sexta-feira, 31 de maio de 2019

O que sabe ele que nós não saibamos?


Olha-se para a fotografia de Maurício Marques, deputado e ex-líder distrital do PSD em Coimbra e não damos grande coisa pela sua inteligência. Há caras, que não conseguem evitar que sobre elas retiremos conclusões imediatas relativamente ao funcionamento dos respetivos neurónios! Somos logo forçados a lembrar aquele célebre provérbio que diz termos até aos 30 anos a idade que Deus nos deu, mas depois disso contamos com aquela que merecemos!
Dele também não recordamos qualquer intervenção no Parlamento, que nos permita duvidar daquela primeira impressão! Mas convenhamos que temos de nos interrogar, já não tanto quanto à esperteza, mas ao que terá ouvido nos clandestinos corredores das tricas políticas, quando veio prever um bom resultado eleitoral para o PSD em outubro, porque, até lá, outros casos como os dos presidentes das câmaras de Santo Tirso e de Barcelos virão a lume.
Razão para que nos questionemos sobre que tipo de jogadas sujas se preparam em instituições judiciais e policiais para que os resultados eleitorais nas legislativas decorram da manipulação do imaginário coletivo e não do verdadeiro interesse dos que acorrerão a depositar o seu voto na urna.

Esses visitantes, que nada nos trazem de relevante


As Conferências do Estoril, que foram «abrilhantadas» por Sérgio Moro, também trouxeram até nós o jornalista norte-americano Fareed Zakaria. Razão para que o «Público» lhe desse honras de primeira-página como se Maomé tivesse vindo à montanha.
A expressão justifica-se, porque é utilizada pelo próprio para comentar o período Obama na governação dos EUA, entendendo-o como se tivesse deixado os seguidores a meio do caminho e justificado uma reação tão forte dos opositores em sentido contrário. No mais Teresa de Sousa, a entrevistadora, parece babar-se perante a «sabedoria» do visitante, embora nada acrescente às habituais banalidades, que lhe costumamos ouvir no programa GPS, que a RTP3 transmite aos domingos: lamenta a ascensão das «democracias iliberais» (como se merecessem a manutenção do primeiro dos termos na sua qualificação) e a contradição entre um mundo aberto, multicultural e virado para a conjugação das sinergias globais, e aquele que Trump, os brexiteers e os Salvinis prometem, de retraimento em função de preconceitos xenófobos.
O essencial cinge-se à maior das falácias: também ele vem com a balela de já não se distinguirem as direitas das esquerdas quando, são evidentes as linhas de clivagem entre quem quer mais justiça e igualdade dos que pugnam pelos interesses específicos dos plutocratas ou dos ilusórios nacionalismos, que só a esses aproveita. Nesta fase histórica em que as contradições de classes se agudizam dá muito jeito aos senhores dos Bildebergs, que por aí pululam, haver quem as tente negar!

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Um Ministério Público que continua com graves problemas oculares


É provável que o Ministério Público até encontre matéria suficientemente comprometedora para levar a tribunal os autarcas de Santo Tirso e Barcelos ou o presidente do IPO do Porto. Mas há claro cheiro a esturro numa ação, que parece de compensação por, no Campus de Justiça de Lisboa, a Operação Marquês estar a meter água por vários rombos e os suspeitos do costume não conseguirem viver sem arranjarem casos judiciais contra dirigentes do Partido Socialista.
Curiosa é a opção editorial das televisões, que deram tanta importância ao caso Sócrates quando viram o ensejo de o incriminar, mesmo que as provas fossem inconclusivas, e agora remetem o julgamento para meras notas de rodapé, quando se vão conjugando os fatores para tudo resultar numa mão cheia de nada. Porque não se pressagia grande sucesso para a trupe de Rosário Teixeira e de Carlos Alexandre, quando um dos seus principais lugares-tenentes, Paulo Silva, passa o seu depoimento perante Ivo Rosa a alegar não saber, ou não se lembrar, de factos determinantes para se aferir da culpabilidade dos réus.
Temos, assim, o Ministério Público a fazer de autarcas socialistas do Norte do país os alvos das suas atenções por um tipo de atividades - a da organização de eventos - que todos os concelhos possuem e para o qual contratam empresas como a da também arguida Manuela Couto.
Que não soa bem a contratação da empresa da mulher pelo autarca de Santo Tirso, concordamos! Mas qual o problema de outras autarquias recorrerem aos seus serviços se é essa a sua especialidade?
Presume-se que se o Ministério Público se mostrasse tão diligente com autarcas do PSD, que têm feito adjudicações diretas às muitas empresas de organização de eventos espalhadas pelo país decerto encontrariam matéria para encherem os tribunais de interpretações abusivas do que é corrupção ou tráfico de influências. Porque, depois de todo o foguetório destes últimos dois dias, o mais certo é tudo resultar em nada. Mas  enquanto conseguirem manter um fluxo de notícias televisivas atentatórias do bom nome do recém-vencedor das eleições europeias julgam assim garantir o sucesso do que prefigura uma estratégia de índole corporativo.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Política com maiúsculas


