sexta-feira, 30 de novembro de 2012

LIVRO: «O Varandim» de Mário de Carvalho


O ano já está quase no fim e é altura de começar a fazer balanços sobre as melhores leituras por que passei no ano em curso. E delas devo salientar o título mais recente de Mário de Carvalho, autor cujo percurso tenho acompanhado desde o saboroso »Contos do Beco das Sardinheiras» até este «O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel» com outros romances memoráveis de permeio.
«O Varandim» é a primeira novela do livro publicado pela Porto Editora, dotado, como habitualmente, de uma riqueza vocabular inerente à marca identitária do autor.
A história passa-se num país imaginário chamado Svidânia, que vive um ambiente muito similar ao do Império Austro-Húngaro na viragem do século XIX para o século XX. Ou seja com a tradição ainda muito vincada nas mentes, mas com as ideias progressistas a percorrerem o seu caminho numa sociedade pouco ciente das transformações por que será em breve obrigada a passar.
Será nesse ambiente que um conjunto de anarquistas pouco experientes falham um atentado contra o grão-duque vendo-se condenados à morte.
A exemplo da Roma antiga os nobres e os burgueses da cidade têm pouco com que se divertirem, pelo que uma execução pública aguça obrigatoriamente a curiosidade.
O Varandim do título será, pois, o da casa de um conde arruinado, Zoltan, donde se poderá assistir ao enforcamento dos revolucionários de uma localização privilegiada. Pode-se, então, imaginar quão tormentosos se tornam os dias do bondoso Zoltan que rejeita a pena de morte, mas não se consegue livrar de quem precisa da sua cunha para comparecer ao grande acontecimento do ano.
É esse o enquadramento em que nós, leitores, somos convidados a mudar de tempo e de lugar para nos evadirmos para a demonstração prática de um conjunto de situações semelhantes às do nosso próprio momento histórico. Com gente atraída pelo espetáculo e não pela sua substância, incapaz de se libertar de preconceitos e de se querer valorizar ao máximo no juízo alheio...

POLÍTICA: Da Palestina à Amazónia passando por uma nacionalização francesa


Algumas das notícias de hoje são animadoras, sobretudo as vindas das estranjas. A começar pela aprovação da Palestina enquanto Estado observador das Nações Unidas, apesar dos esforços de Israel e dos EUA em evitá-lo
Muito embora sempre tenha manifestado uma adesão emotiva ao sofrimento dos judeus durante a Shoah, sinto em contraponto uma progressiva antipatia pelos seus descendentes no que se têm quase mostrado tão tenebrosamente violentos quanto os seus antigos algozes.
De França vem a possibilidade de François Hollande resolver o conflito com a grande metalúrgica indiana Mittal nacionalizando da sua unidade em Florange. É claro que os patrões franceses já andam a declarar-se chocados com tanto desrespeito pela propriedade privada. Mas queriam o quê? Que o Governo esquecesse a sua raiz de esquerda e aceitasse de ânimo leve o desemprego e o desinvestimento implementado pela multinacional indiana numa região já de si ameaçada pela globalização? Nacionalização, já!
Não me custa imaginar, que o futuro próximo obrigue os Estados a fazerem o mesmo a setores fundamentais das respetivas economias, quando se acabarem estas euforias neoliberais. Porque não é verdade que toda a reação causa forte ação? Esperem pela volta os senhores das listas Forbes e quejandas, que os Hugo Chavez serão tipo revolução cultural chinesa: desabrocham quais islandeses, que de pianinho lá vão recuperando o que os banqueiros andaram a estragar… e acabam de vez com essa treta dos mercados à solta sem freio nos dentes!
Notícia igualmente animadora a que revela ter descido para o menor nível desde 1988 a desflorestação praticada na Amazónia, quando começou a ser feita uma monitorização regular por satélites. A superfície destruída entre Agosto de 2011 e Julho de 2012 foi de 4656 quilómetros quadrados, o que equivale aproximadamente à área ardida em Portugal em 2003, o pior ano de incêndios florestais no país. Isto significa que houve uma redução de 27% em relação ao ano anterior, em que o abate de árvores tinha também chegado a um recorde mínimo, 6418 quilómetros quadrados.
Ainda não é a prevalência da ecologia sobre a ganância de madeireiros, de criadores de gado, de mineiros e de plantadores de soja, mas já é indicador de como a presidente Dilma continua a fazer a diferença no lado de baixo do equador...

POLíTICA. Só mais um esforçozinho João, que estás quase a ser perdoado!


Quem começa a resgatar-se da triste figura a que se prestou nos meses anteriores é João Proença, o ainda secretário-geral da UGT. É que perante a entrevista de Passos Coelho à TVI achou por bem dar como moribunda a comunicação entre a central sindical e o governo, retirando a este a possibilidade de continuar a usá-la como berloque na lapela. Bastou para tal a intenção de alteração do modelo contributivo da Segurança Social, descendo unilateralmente as pensões, ou recorrer ao fundo de estabilização financeira como garantia para empréstimos do Estado.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

POLÍTICA: vai chamar radical a outro!


