domingo, 22 de setembro de 2019

Sobre as vitórias morais com que as direitas se iludem


Nas últimas semanas os meios de comunicação têm passado pelo seu momento «hamletiano» (ou omeletiano?) resumido na pergunta: ter ou não ter a maioria absoluta eis a questão! Ora, se a analisarmos remetendo-a para a tradição nacional - muito alimentada pelo salazarismo! -, das «vitórias morais», podemos compreender a estratégia que lhe está subjacente.
Voltemos atrás no tempo, àquela altura em que o fascismo procurava convencer-nos de que éramos pobrezinhos, mas honrados e, como dizia Alexandre O’Neill no Portugal do diminutivo juizinho é que era preciso. No futebol desse tempo levávamos cabazadas da Espanha, mas se contássemos as bolas na trave, os erros do árbitro e a sorte do adversário, convencíamo-nos de que éramos os melhores.
Começávamos a perder a Índia e ameaçava-se a independência dos demais «territórios ultramarinos», mas olhávamos para o mapa e, se os ajustássemos ao nosso cantinho à beira mar plantado, tínhamos a dimensão de quase todo o continente europeu de que nos sentíamos tão apartados.
Na mesma linha a nossa História estava pejada de episódios lamentáveis - e Aquilino bem os recenseara no seu imprescindível «Príncipes de Portugal»! - mas queriam que vibrássemos com as epopeicas aventuras dos nossos navegadores e com o desvelo dos nossos missionários. A Inquisição ou o tráfico de escravos só aos oposicionistas pareciam interessar.
Voltemos então ao tempo presente: as direitas e seus altifalantes mediáticos sabem que enfrentarão uma derrota humilhante a 6 de outubro.  Todos os indícios - e não só os das sondagens! - para tal apontam. Mas andam ansiosas por argumentos para essas mesmas «vitórias morais». Na RTP José Rodrigues dos Santos esforça-se por fazer passar a teoria de que o sucesso de António Costa só acontece por ter-se apossado das ideias da direita. Quanto à tal questão sobre a maioria absoluta aposta-se outra hipótese: a de, havendo tão-só maioria relativa, virem a celebrar a «derrota» socialista por, afinal, não ter alcançado tal objetivo.
Essa «vitória moral» acarreta ainda outra secreta esperança: a de que, incapaz de chegar a acordo com a CDU ou o Bloco e não bastando o PAN para tal objetivo, depressa se reconfigure a aliança negativa de 2011 com novas eleições a curto prazo, devidamente apoiadas pelo amigo que têm em Belém.
Podemos reconhecer que os moribundos agarram-se, amiúde, às mais ilusórias soluções. Mas, confiemos, sobretudo, naquilo que, há muito se vem constatando: sobre estratégia política, António Costa sabe mais a dormir que todos os seus detratores por muito acordados que se sintam.

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