domingo, 30 de janeiro de 2011

A nossa atenção ao Norte de África

O que se está a passar no Norte de África suscita algumas perplexidades, por muito que desejemos o sucesso de revoluções populares capazes de transformar ditaduras corruptas em democracias, mesmo que do tipo burguês.
Porque existe o receio de ver o islamismo aproveitar para singrar em países aonde eles têm sido contidos e as mulheres ainda não se sujeitam aos horrores opressivos de um Irão ou de uma Arábia Saudita. E essa eventual solução só tornaria mais candente a questão do choque de civilizações, que continua a perdurar…
O que hoje se vê é uma tendência acelerada de transformação política em que se derruba o estado actual das coisas sem se conseguir vislumbrar qual acabará por vigorar: se a revolução tunisina demorou três semanas a derrubar o regime, Mubarak, no Egipto, parece em vias disso ao fim de quatro ou cinco dias.
A novidade do que se está a passar é o facto de surgir nessa região geográfica um movimento popular empenhado em mudar regimes, recorrendo a redes sociais. Algo que poderá vir a ser replicado noutras regiões: porque não na nossa Europa aonde os mais ricos (países e pessoas) se mostram insensíveis às aflições dos que mais desarmados se mostram perante a guerra económica em curso...

sábado, 29 de janeiro de 2011

Sopram ventos adversos

No «Diário Económico» de hoje surge um conjunto de notícias e de opiniões sobre as quais valerá a pena atardar-nos alguns instantes por nos possibilitarem uma melhor interpretação dos dados caóticos, que nos chegam de diversas direcções.
Voltemos, ainda, ao tema requintado da reeleição de Cavaco Silva para a Presidência da República. Aos microfones da Rádio Renascença, o ministro Silva Pereira constata alguns números: se há alguma coisa de novo nestas presidenciais, é a circunstância de Cavaco Silva ser reeleito com menor número de votos - é o Presidente com menos votos de sempre -,  com menor percentagem na reeleição e o que perdeu mais votos entre a primeira e a segunda eleição.
Virá da consciência desse semi-fracasso o desbragamento do seu inacreditável discurso de vitória. Que leva o insuspeito Raul Vaz a comentar: Ei-lo, pois, no seu fulgor: irrelevante além do pequeno, pequenino mundo em que se desenvolve um modelo numa regra de três simples. Cavaco é assim e não tem emenda. Sempre foi - desiludindo apenas aqueles que esperam um golpe  fora dos eixos. Perdeu-se mais uma oportunidade. Tem-se perdido  desde que se acredita no triunfo de uma inconsequência.
Será porque pressente a possibilidade de não vir a ter um sucesso tão próximo, quanto desejaria, que Paulo Portas se agita no frenético esforço de ressuscitar um cadáver, apresentando aos  portugueses o modelo zombie de governação. Ou aliança velha como, mais polidamente, a crisma João Paulo Guerra: a política portuguesa, tão entrevada de criatividade, serve-se na modalidade de pescadinha de rabo na boca. Isto é: as mesmas ideias ou a falta delas, os mesmos projectos, o mesmo arsénico e as mesmas rendas velhas saem de cena por uma porta e entram por outra, numa marcação de récita amadora sem a mínima imaginação nem originalidade. Agora, a direita volta a querer uma nova Aliança Democrática, isto é, uma Aliança velha.
E, no entanto, toda a conjuntura parece dar sinais de piorar: o número de desempregados sem subsídio continua a aumentar e, em Dezembro, atingiu novamente um valor recorde. No final do ano passado, havia 246 622 pessoas sem emprego e sem direito a esta prestação, representando quase metade do total de desempregados inscritos nos centros de emprego (45,5%). Um ano antes o número de desempregados que não recebia qualquer apoio não chegava a um terço.
Torna-se previsível uma reacção a tantos dramas sociais. Como aconteceu na Tunísia, e está agora a suceder no Egipto. No entanto, António Barreto desengana quem julga que a indignação perigosa provenha das classes mais desfavorecidas: o descontentamento verdadeiro, a indignação perigosa - para já não falar de revoluções e motins - não vem dos pobres cada vez mais pobres, porque esses estão ocupados a sobreviver e a arranjar pão, não têm tempo para fazer revoluções. A ferocidade virá afinal da classe média: dessas classes que viveram dez, vinte, trinta anos em prosperidade e crescimento, aumentando as suas ambições e satisfazendo as suas expectativas e de repente vêem que tudo está em causa.
Para já são essas classes (magistrados, professores, escolas privadas), que mais contestam as medidas governamentais numa lógica de puro egoísmo. Porque, como alerta João Cardoso Rosas são muitas vezes aqueles que mais criticam a «gordura» do Estado e preconizam o seu “emagrecimento” que, quando confrontados com o facto da austeridade no seu próprio quintal, reagem com maior violência...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A vulnerabilidade de Cavaco

