A forma como as redes sociais ativam o desejo por compensação imediata não é apenas um problema individual; é também um terreno fértil particularmente bem explorado pelas ideologias de direita e extrema-direita. As características que fazem-nos mais vulneráveis aos problemas de dependência digital parecem, ironicamente, ser as mesmas que as tornam tão eficazes na comunicação online.
A extrema-direita percebeu que, para se propagar, precisava de conteúdos que gerassem um empenho aditivo na utilização dessas redes. Mensagens simples, diretas e muitas vezes chocantes funcionam como a "dose" de dopamina que o algoritmo adora e os utilizadores compulsivamente procuram. A busca incessante por "likes" e "partilhas" é espelhada na urgência de disseminar uma mensagem, independentemente da sua veracidade, porque o que importa é a gratificação instantânea de ver a ideia a espalhar-se.
A dificuldade em lidar com frustrações, gerada por um ambiente de recompensas rápidas, também encontra eco. Em vez de complexas análises políticas ou discussões ponderadas, as narrativas da direita e da extrema-direita oferecem soluções "mágicas" e bodes expiatórios para problemas complexos. Se a paciência para o debate depressa se esgota, a promessa de resoluções imediatas e simples, mesmo ilusórias, torna-se assaz atraente.
As redes fazem com que, no seu uso contínuo, decline a concentração e a produtividade. Neste cenário, mensagens longas e argumentos detalhados perdem espaço. As ideologias que prosperam são aquelas que se encaixam perfeitamente na lógica dos títulos curtos, memes impactantes e vídeos de segundos. O "fast-food" ideológico é mais facilmente digerível por mentes habituadas a estímulos rápidos e pouca profundidade.
Paradoxalmente, apesar de serem espaços de "ligação", as redes podem levar ao isolamento social. Em vez de promover a empatia através da multiplicação de interações, os algoritmos criam "bolhas" onde as pessoas são expostas apenas a opiniões que já validam as suas. A direita e a extrema-direita aproveitam isto, construindo comunidades online coesas e isoladas, onde a validação mútua do grupo (a compensação imediata) é reforçada, e a divergência é rapidamente expulsa ou "cancelada". Este ambiente é propício ao “Fear of Missing Out” do grupo, criando uma pressão para que os membros estejam sempre alinhados e ativos, para não ficarem "por fora" da onda ideológica.
A capacidade de disseminação destas ideologias nas redes sociais não é uma coincidência. Elas dominam a arte de explorar os mecanismos psicológicos que nos tornam vulneráveis à dependência digital, transformando os nossos próprios desejos de validação e recompensa imediata em ferramentas de disseminação ideológica.
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