quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Um revelador baile de vampiros

 

1. Se não fosse trágica a pequena galeria de horrores, que tem desfilado por estes dias ao lado de Luís Montenegro para o apoiar no assalto ao ambicionado pote, lembraria o baile dos vampiros no filme de Roman Polanski.

Passos Coelho, Paulo Núncio, Carlos Moedas, seguramente Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva nos próximos dias, são figuras de cera, nalguns casos de aspeto mumificado, que parecem saídos das tumbas para virem fincar os aguçados dentes nos nossos pescoços.

Muito justificadamente Mariana Mortágua manifestou o desejo de ver o desfile prosseguir nos próximos dias. É que tudo aquilo é um susto e ainda há pensionistas esquecidos de quanto foram roubados, ou mulheres a quem foram negados direitos elementares como os de disporem do próprio corpo, por parte dessa gente.

Esperemos que, cada uma dessas assombrações contribua para conter uma das mais absurdas ameaças que a Revolução de Abril está a enfrentar no ano do seu 50º aniversário.

2. Num dos países mais seguros do mundo admiram-se alguns com a suposta perceção de insegurança, que leva Passos Coelho e os chegófilos a fazerem dela recurso para a sua demagogia.

Não é novidade que a imprensa tabloide e as redes sociais estão na origem dessa campanha tão proveitosa para quem dela quer fazer pretexto para instituir uma sociedade mais musculada onde os direitos fundamentais sejam postos em causa. E não podemos ignorar como as televisões generalistas vão a reboque dessa estratégia fazendo-se muitas vezes eco dos crimes de que acentuam os contornos mais crapulosos, sobretudo se convenientes para os objetivos xenófobos e racistas dos seus divulgadores. 

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Quem está a ganhar e a perder com a guerra na Ucrânia?

 

Hoje 90% das mercadorias do comércio global são transportadas por via marítima em contentores de cores estandardizadas. Mas acontece que essa padronização, facilitadora da multiplicação de trocas, pode engripar-se como sucedeu durante a epidemia do covid, quando os portos asiáticos pararam a atividade e a Europa sentiu, quase de imediato, uma penúria em bens e produtos essenciais, não só tão banais como o papel ou o paracetamol, mas sobretudo com efeitos nas cadeias de produção de muitas fábricas - a Autoeuropa foi só um dos muitos exemplos - que pararam semanas a fio com os trabalhadores a só não perderem os empregos porque os Estados garantiram-lhos à custa de avultados apoios para ficarem inativos. Daí que, a nível mundial, o PIB tenha baixado 3% em 2020.

A guerra na Ucrânia voltou a perturbar a economia mundial, significativamente globalizada pois, em apenas cinquenta anos (1970–2020), multiplicou por sessenta o valor suscitado por esse comércio.

Se em 2021 a recuperação foi animadora (+6%), ela voltou a baixar em 2022 ao ficar-se pelos 3,1%, repetida em dimensão semelhante em 2023.

É nas energias fósseis e nos cereais, que o impacto da guerra no sudeste europeu conheceu maior impacto. Fiquemo-nos hoje pelas primeiras.

A Europa foi a principal prejudicada pela crise dos hidrocarbonetos dada a dependência da Rússia - até então 3º maior fornecedor mundial em petróleo e 1º em gás -, conhecendo acentuada inflação, quando a cotação do barril passou de 17 dólares em 2020 para 115 em 2022, e a do gás evoluiu de 34 dólares/MWh em junho de 2021 para 310 em agosto de 2022.

Esse aumento no preço dos combustíveis implicou o dos bens essenciais em todo o continente. Entre janeiro e outubro de 2022 esse valor atingiu os 36%, condicionando as exportações.

A Europa é, até ver, a grande perdedora dessa guerra. Em contraponto diversos países saíram beneficiados com essa situação: os treze membros da OPEP - entre os quais a Venezuela, Angola, a Nigéria ou os do Golfo Pérsico—embolsaram receitas record em 2022 -  907 mil milhões de dólares em comparação com os 320 auferidos em 2020.