Ainda antes do domingo eleitora, escrevia Fernando Madrinha no «Expresso»: Nunca um presidente à procura da reeleição foi alvo de ataques e suspeições tão graves. E a recusa de um esclarecimento cabal dessas suspeições tornou-se um problema sério. Para Cavaco Silva, mas também para o país, porque, ainda que seja reeleito (…) ficará em Belém um Presidente mais vulnerável do que aquele que de lá saiu há duas semanas.

Uma péssima escolha para Belém

Um em cada quatro portugueses manifestou ontem a vontade de ter Cavaco Silva como inquilino do Palácio de Belém por mais cinco anos. Escolha lamentável de uma minoria, que nos vai impor uma personalidade serôdia, mesquinha, conservadora, paradigma do que são os portugueses no seu pior. Porque nada o dissocia da imagem do sonso armado em esperto, que nunca se compromete quando os ventos sopram agrestes (nunca foi capaz de um mínimo gesto de coragem cívica durante o fascismo!), que é capaz de participar em trafulhicescomo se fosse um inocente investidor (e ganha assim obscenos lucros nos seus investimentos!) ou de fugir ao fisco com habilidades pelas quais outros seriam trucidados (vide o caso de António Vitorino a respeito da sisa de uma sua propriedade, episódio menoríssimo em comparação com o caso singular da troca da casa de férias algarvia!) ou ainda de alimentar o lamentável episódio da conspiração antigoverno em cumplicidade com o jornal de Belmiro de Azevedo, mesmo atirando então às feras um seu fidelíssimo sicário, quando toda a tramóia saiu desmascarada...
É este autoproclamado modelo de virtudes públicas, que deveremos aturar por mais um ciclo político. Quando o período de campanha apenas confirmou o que de pior dele conjecturávamos. E tornam-se assim mais cinzentas as expectativas para esse futuro próximo...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Derrotar Cavaco: um dever de higiene

Ao passar mais um aniversário sobre a data mítica da grande greve antifascista de 1934, ganha particular acuidade a óbvia similitude entre o candidato Cavaco Silva e o tenebroso ditador, que oprimiu a maioria dos portugueses durante mais de quarenta anos.
Se Salazar alimentou uma fantasia lusitana baseada num país de brandos costumes, aonde se premiava a humildade e se castigava o livre pensamento, Cavaco Silva fomenta de si uma imagem completamente falsa de ideal de virtudes acima da «podridão política» como se não fosse ele o mais duradouro titular de cargos públicos desde o 25 de Abril.
Paradigma de tudo quanto de negativo existe no Portugal de hoje, é um dever higiénico contribuirmos para o remetermos para o tal caixote do lixo aonde fiquem sem remissão todos os medíocres, que terão trabalhado para que as coisas continuassem a ser como são.
Há quem acene com a falta de conhecimentos de Economia de Manuel Alegre para justificar a opção pelo seu adversário, tanto mais que a situação conjuntural exigirá sagacidade nesse campo de análise política. Mas terá alguma vez mostrado Cavaco Silva alguma capacidade nessa vertente, ele que deve a sua fama e proveito aos estranhos amigos de que se rodeou e de ter-se revelado o oportunista crasso para quem os socialistas prepararam os lautos fundos europeus com a entrada para a CEE e que ele (des)aproveitou numa orgia de maus investimentos, que o deveriam condenar perpetuamente a uma proibição expressa de voltar a ocupar cargos públicos?
Cavaco Silva é o maior exemplo de como a fantasia lusitana de Salazar continua a produzir sucedâneos míticos de tão néscia dimensão, mas que persistem tão malignos como a torpe ditadura de que se revela inconfessado discípulo...

