segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Enquanto Marcelo condecora um invejoso


A entrevista a António Costa, ontem emitida na RTP, voltou a demonstrar a enormíssima diferença de maturidade e de sageza do primeiro-ministro em relação aos seus mais diretos opositores. Em coerência e consistência, só Jerónimo de Sousa pode equivaler-se, mas vendo-se na triste condição de validar a sua aposta destes quatro anos junto dos eleitores sem compreender que a sua irreversível redução nada tem a ver com aquela opção, mas pela incapacidade em conseguir convencer o eleitorado mais jovem da pertinência das propostas comunistas. O PCP chegou àquela fase em que o prazo de validade aproxima-se do fim e não alcança como poderá adiá-lo por algum tempo mais.
Não se tendo escusado a abordar o caso Tancos, sobre o qual os entrevistadores quase salivavam, António Costa demonstrou quanto lhe importam os princípios há muito por si enunciados, ao contrário de um Rui Rio, que deve ter digerido mal o fracasso da sua arruada em Buarcos.  Não só continua a agitar-se como um catavento, desdizendo-se do que dissera até semanas atrás sobre o sistema de Justiça em Portugal, como cometeu a burrice de insultar os magistrados do Ministério Público, julgando elogiá-los, porque considerou-os passíveis de agirem em função de serem ou não aumentados. Como lembrava José Sócrates no «Expresso», o que se passa com alguns procuradores nada tem a ver com as condições remuneratórias de que usufruem, porque sobram coincidências a mais, quando, à beira de eleições, incendiaram as campanhas com o caso Freeport em 2005, as escutas em Belém em 2009, a Operação Marquês em 2014 e a recuperação das armas de Tancos nesta altura. Não saindo António Costa da posição, que se lhe conhece há vários anos, não entende Rio nesses exemplos a tal judicialização da política, que ainda há pouco tanto o indignava?
Quanto a Assunção Cristas pouco mais há a comentar, tendo em conta que nada a livrará de vir a contar com um grupo parlamentar capaz de caber num monovolume, se não for mesmo num táxi. Mas na sua deriva desnorteada até se veio escandalizar por um deputado, que não é arguido, nem sequer foi ouvido pelas autoridades judiciais e policiais sobre o caso Tancos, fazer parte da lista de deputados. Falhando-lhe os argumentos para se fazer interessante, arrisca ultrapassar, dia-a-dia, o seu desnível de disparates.
António Costa, pelo contrário, revela convicção, segurança e determinação para fazer ainda mais e melhor nos quatro anos, que se avizinham. E todos os indicadores vão confirmando o sucesso das suas políticas. No «Público» de hoje o economista Ricardo Cabral, que nada tem a ver com o PS, reconhece a fortíssima possibilidade de existir neste ano de 2019 um excedente  entre 0,7 e 0,9% do PIB nas Administrações Públicas.
No entretanto Marcelo vai-se entretendo a condecorar um notório invejoso que, a exemplo de Cristas ou de Rio, não vê a realidade ajustar-se à medida dos seus megalómanos anseios.

domingo, 29 de setembro de 2019

O desesperado brado de um editorialista angustiado


Passaram vários anos sobre uma coisa sinistra chamada Compromisso Portugal, que reunia a azeda nata cavaquista com uma geração de tecnocratas saídos da Católica ou dos cursos de Economia da Nova, e tendo o Observador como pífio altifalante. José Manuel Fernandes saiu do «Público», porque este se afundava nas tiragens e nas receitas, e foi adiar a mais do que urgente passagem à reforma como seu responsável.
Após um introito assim ao jeito de nem carne, nem peixe, com Bárbara Reis como diretora, a Sonae decidiu dar o lugar a Manuel Carvalho. O resultado tem sido desastroso, porque vemo-lo a trilhar as sinuosas linhas daquele seu outro antecessor.
Durante o seu detestável consulado tem-se agarrado a todos os argumentos para pôr em causa o Partido Socialista e o governo de António Costa. Não se lhe adivinham os motivos para tão consistente raiva, mas ela revela-se em repetidas ocasiões. E pressentimos-lhe a angústia existencial por ter de suportar novo governo de esquerda por mais quatro anos. Se a tarefa imposta pelos Azevedos era a de manipular a desinformação de forma a dificultar a reedição dos resultados eleitorais de 2015 - que o deixaram tão inconformado! - a perspetiva de uma vitória mais robusta do PS só não lhe põe os cabelos em pé, porque poucos lhos sobram no alto da cabeça.
Agora o assunto Tancos fá-lo salivar, dando-lhe o que julga ser a oportunidade para travar uma dinâmica eleitoral desfavorável para os seus intentos. E põe-se a exigir em editorial, que António Costa alinhe na histeria das direitas em torno do assunto.  O texto deste domingo é exemplar quanto ao desespero, que lhe vai na alma. Será porventura por pressentir que, insatisfeitos com os objetivos a que se predispusera, os patrões irão apontar-lhe a porta da saída restando-lhe uma anónima sinecura no Observador para compor o ordenado até à reforma?
Carvalho, e quem ainda o aguenta à frente do «Público», não compreende que os leitores de jornais afetos às direitas preferem o «Correio da Manhã», porque para mais não lhes chega a inteligência, nem a curiosidade. E que os afetos às esquerdas podem perder definitivamente a paciência e juntarem-se aos muitos que o deixam de comprar, porque não têm paciência para pagar um produto manifestamente infecto.
É claro que Carvalho não consegue impor o que o PS deve ou não dizer nos seus discursos de campanha. Porque todos reconhecem a coerência de quem, mesmo quando estava em causa um seu antigo secretário-geral e primeiro-ministro, nunca deixou de assumir o princípio de cingir à Justiça o que só a ela compete. Por muito que seja evidente o quanto ela própria se anda a desviar da transparência e da fiabilidade, que lhe deveremos exigir. Mas isso são contas de outro rosário para o qual Rui Rio estava a dar sinais de contribuir, mas a que lestamente virou costas tão só lhe deu jeito o oportunismo de se aproveitar de algo que até recentemente condenara. Mas dia seis, os Rios e os Carvalhos terão o devido troco...