Os EUA também são os grandes beneficiados com a guerra na Ucrânia ao substituir os russos como grande fornecedor de gás natural. A China e a Índia, os maiores clientes do petróleo russo, também saíram a ganhar, mormente a segunda como intermediária entre os proscritos russos e os mercados de que foram embargados, mas aos quais continuam a chegar os seus hidrocarbonetos sob essa fingidora cobertura.

Em suma o comércio dos hidrocarbonetos reorganizou-se durante estes dois anos de conflito, surgindo como particularmente lucrativos para a Noruega, o Qatar, o Azerbeijão e os EUA, enquanto a Rússia manteve a produção e as receitas com o aumento significativo de vendas à China é à Índia.

 E, mais do que os países em si, as principais beneficiadas com a situação internacional são as petrolíferas - a ExxonMobil, a Chevron, a BP, a Shell e a Total - todas ocidentais que, em 2022, bateram todos os records com lucros da ordem dos 182 biliões de dólares.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

O confiante entusiasmo da vitória

 

1. Não surpreendeu ninguém que, das ações de campanha deste fim-de-semana, tenham sido as do Partido Socialista as mais participadas, as que denotaram o inequívoco entusiasmo de quem nelas participou.

Confiante, Pedro Nuno Santos aposta que ganhará as eleições nas ruas onde contagia com a genuína credibilidade de ter recebido o testemunho de um legado em que muitos avanços foram conseguidos para quem mais precisa, e sabe qual o caminho mais consistente para os prosseguir e potenciar.

Prudente nas promessas, só faz as que serão possíveis de concretizar, ao contrário da AD, cuja previsão de crescimento económico, em que assenta o rol de falsas juras, leva Carmo Afonso a ironizar ao dizê-la “ao nível do de quem entra num restaurante sem dinheiro e pede ostras porque espera nelas encontrar uma pérola para pagar a conta.”

Razão mais do que suficiente para que os portugueses façam a escolha certa, quando irão optar entre o Estado social e o Estado liberal.

Quase em nota de rodapé vale a pena olhar para a forma como André Ventura desceu a mais conhecida rua comercial do Porto: em passo de corrida sem ter comunicado com qualquer cidadão comum nem entrado numa das muitas lojas. Esclarecedor quanto ao «apoio», que alega ter!

2. Se o legado colhido nestes últimos oito anos é significativo, importa olhar para um interessante texto de Ricardo Paes Mamede onde alerta para algo, que só não é esquecido por Pedro Nuno Santos, por isso mesmo decidido a operar a alteração dos investimentos estatais nos setores com melhores condições para mudarem estruturalmente a criação da riquez nacional: as contas certas estão demasiado dependentes do turismo e das remessas dos emigrantes que, depois de quase tornarem-se irrisórias, voltaram a contribuir para 2% do PIB. 

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Histórias Exemplares (XIII) - memória das Índias Galantes

 

Foi dos melhores concertos a que eu e a Elza assistimos: em 2006 Mega Ferreira estava à frente do CCB e, havendo ainda dinheiro para replicar em Lisboa parte do que sucedia nas Folles Journées de Nantes, contava com a colaboração de René Martin para a organização de mais uma festa da música que, nesse ano, teria como tema o Barroco.

Num desses concertos pudemos ver François-Xavier Roth a dirigir a suite das Indes Galantes de Jean Phillipe Rameau, que serviu aliás de tema musical anunciador do festival.

Desconhecia estarmos então perante aquele que já era, mas mais se tornou, num dos mais interessantes maestros da atualidade. Aquele que Barenboim exalta pela versatilidade com que aborda diversas épocas, ou Simon Rattle considera um verdadeiro mágico ao arriscar-se em aventuras, que quase mais ninguém ousa experimentar.

E, de facto, o antigo flautista que, desde muito cedo, soube não lhe bastar a interpretação do seu instrumento, porque pretendia estudar e dar a conhecer as grandes obras de que descobre as mais subtis nuances, só merece elogios dos que com ele trabalham, sejam os solistas que são cúmplices das suas propostas, quer os que são por ele dirigidos, quer nas mais importantes orquestras europeias, quer nos amadores com quem tanto gosta de trabalhar.

