quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Que las hay, las hay...

O que acontecerá no day after às eleições? Ao contrário do que cheguei a acreditar possível, tenho de aceitar a forte probabilidade de a vitória do dia 4 ficar aquém da desejável maioria absoluta socialista.
Infelizmente não somos canadianos. Pelo menos aqueles que, em 1993, vi penalizarem o Partido Progressista Conservador cuja governação fora tão antipopular, que os fez passar 154 deputados para apenas 2. Seria esse o verdadeiro castigo que passos coelho e paulo portas mereciam.
Mas, provavelmente, Kim Campbell - assim se chamava a primeira-ministra então derrotada - não contou com a reconhecida competência da equipa de marketing político, que conseguiu transformar em sucessos os que se julgavam óbvios fracassos da (des)governação da direita nestes quatro anos.
Essa equipa, liderada por brasileiros, criou a sua estratégia depois do verão revogável de portas e podemos caracterizá-la em três eixos principais:
O primeiro foi a exploração até à náusea da “pesada herança socialista”, que teria levado o país até à bancarrota e chamado a troika.
Repetindo incessantemente essa tese conseguiram silenciar o facto de ter existido uma tremenda crise internacional causada pela bolha imobiliária dos EUA (os subprimes), de a Comissão Europeia assumir a prioridade no máximo investimento em grandes obras públicas (explica-se assim a possibilidade de novo aeroporto, TGV e outras autoestradas), até, assustada com o buraco assim criado, ter recuado para gravosas políticas de austeridade. Nenhuma dessas condicionantes seria possível de ser travada pelo governo de José Sócrates.
Mas o lado mais escandaloso desta estratégia passou pela tentativa de passar culpas quanto à autoria do pedido de intervenção da troika. Apostando na possibilidade dos portugueses terem memória curta, os marketeiros da direita, quiseram negar todas as afirmações documentadas de passos e de catroga ou até a aliança tática estabelecida com comunistas e bloquistas para condenarem o PEC IV.
Por muito que tenham algum transitório sucesso na mistificação, a História registará o facto de José Sócrates ter sido até ao último momento um tenaz opositor a tal solução, só a ela sendo obrigado quando sofreu pelas costas a golpada traidora de teixeira dos santos.
O segundo eixo da estratégia eleitoral da direita passou por mascarar os números o mais possível, fazendo com que se chegue a 4 de outubro com um retrato oficial do país, que não é nada condizente com o verificado na realidade.
A cultura de fazer batota, como ainda ontem foi denunciada no caso da ordem de maria luís albuquerque à Parvalorem para disfarçar os prejuízos do BPN, longe de ser caso isolado foi a prática comum aos quatro anos de (des)governação.
O desemprego foi disfarçado até ao limite de começar a revelar-se na sua verdadeira dimensão logo a seguir ao dia 4 de outubro, como se constata com a subida já verificada em agosto. De facto os estágios pagos durante meses a fio com dinheiros europeus, que deveriam ter sido melhor orientados para a criação de empregos sustentáveis, não conseguem disfarçar a incapacidade de a economia efetivamente pouco alavancar para um crescimento digno desse nome. E, se no pico do verão os desempregados já aumentaram para mais 5 mil, como será a realidade de outubro quando a sazonalidade estival obrigar à rescisão com todos os precários entretanto contratados para os trabalhos só viáveis nesse curto período?
Será essa uma das primeiras dificuldades da governação de António Costa como primeiro-ministro: tendo em conta que os cenários macroeconómicos elaborados para dar forma ao programa eleitoral foram criados a partir de números fraudulentamente alterados pela direita, as dificuldades para iniciar a implementação da Agenda para a Década serão ainda maiores  que o previsível.
Quanto à terceira parte da estratégia sei-a polémica, e até conotável com as chamadas teorias da conspiração, mas como dizem os espanhóis das bruxas, “que las hay las hay”. E o sinal mais evidente dessa forte probabilidade está no facto de rosário teixeira impedir os advogados de José Sócrates consultarem o processo do seu cliente antes do dia das eleições, apesar da decisão em contrário do Tribunal da Relação.
O que iriam eles encontrar, que seja tão comprometedor nesta altura? Que o ministério público tem uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma quanto a provas contra o antigo primeiro-ministro?
Será, então, crível que a coligação de interesses entre rosário teixeira (apoiado totalmente por joana marques vidal), carlos alexandre e o pasquim matinal da Cofina tenha tido apenas por móbil a intenção de “fazer justiça” ou “informar os leitores”?
Será coincidência que tudo tenha sido feito para que Sócrates fosse preso um ano antes das eleições e o “segredo de justiça” ter sido ilegitimamente utilizado como ferramenta, que serviria de principal arma eleitoral para as eleições próximas?
É claro que António Costa não podia repetir outra coisa senão a frase politicamente correta de defesa da independência entre poderes políticos e judiciais. Mas o que sucederá se se confirmar a utilização crapulosa da Justiça para facilitar a vitória eleitoral do governo em funções? Terá de haver gente altamente posicionada no ministério público a sentar-se no banco dos réus, fazendo companhia ao juiz que lhes terá servido de cúmplice ativo.
É claro que, para além destas três vertentes de uma estratégia, em parte, bem sucedida, os seus criadores foram ensaiando outras de passagem, consoante iam tendo oportunidade, como foi o caso dos acontecimentos na Grécia. Começaram por ter um medo terrível quanto ao sucesso do Syriza - e por isso mesmo aliaram-se ao governo espanhol para pressionar merkel a ouvir mais schäuble do que o seu parceiro de coligação - e quiseram cavalgar a lógica do “there is no alternative” (a tal TINA de que fala Pacheco Pereira). Até concluírem os riscos de exagerarem na dose como fizeram com o trunfo Sócrates, subitamente desperdiçado pela atrapalhada intervenção de paulo rangel.
Com tanta competência será que a vitória do PáF será tão provável quanto o preveem algumas “sondagens”? Continuo otimista quanto a estarem tão enganadas, que serão um dos temas principais das discussões políticas das próximas semanas: como poderão ter-se desviado tanto dos resultados de 4 outubro?
Mas, sinceramente, mesmo muito sinceramente, estou cheio de pena, que os eleitores portugueses de 2015 não sejam tão esclarecidos quanto o foram os canadianos em 1993.

