domingo, 22 de maio de 2011

Um ditado anglo-saxónico

Há muito que defendo a necessidade de se remunerarem devidamente os políticos do nosso regime como forma de atrair a essa nobre actividade cívica os melhores de entre os melhores, em vez de contar com quem não encontra melhores condições de futuro na actividade privada. E, no entanto, continuo a receber mails de quem alinha nas campanhas demagógicas contra os políticos olhando para as respectivas folhas de ordenados em vez de se darem ao trabalho de conjecturarem porque é que eles não serão tão bons quanto parecem exigir.
Sem esquecer que esses paladinos da ética política são os primeiros a darem o exemplo da completa abstinência de acção ao nunca arriscarem a mínima militância num qualquer dos partidos com que se identifiquem.
Hoje em dia, técnicos respeitados que olhem para o caso de Teixeira dos Santos, que prescindiu de carreira muito mais confortável e melhor remunerada para cumprir um verdadeiro serviço cívico ao país e acabou enxovalhados por um coro de medíocres, olharão com crescente desconfiança para a possibilidade de virem a comprometerem-se com as tarefas da governação.
É por isso que, a quem é cúmplice dessas campanhas populistas, convirá recordar um elucidativo ditado anglo-saxónico: quando se paga com amendoins, o que se consegue é contratar macacos.
Será isso o que queremos para o nosso país?

Uma oportunidade perdida...

É claro que teria gostado muito mais de uma clara vitória de José Sócrates no debate de ontem com Passos Coelho.
Nas últimas semanas a aproximação do PS ao PSD nas sondagens vinha a verificar-se a tal ritmo, que bastaria um grão de asa como o seria um sucesso evidente nesta ocasião para a tendência se tornar ainda mais contundente.
Depois de se ter verificado o empate, que dá aos apoiantes de Passos a sensação de vitória, ainda estou longe de hipotecar a esperança numa vitória eleitoral, que evite a deriva ultraliberal prometida por esta direcção laranja. Mas, confesso ter ficado algo esmorecido na convicção com que andava a bradar aos quatro ventos a vitória garantida de José Sócrates.
E, no entanto, muito embora, o seu opositor tenha estado muito melhor do que até aí se tinha verificado nos demais debates, José Sócrates só se poderá culpar a si próprio, porque foi muito mais o animal feroz do que o calmo e sibilino arguente, que deveria te sido.
Um bom exemplo do comportamento, que deveria ter sido o seu, foi demonstrado pelo admirável Augusto Santos Silva no programa «Expresso da Meia-Noite» quando, com um domínio imperturbável da sua expressão, estraçalhou a argumentação oposta proveniente de Miguel Macedo e de Carlos Moedas.
Estivesse estado Sócrates a esse nível e a história das próximas eleições teria começado a ser ditada a seu favor a partir de agora,  Assim, terá de manter um enorme esforço de persuasão nestes quinze dias, que faltam para que muito do nosso futuro fique definido...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O PSD ofende quem se esforçou a certificar competências!

Será justa a crítica de Pedro Passos Coelho ao Programa das Novas Oportunidades através do qual tantos portugueses têm reencontrado o caminho da aquisição de novos conhecimentos?
Não o é, e como muito bem realçou o Partido Socialista, o que o PSD fez foi insultar milhares de portugueses, que viram nesse programa a possibilidade de ganharem auto-estima e sentirem capacidades para poderem ir mais longe.
Ao condenar um modelo, que o estudo da Universidade Católica, dirigido por Roberto Carneiro, elogiou, o PSD está, afinal, a confirmar a forma como vê a sociedade: existem as elites dotadas de todos os direitos e benefícios, e depois há que marginalizar a enorme massa de pessoas, que não puderam ou não quiseram estudar e se viram condenadas a percursos sociais bastante desfavorecidos.
O que o programa das Novas Oportunidades veio abrir foi a possibilidade destes últimos reagirem a um determinismo, que os cinge à mediocridade das possibilidades de realização pessoal e profissional, que se lhes abrem.
Quantos aproveitaram para certificar as suas indesmentíveis competências e decidiram, a seguir, partir para objectivos ainda mais ambiciosos?
Uma vez mais, Passos Coelho dá um tiro no pé. Porque é apanágio dos que ascendem socialmente adoptarem perspectivas políticas conservadoras. Ao estigmatizá-los, Passos está a perdê-los para o seu lado da trincheira.