Lembro que, depois de me ter entusiasmado com a música de Rameau, vi-o a comer uma sande na cafetaria do CCB e fiquei na dúvida se o deveria ter ido cumprimentar em agradecimento por quanto prazer sentira durante o espetáculo mas, ao contrário, do que costumo fazer nessas ocasiões, retive a intenção. Afinal ele parecia estar a refletir tão profundamente  enquanto degustava o lanche, que pareceria sacrilégio interrompe-lo. Mas, tantos anos passados, ainda sinto alguma contradição entre o saber ter agido corretamente e a pena de não ter-lhe manifestado a admiração, que me continua a suscitar...

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Entre o entusiasmo do Pedro e o cagaço do André

 

1. O entusiasmo de Pedro Nuno Santos merece a atenção dos comentadores que anseiam apontar-lhe o mínimo deslize, a hipótese de uma contradição. Uma frase a mais, dita ontem a propósito da governabilidade futura de um improvável governo da AD, deu o ensejo aos que tudo farão par desqualificá-lo. E no entanto, ele disse o óbvio: do compromisso assumido no debate de segunda-feira espera a reciprocidade de Luis Montenegro, embora a saiba impossível, quer porque este será o primeiro a desdizer-se se o PSD precisar do Chega para governar, quer porque logo passará a incumbência a outro se o clamor público contra essa posição lhe for particularmente assustadora. E sabe-se que, em termos de coragem, o líder laranja não parece muito dotado.

O que parece evidente é só existir uma alternativa para uma governação estável nos próximos quatro anos: que os indecisos repitam o comportamento de há dois anos e possibilitem uma maioria à esquerda. Só com uma repetição - para melhor! - da solução de 2015 se prosseguirá um caminho então encetado.

2. Confesso que tardo em compreender como António Costa possibilitou a tremenda confusão suscitada pelas sucessivas reclamações das várias forças de segurança a partir do subsídio atribuído aos agentes da Polícia Judiciária. A sua experiência política deveriam bastar-lhe para evitar esta situação porque, esta semana, até os sargentos dos vários ramos militares vêm admitir a possibilitar de se juntarem a essa dinâmica disruptiva.

3. Duas notícias sobre o Chega justificam reações de satisfação, com o cordão sanitário no Parlamento açoriano onde o seu candidato a uma das vice-presidências viu-se brindado com 50 votos contra em 57 possíveis, e de risota, com o cagaço por que terá passado a caravana de André Ventura, que ouviu tiros no que eram os ruídos de uma das motos, que a integrava.

Está por saber se, na paragem seguinte, o candidato a Fuhrer teve de arranjar forma de mudar de calças...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

A realidade a desmentir algumas perversas ficções

 

1. Se uma imagem dispensa mil palavras a capa de hoje do «Público» facilita o sentimento generalizado sobre o debate de ontem à noite entre Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro: sentado, o dirigente da direita vê o socialista a passar, firme e seguro, diante de si.

Naquilo que seria um massacre com quase epílogo em knock out, se a disputa tivesse equivalência num combate de boxe, deparámos à esquerda com a consistência e conhecimento aprofundado dos temas, contrapondo-se-lhe o nervosismo de quem se revelou impreparado para guindar-se ao patamar onde seria evidente, se não mesmo trágica, a sua incompetência.

O balanço a favor de Pedro Nuno foi tão evidente que dez dos onze comentadores do Expresso deram-no como vencedor de uma pugna onde só o inevitável José Vieira Pereira destoou. E até Sebastião, o amigo do Ventura, teve de reconhecer o óbvio...

2.  Sem surpresa o juiz Nuno Dias Costa desfez a argumentação do Ministério Público sobre as suspeitas por este coladas a António Costa na sequência da Operação Influencer, acusando-o de formular juízos e omitir a descrição dos factos que possam indiciar qualquer tipo de crime.

Agora só falta que a Relação corrobore essa tese e demonstre o quão leviana, se não mesmo voluntária intenção de derrubar o governo de maioria absoluta, que os procuradores do caso intentaram. Justificando-se daí uma efetiva reforma da Justiça, que impeça a sua inaceitável intromissão no que só à política diz respeito.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Os Farsistas enquanto engenheiros do caos

 

Giorgio de Empoli chamou-lhes engenheiros do caos e optou por essa designação para dar título a um ensaio, que explica a ascensão de movimentos neofascistas como o Chega, ao qual Rui Tavares apodou com uma não menos curiosa designação: Farsistas.