domingo, 16 de janeiro de 2011

Escolher entre o cobarde e o corajoso homem de cultura

Um dos excelentes programas de Raphäel Enthoven sobre filosofia, transmitido pelo canal franco-alemão ARTE, vem em boa altura para analisar o comportamento dos portugueses, e sobretudo das suas elites, a respeito das eleições presidenciais do próximo dia 23.
O tema da discussão com a filósofa Judith Revel era a militância, o compromisso político. E o ponto de partida não poderia ser mais eloquente: somos sempre obrigados a um compromisso militante. Porque, mesmo quando escolhemos não o desempenhar, já estamos de uma forma indubitável a assumir um outro não menos óbvio. Ou seja, por exemplo na França Ocupada da 2ª Guerra Mundial a opção era muito clara: ou se lutava contra a barbárie nazi, alistando-se na Resistência ou era-se um colaboracionista. Como era o caso de todos quantos não se sentiam particularmente ligados ao regime de Vichy, mas nada faziam para o derrubar.
Ora o paralelo mais evidente com esse caso em concreto foi o da atitude do cidadão Cavaco Silva perante o regime fascista e com a guerra colonial, que ele alimentava em África. Ao não se comprometer com o seu derrube, o cidadão Aníbal Cavaco Silva foi um fascista passivo, um cobarde, que nunca deveria ter chegado à Presidência do Portugal democrático, nem obviamente ser em tal função reconduzido.
E essa cobardia deve ser vista em contraponto com o comportamento de Manuel Alegre que, mesmo contrariando os seus interesses pessoais, virou costas ao exército agressor e decidiu combater o regime no seu exílio. Despertando consciências a partir das suas emissões radiofónicas a partir de Argel.
Nessas duas atitudes: a do colaboracionista e a do resistente antifascista estão explicitadas as visões de ambos sobre a realidade em que estamos mergulhados.
E entre quem ganhou rendimentos de aplicações financeiras em vigarices organizadas pelos seus amigos mais próximos, e o homem de cultura íntegro, que assume o seu empenhamento com a cidadania na base dos valores éticos mais exigentes, não há qualquer dúvida sobre quem escolher no próximo dia 23.
Muito mal irá o país se renovar o mandato do actual inquilino de Belém.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Comemos mais, produzimos menos...

Em si poderemos estar confrontados com um problema muito sério pelo facto de, nos últimos dez anos, a nossa balança comercial alimentar ter-se agravado mais de 23%. Ou seja, trocando por miúdos, cada vez mais somos obrigados a comprar ao estrangeiro aquilo que comemos. Porque aumentámos o nosso consumo e deixámos de produzir tanto. Sujeitando-nos aos humores dos preços nos mercados internacionais aonde incêndios na Rússia ou inundações na Austrália podem fazer galopar os preços dos cereais, da carne, do leite, até mesmo das rações animais com que nutrimos o nosso próprio gado.
Em Moçambique ou na Argélia já ocorrem explosões sociais por causa desta realidade. Por cá arriscamo-nos a que isso também suceda...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Favas contadas? Não tanto...

