terça-feira, 23 de julho de 2024

Mais uma iminente deceção para os deploráveis

 

Até compreendo os sinais de nervosismo da campanha de Trump com a notícia da abdicação de Biden enquanto candidato democrata à eleição de novembro: no primeiro comício de Kamala Harris, investida na nova condição, ela revelou uma postura combativa contra o opositor a quem tratou implicitamente como criminoso fiscal, abusador sexual e marionete de interesses petrolíferos, bancários e de outras oligarquias sem coincidência de interesses com a tal classe média para que pretende governar.

Podemos sempre considerar que uma vitória dela será sempre um mal menor perante uma política imperialista norte-americana, assente no complexo industrial-militar, que terá continuidade nas guerras em curso na Ucrânia, no Médio Oriente e, provavelmente, na Ásia, mas tudo será melhor do que ter o vingativo Trump reinstalado no Salão Oval da Casa Branca. Aí os riscos de guerras imprevisíveis à escala global decerto seriam bastante maiores. 

terça-feira, 16 de julho de 2024

Caldos de galinha

 

Sim: é um empate técnico entre o PS e a AD o que resulta da sondagem da Católica, mas ainda assim, e em relação à de há dois meses, o PS progrediu 4% e a AD só 1%. E, ao mesmo tempo, o Chega tem o recuo mais pronunciado, quiçá revelador da tendência para alguns dos seus eleitores menos fanatizados em valores repulsivos se reencaminharem para outros bem mais aceitáveis.

Relativizando a importância das sondagens esta, porém, terá o condão de refrear os ânimos de Montenegro, quanto a apressar a réplica do oportunismo de Cavaco em 1987. Podendo ainda assim iludir-se com o facto de tal só ter sucedido após dezoito meses em maioria relativa.

Para já Pedro Nuno Santos dá sinais de cautela aprestando-se a propor a negociação de um orçamento para 2025, que possa merecer a aprovação ou a abstenção do Partido Socialista atirando o ónus da eventual crise política para a direita se rejeitar esta oferta.

Para já é tempo de esperar pelo desgaste progressivo de uma desgovernação, que não possui soluções miraculosas para o que prometia resolver e em que o fantasma das contas incertas virá ao encontro da facilitação de alguns acordos com as corporações apostadas em verem-se recompensadas com a mesma ligeireza com que algumas o foram. Sob pena de ver o outono anunciar-se na forma da agitação social, que a continuação dos problemas na saúde e na habitação implicarão. Com a possibilidade de os alunos sem aulas virem a demonstrar a falência das receitas do ministro da Educação, mesmo ele querendo transferir o seu fracasso para as direções das escolas incumbidas de arcarem com as responsabilidades até agora assumidas pela tutela.

Estando ainda a soma das esquerdas a nove por cento da das direitas não nos faz mal nenhum uma dieta à base de caldos de galinha...

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Dispensemos as lágrimas de crocodilo!

 

Ponhamos de lado a hipocrisia: se o incompetente atirador tivesse sido mais certeiro nos tiros, justificar-se-iam lágrimas piedosas por aquele que andou a incendiar o clima político norte-americano e agora teria o merecido ricochete dos seus discursos?

Por agora os comentadores, ora o dão como reforçado vencedor das eleições de novembro, ora procuram relativizar o impacto do sucedido ainda tecendo duvidosas esperanças numa vitória democrata.

Faltando menos de quatro meses para a eleição presidencial será improvável que se repita nova oportunidade para remover Trump dos boletins de voto. Mas, mesmo arvorando aparente capacidade para dar a volta à surpresa de se ver visado por uma das armas, que ele quer ainda mais multiplicar pelo território norte-americano, resta a presunção de o saber doravante atemorizado pela hipotética falha na segurança, que o faça entrar na já significativa galeria de antecessores abatidos a tiro, quando se julgavam inexpugnáveis na cadeira do poder. A menos que acredite nos tais anjos proverbiais, que um professor da universidade de Boise afiança depressa invocados pelos religiosos como protetores do seu ídolo.

Igualmente de além-Atlântico o Público dá espaço a uma investigadora, Raquel Machaqueiro, que diz coisas muito pertinentes sobre a realidade da escravatura enquanto financiadora da história da expansão portuguesa, que culminou na pífia crença num suposto império colonial. E lembra aos revoltados com as reparações aos descendentes dos escravos que, quando acabou essa ignomínia, foram os seus antigos donos, que receberam indemnizações.