Muito devem essa notoriedade à imaturidade dos frequentadores das redes sociais, que sentem cada like como réplica das remotas carícias maternas. Porque é um ponto fraco da psicologia humana esse desejo tóxico pelo reconhecimento, o medo de não estar conforme a vontade das supostas maiorias.

Daí a facilidade com que a extrema-direita aproveita-se do ressentimento e raiva dos que não são suficientemente “acariciados”, “reconhecidos” e desenvolvem ressentimentos prenhes de raiva. Assim surgem as teorias conspirativas sobre as quais existem estudos a demonstrarem levar seis vezes mais tempo uma verdade chegar a 1500 frequentadores das redes sociais do que uma mentira.

Como dizia Mark Twain “uma mentira pode dar a volta ao mundo no mesmo período de tempo que a verdade leva a calçar os sapatos”.

Os engenheiros do caos compreenderam o enorme potencial da raiva e vestem-na de indignação, medo, insulto racista ou sexista, que é quanto basta para assegurar a rápida divulgação nas redes sociais.

Hoje é impressionante a rapidez com que uma epidemia de cólera passa da dimensão virtual para a realidade como se comprovou com a dimensão atingida pelas campanhas antivacinas propagadas por youtubers da extrema-direita.

Empoli lembra que, se Lenine definira o comunismo como a soma dos sovietes com a eletricidade, o atual populismo resulta da cólera mais os algoritmos. 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

(Re) Geringonçando

 

1. Olhando para o debate entre Mariana Mortágua e Rui Rocha pode constatar-se a permanente indelicadeza do líder da Iniciativa Liberal, que andou a interromper a interlocutora para impedi-la de, reiteradamente, o instar a explicar a proposta de borla fiscal a dar aos bancos, à Galp e a outras empresas já responsáveis por indecorosos lucros nos últimos anos.

É um mistério que, após tantos exemplos concretos sobre os malefícios do capitalismo selvagem, ainda sobrevivam estes aiatolas das privatizações e da mão invisível do mercado, defendendo estas ideias com a convicção dos vendedores da banha da cobra que, no Oeste Selvagem do século XIX, seguiam o rasto das caravanas para publicitarem poções miraculosas a quem conseguissem enganar.

Barafustando, mentindo, primando na descortesia, Rui Rocha mostrou como o neoliberalismo do século XXI é a mera recitação de fórmulas mais do que estafadas.

2. Manuel Carvalho faz uma série de considerações sobre a perda de influência do Partido Comunista - muitas delas produto de uma estereotipada cassette! -, mas acerta no elogio a uma ética, que Paulo Raimundo tem personificado durante os debates. Lamentando que valores básicos tenham sido secundarizados em nome de uma estratégia comunicacional orientada para a conquista de votos, o antigo diretor do «Público» não os explicita, mas estão em causa o cavalheirismo, a capacidade para ouvir de quem se discorda e, serenamente, desarticular-lhes os argumentos com outros racionalmente mais ajustados a uma sociedade decente. E, por isso mesmo, sou dos que continuo a entender imprescindível a influência relevante dos comunistas na definição das políticas do país e a desejar-lhes melhores resultados. Porque, das suas lutas, resultaram muitos dos direitos de que hoje usufruem quem não lhes reconhecem esse mérito.

3. Alguém disse há poucos dias a estranheza por o Livre não ter votação mais substantiva do que tem conhecido eleitoralmente. Porque ouvindo Rui Tavares temos de constatar a inteligência e robustez das suas alegações. Nesse sentido tem sido interessante ver como, perante as características, de cada oponente, tem sobre eles prevalecido em quase todos os debates.

