domingo, 27 de março de 2011

Para pior já basta assim...

Era só o que faltava!
Foi essa a expressão emitida por José Sócrates quando, em entrevista televisiva antes da sua demissão, o questionavam sobre o voltar ou não a candidatar-se nas próximas eleições.
A expressão também tem cabimento, quando se ouvem tantos comentadores a lamentarem a impossibilidade de haver uma solução mais alargada de consenso político com o mesmo líder do Partido Socialista. Quase formulando a vontade de o verem substituído por Francisco Assis, ou sobretudo por António José Seguro.
Esquecem que, quem manda no Partido Socialista são os seus militantes, que o acabam de consagrar uma vez mais como secretário-geral com uma votação acima dos 93%. E que em momentos de grande exigência como serão os que se viverão nas próximas duas semanas, Sócrates galvaniza-se e vai além do que dele se costuma esperar.
Por isso mesmo, apesar de sondagens irem dando previsões de maiorias absolutas à direita, ainda muitas vicissitudes tenderão a moderar-lhe os entusiasmos. Sobretudo, porque basta Passos Coelho abrir a boca e enunciar algumas das suas ideias para muitos eleitores pensarem que, para pior, já basta assim...

quarta-feira, 23 de março de 2011

E o país vai a jogo!

Pois caiu mesmo! À hora de abertura dos telejornais da noite o Parlamento decidiu derrubar o governo de José Sócrates e promover as eleições antecipadas.
Qui-lo a direita, que viu na reeleição de Cavaco Silva a possibilidade de alcançar o que nunca conseguiu até agora desde 1974 (uma maioria, um presidente).
Qui-lo a esquerda, que continua a apostar na tese de «quanto pior, melhor».
Mas quem julga que o Partido Socialista sai beliscado desta situação é capaz de vir a sofrer em breve uma surpresa. As palavras determinadas de Francisco Assis prometem-no e os sonhos dos comentadores políticos (uma coligação pré-eleitoral da direita ) a par das suas decepções (desejariam que os socialistas se dividissem nesta altura e se dissociassem de José Sócrates!), conjugam-se para que uma campanha ao melhor estilo do ainda primeiro-ministro redunde num resultado  previsível: ainda que sem maioria, seja ele a ser convidado pelo contrariado Cavaco a formar novo Governo pós-eleições.
Porque as suas capacidades em campanha são muito superiores às dos adversários e não se adivinham competências em Passos Coelhos muito diferentes das de Manuela Ferreira Leite, que acabou por ele derrotada nas eleições anteriores.
E, sobretudo, porque ninguém lhe pode tolher o argumento de, perante uma crise tão grave a nível internacional, quem não quis a estabilidade política e a pequena janela de oportunidade, que evitaria a vinda do FMI, foi a oposição.
Seja no ambiente de trabalho, seja no ginásio, vou sendo surpreendido com conversas, que apontam nesse sentido: depois de sucessivas sondagens a projectarem o PSD para o limiar da maioria absoluta, as que forem efectuadas a partir de hoje poderão apresentar resultados completamente diferentes. Até porque as intervenções de Passos Coelho lembram uma velha canção de 1972: «Parole! Parole!». Ou seja um completo vazio de ideias, uma completa ausência de propostas concretas, que elucidem sobre o que se propõe fazer como alternativa.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Que país é este?

