de uma sociedade cada vez mais complexa...

terça-feira, 26 de junho de 2012

PETE SEEGER - SOON MAMA, MY WHOLE WORLD - 1965

Um ano de darwinismo social


Cumpriu-se agora um ano de governação de direita. Mas os seus efeitos têm sido tão gravosos, que já parece ter sido há uma eternidade, que José Sócrates teve o seu memorável discurso de despedida (um dia destes iremos ouvi-lo de novo por constituir documento histórico de superlativo valor!) abrindo as portas ao mais violento ataque desferido desde o 25 de Abril de 1974 contra as classes, que dele tinham reclamado vitória. Indiferente aos custos em miséria, desespero e suicídios para que tem conduzido o país, Passos Coelho ainda se arroga do orgulho por ter trilhado caminhos, que o deixarão muito mal no futuro julgamento da História. Porque levará muitos anos a recuperar os danos causados pela sua forma de entender a governação do país.
No «Expresso» João Lemos Esteves aventa a possibilidade de se tratar da cegueira com que ele encara a realidade: Passos Coelho vive noutro mundo! Noutra galáxia: parece que ficou perdido, a cirandar, na galáxia de Ângela Merkel, de Sarkozy, dos tecnocratas mais radicais do FMI...mas não vive em Portugal! Pelo menos, não vive no nosso Portugal: quanto muito viverá no Portugal facilitado de José Luís Arnaut, de Miguel Relvas (que é ministro, empresário, relações públicas, ameaçador profissional de jornalistas, tudo!), de António Mexia. Mas essa perspetiva não será de todo em todo correta: Passos Coelho enfeudou-se de forma tão fundamentalista nas pretensas soluções neoliberais, que recusa-se a perceber o quanto elas nos arrastam na direção do iceberg  responsável por tão terrível naufrágio.
No «Jornal de Negócios», Leonel Moura descrevia essa visão ideológica como inerente a uma teoria sociológica há muito concebida, mas profundamente errada nos seus pressupostos:
O darwinismo social surgiu em finais do século 19 aplicando algumas ideias de Darwin à sociedade humana.
Darwin não teve culpa, nem voz na matéria. Mas a sua teoria da seleção natural que favorece os mais aptos e mais fortes, eliminando os inadaptados e fracos, serviu bastante bem aos defensores daquilo a que agora chamamos neoliberalismo e, no extremo, conduziu, entre outras coisas, ao fascismo, às raças superiores e ao extermínio dos judeus, ciganos e outros grupos considerados decadentes pelos nazis.
É lamentável que estas ideias estejam a encontrar adeptos em número crescente na Europa de hoje, com grupúsculos nazis a ganharem legitimidade eleitoral, em nome de princípios democráticos, que espezinham, e de uma suposta novidade irreverente em relação ao presente estado das coisas:
O darwinismo social conseguiu generalizar a ideia de que só se cria qualquer coisa de novo e inovador, ou se tem sucesso na vida, por meio de um comportamento ferozmente competitivo.
Esquece outras componentes fundamentais da criatividade, desde logo a cooperação, a combinação ou a sinergia, sobrevalorizando a disputa brutal e selvagem, aliás, a mesma que impera hoje nos mercados financeiros com o resultado que se conhece.
É por isso que importa recuperar os conceitos de Igualdade, Justiça e Liberdade, marcas identitárias da aposta numa sociedade mais humana...

domingo, 24 de junho de 2012

QUE ADJETIVO UTILIZARÁ VÍTOR GASPAR PARA QUALIFICAR O SEU DÉFICE?


