sábado, 14 de setembro de 2019

A propósito de ratings e de artigos encomiásticos na imprensa internacional


Não é por a Standard & Poor’s e outras agências de notação financeira andarem agora a melhorar o rating português, que me tomei de amores por elas. Na substância continuo a  pensar o mesmo, que aqui escrevi há cerca de dez anos, quando elas iam baixando essa mesma classificação e criavam as condições para que José Sócrates viesse a ver obrigado a pedir a intervenção da troika, com o exuberante aplauso das direitas lusas, que muito lhe sabotaram o trabalho até o encostarem à parede.
Ainda assim o reconhecimento dessas agências significa ao mesmo tempo duas coisas: por um lado não têm como negar a evolução muito positiva dos diversos indicadores financeiros nos últimos quatro anos. Se mantivessem esse rating numa classificação mais baixa só dariam razão ao descrédito com que as sabemos feridas de morte na sua duvidosa origem.
Há, por outro lado, a consonância com outros ícones do capitalismo financeiro como o são «The Economist» ou o «Financial Times», cujos encomiásticos artigos sobre o governo português tanto têm incomodado Rui Rio ou Assunção Cristas.
Se os porta-vozes do capitalismo fazem esses elogios é por estarem com as ideias à deriva a verem se apanham alguma solução para o seu idolatrado sistema económico-financeiro, que dá crescentes sinais de obsolescência.  A globalização andava a correr tão bem, que os fundos de investimento e outros atores dos mercados financeiros já salivavam por antecipação perante a possibilidade de, levando os serviços e as mercadorias standardizadas, cada vez mais baratas perante os benefícios das economias de escala e multiplicando exponencialmente o número de consumidores, darem definitiva razão ao delírio de Fukuyama sobre o fim da História.
A chatice para esses porta-vozes do capitalismo resultou da consciência de se manter bem atual a primeira frase do primeiro capítulo que Marx afixou no seu intemporal Manifesto: «a história do mundo tem sido a história das lutas de classes». E elas vêm-se revelando de formas que esses prosélitos não esperavam, porque o seu próprio monstro abriu caixas, que não esperavam sob a forma de populistas dispostos a sabotarem o lucro de cujos interesses são provedores.
É por isso que as agências de notação financeira ou as quotidianas bíblias do capitalismo olham para a experiência governativa portuguesa com a hipocrisia do príncipe de Salina em «O Leopardo»: mesmo que algo tenha de mudar vestindo-se até de cores aparentemente adversas, importa, sobretudo, que tudo deixem na mesma.
Fiquemos, pois, satisfeitos com os elogios e classificações de rating de quem nada de bom esperamos, mas não nos iludamos quanto á sua efetiva intenção...

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