sábado, 28 de setembro de 2019

Balanço de uma semana de campanha


Se há uma constante a sublinhar destes dias de campanha eleitoral foi a permanente capacidade do Partido Socialista em movimentar multidões quer em arruadas, quer em comícios, demonstrando uma dinâmica, que nenhum outro partido consegue replicar, nem mesmo por aproximação. A sondagem das ruas confirma a das várias empresas de estudos de opinião, que antecipam uma grande vitória no dia 6 de outubro.
Porque não sonha sequer em conseguir algo assim para os telejornais, o PSD substitui os comícios por umas visitas pífias a empresas e a instituições caritativas, dando depois palco a Rio numas conversas entediantes com os que lá fazem o sacrifício de comparecerem, alguns dos quais nem sequer lhe prestam atenção como se viu numa reportagem assassina para com dois elementos da assistência, que terão passado o tempo a conversarem entre si nada ligando ao que o orador de circunstância ia debitando.
O Bloco também confirma ter limitada capacidade de atração a quem queira ouvir Catarina Martins. Já não são as salinhas de outros tempos, suficientes para reunir um grupo de amigos, mas quando aposta em recintos para duas ou três centenas de participantes, as clareiras são evidentes.
Resistindo à prova do tempo que condenou a grande maioria dos seus congéneres europeus ao desaparecimento, o PCP vai sentindo o irreversível declínio. A rodada organização consegue compor assistências honrosas para Jerónimo de Sousa, mas sente-se-lhe nas palavras o pressentimento de um tempo a fluir com uma insaciável rapidez, levando os imprescindíveis e os muito bons de outrora, e deixando-lhe uma geração envelhecida incapaz de cativar a juventude que, se olha para a política, prefere outras alternativas. Ainda assim, se tivesse de escolher uma frase desta semana, aproveitaria a de uma deputada comunista, Rita Rato, que, a propósito do candente problema das alterações climáticas, disse: “Tenho muito presente uma frase que li recentemente: ‘ecologia sem luta de classes é jardinagem’” E ela basta para nada mais dizer sobre o PAN.
Resta ainda o CDS, que tem tido uma campanha desastrosa, como ontem sucedeu no campo ribatejano onde Cristas quis fazer um boneco para jornalista ver, entrando numa propriedade sem que o dono estivesse presente, e pondo-se a falar com os operários agrícolas asiáticos que não compreenderam patavina do que lhes dizia. Se o ridículo matasse, nenhum aparelho de reanimação do INEM lhe poderia valer.
Apesar da desesperada tentativa de trazer Tancos à baila, a direita não evitará o merecido definhamento.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Porque será que os media não fazem algumas questões pertinentes sobre o caso Tancos?