Esta semana foi pródiga em indicadores elucidativos quanto ao funcionamento das economias, que mais nos interessam. Nomeadamente a da Alemanha que, pelas consequências colaterais, que dela nos virão afetar, é justamente uma das que mais atenção nos deve merecer .
O que os números revelam equivale a um motor com sintomas de lubrificação deficiente, e se arrisca a gripar a médio prazo. Que é aquele em que a chanceler Merkel gostaria de ver espelhada a infinita bondade da sua governação de forma a poder evitar a nível federal, a derrota eleitoral que as sucessivas votações nos landers vêm, há muito tempo, demonstrando como previsível.
Muito embora os investidores ainda se acotovelem para lhe emprestar dinheiro a rentabilidade negativa, o governo de Berlim não tem em que aplica-lo, porque o crescimento do PIB será apenas de 0,8% no final deste ano, com o indicador do segundo trimestre a revelar-se pior do que do anterior. Uma tendência, que já vinha ainda de mais atrás, como fruto de uma estratégia autista apadrinhada por uns quantos gurus incapazes de verem a realidade para além dos seus preconceitos neoliberais...
O que significa isto? A Alemanha começa a pagar os custos da imposição da austeridade pura e dura aos países da União Europeia, que ficaram sem liquidez para manter o ritmo de compras às suas empresas. E já não se trata apenas de submarinos: são as pequenas e médias empresas, que começam a sentir-se asfixiadas pela notória falta de encomendas!
Obrigando o capitalismo ao crescimento contínuo do Produto, a sua estagnação acaba por denunciar uma crise sistémica de contornos imprevisíveis.
Mas se os números alemães foram maus, os apresentados por Vítor Gaspar foram calamitosos. Quem o ouviu falar há um ano de um certo «desvio colossal», que nunca conseguiu demonstrar a propósito das contas do Governo Sócrates, fica na expetativa de o vir a qualificar a previsível diferença de dois mil milhões de euros no final do ano como resultado da quebra da receita inscrita no Orçamento Retificativo.
Tão irredutíveis na perceção da realidade quanto o memorável ministro da propaganda de Saddam, só alguns ministros de Passos Coelho ainda dizem acreditar na capacidade de cumprir o défice com que se comprometeram junto da troika!
É esta a qualidade técnica irrepreensível de tão augusta personalidade? Vítor Gaspar demonstra uma tremenda incompetência para lidar com as finanças públicas, limitando-se a cumprir o papel ideológico a que se propôs: a de reduzir aceleradamente o custo do trabalho  com a imposição de uma legislação laboral, que só favorece o despedimento, a precariedade e os salários de miséria.
Que o saldo da sua passagem pelo Governo seja uma herança ruinosa, que demorará anos a recuperar, parece não inquietar a sua consciência. Por muito que emita lágrimas de crocodilo a respeito do desespero em que precipitou muitos milhares de famílias!
É por isso que, ao fim de um ano, o saldo mais relevante a atribuir a este Governo é o de se ter tornado numa gigantesca Direção-Geral de Contribuições e Impostos.
Em Lisboa e Berlim vigora uma rota suicidária, que só uma vigorosa inflexão social poderá travar...

sexta-feira, 22 de junho de 2012

PETE SEEGER ~ Hobo`s Lullaby ~

Relvas, Crato e outros adiantados mentais


Miguel Relvas é um indivíduo que goza de um estatuto de impunidade absoluta em Portugal: faça o que fizer, atue como atuar, nunca é tocado. Qualquer pessoa minimamente independente, imparcial, que pense pela sua cabeça, percebe que Miguel Relvas atuou no sentido de constranger a jornalista do Público, tentando silenciá-la. É assim que Miguel Relvas vai sobrevivendo....
João Lemos Esteves, Expresso

A escola, como uma fábrica de salsichas, é o sonho do ministro contabilista, do professor sem vocação e do pai sem paciência. Não vale a pena é enganar as pessoas: não se traduz em qualquer tipo de "exigência" (...) nem em mais qualificação profissional e humana dos jovens portugueses. Os países que conseguiram dar à Escola Pública essa capacidade seguiram o caminho oposto. Aquele que Nuno Crato abomina.
Daniel Oliveira, Expresso

Não há modelo teórico que preveja tanto adiantado mental a comandar os destinos do país. Vejamos que outras surpresas nos esperam ao virar da esquina.
Sérgio Lavos, Arrastão

A inocência, uma vez perdida, não se recupera. O idealismo não se fabrica. O sonho da cidadania europeia foi brutalmente aniquilado. A presunção de má-fé conduz inevitavelmente à desagregação. Liquidada a confiança nas elites europeias, está, de facto, bloqueado o caminho para o aprofundamento da união política.
João Pinto e Castro, Jornal de Negócios

Então não é que o Relvas andou a pular em Varsóvia!


