Sujeitemo-nos a um exercício de imaginação e ponhamos a hipótese de, na viragem do século XX para o XXI, terem-se reunido destacados nomes do grande patronato com uns magistrados judiciais, decididos a fazerem os possíveis para acabarem de vez com o Partido Socialista. Convidada para acompanhar os trabalhos, logo uma conhecida jornalista recebeu orientações para lançar no seu jornal uma notícia bombástica relacionada com casos de pedofilia na Casa Pia. A conivência de uma provedora incapaz de compreender como estaria destinada para o papel de idiota útil deu o ensejo de o escândalo assumir descontrolada expansão com dirigentes socialistas difamados e até levados para a prisão após escandalosa ação dentro do Parlamento. E para a notícia ganhar algum crédito juntaram-lhe mais alguns suspeitos entre os quais um conhecido locutor de televisão, um embaixador e um médico. Tudo parecia conjugar-se de acordo com os interesses dos organizadores da mentira, quando dá-se a invasão do Iraque e duas das principais marionetas da tramóia cuidaram de desiludir os seus titereiros. Um foi para Bruxelas cuidar da vidinha porventura almejando futuro emprego dourado num dos principais bancos mundiais, o outro a mostrar-se tão aselha, que o presidente Jorge Sampaio puxou-lhe o tapete tão só teve suficientes argumentos para tal.
O regresso do Partido Socialista ao governo com a liderança de José Sócrates terá travado as aspirações dos conspiradores, que viram o aparelho judicial incapaz de transformar as acusações mentirosas em condenações, mesmo que, pelo meio, tivesse havido quem ficasse com a reputação e a carreira profissional completamente comprometidas.
Bastaria esse desaire para os dissuadir do objetivo? Claro que não! Nos anos seguintes desacreditaram o Procurador Geral da República para conseguir-lhe a substituição por quem se dispusesse a secundar-lhes os passos seguintes, tanto mais que ocuparam Belém com um dos seus mais diletos sequazes. Pacientemente começaram a preparar a queda em desgraça do primeiro-ministro, porventura trocando ideias com colegas de outros países, mormente do Brasil, todos visando avançar para aquilo que um juiz formularia como propósito para este século num participado congresso financiado pelos bancos, que viriam depois a ser os que iriam falir: que depois de ter havido a primazia do sistema executivo e do legislativo, era chegada a hora de ter o poder judicial a comandar os destinos do país.
A crise financeira relacionada com os subprimes daria o ensejo esperado para novo e contundente ataque: atribuiu-se ao governo socialista a responsabilidade pela mentirosa bancarrota, que um mínimo de honestidade mandaria atribuir às orientações vindas de fora, nomeadamente quando o tal arrivista luso à frente da Comissão Europeia tanto ordenou gastar à tripa-forra em investimentos colossais (aeroportos, TGV’s e outras superestruturas que tais!), como virou o bico ao prego e condenou todas as despesas e mais algumas.
A entidade clandestina por trás desse plano ter-se-á sentido otimista com a eleição de um primeiro-ministro muito tosco, reconhecidamente cábula enquanto andou na escola e depois gestor de fraco talento em empresas de vão de escada, mas obsequioso para quem lhe ia soprando as ordens.
Estava tudo a correr tão bem, quando decidiram a machadada final, mediante a prisão do antigo primeiro-ministro acusado de todas as vilanias pelo jornal oficioso dos magistrados envolvidos na trama. Para o futuro ficar definitivamente radioso só faltava cooptar a direção do Partido Socialista tornando-a em inepta colaboradora dos que continuariam a executar os passos seguintes a mando dos sigilosos mandantes.
O problema foi ter aparecido António Costa a rejeitar-lhes tão harmonioso arranjinho. Em poucos meses ganhou as Primárias e tomou a liderança do Partido, logo alcançando o comando da governação.
Aturdida com o contra-ataque a coligação dos empresários e magistrados com os donos de jornais e televisões procurou usar toda a artilharia possível para o derrotar: manchetes diárias sobre a suposta corrupção do anterior primeiro-ministro, a associação de alguns dos antigos conjurados, entretanto caídos em desgraça, com esse «supervilão» e mentiras despudoradas, que deveriam fazer caminho nos desinformados eleitores.
O problema foi que a governação socialista mostrou-se tão competente e inteligente nestes quatro anos (mormente coligando-se com a restante esquerda no Parlamento!), que os planos originais foram ficando adiados para o que começa a parecer o dia de São Nunca à tarde.
De vez em quando há um brilhozinho a iluminar-lhes as desiludidas almas, mediante incêndios devastadores, greves selvagens de alguns profissionais mais manipuláveis ou histórias sobre falsos nepotismos.
Durante este verão a esperança de verem repetidos, em dimensão e número de vítimas, os incêndios de dois anos atrás caiu por terra com provas quotidianas da bem organizada resposta a qualquer foco ateado por gente de equívocas intenções.
A duas semanas e meia de novo ato eleitoral, que promete trazer-lhes ainda maior desalento, ei-los que recauchutam estratégia antiga com a história das golas adquiridas para o programa Aldeia Segura. A assinar a ordem para ser vasculhado o Ministério da Administração Interna reaparece o juiz Carlos Alexandre no seu esplendor.
Há acasos que até parecem conjugações muito oportunas do destino. É que se toda esta teoria da conspiração não assenta em nenhuma prova concreta, lá que parece plausível, parece...
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