As notícias favoráveis ao governo fluem com regularidade quotidiana sabendo-se nos últimos dias, que a economia continua a comportar-se muito positivamente, como o denota o crescimento em 8% das receitas do IVA e das contribuições sociais comparando o final de abril deste ano com o do transato. O objetivo de défice zero previsto por Mário Centeno para 2019 está cada vez mais consolidado.
Positiva, igualmente, a referência ao acréscimo diário de 12 mil novos passageiros transportados pelos comboios da Fertagus, que demonstra o quanto os novos passes significaram para a bolsa de muitos dos seus utentes, quer os anteriores, quer os que agora se lhes vieram associar. E que sentiram nas carteiras os benefícios de uma governação competente, orientada para as suas necessidades.
E, a concluir, mencione-se a emissão de dívida do Tesouro em iuans, demonstrando como o governo acautela junto de investidores asiáticos a eventual volubilidade dos europeus ou norte-americanos.
Contra a política no diminutivo, praticada pelos partidos das direitas, António Costa dá mostras de como ela pode ser superlativa, merecedora de ser lida em impressivas maiúsculas.

Uma estranha Operação Stop em Valongo


Há três anos e meio pressupus que existiria uma enorme dificuldade a ser enfrentada pelo novo executivo socialista: a de fazer implementar o seu programa e estratégia perante a obstrução, nuns casos passiva, noutros ativa, dos muitos diretores, chefes de departamento e outros responsáveis intermédios infiltrados nos postos-chave pelos partidos das direitas durante os muitos anos da sua desgovernação. Boicotes, sabotagens e outras malfeitorias feitas nos segredos dos gabinetes da Administração Pública seriam de prever.
Muitos desses atos terão acontecido, mas o governo soube-os ir minimizando sem que transparecessem para a opinião pública mais do que alguns sinais, não explicados como tendo tal origem. Mais evidente foi a profusão de notícias sopradas para os jornais e televisões de pequenos factos, que denotavam a insuficiente rapidez com que ia evoluindo a correção da herança deixada pelos ocupantes anteriores, e empolados para parecerem de gravidade muito acima da que mereceriam.
Ao dar com a notícia da Operação Stop de Valongo na manhã de ontem voltei à inquietação formulada em novembro de 2015: logo dois dias depois de uma grande vitória do PS nas eleições europeias alguém da Autoridade Tributária decidira uma ação, que sabia capaz de gerar um enorme sururu público. Fez, pois, todo o sentido que António Mendes, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, prontamente reagisse para pôr cobro ao escândalo e logo anunciasse exemplar investigação para definir quem decidira uma intervenção em nome do Estado, sem que houvesse qualquer orientação da tutela para a executar. Um vírus, quando se torna particularmente lesivo, tem de levar com a pronta ação dos antibióticos e este é caso em que eles plenamente se justificam. Não só para punir exemplarmente quem avançou para tal iniciativa, mas, sobretudo, para que, quem seja tentado a imitá-lo, saiba com o que possa contar.
Uma vez mais o governo dá provas de se dar ao respeito junto de quem tudo faz para pôr em causa a sua legitimidade!

terça-feira, 28 de maio de 2019

O estertor das direitas ( e não sou eu a dizê-lo!)