O Verão começa com a vitória portuguesa nos quartos-de-final do Europeu de futebol. E quem é que apareceu nas televisões ao lado de Figo e de Eusébio a querer associar-se a tal sucesso? O inefável Miguel Relvas!
Quer isto dizer que, apesar de tudo quanto já se demonstrou a respeito da sua falta de escrúpulos - quanto aos jogos de influência para colocar os amigos nos lugares convenientes (uma delas, Raquel Alexandra, garantiu com o  voto a vergonhosa posição da ERC a seu respeito!), para entregar a RTP a quem possa inquinar as mentes dos futuros eleitores com a demagogia destinada a perenizá-lo no poder ou para ameaçar jornalistas, que não se rendam - ele está apostado em cumprir a promessa de sair ainda mais forte desta crise.
Será? Bastará andar aos pulos para as câmaras de televisão sempre que o Cristiano Ronaldo marca um golo?
Parece-me bem que não. Nem sequer um senhor de singular bigode, que queria um império para mil anos, conseguiu chegar à dúzia, quanto mais este arrivista, apenas conhecido por ter muitos contactos na sua agenda eletrónica.
É pena que Relvas tenha conseguido substituir um governo, que procurava puxar pelas energias mais positivas dos portugueses, por este que os manda emigrar ou aceitar a miséria e a precariedade de emprego como ultimato sem remissão.
Mas os ventos que semeia prometem grossas tempestades. E de nada lhe servirão então estes truques apenas destinados a suscitar-lhe eventuais simpatias de quem apenas se contenta com futebóis...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rejeitar a choninhice!


Três dias passados sobre a vitória dos replicantes de Pedro Passos Coelho nas eleições gregas, já estão mais calmos os que celebraram entusiasticamente a derrota do Syriza e se apressaram a dar parabéns calorosos ao novo primeiro-ministro, Antonis Samaras. É que os tais mercados, que iriam ficar mais calmos com o conformismo dos esfomeados gregos na aceitação da endeusada austeridade, voltaram a apertar o garrote em torno da Espanha e da Itália, com Chipre sempre na beira do precipício.
Dois artigos, hoje publicados na imprensa portuguesa, explicam porque é que é precipitada a festa em torno de Samaras. Lembra Luís Rego no «Diário Económico»: O provável primeiro-ministro, Antonis Samaras, é um dos responsáveis pelo estado do país e um parceiro infiel por vocação. Nos anos 90, derrubou o governo conservador de que fazia parte. Formou um novo partido e perdeu as eleições. Voltou e em 2010, numa deriva populista, boicotou a política de austeridade do governo socialista para provocar eleições antecipadas. Fez discursos tão inflamados que foram citados nos comícios do Syriza. Apertado por Bruxelas, virou o bico ao prego já no início deste ano. É um homem de princípios, portanto.
Mas é lamentável, que sejam os socialistas do PASOK a garantir-lhe o apoio necessário para adiar a reviravolta, que Merkel, Passos, Rajoy & Cª mereciam.  Voz avisada dentro do nosso Partido Socialista, a de Pedro Nuno dos Santos comenta no «i»: A Terceira Via morreu e a social-democracia ainda não se reencontrou. Só o desnorte ideológico, a recusa de arriscar uma alternativa política e a falta de coragem de romper com a parceria mais ou menos envergonhada com a direita liberal e austera explicam o desastre eleitoral dos socialistas gregos.
Este é o tempo em que os socialistas não podem ser choninhas com o estado de coisas a que os neoliberais levaram a Europa comunitária.

Citações do dia


O Governo está cada vez mais isolado e está a perder o crédito aos olhos da maioria dos portugueses. O mal-estar é crescente e não se faz nada para mudar a situação. A crise global é tida como uma fatalidade para Portugal, quando se sente por toda a Europa que as medidas de austeridade têm de ser combatidas para salvar o euro e dar um novo impulso ao projeto político, social e económico europeu. 
Mário Soares, Diário de Notícias

A designada crise grega não ficou solucionada com a vitória da Nova Democracia. É uma vitória de Pirro que, afinal, põe de novo em causa a natureza do capitalismo, e as características das "democracias" que se obstinam em o defender, mesmo através do rasto de miséria, infortúnio e morte que atrás de si deixa. 
Baptista Bastos, Diário de Notícias

