Nas últimas semanas os meios de comunicação têm passado pelo seu momento «hamletiano» (ou omeletiano?) resumido na pergunta: ter ou não ter a maioria absoluta eis a questão! Ora, se a analisarmos remetendo-a para a tradição nacional - muito alimentada pelo salazarismo! -, das «vitórias morais», podemos compreender a estratégia que lhe está subjacente.
Voltemos atrás no tempo, àquela altura em que o fascismo procurava convencer-nos de que éramos pobrezinhos, mas honrados e, como dizia Alexandre O’Neill no Portugal do diminutivo juizinho é que era preciso. No futebol desse tempo levávamos cabazadas da Espanha, mas se contássemos as bolas na trave, os erros do árbitro e a sorte do adversário, convencíamo-nos de que éramos os melhores.
Começávamos a perder a Índia e ameaçava-se a independência dos demais «territórios ultramarinos», mas olhávamos para o mapa e, se os ajustássemos ao nosso cantinho à beira mar plantado, tínhamos a dimensão de quase todo o continente europeu de que nos sentíamos tão apartados.
Na mesma linha a nossa História estava pejada de episódios lamentáveis - e Aquilino bem os recenseara no seu imprescindível «Príncipes de Portugal»! - mas queriam que vibrássemos com as epopeicas aventuras dos nossos navegadores e com o desvelo dos nossos missionários. A Inquisição ou o tráfico de escravos só aos oposicionistas pareciam interessar.
Voltemos então ao tempo presente: as direitas e seus altifalantes mediáticos sabem que enfrentarão uma derrota humilhante a 6 de outubro. Todos os indícios - e não só os das sondagens! - para tal apontam. Mas andam ansiosas por argumentos para essas mesmas «vitórias morais». Na RTP José Rodrigues dos Santos esforça-se por fazer passar a teoria de que o sucesso de António Costa só acontece por ter-se apossado das ideias da direita. Quanto à tal questão sobre a maioria absoluta aposta-se outra hipótese: a de, havendo tão-só maioria relativa, virem a celebrar a «derrota» socialista por, afinal, não ter alcançado tal objetivo.
Essa «vitória moral» acarreta ainda outra secreta esperança: a de que, incapaz de chegar a acordo com a CDU ou o Bloco e não bastando o PAN para tal objetivo, depressa se reconfigure a aliança negativa de 2011 com novas eleições a curto prazo, devidamente apoiadas pelo amigo que têm em Belém.
Podemos reconhecer que os moribundos agarram-se, amiúde, às mais ilusórias soluções. Mas, confiemos, sobretudo, naquilo que, há muito se vem constatando: sobre estratégia política, António Costa sabe mais a dormir que todos os seus detratores por muito acordados que se sintam.
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