Considerações, que bem mereciam ser inseridas nos manuais escolares para que os petizes não continuem a ver a escravatura como algo, que afetou uma massa anónima de gente de quem se continuam a esquecer as suas tragédias individuais sem sequer perceberem estar ela na potenciação do que é hoje o sistema capitalista! 

sábado, 13 de julho de 2024

É deixá-los poisar!

 

Enquanto os jornais e televisões procuram encontrar gravitas em Montenegro dando-o como “agradável surpresa” para as suas baixas expetativas - a antiga santanete Clara Ferreira Alves acelera para converter-se em nova montanegrete! - há outro ataque à liderança de Pedro Nuno Santos na forma de artigos em que nunca definidos “dirigentes socialistas” confessam-se preocupados com a forma como está a opor-se ao (des)governo da direita. Eloquente a esse respeito o artigo de São José Almeida no Público de ontem em que tece uma série de conjeturas sem nunca especificar as presumidas fontes.

Não duvido que haja internamente quem ande ainda com azia por haver nova liderança socialista - reconheça-se que a sua ala direitista chegou a ser muito forte no tempo de António José Seguro, mas foi perdendo progressivamente a relevância! - mas adivinha-se mais facilmente a preocupação das direitas com a possibilidade de, tal qual se anda a encher, o sapo Montenegro acabe por rebentar sem chegar a tempo às prematuras eleições em que lhe seja possível demonstrar o logro que, em si mesmo, constitui.

Daí que confie na sageza de Pedro Nuno Santos para deixar a realidade revelar-se na sua crueza, embora redunde numa situação económica de contas incertas, que voltarão a ser os portugueses mais desfavorecidos a pagar. Por agora é deixar as forças sindicais afetas à direita (professores, médicos, polícias) chegarem a acordos em condições, que nunca aceitariam se fosse o governo de António Costa a propor-lhas. A paz social, também favorecida pelas temperaturas estivais, será garantida até ao fim desta tonta estação. A fatura começará a revelar-se logo a seguir, quando as ruas e avenidas se voltarem a animar e Miranda Sarmento  demonstrar que de Centeno nem sequer constitui pálida terminação, quando se tratar de elaborar um orçamento aceitável em Bruxelas.

Como cantava o Zeca a propósito da trabalho de formiguinha, que é agora o do líder socialista, já lá virá outro carreiro! 

terça-feira, 9 de julho de 2024

Maquiavélica, perversa, incompetente

 

Claro que poupei-me ao sacrifício de ver a entrevista com Lucília Gago na RTP por ser mais do que previsível qual seria a sua intenção e atitude. Bastou-me ler o que sobre esse eloquente momento se escreveu, e disse, para ver confirmadas a justeza das palavras de Marcelo, quando a classificou de maquiavélica, de Paulo Pedroso quando nela detetou uma nada inocente perversidade e a ministra da tutela, que identificou o ministério público como casa a que conviria devolver um sentido de ordem depois de tão evidente confusão.

Seria trágico que, como disse Pedro Marques Lopes, tudo se reduzisse a uma instituição teimosamente fechada numa bolha. Mas não é só isso que se afigura percetível: ela é a autora de um indesmentível golpe de Estado, que derrubou um governo legitimado por uma maioria absoluta e entregou o país a gente incompetente, que está a estragar muito do que de positivo se conseguira nos oito anos anteriores.

E, prova indesmentível do alinhamento de alguns procuradores com a agenda política da extrema-direita reside no facto de ser o Chega o único partido ainda capaz de defender o indefensável: os métodos e o comportamento reiteradamente pidesco de quem é capaz de pôr alguém sob escuta durante quatro anos naquilo que é estratégia de vigilância política sobre quem se quer acusar, mesmo nada tendo se substantivo para o conseguir. 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Allons, enfants de la Patrie

 

Quantos deputados teriam cabido a mais à Nova Frente Popular se os macronistas os tivessem imitado mais seriamente na regra de desistirem em seu favor, quando estava em risco a eleição de um neofascista? Os 182, que lhes deram a vitória teriam subido até aos mais de 200, que juntados os classificados como de esquerda, mas nela não filiados, também se viram eleitos!