Dia-a-dia sentimos o país a mergulhar em caminhos tão complicados, que chegamos a duvidar a capacidade de escaparmos às enormes dificuldades previstas pelos mais pessimistas.
Abundam as manifestações inconsequentes de descontentamento sem se destacar ninguém em especial a propor estratégias por onde a maioria singre sob a promessa de melhor futuro.
Até porque se esquecem quase sempre as identidades de quem está a atravessar esta época sem quaisquer dificuldades e, inclusivamente com ganhos na sua riqueza acumulada. Facto ignorado pelos desnorteados participantes em fóruns radiofónicos e televisivos, meros papagaios de teorias só transformadas em verdades absolutas porque repetidas milhentas vezes pelos principais interessados em confundir quem mais precisaria de ganhar alguma lucidez.
Por isso não deixa de ser interessante voltar a um texto já com algumas semanas e publicado no «Expresso» por Nicolau Santos: Para os portugueses o passado é sempre melhor do que o presente. Mas o presente é muito melhor do que o futuro. Manifestamente não valorizamos o que temos nem o que alcançámos nos últimos quarenta anos. Depois, somos fartos a culpar os governos por tudo o que de mau acontece, mas achamos que deve ser o Estado a resolver os problemas. Além disso, somos egoístas e estamos acomodados. Mas achamos que somos muito melhores do que todos os outros nossos concidadãos.
Que país é este? E que prova melhor de que precisamos de revolucionar mentalidades se queremos sobreviver no futuro?
Precisamos, de facto, de revolucionar as consciências de quem nos rodeia e tarda em acordar para o que é verdadeiramente essencial...

sábado, 12 de março de 2011

Mediocridade perigosa

Em dia de manifestação da chamada Geração Rasca fica evidente a falta de pontaria ideológica desses jovens cujos cursos não garantiram empregos, que não os precários e mal remunerados. É que virando as suas críticas contra o Governo em particular, e a classe política em geral, eles esquecem uma evidência demonstrada ainda durante a semana em curso: durante o ano transacto, os mais ricos de Portugal enriqueceram superlativamente, exactamente na mesma dimensão em que a maioria empobreceu. Replicando, aliás, o que sucedeu um pouco por todo o lado.
E, no entanto, as críticas de Soares dos Santos ou de Belmiro de Azevedo ao actual estado das coisas são levadas a sério, quando afinal são eles os maiores beneficiários do crime social actualmente em curso em todo o mundo capitalista.
Quando é que veremos esse protesto canalizado verdadeiramente contra a cupidez desses milionários, que enriquecem graças aos salários de miséria pagos a trabalhadores sem quaisquer direitos?
Por agora há que reconhecer a justeza da análise de Baptista Bastos, quando relaciona os perigos iminentes de explosões sociais com a curteza de vistas dos actuais contestatários: a mediocridade puxa à mediocridade, e como a mediocridade já por aí assentou fundos arrais, a coisa está cada vez mais perigosa.
Noutro registo e no mesmo órgão de informação (Jornal de Negócios de 11/3/2011), Fernando Sobral anuncia uma extinção anunciada: a classe média que cresceu após a entrada na União Europeia está agora a provar o sabor da dívida, a que foi motivada pelo capitalismo popular e pela compra de casas que pensava irem valorizar-se até ao céu. Hoje não há dinheiro para pagar o crédito do passado e o Estado deixou de ser a segurança do futuro. A classe média está perdida e os seus filhos sem futuro. Há assim uma bomba relógio à espera de rebentar, mesmo que a classe política e, nalguns casos, empresarial, não perceba isso.
É verdade que o pessimismo de Sobral chega a exasperar como se não sobrasse margem para a esperança de novos amanhãs, que cantem. Para Bastos e para este escriba, a condição ideológica faz perdurar a velha máxima segundo a qual atrás de tempos, tempos vêm… E, no fim de todo este sofrimento acabará por vingar essa luminosa janela...

domingo, 6 de março de 2011

Festival da Canção 2011 - Homens da Luta - Luta é alegria

Um festival com um resultado surpreendente

Embora não simpatize nada com o projecto em si, acaba por ser significativa a vitória dos «Homens da Luta» no Festival da Canção. Porque  o júri convidado pusera-os no último lugar, mas o voto do público atirou-os de cabeça para o primeiro. E não esqueçamos que estamos perante um projecto tão rebelde quanto o seria a vitória de Zé Mário Branco no primeiro festival pós-25 de Abril se ele tivesse ganho ao Duarte Mendes.
Crescem os sinais de que  os cidadãos nacionais estão fartos deste estado de coisas. E que não vêem alternativa exclusivamente à direita do Governo de José Sócrates: o potencial de revolta contra patrões nacionais ou banqueiros internacionais está a crescer. E anunciam-se grandes tempestades não necessariamente direccionadas apenas para os que habitualmente lhes sofrem os efeitos...