A independência entre a Justiça e a Política é um princípio consagrado na nossa Constituição, que estipula uma clara separação entre os poderes executivo, legislativo e judicial. Lamentavelmente desde finais do século passado, quando alguns corajosos juízes italianos ganharam nome - e perderam a vida! - na luta contra a Mafia, houve uma mudança de paradigma numa parcela significativa de juízes e magistrados do ministério público, que leram enviesadamente o sucedido no cenário transalpino  e consideraram-se destinados a deixarem de praticar a Justiça para se converterem em justiceiros com uma agenda mais do que suspeita. Os resultados estão à vista com Salvini e Bolsonaro a constituírem eloquente demonstração do que pode resultar dessa estratégia depressa enfeudada aos interesses das direitas e das extremas-direitas.
Entre nós, desde a efabulação em torno da suposta pedofilia na Casa Pia, que os procuradores do Ministério Público inventam sucessivos casos para, nas alturas eleitoralmente mais convenientes, virem por em causa o Partido Socialista e os seus dirigentes. Julgar-se-ia que a saída de Joana Marques Vidal tenderia a atenuar essas singulares «coincidências», mas, uma vez mais, temos a repetição do sucedido em eleições anteriores com Vítor Magalhães e os seus dois acólitos a lançarem para a opinião pública uma interpretação escandalosamente contrafeita sobre a suposta encenação para a recuperação das armas roubadas em Tancos.
Se qualquer intervenção de um político põe em causa a independência do poder judicial, nomeadamente para a estranha tendência de arquivar escândalos ligados a políticos de direita - os multinegócios de Dias Loureiro, a corte cavaquista do BPN ou os submarinos de Paulo Portas - enquanto investiga e faz punir assuntos de robalos com um ex-dirigente socialista logo os Ventinhas vêm escandalizar-se para os jornais e televisões com poses de virgens ofendidas.
Mas agora ninguém parece pôr em causa o texto de Vítor Magalhães que fez uma interpretação subjetiva do sucedido apenas destinada a pôr em causa o Partido do governo a uma dezena de dias do próximo ato eleitoral. Não existe aqui uma clara e ilegítima interferência do ministério público no que à política diz respeito?
Lamentável é que este tipo de comportamento, que tanto escandalizava Rui Rio, quando se pronunciava sobre o estado lamentável em que está a Justiça em Portugal, tenha sido liminarmente por ele esquecido ao constatar que poderia recolher algum benefício da exploração mediática do caso. Se dúvidas havia sobre a coluna de Rui Rio comprovou-se que, em vez de óssea, ela possui características intrinsecamente gelatinosas.
Mas há outra vertente da abordagem ao sucedido anteontem, que nenhum jornalista cuida de abordar, sabe-se lá porquê. Façamo-lo então por eles!
Se formos ao Google e fizermos uma busca sumária sobre esse Vítor Magalhães, que se atreveu a fazer uma acusação meramente política sem que os factos lhe deem a mínima razão, poderemos encontra-lo por exemplo a titular o caso Freeport.
Como todos nos recordamos ele levou anos a compilar dados, que pudessem relacionar José Sócrates com a construção daquele centro comercial em Alcochete e nenhuns encontrou, apesar dos muitos milhares de euros, que terá custado essa investigação a todos nós, contribuintes que financiamos as estranhas prioridades do Ministério Público. Mas ao longo dessa abordagem o caso lá vinha regularmente a lume no pasquim matinal da Cofina quando umas eleições estavam iminentes.
Quando o Procurador Geral da República Pinto Monteiro exigiu que houvesse alguma conclusão, Magalhães & Cª tiveram de arquivar o caso por manifesta falta de provas, mas ainda assim vieram com a inqualificável lista de perguntas, que teriam pretendido fazer ao primeiro-ministro e para as quais alegaram não terem disposto do tempo suficiente. Apesar de terem andado anos enrolados no caso.
Dessa altura ficou a evidência que os prazos de Vítor Magalhães dependem sempre dos interesses dos seus propósitos. Daí que tenha escolhido este momento preciso para lançar o que julga ser uma bomba estrondosa, que possa modificar in extremis os resultados eleitorais.
Continuando no Google encontramos mais alguns elementos interessantes. Por exemplo ele era amigo muito próximo de Orlando Figueira, o colega já condenado em Tribunal por atos de corrupção em favor do governo angolano de José Eduardo dos Santos. Durante as sessões do tribunal teve de explicar-se aos juízes sobre os motivos de uma viagem a Angola feita com o réu sobre quem não sobraram dúvidas quanto à sua conduta criminosa.
É este impoluto procurador, então preocupado em dizer-se completamente desconhecedor dos negócios paralelos do amigo e colega, quem vem pôr agora em causa que Azeredo Lopes não tenha sabido da encenação preparada pela Judiciária Militar? E, implicitamente, pondo em causa a figura do primeiro-ministro, porque terá sido das suas «sugestões», que Rio e Cristas se terão aproveitado para os seus indignos aproveitamentos do caso.?
Na prática as direitas questionam a honorabilidade de Azeredo Lopes, acreditando piamente nas acusações de um procurador cujo passado curricular o não exime de justificadas suspeitas. Mas nem querem ouvir falar de situação paralela, que se pode colocar quanto a Marcelo, já que ninguém duvida do acompanhamento próximo do seu chefe da Casa Militar sobre tudo quanto se estava a passar.
A Justiça deste país anda mesmo precisada de urgente barrela e, na próxima legislatura,  o governo tem de deixar-se de ser o menino bonzinho, que assiste, impávido, às malfeitorias dos que insistem em fazer-lhe bullying...