Helas que o sentimento republicano foi escrupulosamente cumprido à esquerda, mas falhou significativamente à direita.  Porque teria sido relevante que o partido de Marine Le Pen saísse mais humilhado da consulta eleitoral de ontem do que denotam os seus 143 deputados.

É por isso que Macron não merece qualquer consideração da esquerda e deve por ela ser detestado de tout son coeur. Porque ficará para a História como o infiltrado, que começou por fazer o trabalho de sapa por dentro para, depois, de fora, a querer destruir. Episódio infeliz da História francesa este duplo mandato, que se concluirá daqui a três anos, será aquele em que a esquerda no seu todo, e o Partido Socialista em particular, definhou até quase à extinção, mas tem agora o momento de fénix renascida.

Esperemos que saiba vencer a tentação sectária e aja inteligentemente para utilizar a seu favor o repúdio evidente que a maioria do eleitorado denota pelo regresso às tentações sombrias do passado fascista. Para le Pen e seus aparentados europeus, entre os quais conta-se Ventura, poderá aqui ficar registado o momento de viragem em que depois de verem a maré crescer a seu favor, se retoma o refluxo, que os devolverá à merecida insignificância.

domingo, 7 de julho de 2024

Entre o Ser e o Parecer

 

1. Confesso que a melhor notícia, que recebi das eleições no Reino Unido foi a da vitória de Jeremy Corbyn em Islington North. Porque, vilipendiado pelo próprio partido, sobre o qual não se esperam grandes mudanças transformadoras da economia inglesa - tão má é a herança deixada pelos conservadores! -, Corbyn será sempre o porta-voz de uma esquerda, que não se envergonha de o ser e dispensa maquilhar-se com as vestes do dito “pragmatismo”.

Tem sido um dos grandes problemas da esquerda desde a Terceira Via proposta pelo blairismo: pegar nas bandeiras das direitas - as das contas certas é apenas um exemplo! - e ser mais competente do que elas para as levar por diante.

Corbyn, que chegou a entusiasmar os jovens, poderá ter neles o suporte para servir-lhes de porta-voz das preocupações, que os leva a, noutras latitudes, entregarem-se às falaciosas promessas das direitas extremas, incluindo as ultraliberais.

2. Compreende-se que as direitas mediáticas queiram diabolizar Pedro Nuno Santos (replicando o que, na Inglaterra, foi feito a Corbyn, embora ainda sem conseguirem uma munição tão tragicamente eficiente como contra ele foi a do “antissemitismo”). Ele é a esquerda que assusta e não tem essa tal vergonha em ser quem é. Para já vai servindo de grilo falante contra um (des)governo a caminhar no sentido errado do ponto de vista orçamental, na distribuição do esforço [fiscal] e no objetivo de Portugal ter uma economia avançada”.

 3. Na crónica da última página do Público Pedro Adão e Silva assesta baterias contra os simulacros de justiça hoje protagonizados pelas Comissões de Inquérito Parlamentares, que perderam os justos propósitos originais e hoje “alimentam uma mistura explosiva de ressentimento e voyeurismo social” para proveito de duvidosos canais noticiosos, assim servidos de horas de tempo de antena gratuitas. Não servindo para fazer justiça nem “dignificar as instituições políticas e, muito menos, um espaço público decente”. 

sábado, 6 de julho de 2024

Perguntas de um operário letrado (VI) - Iniquidades

 

1. Tendo em conta que, através de uma autorização para alterar o código do IRC, o governo quer dar uma borla fiscal aos patrões no valor de 1500 milhões de euros até 2027, ao ritmo de 500 por ano, aonde se virão a sentir os efeitos desse corte no agravamento da já má qualidade dos serviços públicos? Até quando a publicidade mentirosa na forma de power points cheios de promessas sem substância será entendida como aquilo que é: uma completa vigarice?