Apenas um sistema eleitoral que distorce a transformação do voto popular em mandatos (bónus de 50 lugares ao partido mais votado), permite que o bloco central, responsável pela austeridade extrema, obtenha a maioria parlamentar.
Octávio Teixeira, Jornal de Negócios

É certo que estamos ainda longe da situação do Brasil ou da África do Sul. Mas a tendência da sociedade portuguesa parece ser a mesma: a procura de uma segurança ilusória através do aumento do número dos que a ela se dedicam, ao mesmo tempo que são cavados os desequilíbrios socias que constituem a causa do aumento da insegurança. 
João Cardoso Rosas, Diário Económico

NIGEL FARAGE - "Rajoy el mas incompetente de Europa" . Subtitulado

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Citações do dia


Um Governo que se surpreende com o resultado das suas próprias medidas económicas é um Governo a navegar à vista, completamente perdido do país que governa. Que esta incompetência se evidencie por vontade própria ou por imposição da troika é absolutamente secundário.
Sérgio Lavos, Arrastão

Hoje, digo-o com tristeza, a União Europeia e a sua moeda são o maior perigo que as democracias europeias enfrentam. Porque institucionalizaram um poder desigual entre Estados, dando argumentos sólidos e legítimos aos nacionalismos. Porque enfraqueceram as instituições democráticas nacionais sem as substituírem por instituições democráticas europeias. Porque permitiram que uma agenda ideológica se impusesse sem que tivesse, de forma clara e inequívoca, de passar pelo crivo do voto, apresentando-se sempre como uma inevitabilidade que vem de fora. 
Daniel Oliveira, Expresso

Uma vitória de Tsipras e o pânico colectivo de uma saída da Grécia do euro pressionariam uma saída para a crise que se arrasta há dois anos e que nem a queda de Espanha nem a iminente derrocada de Itália conseguiram ainda forçar.
Ana Sá Lopes, i

Ou o PS consegue, através de um acordo com o governo, que Passos Coelho vá a Bruxelas contrariar a senhora Merkel, o que não é provável, ou não pode dar a menor cobertura política aos “bons alunos” de Berlim.  
Tomás Vasques, i

Uma herança a recuperar


Na sua crónica semanal para o «Expresso», Miguel Sousa Tavares insurgia-se contra o abandono de muitas das bandeiras dos governos de José Sócrates, não por desmerecerem da sua importância, mas por mero preconceito ideológico da atual maioria. E considerava que o “Magalhães” foi um excelente projeto, desacreditado aqui mas acolhido noutros países; as Novas Oportunidades, com todas as inevitáveis batotas , era o que nos permitiria apostar na qualificação profissional e não na “alternativa” dos salários de miséria; o Pólis e a Parque Escolar, com todos os abusos e desvios (que sempre existirão enquanto existirem portugueses) era bem melhor política para evitar a derrocada do setor da construção civil e o disparo do desemprego do que continuar a apostar em fazer casas para ninguém ou obras inúteis nas autarquias; o investimento na investigação, na ciência e nas novas tecnologias (cujos frutos já começavam a ser patentes), era um  caminho indispensável da modernização do país; e a aposta nas energias alternativas era, não apenas uma escolha imperiosa para um país que não tem uma gota de petróleo ou de gás natural e que é abundante em sol, vento e mar, como também uma escolha estratégica que nos iria posicionar, como já estava a suceder, na liderança da tecnologia aplicável.
É por estas e outras razões, que está por fazer a devida justiça aos anos de governação de José Sócrates. Neles existia a valorização contínua dos portugueses em cujo saber, experiência e vontade se apostava para construir um país mais desenvolvido. E sobrava igualmente a Visão quanto ao objetivo a alcançar a médio e longo prazo, que nos poderia conduzir a um país mais desenvolvido e com uma melhor qualidade de vida para todos.
Infelizmente os opinadores, que tudo fizeram para denegrir a obra do primeiro-ministro anterior ainda continuam a preponderar nos nossos jornais e televisões. E a sustentarem a insustentável derrocada para onde Passos Coelho nos encaminha...

domingo, 17 de junho de 2012

Aníbal Cavaco Silva na Póvoa de Varzim | 16-06-2012

Pete Seeger



Mais um tempo para recordar o maior cantor de intervenção norte-americano vivo!

