Gramsci, na análise sobre a crise do seu tempo, descreveu-a como um período de interregno: "o velho morre e o novo não pode nascer; neste interregno, surgem os mais variados fenómenos mórbidos." Essa definição ecoa com a conjuntura política e socioeconómica global atual, particularmente quando a observamos através de uma lente ecossocialista. O velho sistema capitalista, nas suas contradições internas e intrínseca incapacidade de lidar com a crise ecológica e social, está em processo de falência, enquanto um novo paradigma – o da justiça social e ambiental – ainda luta para se afirmar e consolidar.
Nos Estados Unidos, a deceção com a administração de Donald Trump é um exemplo desta fase. Muitos dos que nele depositaram a confiança, iludidos por uma retórica que prometia um regresso a um passado idealizado – sem tocar nas estruturas sistémicas da acumulação capitalista –, veem agora as condições de vida agravadas. As sondagens refletem essa insatisfação, posicionando-o entre os presidentes com maior rejeição num curto espaço de tempo. Este cenário ilustra a falácia de se acreditar que figuras populistas, mesmo que radicais na forma, podem resolver problemas que são estruturais, sem confrontar a lógica da acumulação capitalista que os engendra.
Apesar da recente vitória de um político de extrema-direita na Polónia, este resultado não deve ser interpretado como sinal de força inabalável para esses movimentos. Pelo contrário, pode reforçar a ideia de que a alternativa à atual crise não reside na "moleza" de um centro político neoliberal, personificado por figuras como Tusk – que perpetuam a lógica do status quo –, mas na emergência de líderes e movimentos que apresentem soluções verdadeiramente sistémicas e transformadoras. A agenda ecossocialista, que une a luta pela justiça social ao imperativo da sustentabilidade ambiental, emerge como a única via capaz de construir um futuro que não seja apenas diferente, mas intrinsecamente mais justo e equitativo.
A possível decadência das direitas extremas começa a dar sinais, como o demonstra a demissão dos correligionários de Wilders do governo dos Países Baixos. Enquanto força de protesto, esses movimentos conseguem seduzir os que se iludem com "pensamentos mágicos", prometendo soluções simplistas e reacionárias para problemas complexos. No entanto, uma vez chegados ao poder e confrontando-se com a realidade da governação – sem propor uma rutura com as bases do sistema –, a fragilidade das suas propostas torna-se evidente. A queda nas sondagens é quase inevitável. Isso demonstra uma verdade fundamental, que o ecossocialismo sublinha: embora possam funcionar como panfletários dos descontentamentos sociais e da frustração causada pelo capitalismo, os movimentos de extrema-direita não constituem uma solução quando importa dar respostas genuínas e sustentáveis aos desafios que a sociedade enfrenta, especialmente os ligados à crise ecológica e à crescente desigualdade social. A verdadeira mudança virá de uma transformação profunda das relações de produção e consumo, e não de meros paliativos ou regressões autoritárias.
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