2. Como se sentirão os tão buliçosos professores, agora tão amansados, ao saberem que o argumento assumido pelo governo aos polícias para os calar é estarem-lhes a ser dados mais 200 euros mensais do que a si? Que respeito sentem pela sua classe, quando a veem menorizada em relação às das forças policiais, como se uns fossem os enteados de uma família com mais diletos filhos?

quinta-feira, 4 de julho de 2024

A angústia do mau guarda-redes perante os muitos penaltis

 

Há a ilusão de entrarmos na tradicional silly season com o calor a amolecer as mentes e as notícias políticas - nacionais ou internacionais! - em proveito das episódicas vicissitudes dos futebóis.

E, no entanto, há a possibilidade da Inglaterra voltar a ter os trabalhistas no poder (embora Keir Starmer seja versão recauchutada de Tony Blair!) e, quer em França, quer nos Estados Unidos, os  presságios mais sombrios poderem estar à beira de ser desmentidos. Ou que, internamente, e depois de ter saído entronizado do golpe de Estado promovido por Marcelo e alguns procuradores do ministério público, Luís Montenegro comece a sentir aquilo que já era uma evidência antes de dar satisfação ao ego: não ter unhas para tocar a guitarra, que lhe calhou.

É claro que não faltam vozes a apelar ao Partido Socialista para mostrar piedade cristã para com as insuficiências (des)governativas  - e o texto de Manuel Carvalho hoje no Público é disso exemplo lapidar! - rendendo-se a quem na Assembleia tem o mesmo número de deputados.

Inteligente a estratégia de Pedro Nuno Santos enquanto líder da oposição: nunca tergiversando com os princípios sabe que ser altura para ter nervos de aço e esperar por quanto resultará da inabilidade dos vários ministros para resolver as dinâmicas de protesto, que se conjugaram para secundarem a recente conspiração, mas se cingem às ambições corporativas de quem viu na extrema-direita a aliada para satisfazer os seus interesses, mas agora a constata mais do que insuficiente para os garantir. Talvez haja quem ande a ter consciência de ser bem mais asizado o caminho anterior de ir dando passos seguros à medida da perna...

domingo, 30 de junho de 2024

Mio Dio, come sono caduta in basso! 

 

Fiquei satisfeito com a nomeação de António Costa para o cargo de Presidente do Conselho Europeu? Para confessar a verdade, e como cantaria o Sérgio Godinho, é algo que sabe a pouco. Corresponde a um prémio merecido pelas suas qualidades, e por todo o percurso político neste quase meio século decorrido desde a precoce militância no Partido Socialista, mas daí não advirá nenhum benefício para os portugueses, que se iludiram com a possibilidade de  repetir no seu cantinho à beira-mar plantado algo de parecido com a Suécia que, entre 1936 e 1976, conheceu uma notável transformação socioeconómica sob a égide de sucessivos governos social-democratas (quando isso se aparentava ao almejado socialismo!).

Por erros próprios e circunstâncias adversas (o covid, a guerra na Ucrânia e na Palestina), António Costa será sempre o primeiro-ministro, que teve uma oportunidade única para operar uma mudança profunda no subdesenvolvimento crónico do país e o desperdiçou com uma demissão, que entregou às direitas todas as alavancas de poder, que de nada servem para melhorar a vida da grande maioria, mas satisfaz plenamente os interesses gananciosos dos que já arrebanham a parte substantiva dos rendimentos decorrentes do PIB.

Dir-se-á que estava condenado a inglória missão, quando existem Putin e Zelensky, Netanyahu e o Hamas, sem falar em todos os clandestinos poderes, que se apossaram dos meios de comunicação e das redes sociais para espalharem notícias manipuladas em favor de um sistema económico próximo do estertor, que venderá cara a morte, nem que seja na forma de distopia apocalítica.

Esperemos que Daniel Oliveira tenha alguma razão, quando formula o desejo de ver algo de novo emergir de um estado em que tão baixo tombámos. Afinal até no filme do Luigi Comencini, que serve de título a este texto, a Laura Antonelli acabava por encontrar a felicidade depois de tantas amargas vicissitudes... 

terça-feira, 25 de junho de 2024

Perguntas de um operário letrado (V) - Desta vez a pedrada no charco foi suficientemente forte para lhe quebrar a indecorosa pacatez?

 

António Costa é um dos principais culpados do marasmo criado nestas  décadas na relação entre a justiça e a política com a imprudente, tese de uma e outra serem independentes uma da outra. Assim deveria ser, mas não era, nem é, e o próprio ex-primeiro-ministro provou agora do veneno de que se julgava imune.