A realidade para além das aparências

As tracking polls continuam a prever a vitória da direita, que as ações diárias de campanha parecem desmentir. As notícias comprometedoras têm de suscitar efeitos devastadores no PáF, como é o caso do agravamento do índice de desemprego em agosto, um mês tradicionalmente favorável para as contratações sazonais! Que justifica a questão: se é assim em agosto, como será nos próximos meses, quando os precários empregos de verão se extinguem?
Ou também a enésima confirmação da tendência de maria luís para fazer batota com os números do défice de forma a ostentar cenários em nada condizentes com a realidade. Que é preciso mais para demonstrar a mentira como forma de fazer política desta direita sem pinga de vergonha?
Fora os que foram para o estrangeiro e os que se desencorajaram quanto à possibilidade de ainda encontrarem trabalho, há 633 mil desempregados oficiais.
E a mascarada ainda mais se denuncia na cena do telejornal da SIC em que os empregados de mesa do jantar do Pombal se insurgiam contra o facto de serem obrigados a vestir t-shirts de propaganda a um partido em que não iriam sequer votar?
Por essas e por outras, passos coelho confessou a josé gomes ferreira a probabilidade de vir a ser derrotado. Só não disse onde é que um dos seus «amigos para sempre» já lhe reservou emprego com tantas mordomias  quantas as do seu inefável catroga... 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A maré está quase a chegar

