quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A misteriosa identidade de um papagaio


Quer no «Expresso», quer no «Público», os assessores de Marcelo terão soprado a informação dele ter ficado irritadíssimo com a história de Tancos e a prometer vindicta contra António Costa, sabe-se lá por que razões. Porque o caso parecia ter potencial para ele ter a satisfação de ver inviabilizada a maioria absoluta acaso surgisse neste tempo eleitoral como arma de arremesso para, através de Azeredo Lopes, os partidos das direitas terem munições para dispararem contra o governo.
O azar para Marcelo terá sido que o seu putativo aliado nesta história - Vasco Brazão - terá tido o tal telefonema em que falava do «papagaio-mor do reino». O seu advogado bem tentou negar com teatral firmeza em como não era quem todos logo julgaram, mas quem acreditou num tão desconchavado desmentido?
Daí a ter conjeturado mãozinha socialista no caso foi um passo que Marcelo deu não cuidando sequer de manter a coerência de nunca falar de politica interna no estrangeiro. Uma vez mais é a lógica dos princípios valerem enquanto são convenientes porque, quando constrangedores, podem logo ser substituídos por outros. E, mesmo sem qualquer prova, os assessores de Belém logo cuidaram de apontar baterias para António Costa por ter usado o mesmo argumento de sempre - «questões de Justiça» - escusando-se a fazer o triste papel de Rui Rio e de Jerónimo de Sousa que, com comovente candura, afiançaram acreditar nas palavras do Presidente.
Pessoalmente continuo a estranhar que Marcelo não tenha querido saber das razões que levaram o seu chefe da Casa Militar a pedir a oportuna passagem á reserva, sabendo-se hoje sem margem para dúvidas, que ele tudo soubera da encenação preparada para a recuperação das armas roubadas.
Por todas estas razões Marcelo bem pode mandar os assessores passarem para os jornais as suas ameaças quanto ao que poderá acontecer no seu relacionamento com o primeiro-ministro, que pode estar ciente de uma evidência: ao contrário de Paulo Portas, em tempos por ele vigarizado com a história da «vichyssoise», António Costa será um osso bem mais duro de roer. Por um lado, porque conta com um Centeno, que todos invejam e cujo passe não está à venda. Depois, porque os indicadores económicos continuam a revelar uma dinâmica, que nem o latir dos cães à volta, impedirá que a caravana continue a passar. Mais ainda: tentativas desesperadas das direitas para criarem obstáculos vão falhando, uma a uma, como se viu com a confirmação de Elisa Ferreira para a Comissão Europeia apesar das tentativas indecentes - que até recorreram ao jornal belga «Le Soir» - para o impedir. E assim vai  decorrendo a campanha eleitoral com Catarina Martins a amaciar os ataques ao PS depois de  concluir quão desvantajosos haviam sido e Assunção Cristas tão desesperada que vai ao baú buscar figuras do passado - e cá chamamos novamente Portas à colação a par do seu amigo, depois inimigo, hoje sabe-se lá o quê, Manuel Monteiro - sugerindo-nos que evitemos passar perto do Largo do Caldas para evitar o nauseabundo cheiro a mofo. Quanto a Rui Rio lá continua a ver o espetáculo da campanha a passar-lhe diante dos olhos sem ter pago bilhete para o apreciar.

Sem comentários:

Enviar um comentário