Sim! Eu sei que não devemos sobrevalorizar a angústia por que passam as direitas nestes dias subsequentes a terem conseguido menos de 30% nas europeias (ou pouco acima disso se contarmos com o Aliança e o Basta). Eu sei que seria péssimo ver as esquerdas porem-se à sombra da bananeira e imitarem João Soares que, há dezassete anos, confiou na obra feita para ser reeleito presidente da Câmara de Lisboa e viu-se dela imerecidamente desapossado. Mas, por estes dias, é inevitável o contentamento de abrir as páginas do «Público» e dar com o título «PSD e CDS assustados com cenários das legislativas. Que algumas páginas adiante o seu diretor, Manuel Carvalho, confesse-se triste com o que designa como «estertor da direita», por ele considerado «mau para o país». Ou que João Miguel Tavares olhe para Rui Rio e lhe dê a extrema-unção: “Rui Rio tem neste momento um dos piores empregos de Portugal e a sua caminhada até outubro vai assemelhar-se à do condenado à morte em direção ao patíbulo. Ele é um dead man walking”.
A verdade é que, por esta altura, os titereiros de Rio, de Cristas, de Santana Lopes e de Ventura andarão a cogitar como puderam enganar-se tão significativamente nos últimos anos, não lhes bastando terem pelo seu lado todos os principais órgãos de manipulação (des) informativa em Portugal a matraquearem quotidianamente todas as supostas malfeitorias feitas por António Costa e os seus aliados parlamentares  contra os eleitores. Estes acabaram por se revelar mais sagazes do que julgariam e andam a separar eficazmente o trigo do joio. Ficam difíceis estes tempos para as direitas nacionais e, antes de retomarmos a luta, dá satisfação vê-las atormentadas nos seus intrincados labirintos.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Uma merecida vitória!


Foi bem merecida a vitória do Partido Socialista nas eleições europeias. Quando Rui Rio afirma a disposição de aprender as lições desta derrota para que possa mudar a forma de fazer chegar a sua mensagem política aos eleitores esquece-se do óbvio: se Rangel optara pela odiosa estratégia de tudo maldizer do PS, de António Costa ou de  Pedro Marques, fazendo-o atrelar-se a essa indecente maneira de fazer política, foi por lhe faltarem ideias concretas capazes de convencerem os portugueses de quão boas lhes seriam no futuro e, sobretudo, por não contar no curriculum, com quanto desse substância a tais possibilidades. Porque se António Costa e Pedro Marques estão ligados a um governo, que aumentou o salário mínimo e o volume de emprego, mantendo contas certas, e a algo de tão concreto como são os passes sociais, nenhum eleitor consegue divisar em Rio ou em Rangel o mínimo feito que tenha contribuído para lhes melhorar a qualidade de vida.
Adivinha-se, pois, difícil a tarefa com que Rui Rio se comprometeu no discurso de derrota. Até outubro não será fácil fazer-se encontrado com os argumentos, que lhe pudessem dar sucesso. Muito provavelmente o dispositivo de combate aos fogos florestais vai funcionar na perfeição durante o verão por muito que o incendiário Marta Soares faça todos os possíveis por o sabotar e ocorrerão fluxos contínuos de notícias como as desta semana, que dão a dívida portuguesa a juros historicamente baixos nos mercados, com as agências de notação a corresponderem com classificações mais elevadas.
Que pode Rio fazer senão tirar medidas no alfaiate para o fato a envergar no seu anunciado funeral político?
Aos socialistas cabe não se deixarem deslumbrar com este triunfo, prosseguindo com a boa governação e com a divulgação dos seus efeitos junto dos eleitores, sempre tendo em conta que os meios de desinformação detidos pelos seus inimigos políticos tudo farão para a denegrir. É que esses jornais, rádios e televisões tudo fazem para transformar os eleitores em frustrados consumidores, sempre a exigirem mais do que podem as finanças do país, quando importaria vê-los consolidados enquanto cidadãos conscientes dos desafios do futuro e como a eles se devem responder com responsabilidade dando sempre os passos à medida do que podem as pernas. É que o caminho faz-se andando e ainda muito haverá que palmilhar até chegar onde se almeja: a uma sociedade mais justa em que o homem deixe de ser o lobo do homem!