Um Rio à espreita

Anteontem a editorialista do jornal «i», Ana Sá Lopes, levantava uma questão interessante relacionada com o maior país da oposição e que tem origem no salazarismo:
A nostalgia da ditadura é um monstro difuso na sociedade portuguesa e atravessa todos os estratos sociais. O que é evidente na chamada "conversa de taxista" - aquele invariável "o que fazia falta era outro Salazar" que quase todos nós já ouvimos mais de 25 vezes - surge em formas mais refinadas, mas não menos obscenas, nos discursos das elites.
O incrível apego nacional ao mantra "isto está cada vez pior" torna quase óbvio que o período "melhor" fosse a ditadura ou, vá lá, os primeiros anos da Revolução, em que não havia nem água nem luz em boa parte do país, para não falar de hospitais decentes nem das estradas do professor Cavaco.
Numa altura em que muitos, à direita, colocam como provável a queda de Sócrates e do Partido Socialista num futuro próximo, cresce a ideia de que Pedro Passos Coelho não passa de um frouxo. E que seria bom contar com uma réplica, tanto quanto possível modernizada, desse modelo salazarento, para «endireitar» o país.
Rui Rio é o nome de que se fala. Até porque tem obra na cidade do Porto: derrotou sucessivos candidatos socialistas e, apesar de tanta gente apostada em contrariá-lo, conseguiu reduzir ao máximo os apoios locais à cultura, que, como dizia um célebre general franquista, só merece ser tratada à pistola assassina.
No seu editorial de ontem no «Público», Vasco Pulido Valente já torturava a mente com essa sanha autofágica da direita, que ameaça servir os interesses do actual primeiro-ministro. Mas que, do alto da Avenida dos Aliados, há um ambicioso, que deseja testar os seus dotes ditatoriais à escala nacional, poucos duvidam.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O mal menor...

No «Diário de Notícias», o escritor Baptista Bastos escreveu um texto de violenta crítica ao Partido Socialista:
O PS (…) sempre foi um estado d'alma, uma comovida exaltação de fatigados republicanos e nostálgicos antifascistas, antes de ser o que nunca foi: um partido de Esquerda, com o desígnio de mudar o País política e socialmente. Aos poucos, degenerou na massa parda do clientelismo, das cumplicidades duvidosas, dos sinuosos acordos de poder. Exactamente porque jamais foi "socialista", o que quer que a palavra signifique hoje.
Como militante do partido, e apesar do apoio que o Governo me merece por estar a fazer o que é possível face às circunstâncias, forçoso é reconhecer a consistência das críticas, que dão muitos dos militantes do Partido como aproveitadores de uma estratégia continuada de corrupção. Personalidades como Armando Vara criam, muito naturalmente, embaraços ao Partido.
Mas, por muito que aparentem justas, muitas das críticas oriundas mais à esquerda, esquecem que um eventual governo PSD/CDS será muito mais gravoso para os mais desvalidos do que o actual. Porque, mesmo com a excessiva margem de manobra dada a uns quantos boys, ainda sobra alguma consciência social a quem dirige o partido. E só se tomam as medidas imprescindíveis para corresponder à crise económica e financeira, porque sem elas tudo se tornaria muito pior, com o esfrangalhar de muitos equilíbrios frágeis de cuja solidez depende o futuro imediato de tanta gente.
Embora muitas vezes excessivo nas suas crónicas contra o Governo, Baptista Bastos tem dado sinais de preferir mil vezes a manutenção do actual governo do que das prometidas medidas da direita. O tempo é de parar um pouco, respirar fundo e esperar que, à nossa volta, as relações de força se alterem e nos permitam voltar a ter alguma margem de manobra para os anos vindouros.