A urgência da cura da doença infantil dos socialistas europeus


A maioria absoluta dos socialistas franceses e os resultados das eleições gregas - que constituíram uma vitória de Pirro para a direita -confirmam a mudança de paradigma ideológico na condução dos governos europeus.
Claro que desejaria estar alegremente a dobrar a finados pela direita neoliberal, o que ainda não é caso para tanto. Mas torna-se cada vez mais evidente a incapacidade dessa área política em conseguir soluções exequíveis para as aspirações dos seus eleitores. Assim como a possibilidade de surgirem novas alternativas, que tragam a esquerda de regresso à sua matriz original: a de criar ideais de utopia em que a igualdade, a justiça e a solidariedade entre os povos constitua regra de satisfação obrigatória.
Pena é que os socialistas ainda tardem a associar-se a essa revolução iminente, já anunciada pelo Syriza grego e a que o Manifesto por uma Nova Esquerda pode dar sequência entre nós.
Enquanto militante com mais de um quarto de século de ligação efetiva ao Partido Socialista, sinto-me cada vez mais dececionado com um  líder, que lembra todos os dias o célebre princípio de Peter. E as eleições distritais deste fim-de-semana promoveram a líderes distritais uns quantos barry lindons modernos, que mostram grande competência para a auto-promoção, mas ainda deverão desmentir aquilo que suspeito: a de se tratarem de lamentáveis erros de casting.
E o problema não é apenas nacional, porquanto, apesar da vitória absoluta, os socialistas franceses viram a sua antiga candidata presidencial Ségolène Royal ser hoje derrotada em La Rochelle por um rival, apenas apostado no seu interesse pessoal em detrimento do partido donde emergia, nem que para tal contasse - como contou - com o apoio empenhado de toda a direita local.
A política politiqueira dos pequenos arrivistas locais: eis a doença infantil que faltará ser vencida pelos socialistas europeus...

Citações do dia


Já toda a gente percebeu, que a coordenação política do Governo é inexistente, o que leva a que um ministro diga uma coisa, outro ministro outra completamente diferente e que o primeiro-ministro ignore o que cada um diz e faz. 
Pedro Marques Lopes, Diário de Notícias

Um primeiro-ministro não é obrigado a saber tudo o que se passa no país. Mas convém não dar a ideia de que vive em Marte.
Martim Silva, Expresso

As reformas estruturais em Portugal deveriam começar pela erradicação dos Relvas da nossa vida pública.
João Lemos Esteves, Expresso

O sistema financeiro, de que os bancos são o principal rosto, ou pelo menos o mais visível, lançaram o mundo no caos da sua própria voracidade pelo lucro imediato e a todo o custo. Ficámos então a saber que os grandes bancos estão falidos e precisam de ser resgatados pelo dinheiro do contribuinte. 
Leonel Moura, Jornal de Negócios

Chegou o momento da verdade: a queda de Espanha e a queda iminente de Itália no abismo vão obrigar a Europa, finalmente, a agir. Foi fácil e até divertido brincar com os países pobres, como Portugal, a Irlanda ou a Grécia, mas é impossível humilhar a terceira e a quarta economias da zona euro.
  Ana Sá Lopes, i

Os fusíveis do sistema


Na Póvoa do Varzim, Cavaco voltou a conhecer os efeitos da sua progressiva descredibilização, evitando o contacto com uma população apostada em lhe fazer lembrar a coresponsabilidade neste estado das coisas.
Os fusíveis deste sistema político em equação vão fundindo, abrindo espaço para novas formas de expressão da vontade da maioria dos que se sentem ostracizados pelos poderes dos opressores...