sábado, 25 de maio de 2019

A única solução para vencer os populismos


Pedro Nuno Santos disse-o no comício de Aveiro durante a semana: de que vale andarmo-nos a carpir quanto ao crescimento eleitoral das extremas-direitas se não enfrentarmos com determinação as causas, que levam o operariado e os trabalhadores menos especializados a abandonarem as antigas simpatias socialistas e comunistas para se porem de braço dado com quem deveriam considerar como seus prioritários inimigos?
Está a custar demasiado tempo a correção dos danos causados às esquerdas europeias pelas ilusões blairistas em torno da Terceira Via. Não vale a pena olhar para os iludidos votantes do campo contrário como «deploráveis» - usando a fórmula encontrada por Hillary Clinton! - se nada se fizer para os fazer mudar de lado da barricada. Macron só veio confirmar tardiamente o já aprendido com outros antecessores: se só se fala para as classes médias, alheando-se da existência de todos os outros, o resultado fica à vista sob a forma de coletes amarelos e outros movimentos inorgânicos, rapidamente cooptados pelos populistas.
Está na altura de os militantes das esquerdas empenharem esforços consequentes a ouvirem as aspirações dos que se sentem abandonados pelos governos e não conseguem divisar futuro animador para os filhos e netos. Só voltando a sentirem-se respeitados enquanto cidadãos poderão abrir-se aos argumentos dos que melhor saberão contagia-los para uma Visão de que se sintam participantes. 

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Os papões, que o não são!


Alturas há em que se justifica ser pessimista. Stefan Zweig ou Virginia Woolf, por exemplo, levaram esse estado de alma até ao suicídio, quando julgaram fatal a expansão nazi a todo o mundo ocidental. Walter Benjamin deixou-se morrer no mesmo desespero junto à fronteira espanhola. Mas, quando se acicatam as feras de extrema-direita, fazendo-lhes crer que estão numa dinâmica irreversivelmente vencedora, os media fazem um péssimo serviço à Democracia, porque são evidentes os sinais em sentido contrário. Ou quando empolam a importância dum «marketeiro» vindo de além-Atlântico, a quem Trump correu da Casa Branca por se julgar titereiro de tal bufão, e se viu desempregado, ansioso por encontrar quem lhe financie a ambição egocêntrica. Bannon ainda não entendeu, que os farsantes, seja em Washington, em Roma ou em Budapeste, nunca gostam de partilhar o palco com ninguém, muito menos com quem, se acoitando na sombra, julga assim aparentar uma importância, que não tem.
Os media, porém, empolam as possíveis «vitórias» de Farage em Inglaterra e de Marine Le Pen em França, omitindo que, num caso não chegará a um terço dos votos expressos, e no outro nem sequer a um quarto aspirará. Por que dar importância a quem conjugará contra si o desfavor maioritário de quem vota?
Há, igualmente, o caso holandês. Dava-se a extrema-direita como séria candidata à vitória e, afinal são os trabalhistas a vencerem, renascendo das cinzas a que o tenebroso Dijsselbloem quase os reduziu, antes de deles se demitir pela porta pequena. Quem imaginava que, depois de Portugal, da Grécia e da Suécia, também a Espanha e a Holanda se viessem a consolidar como eixos do ressurgimento das esquerdas europeias?
E mesmo em Itália, onde Salvini também vencerá com um terço dos votos expressos, haverá que contar com a recriação do Partido Democrático, afundado nos anos recentes a indigente percurso, mas a reaparecer como esperança para milhões de italianos confrontados com a incapacidade do atual governo em resolver-lhes o abismo entre as aspirações e a realidade cinzenta em que vivem.
Não admira que as direitas em Portugal estejam tão nervosas, que Nuno Melo implore aos seus fiéis para irem votar alegando a certa grande participação do que designa por «outros». Ou que Paulo Rangel invoque todos os argumentos, inimagináveis de tão torpes, para iludir o destino traçado no domingo. Rui Rio, ciente do desastre prenunciado por sucessivas sondagens, já vai avisando os putativos concorrentes para a sua intenção em não se demitir.
Quer a partir de segunda-feira, quer depois de findo o ciclo eleitoral em outubro, as esquerdas só têm de ser sensatas e inteligentes. O que as possa unir é muito mais importante do que quanto as faça divergir. E, como António Costa lembrou, no jantar-comício de ontem em Setúbal, é muito mais determinante para os portugueses, o fazer do que em seu alegado nome protestar...