É verdade que as pedras atiradas para esse pântano nos últimos anos nunca beliscaram a suposta autonomia do ministério público, que fez de alguns procuradores os continuadores da Pide, ao servirem-se das escutas como forma de vigilância política ao jeito praticado durante o regime fascista. É perturbador saber que esses procuradores, os juízes que lhes têm dado cobertura e os polícias armados em coscuvilheiros das vidas alheias, não têm sentido o mínimo pudor em comportarem-se como os seus antecessores no Estado Novo.

Só não admira, que André Ventura defenda, com unhas e dentes, esses métodos coincidentes com a natureza fascista das suas ideias.

A questão que se põe é saber se, perante o escândalo público das frases divulgadas na conversa de António Costa com João Galamba, a pedra atirada para o malcheiroso charco, que metaforiza essa relação entre política e justiça foi, finalmente, suficientemente forte para, enfim, ser levada por diante a necessária reforma da justiça de acordo com uma ética republicana de que, lamentavelmente, só Rui Rio se tem feito solitário porta-voz.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Perguntas de um operário letrado (IV) - A Peste

 

Ao verem o indecoroso ataque de André Ventura a Daniela Martins na audição da comissão parlamentar sobre as gémeas socorridas com avultado medicamento no Hospital de Santa Maria quem terão apoiado os seus mais de um milhão de votantes nas últimas legislativas? O político sem escrúpulos, que de tudo se vale para levar por diante a sua agenda venenosa ou a mãe, que fez tudo quanto estava ao seu alcance para acudir às filhas acometidas de tão grave problema de saúde?

Serão necessárias provas acrescidas para que os votantes do Chega, que ainda contenham dentro de si algum sentido de decência, se distanciem de quem deveriam ver como um vírus pestífero?

 

Uma imagem eloquente

 

A imagem vale por mil palavras a respeito da agressão israelita ao território de Gaza: os soldados israelitas prenderam um ferido palestiniano no capô do jipe a título de escudo humano para avançarem mais protegidos numa das suas incursões.

O que dirão os defensores de Netanyahu - que tão ignobilmente acusam os detratores de antissemitismo! - desta atitude criminosa sistemática dos que já assassinaram mais de trinta mil pessoas a pretexto da humilhação a que se sujeitaram em outubro passado? 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Perguntas de um operário letrado (III) - Pacotes que são uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma

 

1. Até quando vai este desgoverno querer iludir palecos com anúncios de pacotes em power point com medidas apresentadas, que repisam as lançadas pelo executivo de António Costa, ou com coisas tão vagas e/ou inverosímeis que em nada resultarão?

Por muito esforço que faça a comunicação social, enfeudada à falaciosa necessidade de uma estabilidade feita de rendição da oposição das esquerdas, por quanto tempo levarão os hospitais fechados, os alunos sem professores, ou as rendas indecorosamente caras, a suscitarem a onda social, que derrubará tão frágil castelo de cartas, sem sequer precisar de ser um tsunami?

2. Não foi para isso que extinguimos a Pide?

Transforme-se em pergunta o que para Daniel Oliveira foi uma afirmação, e questionemo-nos acessoriamente como foi possível deixar que o aparelho de Estado e a comunicação social tenham sido infiltrados por aqueles que quiséramos crer nunca mais regressarem, quando foram derrotados há cinquenta anos. A questão pertinente é saber como conseguiremos livrar-nos de serpentes saídas dos ovos e, à nossa volta, tão disseminadas?

3. Sendo absurdo o custo de uma operação envolvendo cinquenta inspetores da Judiciária para averiguarem os lautos almoços de Isaltino Morais cabe questionar até que ponto algum ministério público toma o edil de Oeiras como oportuno bombo de compensação para parecer imparcial na conduta de ser vesgo, porque só sobre a esquerda verdadeiramente incide?

4. Mário Nogueira queixa-se do pacote para as escolas públicas, mas sendo burro velho não consta que aprenda as lições do passado: quando concluirá que para os seus representados um governo das direitas será sempre pior do que o liderado por socialistas? 

quarta-feira, 19 de junho de 2024

If I were a rich man!