Os dilemas do Vaticano


Margaret Farley é uma freira norte-americana, autora de  “Just Love: A Framework for Christian Sexual Ethics,” livro prontamente condenado pelo Vaticano. É que além de justificar a razão de ser da masturbação, ela manifesta alguma compreensão por posições incompatíveis com as da hierarquia de que depende: a homossexualidade, o aborto ou a eutanásia.
O problema que se coloca ao Vaticano é este: as freiras, que em lares e outras instituições sociais, estão na primeira linha do contacto com a realidade, assumem posições cada vez mais subversivas em relação aos dogmas da Igreja. E por isso são caladas ou instadas a respeitarem as orientações dos seus bispos.
Só que as consequências são as contrárias das pretendidas: em vez de obediência cega, elas desistem da vocação e o seu número reduz-se progressivamente.
À conta da infalibilidade das opiniões papais, o Vaticano vai-se conformando com a regra já em tempos testada negativamente por outro tipo de totalitarismos: a fórmula dos «poucos mas bons…»

Citações do dia


O nosso Governo sonha com o turning point da crise. Pois bem, junho de 2012 pode bem ser esse momento. A derrocada de Espanha e a explosão dos juros de Itália indiciam que assim é. A crise virou. No pior sentido.
José Manuel Pureza, Diário de Notícias

Tsipras pede aos alemães que façam contas, mas talvez ele não esteja a incluir a testosterona como fator irracional decisivo nos sucessos e catástrofes políticas.
Viriato Soromenho Marques, Diário de Notícias

O atraso crónico e a exasperante fragilidade das respostas europeias à crise das dívidas soberanas têm uma explicação incontornável: os interesses imediatos da Alemanha, tal como interpretados pela Srª Merkel numa lógica de curto prazo e sustentados na moderna vulgata ideológica liberal e no mais básico calculismo eleitoralista.
Pedro Silva Pereira, Diário Económico

Revisão após revisão os governos têm retirado, de cada vez, pouco a muitos para entregar a poucos. A proposta de lei laboral prossegue esse processo, mas agora com uma brutal operação de transferência de riqueza das mãos dos trabalhadores para as mãos dos grandes detentores de capital.
Carvalho da Silva, Jornal de Notícias

Estranha forma de ser primeiro-ministro, que não se incomoda em deixar que pensem que pouco lhe importa o que se passa no país, desde que o resultado seja o cumprimento à risca do plano que lhe foi imposto.
Leonete Botelho, Público

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Citações do dia


O verão de 2012, na sequência dos estios de 1914 e de 1939, poderá ficar na história como o terceiro suicídio da Europa em menos de cem anos. Só a Alemanha poderá evitar o pior. Se nada fizer, arcará com as consequências na altura em que a Fénix europeia se reerguer das cinzas.
Viriato Soromenho Marques, Diário de Notícias

Esta Europa tem dois caminhos - ou vai longe ou não vai a parte alguma. Se se partir, todos sofrerão, muito mais do que se as instâncias comunitárias (onde estão?) tivessem tido o arrojo de a salvar. Esta Europa tem futuro, se não for o dos cobardes.
Luís Nazaré, Jornal de Negócios

Todos os governos de coligação em Portugal caíram por implosão, e nenhum cumpriu um mandato. 
Marina Costa Lobo, Jornal de Negócios

O discurso sobre a necessidade dos Estados contraírem as suas despesas e não se endividarem mais desaparece quando estão em causa os bancos. (…) Ao que parece, os países não podem viver sem um sistema bancário saudável. Mas podem viver sem crescimento, sem consumo interno e com um desemprego acima dos 20%. Salvamos os bancos? Duvido que, sem crescimento, não se trate apenas de adiar a sua morte. Mas mesmo que resultasse, se ao mesmo tempo dizimamos as economias europeias, eles vão servir para financiar exatamente o quê?
 Daniel Oliveira, Expresso

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Zizek: um filósofo de conhecimento obrigatório

