terça-feira, 24 de junho de 2025

O Crepúsculo do Velho e a Longa Espera pelo Novo

 

É impossível não sentir que vivemos num impasse, num daqueles instantes históricos que Gramsci tão bem descreveu. O velho mundo, com as suas certezas e estruturas, parece ter-nos deixado, ou pelo menos está em franco declínio. No entanto, o novo, aquilo que deveria substituí-lo e oferecer um caminho, ainda teima em não mostrar a cara. Permanecemos presos neste interregno, um período de morbidez onde fantasmas do passado insistem em assombrar o presente e as soluções do futuro parecem permanentemente adiadas.

Olhamos para o panorama global e vemos a persistência de estratégias que, de tão óbvias na futilidade e perigo, questionam a lógica por detrás delas. Sejam os conflitos que se arrastam, com anúncios de tréguas que mais parecem pausas para rearmar a velha agenda, seja a forma como a política parece refém de tacticismos vazios em vez de um projeto consistente. Há uma sensação de que estamos à deriva, com os decisores mais preocupados em manter aparências ou em fugir para a frente do que em construir algo de verdadeiro.

E em casa, no nosso próprio quintal, a realidade não é menos frustrante. Vimos capacidade de gerir emergências, como a pandemia e a crise inflacionária que a seguiu. Mas e o depois? Onde está a visão de longo prazo, o plano que nos tire desta letargia e projete para um futuro com menos incertezas e mais equidade? Infelizmente, a tendência parece ser a de sempre, a de fazer recair o peso das crises sobre os ombros de quem menos pode: os reformados, as políticas sociais. É um caminho que, por mais que se tente mascarar, não aponta para um horizonte de esperança.

A frustração é ainda maior quando vemos os que poderiam fazer a diferença tropeçar. Quando a oposição dilui-se em colaborações envergonhadas com o “novo” (na realidade velho) governo em vez de se afirmar como uma alternativa robusta e visionária. Perdeu-se, com a derrota de Pedro Nuno Santos, uma oportunidade de ouro para resgatar essa visão de futuro que, noutros tempos, trouxe-nos ministros (a começar pelo notável e injustamente esquecido Mariano Gago) e projetos de grande relevância.

No meio de tudo isto, assistimos à ascensão do que há de pior na política, ao populismo que explora as fragilidades e os medos. São as "bestas" que assumem papéis ilegítimos (se não mesmo inconstitucionais) mas  encontram eco numa sociedade cansada e desiludida.

Este é o nosso momento gramsciano. Um tempo de incerteza, onde o novo é aguardado com urgência, mas permanece escondido nas sombras. Resta-nos a capacidade de denunciar o fraudulento presente e a esperança de que, um dia, o sol nasça para uma nova alvorada.

 

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