sábado, 20 de novembro de 2010

Aonde fica o nosso Palácio de Inverno?

Há muita gente, que hoje se dedica nos cafés, nos fóruns televisivos ou nos mails da net a vituperar o governo de José Sócrates. Como se fosse ele o principal responsável de uma crise, que teve origem em bancos norte-americanos e na lógica capitalista da maioria dos governos mundiais.
Erram de alvo, claro está! E deveriam olhar com outra sagacidade para a realidade presente e para os sinais por ela transmitidos. Por exemplo sobre a ganância dos capitalistas nacionais, que estão completamente alheados de uma distribuição mais equitativa dos esforços presentes para inflectir a dívida soberana nacional.
Quando se vêem os accionistas da Portugal Telecom, da Portucel ou da Jerónimo Martins a anteciparem o pagamento de dividendos sobre um exercício, que só se concluirá em 31 de Dezembro para não pagarem os impostos devidos, estamos perante um verdadeiro escândalo, que justificaria forte reacção dos que mais são chamados a colaborar naquele esforço nacional.
Afinal, o Palácio de Inverno foi invadido por razões bem menos escandalosas…
Que a razão esclareça as confusas mentes, por ora dispostas a culpar quem afinal menos tem contribuído para agudizar as presentes dificuldades...



Realidades e mudanças

Havendo razões para duvidar da bondade das suas palavras, tendo em conta tratar-se de quem está ferido com as decisões políticas do Governo de José Sócrates, há que reconhecer alguma razão de ser às palavras de Manuel Maria Carrilho, quando ele escreve no «Diário de Notícias»: É imperativo agir, e a única saída de que o PS dispõe é a de um inspirado golpe de asa. De um golpe de asa que, nas actuais circunstâncias, só podia ser o de fazer com sucesso uma dupla operação - a de uma profunda remodelação que fosse acompanhada de um movimento de renovação de ideias, de pessoas e de estratégias, que voltasse a ligar o PS e o Governo com a sociedade civil, mostrando visão, energia e desprendimento. Ou seja, que se mostrasse capaz, não só de durar, mas também de governar - é esta a questão.
Ou também a Jorge Fiel, quando, no mesmo jornal, propõe um verdadeiro banho de realidade:  Brecht estava carregadinho de razão quando escreveu que só quando estamos imbuídos da realidade é que podemos mudá-la.

domingo, 14 de novembro de 2010

Atrás de tempos, tempos vêm...

Os artigos de opinião publicados nos jornais e os comentários televisivos continuam a  seguir a regra do costume: verbera-se a esquerda, quer a «incompetente» do Governo, quer a «irresponsável» do Bloco e do PCP, em proveito do elogio explícito ou implícito às «soluções» da direita: redução do défice mediante o corte austero em tudo quanto cheire a Estado Social.
Que esta «solução», aparentemente avalizada por sondagens, irá conduzir o país à catástrofe, acompanhando uma Europa apostada nas mesmas receitas, não existem grandes dúvidas. Mas a ganância dos banqueiros e demais títeres do capitalismo promete grandes tempestades com os ventos por eles semeados. Os episódios de contestação em França por causa da idade da reforma ou em Inglaterra  devidos aos aumentos abruptos das propinas escolares, são mera antecipação de uma agudização muito séria da luta de classes, expectável ao longo desta década.
Aparentemente forte, o capitalismo não deixa de ser um tigre de papel na conhecida fórmula maoísta. E o que possa vir a seguir não será pior em termos de distribuição de rendimentos do que a situação absurda a que chegámos…
O  efeito de contrabalanço, outrora atribuído à extinta União Soviética, terá de ser ganho pelos movimentos sociais de protesto contra este estado das coisas. E atrás de tempos, tempos vêm...

domingo, 7 de novembro de 2010

WIKILEAKS: UMA FERRAMENTA PROMETEDORA

Ao princípio era um site de hackers mais ou menos dispostos a praticar uma política de transparência de informações recolhidas ilicitamente na net. Mas em Julho deste ano uns bons milhares de documentos secretos do Pentágono relativos à guerra do Afeganistão tornaram o Wikileaks um inimigo de estimação do imperialismo. Ao ponto de o Departamento de Defesa norte-americano  ter proferido ameaças públicas e explícitas quanto à segurança dos seus militantes. Tornando pertinente a questão: tornar-se-ão os jornalistas em alvos militares legítimos?
O que Julian Assange e os seus colaboradores fazem é essencial para denunciar as práticas criminosas do Pentágono nos seus teatros de guerra. Como por exemplo autorizar o assassinato de suspeitos, que eram afinal jornalistas cujas objectivas fotográficas  foram confundidas com metralhadoras a partir do helicóptero que os metralhou.
Por mostrar essas metodologias  de agressões indiscriminadas a inocentes os jornalistas do site vivem numa semi-clandestinidade destinada a protegê-los das ameaças da contra-espionagem  inimiga.  E preparando-se para a guerra psicológica, que já se traduziu numa inacreditável acusação de abuso sexual a Julian Assange por uma suposta namorada de ocasião.
As novas tecnologias estão a possibilitar a continuação da guerra anti-imperialista por meios muito mais eficazes… e prometedores!

sábado, 6 de novembro de 2010

QUEM É O INIMIGO PRINCIPAL?