domingo, 15 de maio de 2011

DEMAGOGIAS E BANHOS DE MULTIDÃO

A crónica de Miguel de Sousa Tavares desta semana volta a ser elucidativa em relação a muito do que se vai passando a nível político. Entre as suas considerações recorda que governos anteriores aos de Sócrates também contribuíram para o défice a que chegámos,  apontando para os casos concretos de dois acérrimos opositores do primeiro-ministro: Pina Moura, por exemplo, «ofereceu» aos contribuintes o Autódromo do Estoril. E Manuela Ferreira Leite inventou os 3% de défice criativo, vendendo a um banco e à consignação créditos fiscais do Estado, integrando como receita os fundos de pensões dos CTT de que se apropriou, vendendo ao desbarato à Brisa trinta anos de portagens da CREL, antecipando receitas do ano seguinte e protelando despesas, além de cultivar também a tão criticada desorçamentação (cuja proibição, agora, imposta por Bruxelas, serviu para o PSD acusar o Governo de ter deixado o défice de 2010 em 9,1 e não nos anunciados 6,8%).
Provavelmente, porque não se deixam enganar pela demagogia da oposição, o eleitorado reflecte nas sondagens um apoio progressivamente crescente ao Partido Socialista, como se confirmam nos banhos de multidão por que passou José Sócrates neste fim-de-semana em que viajou pelo norte do país.
O que deverá estar a enervar bastante os estrategas do PSD.

CONTRARIADOS, MAS CONSCIENTES...

Apesar de sermos obrigados a tolerá-lo, se não mesmo a sofrer-lhe as consequências, o programa da troika presidida pela Comissão Europeia merece uma veemente rejeição por parte dos portugueses. Porque, até ver, nunca a sua vontade de eleitores coincidiu com a cartilha neoliberal, que está subjacente a todas as medidas preconizadas.
Não admira assim, que José Sócrates tenha sido obrigado a enveredar pela solicitação do apoio financeiro em causa, enquanto a Oposição de direita não podia mostrar maior regozijo com esse súbito factor de inversão da ordem política criada com a Revolução de Abril.
Embora o capitalismo não esteja a apresentar melhores soluções do que as existentes anteriormente com o comunismo, os técnicos do FMI, do BCE e da Comissão Europeia vêem em toda a participação estatal na economia uma ingerência inaceitável e ordenam respeitar a regra do mercado absoluto e incontestado.
Por isso mesmo, se eles dizem mata, os ultra-liberais comandados por um imaturo Passos Coelho logo propõem ir naus além, acertando contas revanchistas com quem constituiu uma perigosa ameaça aos interesses de quem ele se propõe representar: a alta burguesia...
Que importa se algumas das actividades estatais têm um valor estratégico para a população no seu todo como o é a gestão dos recursos hídricos? Como contém potencialidades de lucro para os oligarcas, que deles se apoderarem, dá-se como desejável a marginalização do Estado, que deverá ser reduzido à mínima expressão.
E o mesmo com a actividade bancária: não é a CGD um negócio demasiado apetitoso para os particulares para persistir no domínio público? Privatize-se-a então, mesmo que fiquem potencialmente em risco a capacidade reguladora do Estado, essencial numa época de crise financeira como ainda é realidade.

A ESQUERDA À PROCURA DO SEU DISCURSO

Em boa verdade, pertenço àquele núcleo de simpatizantes da esquerda, que deseja a confirmação ideológica da falência do capitalismo, mas teme as consequências dessa demonstração.
Não tenho quaisquer dúvidas que se a fase actual de degenerescência do sistema já engendra dramas terríveis, traduzidos no desemprego, nas grandes migrações de fluxos humanos e no crescimento de uma xenofobia protagonizada por forças políticas de extrema-direita, a sua definitiva superação basear-se-á em revoluções violentas aonde os mais fracos tenderão a protagonizar involuntariamente o papel de vítimas indefesas. E, já entrando aceleradamente na terceira idade, essa será doravante uma das minhas incontornáveis realidades.
De qualquer forma, mesmo vendo esse comentário com tais cautelas, não posso deixar de achar bastante imaginativa a metáfora ontem emitida pelo Daniel Oliveira, quando comentava na SIC o debate entre José Sócrates e Paulo Portas: as soluções para a crise impostas pela troika do FMI/BCE/CE equivalerão ao tipo de situação, que se colocaria ao comandante de um avião em queda de altura e que, para aliviar o peso, deitaria fora os pára-quedas.
E, de facto, se a economia deveria ser gerida de acordo com a obrigatoriedade de gerar condições de felicidade (ou seja, de consumo) para a maioria das pessoas de uma sociedade, o que as receitas actuais do capital fazem é estreitar ao máximo o número dos que podem aceder aos bens essenciais, deixando os restantes submetidos a um quotidiano de privações e de frustrações, que os tornarão sensíveis aos discursos demagógicos dos populistas com que contam então os seus exploradores, para impedirem o crescimento dos focos de contestação.
O que mais deveria importar à esquerda nesta altura seria a forma de conseguir desviar essa atracção perversa dos desvalidos pelos populistas, que nada lhes dão, e os fizessem militar numa mudança positiva para a maioria deles...

