Era sabido desde início que existia uma desproporção enorme entre os recursos financeiros da direita e os do PS para esta campanha eleitoral. António Costa herdou uma liderança com um enorme buraco nas contas do Partido, enquanto passos e portas podem contratar publicitários brasileiros a preços de ouro, que vêm produzindo um trabalho merecedor dos parabéns que Fernanda Câncio dá hoje ao PAF pela sua “extraordinária performance”.
É preciso realmente muita competência para conseguir aquilo que a jornalista do «DN» coloca em jeito de três perguntas: “passava pela cabeça de alguém que quem andou quatro anos a cortar pensões escolhesse colocar o assunto no centro da campanha, acusando o PS de o querer fazer? A quem ocorreria que a dupla que se esmerou a cortar a eito apoios sociais já sujeitos a condição de recursos, como o complemento solidário para idosos, denegrisse medidas inscritas no programa do PS que visam certificar que outras ajudas do Estado vão só para quem delas precisa e portanto o dinheiro dos impostos de todos é bem utilizado? A quem lembraria senão à genial desvergonha de Passos e Portas fazer disto um dos principais motes do seu discurso e do ataque ao PS?”
No «Eixo do Mal», Pedro Marques Lopes já tinha considerado de excelência esta campanha do PAF por estar a resultar muito acima do que seria lícito esperar. Até por contar com a cumplicidade ativa da maioria dos jornalistas, que se limitam a papaguear os argumentos falaciosos, que a propaganda da direita lhes vai servindo num prato de lentilhas. E a habilidade é tal que até luís montenegro conseguiu transformar em sessão de propaganda os minutos em que foi “entrevistado” por Ricardo Araújo Pereira na TVI. O que denuncia, uma vez mais, a qualidade do “media training” propiciado pelos gurus brasileiros.
Voltemos, porém, ao artigo de Fernanda Câncio para retomar os argumentos, de que não nos podemos esquecer nesta semana em falta até ao dia 4 de outubro: “se o Tribunal Constitucional não tivesse chumbado a medida, todas as pensões acima dos mil euros estavam com corte definitivo desde o início deste ano. E não apenas essas: Passos e Portas quiseram tirar, com efeito a partir de 2014, 10% a todas as pensões da Caixa Geral de Aposentações acima dos 600 euros ilíquidos. Também para sempre. E ainda tentaram reduzir a partir de 2014 as pensões de sobrevivência - ou seja, as que recebem os sobrevivos de um familiar - desde que o beneficiário tivesse uma pensão própria e a soma das duas ultrapassasse dois mil euros ilíquidos. Estes três cortes definitivos de pensões estariam hoje em vigor caso o TC não os tivesse impedido”.
Bastarão as batotas nas sondagens e esta artilharia pesada na propaganda para levar o PAF à vitória? Provavelmente nem os seus responsáveis acreditarão em tal possibilidade. Na realidade contentar-se-ão com privar o PS da maioria absoluta, que o tornem refém da maior ou menor complacência do PCP e do BE para a governabilidade, de forma a, poucos meses depois, voltarem a repisar os valores da estabilidade que só eles “conseguem garantir”.
Há que contar, porém, com a reação do Partido Socialista, que deixou de falar de indicadores macroeconómicos e, em vez disso, trouxe à liça os submarinos ou os amigalhaços do BPN. Ou, sobretudo, o medo assumido por muitos quanto ao desperdício do seu voto em forças políticas incapazes de mudarem o que quer que seja e, por isso mesmo, dispostos a ditarem a derrota da direita no dia 4 de outubro.
António Costa já previra que o combate não iria ser fácil. Os acontecimentos das últimas semanas aí estão a prova-lo. Mas não são as vitórias difíceis as mais saborosas?
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