Mentira, músculo, maná, medo e mistificação: eis cinco dos seis emes, que António Correia de Campos associou à campanha do PáF até agora.
Com sucesso? Se acreditarmos nas sondagens, parece que sim! Mas a sua fiabilidade vai confrontando-se diariamente com o que se vê nas ruas de norte a sul do país. Uma persistente rejeição da campanha de direita, condenada a cingir-se a espaços fechados e sucessivos banhos de multidão para António Costa.
É crível que a CDU e o Bloco possam ver reforçados os seus grupos parlamentares. Mas não teve Sócrates a maioria absoluta, quando o então partido de Louçã conseguiu o dobro dos deputados, que agora tem? Um ou dois assentos parlamentares a mais estarão longe de equivaler aos oito entretanto perdidos!
O que não joga a bolota com a perdigota é a suposta liderança da direita nas tracking polls, que criam a aparência de disputa apertada de vitória para criar o efeito de imitação nos mais sensíveis à propensão para se colarem aos vencedores. Há sempre uns estarolas, que gostam de festejar e por isso se juntam a quem tende a linchá-los na primeira oportunidade...
Será que tal estratégia, embora hábil, pode resultar? Não acredito até por ver, ouvir e ler testemunhos de quem, mesmo indeciso, tem a convicção de não suportar tanta desgovernação para os próximos quatro anos. E que, por isso mesmo, não faltará ao imperativo do voto no dia 4.
Tratar-se-ia de um singular case study a concretização da hipótese académica de um poder odiado voltar a enganar quem tanto prejudicou. Por isso Correia de Campos acaba a falar da Maré, que logo o varrerá como maremoto.
Daqui a uma semana, já destilados os copos de espumante, estaremos aqui a constatar quão desconcertados se revelarão (ou será que silenciarão o seu despeito?) os apressados profetas da aposta em como as coisas continuariam a ser como eram...

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Mais sete perguntas do operário letrado!

Num artigo do «Público» deste domingo, Paulo Pena reconhece que passos coelho costuma superar-se quando se sente pressionado e foi apressadamente subestimado pelos adversários políticos.  Mas, apesar de ter construído uma narrativa propagandística quase perfeita e , no dizer de Pedro Bidarra, ser um primeiro-ministro gerido por bons peritos em propaganda, ele não pode escapar a algumas comprometedoras perguntas do nosso operário letrado:
1. não foi ele quem, em junho de 2011, se comprometeu em não fazer aumentos de impostos, nem cortar o 13º mês aos funcionários públicos, porque bastaria cortar nas “gorduras” do Estado?
2. Não foi ele quem se comprometeu a nunca invocar os números do Governo anterior, porque os conhecia bem e não iria ser surpreendido por eles?
3. Não foi ele quem, em outubro de 2011, cortou os subsídios de férias e de Natal a todos os funcionários públicos com mais de 1000 euros por mês?
4. Não foi ele quem aguentou no governo o inefável miguel relvas cuja licenciatura num ano se converteu num enorme escândalo? E não foi ele quem o foi recentemente recuperar para dele fazer o número 1 do conselho nacional do PSD?
5. Não quis ele retirar 7% nos salários de quem trabalha para reduzir a mesma percentagem na contribuição dos patrões para a Segurança Social na famigerada TSU, que suscitou a maior manifestação de protesto deste milénio em Lisboa?
6. Não foi ele quem esteve a dever 7430 euros à Segurança Social só pagando uma parte dessa dívida, quando publicamente denunciada?
7. Não foi ele quem esteve envolvido em negócios mais do que suspeitos da Tecnoforma, que não levantou qualquer suspeita em nenhum rosário teixeira ou nalgum carlos alexandre?
Muitas outras questões poderiam ser acrescentadas a estas do operário letrado, mormente as relacionadas com os cortes nas pensões dos reformados ou nas subvenções dos mais desprotegidos. Ou no favorecimento das empresas de saúde e da educação privadas em detrimento das do setor público. Mas elas são tão conhecidas, que só nos podemos questionar como ainda é possível haver um terço de portugueses apostados em conferir-lhes uma segunda oportunidade.
Teremos assim tantos masoquistas dispostos a porem-se de cócoras para as chibatadas que o sadismo desta direita volta a prometer?