Será que o PSD quer mesmo ganhar as eleições?

Eduardo Catroga, que se responsabilizou pelo programa económico do PSD, foi mandado para férias depois de uma semana de atitudes lamentáveis, que justificaram a crítica justa doutro Eduardo (Ferro Rodrigues):  Neste PSD sobram os ataques pessoais e falta clareza de ideias!
Para além do lamentável episódio dos pentelhos, Catroga revelou-se assaz inconveniente, quando estabeleceu para o primeiro-ministro e para o povo português, que nele tem votado, comparações inaceitáveis. Comenta Fernanda Câncio a tal respeito no «Diário de Notícias»: o indivíduo Catroga não se limitou à sordidez de comparar Sócratesa Hitler; insultou de igual modo a democracia e os portugueses, o que lhe deveria valer reacções indignadas de todos os quadrantes. Mas não: a menos de um mês das eleições, parece aceitável a todos os adversários do PS sugerir-se que a maioria que elegeu o governo em funções é uma cambada com simpatias nazis e que a democracia portuguesa é outra palhaçada.
Não admira assim o teor da notícia de hoje no mesmo jornal: Direcção do PSD respira de alívio por o coordenador do programa eleitoral do partido ter ido de férias.
E conclui Nuno Saraiva: Eduardo Catroga tem 69 anos e muitos cabelos brancos. (…) Mas isso, era o que faltava, não pode servir de caução para que diga todos os impropérios e produza os mais variados insultos que lhe vierem à cabeça só porque lhe apetece. Ou, como é moda dizer-se, porque é politicamente incorrecto e é um livre pensador.
De episódio em episódio o PSD vai descendo nas sondagens e vê cada vez mais afastada a possibilidade de voltar ao poder ao fim de tão ansiosa espera. É que o tal pote, que julgava cheio, está tão vazio, que tantos erros sucessivos dão que pensar: será que os seus estrategas eleitorais são só incompetentes ou receberam a incumbência de convencer os eleitores a votarem novamente em Sócrates enquanto as finanças não se reequilibrarem?
Questão que fica por responder...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

And the winner was... José Sócrates

De todos os debates previstos para estas legislativas, o confronto com Paulo Portas adivinhava-se que viesse a ser o mais difícil para José Sócrates. É que se há políticos hábeis na forma como criam sound bytes e manipulam factos, o líder do CDS-PP é um deles.
Afinal, a montanha pariu um rato: Sócrates derrubou completamente o discurso do adversário, primeiro pela sua postura (olhando-o olhos nos olhos e, no final, dirigindo-se directamente para as câmaras, quando se tratou de passar uma mensagem final para os espectadores), e depois por aquele momento emblemático em que mostra uma pasta completamente vazia a simbolizar o programa político do adversário. Esse vazio de propostas incomodou seriamente Paulo Portas, que não disfarçou o agastamento ao fugir continuamente ao olhar do antagonista.
O que ressaltou deste frente-a-frente foi o traquejo inigualável do primeiro-ministro face a quem continua sem conseguir explicar porque provocou a crise política ao rejeitar um PEC ulteriormente aceite face à troika.
E, paralelamente, todas as sondagens vão demonstrando o que já se adivinhava: á medida que se aproxima a data das eleições, o PS vai subindo e o PSD descendo.
O que torna muito provável a possibilidade de, depois de já ter conhecido seis presidentes laranjas, José Sócrates não esteja muito longe de ser apresentado ao seguinte!