A vingança


O que é filosoficamente a vingança? Como a distinguir da desforra com que pode ser tantas vezes confundida?
Eis o tema do programa semanal de Filosofia, que Raphael Enthoven apresenta semanalmente no canal ARTE e que contou com a colaboração de Michel Erman na emissão do dia 10 de Junho, porquanto este acabava de publicar um ensaio dedicado precisamente ao tema: «L’Éloge de la Vengeance».
Temos então a desforra como uma forma atenuada de vingança porque, ao contrário desta, pressupõe regras. A equipa A perde 3-0 com a equipa B na primeira mão, mas desforra-se ganhando-lhe 3-0 na segunda mão. Eis um bom exemplo de como a desforra tem, sobretudo, cabimento em linguagem desportiva.
A vingança, pelo contrário, é quase sempre desproporcionada. Um dos argumentos para a criação da pena de morte na antiga Babilónia terá sido precisamente para conter a sucessão descontrolada de vinganças tribais. Instituiu-se assim a chamada lei de Talião.
A pena de morte é, pois, um ato de vingança. Já Camus o dizia, apesar de Montaigne a condenar enquanto demonstração de uma condenável crueldade. Porque pressupunha a satisfação pelo espetáculo de alguém a morrer.
Essa satisfação é evidente na fotografia anterior relativamente à derradeira execução pública de um condenado á morte em França, Eugéne Weidmann que, em 1939, foi inculpado de seis crimes.
Essa exibição pública da morte ainda decorre da defesa da pena de morte pelos filósofos das Luzes (Kant, Rousseau), que viam nessa opção a eliminação de quem, pelos seus atos, se colocara definitivamente à margem da sociedade.
Outra imagem terrível analisada no programa foi a da execução por lapidação de Mohamed Abukar Ibrahim, em 13 de dezembro de 2009, a quem um tribunal islâmico somali condenara por adultério. Na pedra erguida ao alto por um dos executores, quando o corpo já parece esvaído de vida, existe a presunção de executar um castigo divino, mesmo tratando-se, na realidade de uma barbárie.
E ainda outra imagem, não menos horrível, dá o mote à vingança vivida como uma espécie de jubilação com a imagem do linchamento de Elmer Jackson, Elias Clayton e Isaac McGhie em Duluth (Minnesota) em 15 de junho de 1920, acusados infundadamente da violação de uma rapariga. À volta dos corpos enforcados, os assassinos posam sorridentes, vestidos nos seus melhores fatos e gravatas, depois de terem ido buscar os suspeitos à prisão aonde deveriam estar protegidos.
Um episódio, que daria a Dylan o ensejo para criar a sua «Desolation Road» e que muitos lembrariam enquanto exemplo do racismo surgido da progressiva concorrência dos operários brancos do norte dos EUA pelos negros vindos do Sul para supostamente os espoliar dos seus ordenados. Um pequeno rastilho encontrava, então, o ensejo para crimes irreparáveis
Perante tais documentos justifica-se a pergunta: qual a satisfação extraída de uma vingança? Nietzsche falava de sadismo. Mas, em todos esses exemplos funciona o instinto gregário, a volúpia a diluir-se na irresponsabilização no coletivo. Por isso se trata de um tipo de comportamento eivado de riscos muito sérios. Porque, por ela transita um enorme potencial de injustiça...

Citações do dia


Construir uma sociedade decente é um processo que leva muito tempo, séculos por vezes; criar as condições para um estado falhado é algo que pode acontecer em poucos anos – ou meses.
Pedro Aires Oliveira, Para uma Esquerda Livre

O Governo está a ficar cada vez mais isolado e o descontentamento contra ele, vindo de todos os sectores, começa a ser muito grande. Não se iluda o Senhor Primeiro-Ministro e o Governo quanto à paciência dos portugueses que, com efeito, tem sido grande, ou com os elogios (interessados) da troika. A continuar assim, tudo lhes vai, inevitavelmente, cair em cima. E de que maneira!
Mário Soares, Diário de Notícias

O sistema público de ensino prepara maior número de jovens, durante mais tempo e melhor do que conseguia quando eu fui estudante ou quando o meu pai estudou. São anos-luz de diferença. O que Nuno Crato apresenta é, na prática, andar para trás no tempo.
Pedro Tadeu, Diário de Notícias

A não haver uma mudança radical que permita às empresas acesso mais fácil, e em melhores condições, a crédito para funcionamento de curto prazo, o fim do Verão vai ser tormentoso, com o aumento de falências, a retração do ritmo de evolução das exportações, a escalada do desemprego e a dificuldade em cumprir as metas do acordo. Por mais flexível que seja o mercado de trabalho. A ortodoxia cega.
Alberto Castro, Jornal de Notícias