domingo, 27 de setembro de 2015

7 + 1 perguntas do operário letrado

De vez em quando retomo uma famosa personagem de Bertolt Brecht - o operário letrado - que, em conhecido poema, fazia perguntas sobre o que via à sua volta.
Eis algumas que me sugerem os acontecimentos dos últimos dias:
1. porque será que a coligação PAF faz arruadas quase clandestinamente e só organiza ações de campanha em salas fechadas?
2. porque será que nas ações de propaganda na rua vêem-se militantes de todos os grandes partidos exceto os da coligação?
3. porque será que, de forma mais ou menos habilidosa todas as televisões andam a depreciar, a campanha socialista e a elogiar as “multidões” que participam nas do PAF?
4. porque será que, subscrevendo Pio de Abreu, se constata uma cobertura televisiva das campanhas da CDU e do BE como nunca se tinha visto?
5. porque será que passos já anda a pedir diálogo para depois das eleições e António Costa aposta, decidido, na maioria absoluta?
6. porque será que familiares próximos de nomes sonantes da coligação PAF apoiam o PS?
7. porque será que a própria comissão europeia veio em socorro de passos coelho “emprestando” credibilidade a resultados financeiros mais do que duvidosos?
E, colateralmente, mas se calhar com muita razão de ser:
8. porque será que o ministério público quer impedir os advogados de José Sócrates de consultarem o processo antes que ocorram as eleições?
As prováveis respostas a todas estas perguntas justificam que continue confiante quanto a estar iminente uma grande alegria daqui a uma semana: a de vermos passos e portas a reconhecerem a maior derrota alguma vez tida pela direita desde o 25 de abril.

sábado, 26 de setembro de 2015

Querer em vez de “confiar”

Dos artigos hoje publicados no «Expresso» realço, como mais significativo, o do insuspeito Pedro Santos Guerreiro, que se debruçou sobre a questão de saber quem, de entre maria luís albuquerque e Mário Centeno, merece maior credibilidade para vir a assumir a pasta das Finanças no próximo Executivo.
Embora não o diga preto no branco, o articulista dá logo no título a resposta para a sua preferência: «Confiar é pior que querer». Porque a atual coligação confia que mantendo as receitas seguidas nestes quatro anos dará satisfação à sua obsessão com o défice das contas públicas: “Sobe-se impostos e o Estado tem mais receita; corta-se salários e pensões e o Estado tem menos despesa. É simples: vive-se pelo défice.”
Pelo contrário Centeno quer mudar de paradigma para contrariar os riscos que o próprio Pedro Santos Guerreiro associa às políticas da direita: “A retoma é lenta e desigual, os salários não crescem, o investimento continua a preferir sectores não transacionáveis, aceitamos o empobrecimento não como circunstância mas como condição.”
Muito embora ainda haja quem na Universidade Católica insista nas receitas neoliberais cujo falhanço vai-se confirmando em todas as latitudes - mesmo esquecendo o preceito de impostos mínimos desde que compensados com a redução máxima dos custos do trabalho  e com a eliminação do Estado de todas as áreas económicas onde ele ainda se faça sentir (da saúde à educação, da Segurança Social aos setores que deveriam ser acautelados por razões de soberania) - a tendência dos anos vindouros tenderá a privilegiar o regresso da lógica neokeynesiana, que sempre tende ciclicamente a vir corrigir os desvarios dos que tentam tornar o capitalismo ainda mais selvagem do que ele já é.
Confiar no PAF significa “propor, impor e aceitar a paragem cardíaca do país. (…) a retoma assenta em exportações, que aumentam importações, e no consumo que está a gastar a poupança dos anos do medo. (…) Estamos a comprar automóveis (importados) como há anos não comprávamos. E o Governo banha-se nos impostos dessas vendas. Ainda ontem soubemos que a cobrança fiscal foi agora a mais alta de todos os agostos. Nunca pagámos tantos impostos nas nossas vidas. Num mês, o Estado cobrou 5600 euros por hora. Não é uma redenção, é um jugo a que nos habituámos”.
O texto de Pedro Santos Guerreiro mostra como muitos economistas e jornalistas especializados em questões económicas estão a olhar para as propostas do PAF e do PS e não têm dúvidas em desqualificar as primeiras em proveito das segundas. Basta, aliás, comparar o anonimato sob que se acobertaram os autores daquelas em comparação com a disponibilidade para se darem a conhecer os envolvidos nas do PS.
Na realidade um economista digno desse nome - o que não é o caso dos camiloslourenços e dos josésgomesferreiras que, armados em curiosos, se julgam doutos na matéria! - nunca poderá avalizar uma política como a que destruiu a economia e não trouxe sinais da prometida prosperidade.
A oito dias de nos libertarmos do que D. Januário Torgal classificou como “tragédia civilizacional”, também preferimos querer mudar do que confiar em amanhãs que cantam com um novo mandato para a receita seguida até aqui. 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Quem dizia que iria ser fácil?