Andam aí pela net umas anedotas, que por palavras ou por imagens, focalizam no primeiro-ministro a causa de todos os males da nação. E quem aposta na sua defesa passa por mentecapto, corrupto ou ingénuo.
Nada de novo sobre quem têm persistido durante os últimos anos um conjunto de falsidades, de insultos e de meias verdades, que visam desacreditá-lo.
Trata-se de táctica costumeira da direita, seja ela portuguesa, brasileira, norte-americana ou de qualquer outro lugar e de que Sócrates, Lula ou Obama constituem vítimas óbvias.
Deveria, sim, espantar que haja quem contribua para difundir esse tipo de mensagens, quando elas constituem um óbvio tiro no pé quanto aos seus próprios interesses de classe.
Que quem possua a riqueza económica e financeira, a ser preservada tanto quanto possível dos impostos decididos pelo poder político, se aposse de televisões e jornais para conseguir a difusão de um discurso opinativo como o que se vê actualmente nesses meios de (des)informação (todos os comentadores lêem pela mesma cartilha neoliberal!) não espanta.
Os Murdoch, os Belmiros e os Balsemões pagam a papagaios para instilarem a ideia de existir um único caminho para a gestão do país: a consolidação de uma ordem económica baseada na existência de uma ínfima minoria de detentores de capital, de uma maioria de gente a viver do seu cada vez mais desvalorizado e precário salário e uma outra minoria de pressão, constituída pelos desempregados, disposta a vender o seu esforço potencial por valores remuneratórios cada vez mais baixos.
O que está em causa é a agudização da exploração do trabalho pelo capital, e se o Partido Socialista pode, em determinada altura, ter servido os interesses dessa classe exploradora contendo as tentações revolucionárias de uma fatia significativa de portugueses, está em vias de ser marginalizado para dar espaço aos que, lestamente, querem reduzir o papel do Estado, única via de redução de impostos para quem já deles quer fugir como o diabo da cruz.
Sócrates e o Partido Socialista vivem o dilema existencial de decidirem o que fazer agora. Ou atirar a toalha ao chão e deixar o campo de batalha para o combate desigual entre as bem armadas forças políticas de direita e as fragilizadas forças da esquerda ou participar na decisiva batalha pela defesa efectiva do Estado Social, ou seja da garantia universal de direitos essenciais (pão, saúde, educação, em primeiro lugar) para todos.
Quem insiste em fazer de Sócrates e do Partido Socialista o inimigo principal, e se não pertence a essa classe social de grandes empresários e proprietários, só serve de idiota útil a essa gente. Porque, mais tarde ou mais cedo, continuará a pagar os mesmos ou mais impostos enquanto vê deles isentos quem mais tem. Aquilo que se recrimina hoje na Banca será expandido para os demais sectores empresariais. Como já sucede nos Estados Unidos, aonde a derrota de Obama nesta semana tem tudo a ver com esta guerra polarizada nos discursos políticos difundidos pelos meios de comunicação.
O que deveria preocupar os disseminadores dessas anedotas e mensagens politicamente orientadas para a tentativa de ganhar votos para a direita, é a falta de ideias concretas de melhoria da vida de todos os portugueses por Passos, Portas & Cª.
Que nos digam uma, apenas uma, proposta capaz de se traduzir em melhorias de qualidade de vida dessa maioria actualmente desesperada com cada vez mais mês ao fim do ordenado.
Se forem honestos consigo mesmos sabem que não conseguem nenhuma. Poderão arranjar mil motivos para dizer mal de Sócrates, mas serão incapazes de dizer uma única boa razão para justificar a capacidade da direita para fazer melhor.
Por isso mesmo, sabendo que a solução Passos seria bem pior do que a solução Sócrates para o futuro imediato dos cidadãos, Francisco Louçã anuncia no «Diário de Notícias» de ontem uma decisão, que terá feito refrear os entusiasmos de quem já se imagina sentado em cadeiras ministeriais daqui a seis meses: uma votação de censura não passará com o acordo do Bloco de Esquerda. Porque, como aí afirma, o Governo de José Sócrates está agora a reduzir os salários e a atacar os apoios sociais. Passos Coelho quer fazer isso, está a fazer isso, e quer fazer mais: quer vender uma parte do SNS e uma boa parte da Segurança Social.
Que os ventos de mudança venham de dentro ou de fora (quanto tempo se aguentarão Merckel, Cameron, Sarkozy ou Berlusconi à frente dos respectivos países?), a solução passará sempre por mais justiça social, por mais equidade na distribuição da riqueza e por apostas no crescimento económico na base de novas tecnologias.
Sócrates está a tentar fazê-lo, Passos promete ir na direcção contrária...