Os dias mais recentes justificam algum optimismo a quem olha para a realidade com as lentes de quem nela procura detectar todos os sinais possíveis de transformações positivas para uma visão de esquerda para a sociedade.
A direita não tem emenda: as suas preocupações cingem-se à necrofilia mórbida pela memória de um dos seus mais heróis emblemáticos (conhecido pela falta de escrúpulos com que procurava afastar adversários fosse no campo ideológico oposto, fosse no próprio) e à expectativa de lhe ver cair o poder no regaço sem para tal investir o menor esforço.
Mas as preocupações quanto ao sucesso da sua estratégia sofreram súbita agudização com a anunciada crise das actividades circenses na Madeira, com a baixa hospitalar do seu mais talentoso clown, e sobretudo com as dificuldades por que passa o seu candidato presidencial contas com as suas perigosas ligações com o gang responsável pelas vigarices no BPN.
Basta vermos dois dos muitos textos publicados nos jornais deste fim-de-semana para compreendermos como as supostas favas contadas em que a eleição presidencial prometia transformar-se, não serão assim tão certas.
O Diário Económico editorialava assim na sexta-feira passada: O silêncio de Cavaco Silva já não é de ouro. E, por cada dia que o candidato presidencial se mantém irredutível na decisão de não revelar o contrato de venda das acções da ex-SLN, com as quais terá ganho uma mais valia de 140%, esse silêncio torna-se ainda mais insuportável.
Outro insuspeito cronista, Vasco Pulido Valente, também espingardava contra o candidato, que supostamente apoiaria: a alegada candura de Cavaco não o recomenda. Quem se envolveu  - porque ele de perto ou de longe se envolveu - na trapalhada do BPN não é aparentemente a criatura indicada para superintender, com o seu conselho e a sua prudência, a economia de Portugal inteiro.
Quem nos garante que do assento etéreo a que tornará a subir não sairão opiniões ruinosas para o país? (…)
Com o caso do BPN perdeu ele próprio a confiança dos portugueses.
É claro que não será fácil o desafio, que se coloca à esquerda, mas seja Cavaco derrotado, seja ele vencedor, a mácula irá sempre menorizá-lo. E será, então, tempo de cumprir aquilo que Manuel Maria Carrilho propõe para o futuro: uma mudança total dos caminhos recentemente percorridos na governação. Voltando a não ter medo de ser de esquerda: A ideia-chave para que em 2011 se comece a sair do impasse em que o país e a Europa se encontram é só uma: não será com as pessoas, nem com as instituições, nem com as ideias que nos conduziram à crise que conseguiremos sair dela.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Os impasses da democracia

Num artigo do «Nouvel Observateur», o filósofo francês Marcel Gauchet considera que 1974 é um ano de viragem na sequência do choque petrolífero do ano anterior e da terceira vaga de democratizações na Europa do pós-guerra com a Revolução dos Cravos a servir de ponto de partida emblemático.
Segundo ele a crise de crescimento da democracia tem a ver com a convicção de constituir a democracia o único tipo de regime aceitável. E hoje temos de reconhecer a menorização progressiva da democracia, quer ao nível da deliberação, quer da decisão…
No mesmo debate, Pierre Rosanvallon reconhece ter havido uma crise permanente da democracia desde o fim do século XIX, ou seja desde a generalização do sufrágio universal na Europa, já que sempre suscitou expectativas frustradas. Hoje existirá um distanciamento cada vez maior entre o tempo eleitoral e o tempo governamental: enquanto no primeiro se tem de seduzir, mostrando capacidade para ir ao encontro das expectativas imediatas nem que se tenha de, para isso, moldar a realidade, no momento seguinte entra-se na lógica do «Perhaps, we cannot», enfatizando as dificuldades e os constrangimentos ao ideal.
Para o mesmo Rosanvallon o maior problema actual tem a  ver com o enfraquecimento do Estado, quer pelos ataques contra ele proferidos pelos marxistas, que o acusam de estar ao serviço dos poderosos, quer dos liberais para quem ele só defende os interesses corporativos dos burocratas.
Retomar a defesa do serviço público é para este filósofo uma tarefa urgente.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Foi há doze anos que estive na China pela última vez depois de aí ter vivido durante cinquenta e tal dias no ano anterior.
Nessa altura a sua realidade tornou-se-me mais complexa do que a visão ilusória colhida anteriormente nos meus anos de simpatias maoístas. Mas a leitura desse imenso império pela edição mais recente do «Nouvel Observateur» ainda é muito mais contundente nos aspectos negativos do que tranquilizante nos de merecimento de um regime só ciomunista de nome, porque totalmente rendido aos preceitos do capitalismo selvagem.
Para quem não se conforma com a definitiva condenação da herança ideológica dos ensinamentos de Marx, a realidade chinesa é um fascinante laboratório de análise. Porque ali falharam estrondosamente algumas das propostas mais operacionais da ideologia em causa, dando azo ao autoritarismo nepotista de uma clique privilegiada sobre a grande maioria dos explorados. Justifica-se a tal respeito esta interrogação: em que momento se verificou o desvio para a caricatura do que deveria ser uma utopia levada à prática?
E, em alternativa: como será possível recolocar nos carris um comboio tão descarrilado do seu curso inicial?