4. Pelo que fica aqui dito não sobram dúvidas sobre o meu desejo para a noite de 10 de março: assistir a uma grande vitória do Partido Socialista, mas desejando que consiga liderar uma grande frente de esquerda contra as políticas pretendidas pelas várias direitas.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

A desconversa entre a inteligência e o oportunismo

 

A discrepância entre a realidade e a estranha bolha em que se enredam os comentadores televisivos - e por isso ficaram tão surpreendidos quando o PS conseguiu a maioria absoluta há dois anos! - ficou patente com o que vi no debate entre Pedro Numo Santos e André Ventura. Onde alguns viram, e classificaram, equilibrado uma disputa verbal, que foi racional e inteligente de um lado, e malcriada e infundamentada do outro, houve até quem apregoasse a vitória do segundo.

Pedro Nuno assumiu bem o legado de António Costa, defendendo a conclusão do que ficou por fazer, argumentou com números concretos e criteriosamente estudados, e encostou o adversário às cordas quando o quis obrigar a confessar quem lhe assegurara uma coligação de direita com o PSD sem Montenegro, que o daria como intriguista ou, mais provavelmente, mentiroso.

Que dizer desta criatura frankensteiniana, que não só é falha em qualidades como baseia as volúveis opiniões no que lê nos tabloides, ou nos algoritmos quanto às mais populares, mesmo racistas e xenófobas?

A sucessão dos debates tem sido eloquente quanto a uma constatação elementar: à esquerda vigora o discurso inteligente, à direita exploram-se as emoções primárias em exercícios de hipócrita demagogia.

Se o mundo fosse perfeito os partidos da esquerda discutiriam entre si a vitória enquanto os outros calar-se-iam na sua inconsequência. Mas como a imperfeição também nele cabe só resta esperar que se revele tão minoritária quanto possível na contagem dos votos do dia 10.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Muito mais do que a banalidade do mal

 

Os debates do figurão da extrema-direita com Paulo Raimundo e Mariana Mortágua fez-me lembrar a conhecida fórmula de Hanna Arendt  sobre o Mal para nele não colar a caracterização de banal. Porque toda a sua “argumentação “ é um somatório de incoerências, mentiras e falta de quantificação do que custariam as suas “propostas”.

Ciente de ter uma plateia de apoiantes incapazes do exercício crítico de reverem as suas posições, só os podemos segmentar em dois campos distintos: há os que o apoiam por saberem-no provedor dos seus interesses - razão para contar financiadores entre os Champallimauds, os banqueiros e os especuladores imobiliários! - apostando na capacidade para lhes proporcionar ainda maiores lucros. E existem os outros, aqueles que dir-me-ão ser imprudente qualificar de mentecaptos, mas, hélas, é o que são. Porque, em grande parte, seriam os maiores prejudicados pelas políticas do Chega se elas tivessem oportunidade de ser implementadas numa dimensão governativa.

Dá para concordar com quantos dizem demonstrar-se o fracasso das nossas políticas educativas no facto de, passados cinquenta anos sobre o 25 de abril, um partido desta (contra)natureza alcançar a dimensão dos dois dígitos na percentagem dos que o apoiam.

Para o debate de hoje estou confiante que Pedro Nuno Santos terá colhido lições dos debates anteriores para melhor menorizar Ventura no quanto a manipulação do(a)  moderador(a) permitirem. Mas até essa armadilha ele saberá desarmar... 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Dois parlapatões à solta

 

Sujeito a rude prova o meu estômago conseguiu suportar estoicamente o debate entre Montenegro e Ventura. Sem pastilhas para mitigar a acidez, os meus sucos antidireitas portaram-se valentemente e aguentaram as execráveis posições de um e de outro, feitas de mentiras, demagogia e pérfida intenção de deitar para o lixo tudo quanto de bom os portugueses conseguiram nestes últimos oito anos e impedir o que está em curso para corrigir a rota do que tem corrido menos bem.

O fanfarrão da extrema-direita confirmou o que se sabe: malcriado vale-se da credulidade de quantos querem acreditar no Pai Natal para mitigar as suas dificuldades e frustrações por não terem como aceder a uma qualidade de vida propiciada por esta sociedade de consumo só para os outros. Quanto a Montenegro percebeu-se que aspira ganhar as eleições reduzindo a influência eleitoral do putativo parceiro, negando-lhe essa condição. O implícito apelo ao voto útil passou-lhe como estratégia prioritária para fundamentar os seus objetivos.