 

Imaginemos que eu era um dos empresários, que compareceram à conferência promovida pela Fundação Luso-Americana, e ouvia as explicações de Pedro Nuno Santos sobre os objetivos de se selecionarem os investimentos passíveis de criarem maior valor e enquadrados numa urgente necessidade de reindustrialização do espaço europeu que escapem à tentação das potências mais fortes para os cingirem ao eixo Milão-Toulouse-Hamburgo.

Perante o pensamento estruturado e visionário do líder socialista teria de o comparar com a pobreza argumentativa de um Montenegro para quem sobra crendice suficiente para suspirar pela “mão invisível” capaz de multiplicar euros à conta do saturado turismo e da redução do IRC.

Voltando à velha metáfora da roda mandante e da roda mandada, as direitas - todas elas, mais ou menos extremas na assumpção da cartilha neoliberal! - abrem janelas privatizadoras do que ainda resta, sem cuidarem se por elas irromperão bons ou maus ventos. Limitam-se a acreditar no pensamento mágico de serem os mais benignos.

Ao contrário Pedro Nuno Santos propõe comandar o que se abre ou fecha, sempre num lógica de trabalho conjunto com quem tem projetos para lançar ou desenvolver negócios, que potenciem o PIB, o emprego e os rendimentos dos que para eles virão a trabalhar.

Apesar de, tendencialmente, a condição de empresário me inclinasse para as direitas, a sua falta de sensatez empurrar-me-ia para onde, mais racionalmente, viria a colher benefícios. Mas isso sou eu a imaginar o que deveria idealmente pensar quem é tão diferente de mim...

domingo, 16 de junho de 2024

Para acabar de vez com esta falsa ideia de Democracia

 

Uma das maiores mistificações há muito vendidas pelo espaço mediático é qualificar os Estados Unidos como um país democrático.

Na realidade a única diferença entre as eleições aí organizadas e as que consolidaram Putin na condução da Rússia nos próximos anos é tratar-se de uma farsa melhor organizada, porque só uma elite muito restrita consegue fazer-se candidatar tendo em conta a forma como aí se financiam as campanhas eleitorais, ou como Einstein tinha razão ao alertar para a impossibilidade de criar uma opinião pública informada sendo os meios de comunicação exclusivamente detidos pelos mais ricos.

O que faz convergir Biden (ou Trump) com Putin ou Xi Jinping é todos eles terem por, exclusiva preocupação, expandirem os interesses dos respetivos oligopólios por mercados mais alargados. E isso nada tem a ver com os governos do povo, pelo povo e para o povo, baseados na lógica do voto de todos os cidadãos, porque o estado atual das coisas só os mais ricos realmente aproveitam.

Capitalismo de corporações ou de Estado não é conceito que consiga conjugar-se com o tipo de Democracia, de que tantas marionetes mediáticas pretendem convencer-nos ser aquela em que vivemos. A nossa, a verdadeiramente democrática, nada tem a ver com a liberdade e ganância dos donos dos mercados, mas com a preocupação em garantir um mundo sustentável em que as gritantes desigualdades se tornem obscenas. E essa utopia realista chama-se socialismo no modelo já tantas vezes ensaiado e frustrado, mas que terá de encontrar arte de se afirmar como única solução para evitarmos as distopias para que, ingloriamente, parecemos avançar... 

sábado, 15 de junho de 2024

Ética, responsabilidade e (muita) coragem

 

Esta semana, ao sairmos da Irmã Palestina, peça do ciclo sobre as 1001 Noites, que o Teatro O Bando anda a criar, entregaram-nos um cartão com uma pequena e eloquente história:

Para eu adormecer o meu pai cantava

- Ó professora, o lobo vem aí para nos comer, o que devemos fazer?

- Ó meus queridos meninos, fiquem onde estão, continuem à escuta.

- Ó professora, este lobo come carne.

- Ó meus queridos meninos, não se assustem, este lobo só come quem tem medo.

Na sua singeleza este pequeno conto diz tudo sobre quanto é necessário para vencer a vaga de extrema-direita, que varre a Europa e ameaça devolver Trump à Casa Branca. Como escrevia Bernardo Pires de Lima em crónica recente exigem-se políticas com ética, responsabilidade e coragem! Atributos, que não faltam a Pedro Nuno Santos e não se descortinam em Montenegro...