Foi há doze anos que estive na China pela última vez depois de aí ter vivido durante cinquenta e tal dias no ano anterior.
Nessa altura a sua realidade tornou-se-me mais complexa do que a visão ilusória colhida anteriormente nos meus anos de simpatias maoístas. Mas a leitura desse imenso império pela edição mais recente do «Nouvel Observateur» ainda é muito mais contundente nos aspectos negativos do que tranquilizante nos de merecimento de um regime só ciomunista de nome, porque totalmente rendido aos preceitos do capitalismo selvagem.
Para quem não se conforma com a definitiva condenação da herança ideológica dos ensinamentos de Marx, a realidade chinesa é um fascinante laboratório de análise. Porque ali falharam estrondosamente algumas das propostas mais operacionais da ideologia em causa, dando azo ao autoritarismo nepotista de uma clique privilegiada sobre a grande maioria dos explorados. Justifica-se a tal respeito esta interrogação: em que momento se verificou o desvio para a caricatura do que deveria ser uma utopia levada à prática?
E, em alternativa: como será possível recolocar nos carris um comboio tão descarrilado do seu curso inicial?



Um capitalismo sem remissão

Já sabemos que com as crónicas do Miguel Sousa Tavares no Expresso se cumpre a lei de Pareto ao contrário, ou seja, em que dois em cada dez textos valem a pena ser lidas. Com o sucede esta semana com aquele que se intitula «Este Capitalismo Não Tem Remissão».
Depois de dizer que, à excepção da China, nenhuma das economias mundiais relevantes está livre das consequências das aventuras criminosas do sector financeiro, ele conclui: Antes de mais nada esta é uma crise de valores éticos, de valores de vida em sociedade. E mal vai o mundo se não há uma geração de líderes políticos com capacidade e coragem de fazer frente a este bando de abutres que suga o trabalho, o esforço e os sonhos de tanta gente que é vítima da sua ganância sem limite. Esse é o combate inadiável, sem o qual nenhum sacrifício do presente faz sentido.
E, na mesma edução, outro cronista, Daniel Oliveira lembra para quem anda tão distraído, que disso não se tenha apercebido, que as democracias em que vivemos são um cenário em que fingimos que escolhemos quem finge que decide.

domingo, 2 de janeiro de 2011

A ciência na negação da existência de deus

As ciências, por mais avançadas que sejam, ainda não inventaram nada. O que têm feito é descobrir o que Deus criou.
É de admitir que o responsável por esta frase - o cardeal lisboeta D. José Policarpo - sinta o drama de chegar ao fim da vida a ver desmoronado todo o edifício de certezas em que tem assentado a sua crença mística num deus omnipotente, omnipresente e omnisciente. Ou a sua cegueira fundamentalista lhe iniba sequer a capacidade para se colocar uma pergunta tão óbvia como o é esta: estarei enganado em acreditar numa ficção criada pelos homens para se defenderem da sua ignorância?
A verdade  é que, lançadas aceleradamente no século XXI, as ciências vão dando explicações cada vez mais aprofundadas sobre todas as grandes questões ligadas à nossa existência, transformando a metafísica numa quimérica impossibilidade matemática. E sempre pondo-se em questão, virando-se do direito e do avesso, para testar todas as possibilidades. O que nos leva a uma ideia cada vez mais contrária à nossa necessidade de ver tudo sob o prisma de haver sempre um princípio e um fim: o Big Bang pode nunca ter existido a uma escala universal, porquanto a nível cósmico, sempre terão existido estrelas, planetas, cometas e outros corpos celestes, eles sim sujeitos como nós, ao nascimento e à morte...