Era sabido desde início que existia uma desproporção enorme entre os recursos financeiros da direita e os do PS para esta campanha eleitoral. António Costa herdou uma liderança com um enorme buraco nas contas do Partido, enquanto passos e portas podem contratar publicitários brasileiros a preços de ouro, que vêm produzindo um trabalho merecedor dos parabéns que Fernanda Câncio dá hoje ao PAF pela sua “extraordinária performance”.
É preciso realmente muita competência para conseguir aquilo que a jornalista do «DN» coloca em jeito de três perguntas: “passava pela cabeça de alguém que quem andou quatro anos a cortar pensões escolhesse colocar o assunto no centro da campanha, acusando o PS de o querer fazer? A quem ocorreria que a dupla que se esmerou a cortar a eito apoios sociais já sujeitos a condição de recursos, como o complemento solidário para idosos, denegrisse medidas inscritas no programa do PS que visam certificar que outras ajudas do Estado vão só para quem delas precisa e portanto o dinheiro dos impostos de todos é bem utilizado? A quem lembraria senão à genial desvergonha de Passos e Portas fazer disto um dos principais motes do seu discurso e do ataque ao PS?”
No «Eixo do Mal», Pedro Marques Lopes já tinha considerado de excelência esta campanha do PAF por estar a resultar muito acima do que seria lícito esperar. Até por contar com a cumplicidade ativa da maioria dos jornalistas, que se limitam a papaguear os argumentos falaciosos, que a propaganda da direita lhes vai servindo num prato de lentilhas. E a habilidade é tal que até luís montenegro conseguiu transformar em sessão de propaganda os minutos em que foi “entrevistado” por Ricardo Araújo Pereira na TVI. O que denuncia, uma vez mais, a qualidade do “media training”  propiciado pelos gurus brasileiros.
Voltemos, porém, ao artigo de Fernanda Câncio para retomar os argumentos, de que não nos podemos esquecer nesta semana em falta até ao dia 4 de outubro: “se o Tribunal Constitucional não tivesse chumbado a medida, todas as pensões acima dos mil euros estavam com corte definitivo desde o início deste ano. E não apenas essas: Passos e Portas quiseram tirar, com efeito a partir de 2014, 10% a todas as pensões da Caixa Geral de Aposentações acima dos 600 euros ilíquidos. Também para sempre. E ainda tentaram reduzir a partir de 2014 as pensões de sobrevivência - ou seja, as que recebem os sobrevivos de um familiar - desde que o beneficiário tivesse uma pensão própria e a soma das duas ultrapassasse dois mil euros ilíquidos. Estes três cortes definitivos de pensões estariam hoje em vigor caso o TC não os tivesse impedido”.
Bastarão as batotas nas sondagens e esta artilharia pesada na propaganda para levar o PAF à vitória? Provavelmente nem os seus responsáveis acreditarão em tal possibilidade. Na realidade contentar-se-ão com privar o PS da maioria absoluta, que o tornem refém da maior ou menor complacência do PCP e do BE para a governabilidade, de forma a, poucos meses depois, voltarem a repisar os valores da estabilidade que só eles “conseguem garantir”.
Há que contar, porém, com a reação do Partido Socialista, que deixou de falar de indicadores macroeconómicos e, em vez disso, trouxe à liça os submarinos ou os amigalhaços do BPN. Ou, sobretudo, o medo assumido por muitos quanto ao desperdício do seu voto em forças políticas incapazes de mudarem o que quer que seja e, por isso mesmo, dispostos a ditarem a derrota da direita no dia 4 de outubro.
António Costa já previra que o combate não iria ser fácil. Os acontecimentos das últimas semanas aí estão a prova-lo. Mas não são as vitórias difíceis as mais saborosas? 