Pessoalmente só posso reiterar o espanto por haver tanta gente decente disposta a pôr o votinho nestes dois parlapatões. Quando tem, em alternativa, a demonstração prática sobre o que é uma política séria capaz de aumentar os rendimentos das famílias sem usar a carta da austeridade.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Do indesejável protagonismo de um moderador

 

Olhando para o debate entre Pedro Nuno Santos e Rui Tavares pode-se dizer que quem mais o determinou foi o moderador, que esteve sistematicamente a interromper o líder socialista e a querer passar a ideia demagógica dele só propor mais do mesmo como se este não tivesse produzido, e estivesse em vias de gerar melhores resultados. Exemplo disso foi o caso da Habitação em que quis passar a ideia de nada ter sido feito, quando tanto do que se programou já está em execução e a ser construído.

Melhor exemplo dessa parcialidade foi o início do debate quando José Adelino Faria quis obrigar os dois entrevistados a comprometerem-se com o apoio ao governo do PSD nos Açores - e no Continente se se repetir situação similar! - para o livrar da chantagem do Chega. Quando nunca tal atitude se viu quando o PS ganhou as eleições em 2020 e nem sequer foi convidado a formar governo. Razão mais do que legítima para o Partido Socialista ter a posição de ir para o governo se o conseguir formar e liderar a oposição se tal não suceder.

Em suma estamos num modelo de debates em que os dois políticos em liça até têm muito a dizer - o que não sucede com os das direitas - mas disso ficaram impedidos pelo “intervencionismo” de quem deveria situar-se numa posição de neutralidade imparcial. Mesmo que a favor de quem deste estava ausente...

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Monges que não se ajustam nas respetivas capas

 

1. Não deixa de ser curioso que, após a evidente tareia levada no debate com Mariana Mortágua - até reconhecida pela maioria dos comentadores do “Expresso”! - Luis Montenegro tenha pretendido fazer-se substituir por Nuno Melo em dois deles.

Cobardia, identificou logo o Livre como sendo a atitude de quem, sendo homem de tão escassas qualidades, tenta vestir o hábito, que a ilusória Católica lhe quis emprestar na mais recente sondagem. Só que há vestimentas reconhecidas como naturais a uns, mas ridículas quando envergadas por outras. Parafraseando o título de um filme de Bernardo Bertolucci é essa a tragédia em que Montenegro incorre.

2. Outra criatura que, na postura e no verbo, não consegue disfarçar a mediocridade - o açoriano Bolieiro - quer exigir do Partido Socialista o apoio abstencionista para o livrar da continuação do conluio com o Chega.

No semanário do clã Balsemão Daniel Oliveira denuncia a falta de pudor do pífio vencedor de domingo ao pretender ver-se salvo do partido da extrema-direita depois de a ele se ter aliado para, depois da derrota de há  três anos, impedir os socialistas de governar: “quando perde, o PSD usa o Chega para impedir que o PS governe, quando ganha usa-o para impedir que o PS faça oposição”.

E assim se confirmam as afinidades eletivas entre a direita tradicional e a que lhe morde as canelas nas suas extremas.

3. Não se pode provar a existência de conspiração como dela suspeita Vasco Lourenço, mas tudo sugere essa possibilidade em 7 de novembro com a Operação lançada por alguns procuradores do ministério público e agora potenciada pelo clima de caos suscitado pelos protestos policiais.

Muito oportunamente a deputada Joana Sá Pereira lembrou ser este um guião já bem conhecido nos EUA e no Brasil: a criação da sensação coletiva de insegurança para abrir caminho aos defensores da ordem fascista, que não hesitarão em impor uma cultura de medo para manter “tranquila” a sociedade.

4. Numa crónica já com alguns dias Carmo Afonso dava explicação plausível para a adesão de uma parte significativa dos polícias ao partido fascista: a apetência por uma posição de poder onde lhes seja legitimada a imposição da autoridade sobre quem entendam demonstrá-la. Razão para soar-lhes como música para os ouvidos a promessa de Ventura quanto a reforçar-lhes esse arbítrio, fazendo deles homens perigosos.