Nem segura nem a atingir profundidade

Uma das quadras mais conhecidas do poeta António Aleixo versa sobre a mentira:
P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Transpondo-a para o que é o discurso político da coligação PAF não vemos como é possível ver o rosário de mentiras debitadas por passos coelho ou paulo portas classificadas de seguras e profundas.
Pega-se na história do Novo Banco e já ninguém acredita, que o adiamento da sua venda não tenha quaisquer custos para os contribuintes.
Ouve-se a mentirola de passos coelho sobre os juros recebidos pelo Estado pelo empréstimos de 3,9 mil milhões de euros ao Fundo de Resolução, e pensa-se como pode atirar com tal enormidade sabendo-se desmentido logo a seguir. Não se lembrou que o Estado Português está a pagar juros sobre esse empréstimo para o qual teve de contrair mais dívida ou entrou na lógica do mentiroso para o qual haverá sempre ganhos, mesmo que mínimos, enquanto a fraude não se vir desmascarada?
Mantendo-nos ainda na questão do Novo Banco, quem irá pagar os juros do novo empréstimo a contrair pelo Estado Português para lhe tornar possível o aumento de capital a que se verá obrigado quando, em novembro, o BCE anunciar os resultados aos testes de stress a que já o sujeitou? Cabendo ainda questionarmo-nos, porque só conheceremos tais conclusões, quando já tiverem passado as eleições legislativas?
Outra mentira, que não se aguenta em pé, é a da autodesculpabilização constante de passos coelho a respeito da tremenda vigarice, que afetou os lesados do BES. Alguém no seu perfeito juízo acreditará quando ele tenta convencer os que reclamam o seu dinheiro perdido em como nada teve a ver com o assunto?
Nesse sentido podemo-nos interrogar sobre o que irá no íntimo de carlos costa ao ver-se projetado para o papel de bode expiatório das culpas do governo? Terá tão pouca autoestima ou aceitará os avultado ordenado e mordomias como pagamento do lamentável papel que passos quer que ele cumpra?
E quem poderá acreditar que, perante os 4860 milhões de euros de saldo negativo nas contas públicas em 2015, e já tendo registado 4093 milhões no primeiro semestre, o PSD e o CDS possam ainda manter a previsão de 2,7% ou mesmo de 3%?
Todas estas mentiras não têm qualquer ponta de verdade, que facilite a sua eficácia. E quando passos ou portas as repetem sabem bem que estão a enganar os portugueses. Será que elas se irão aguentar por mais oito dias ou ficarão cada vez mais desmascaradas com a evidência quotidiana da realidade?
Pode-se reconhecer que o PAF fez das fraquezas forças ao juntar uma vistosa multidão em Arcos de Valdevez. Mas, logo a seguir, em Bragança, não conseguia iludir o fracasso da sua campanha. Ao invés, mesmo com pouco dinheiro, António Costa vai continuando a encher grandes salas e pavilhões. E a falar de uma forma mais assertiva sobre submarinos e sobre os amigalhaços de passos no BPN.
A 4 de outubro presenciaremos a derrota mais humilhante que a direita terá conhecido em Democracia. E talvez possamos ver a mentira duradouramente execrada do discurso político. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Falemos então em sondagens ou em algo com elas parecido!

Chego aqui ao computador e dou com a mensagem de um amigo a pedir-me, que lhe diga algo de animador, porque sente-se bastante desanimado com a evolução dos acontecimentos do dia.
Se a tracking poll da TVI mostrava a coligação da direita a distanciar-se do PS na liderança, eu continuo a comparar as salas cheias de António Costa um pouco por todo o lado (hoje em Águeda e Vila do Conde) com as que passos e portas vão tendo dificuldade em encher apesar de todos os truques conhecidos para o efeito.
Mas, mesmo que as previsões em causa tivessem algum paralelo com a verdadeira sondagem do dia 4 (coisa em que não acredito!), elas não deixariam de corresponder a um dos piores resultados obtidos pela direita em Democracia. Recordemos o ocorrido com a soma do PPD e do CDS nos últimos dezasseis anos, em comparação com o PS: quer em 1999, quando Guterres ficou a um deputado da maioria absoluta, quer em 2005 quando Sócrates a garantiu, a soma dos dois partidos de direita (40,6 e 37,8% respetivamente), ficou acima da média das sondagens agora apresentadas nesta altura (37,3%).
Será pois razão para ficar assustado? Na realidade a direita está a pelo menos 11,5% de distância das percentagens com que conseguiu formar governo, seja em 2002, seja em 2011.
Mas, como aqui tenho referido amiúde, a credibilidade das sondagens tem andado bastante complicada nos últimos meses pelo que se viu na Grã-Bretanha ou na Grécia.
Em ambos os casos elas serviram de ferramenta de uma estratégia conduzida por habilidosos marketeiros para que levassem aos resultados pretendidos: mediante a criação de um clima de medo quanto ao que ocorreria se a esquerda ganhasse, eles conseguiram ser bem sucedidos com David Cameron, que alcançou a maioria absoluta com pouco mais de 1/3 dos votos, e falharam rotundamente com o Syriza.
Em Portugal o objetivo tem sido óbvio: convencer os eleitores indecisos entre a direita e o PS em como valerá a pena apostar na primeira por estar tudo ainda em aberto. Mesmo que a realidade do dia-a-dia o desminta.
Pode ser estratégia que lhes sairá pela culatra, porque facilitará o voto útil no PS e lhe permitirá voltar a superar a linha dos 40%, que tornará incontornável a cavaco a obrigação de convidar António Costa a formar governo. E mesmo que o PS não consiga chegar aos 44,1% de Guterres em 1999 ou aos 45% de Sócrates em 2005, já temos experiência suficiente para saber Costa capaz de transformar episódicas maiorias relativas em maiorias absolutas.
Confiemos, pois, na sageza dos portugueses para darem à direita a derrota mais humilhante da sua história em democracia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

E lá se vai mais um mito!

Quantas evidências serão necessárias para  que caiam mitos e eles percam definitivamente a sua força junto dos imaginários coletivos?
Hoje poucos arriscam dizer que a gestão privada é mais eficiente do que a assumida no setor público. Os casos do BES, do BPN, do BPP ou da PT estão ainda demasiado presentes para que qualquer joségomesferreira, se atreva a repeti-lo, se não quiser apresentar-se ainda mais anedótico do que já é.
Com o escândalo Volkswagen é a imagem de seriedade e rigor, que os últimos anos têm caracterizado a marca da superioridade alemã a ver-se estilhaçada.
Quais valores luteranos, qual carapuça! Assim surja a oportunidade e os alemães são tão vigaristas quanto os gregos ou os latinos, que têm colhido imerecida fama e ainda menor proveito!
A realidade é esta: a tendência para a fraude é genética e transversal a todas as etnias e credos. Daí que a solução seja combatê-la com a tal regulação a que são tão avessos os neoliberais.
Se quisermos uma sociedade mais justa e igualitária esse papel regulador será imprescindível, devendo o Estado recuperar a importância, que os suspeitos do costume têm pretendido menorizar.