Por estes dias não é só Passos Coelho a merecer violentíssimas críticas. Vítor Gaspar, o verdadeiro líder dessa banda a que ainda chamam de Governo, andou a acusar a oposição por se revelar radical. Mas, como constata Pedro Nuno Santos no «i»  esse epíteto faz muito mais sentido na forma de ricochete. Porque só um radical se dispõe a retirar 5,3 mil milhões de euros à economia portuguesa em 2013, em cima dos mais de 10 mil milhões que retirará durante o ano de 2012. Só um aventureiro se predispõe a fazer experiências numa economia complexa com base em cenários delirantes que nenhum economista subscreve.

POLÍTICA: Como o Daniel Oliveira viu a entrevista de Passos Coelho


Ao ouvir a entrevista de Pedro Passos Coelho, percebi de forma mais evidente do que nunca, que não se trata apenas de um incompetente ou de um cego. O que disse sobre a balança de pagamentos (que ignora os efeitos da crise nas importações e a evolução das exportações muito antes dele chegar ao governo), o que disse sobre o endividamento do Estado e o endividamento privado (que finge não saber qual era um e outro até à crise internacional de 2008), a forma como se refere aos erros das previsões para 2012 (ignorando os efeitos que as suas próprias políticas têm nos indicadores macroeconómicos), a forma como analisou a situação grega (fingindo que esta resulta da não aplicação do memorando da troika) e o olímpico desprezo para todos os avisos sobre as delirantes previsões para 2013 (fingindo não saber que os erros de previsão mais grosseiros têm vindo, aqui e nos restantes países intervencionados, da troika) está tão carregado de falsidades que elas só podem ser deliberadas.
Não é possível que este homem acredite no que diz.. Sentindo-se na necessidade de torcer a realidade de forma tão evidente, não pode acreditar que isto nos tirará da crise. O que o move é mesmo a oportunidade que esta crise lhe dá para aplicar um programa radical que, num momento de normalidade democrática, nunca passaria pelo crivo popular. Como qualquer vanguardista radical, acredita que este é o preço que temos de pagar para as suas medidas purificadoras. Para ele, a troika e a "ajuda" externa não são um constrangimento. São um alibi.

POLÍTICA: uma marioneta perigosa


No seu Manifesto Anti-Dantas, Almada Negreiros dizia que se o objeto da sua sátira era português preferiria ser espanhol. Olhasse ele para Pedro Passos Coelho, o que diria? Que tipo de manifesto lavraria?
Desconhecemos, mas cada vez que nos sacrificamos a ver uma entrevista ou um discurso do primeiro-ministro o que deparamos é manifestamente confrangedor. Primeiro, porque concluímos a iminência de mais um roubo do nosso cada vez mais parco dinheiro. Depois, porque a expressão oral e do próprio corpo é tão má, que dá para perguntar que traumas infantis terá sofrido para procurar na política a forma de os exorcizar.
O problema é que não temos nada a ver com os manifestos complexos de inferioridade, que terá acumulado e o forçam agora a curvar-se tão indignamente aos titereiros, que o transformaram numa lamentável marioneta  E, porque, ao contrário dele cuja capacidade para demonstrar uma linha de pensamento minimamente coerente, esses titereiros (Merkel, banqueiros, interesses estrangeiros gulosamente apostados em se aproveitarem das privatizações) trazem consigo uma agenda ideológica sinistra e de riscos imensos para a exequibilidade futura dos portugueses enquanto nação.

POLÍTICA: o velho ainda não desapareceu e o novo ainda não nasceu


Há uma frase do Gramsci que volta a ter grande pertinência nos tempos que vão correndo: (estamos a viver) quando o velho ainda não desapareceu e o novo ainda  não nasceu. Mas o processo está em marcha»
Entendamo-nos: este é o  tempo em que o capitalismo tem a plena noção da incapacidade de sobreviver para além do seu presente estado de expressão global. Conseguir que, à escala planetária, se aceite a lógica da liberdade dos mercados e se continuem a gerar mais valias produtivas espoliadas por oligarquias cada vez mais reduzidas (os tais 1% versus os 99% de explorados) tem um limite, que já se perspetiva por muito que os países emergentes e o capitalismo de estado chinês adiem essa morte anunciada.
O problema, como o refere Serge Halimi no editorial do «Le Monde Diplomatique» deste mês, é que os principais interessados na mudança histórica para um mundo mais justo ainda se deixem enganar sucessivamente por discursos de quem se revela depois inimigo dos seus interesses. Que é a questão de hoje em dia: quantos dos quinhentos portugueses atirados diariamente para o desemprego votaram em Passos Coelho nas últimas legislativas? Quantos reformados e pensionistas foram atrás do suposto partido dos contribuintes?
Há também uma espécie de doença infantil de muitos dos contestatários deste Governo, que os faz aderir à fácil demagogia de associar os atuais ministros e deputados à categoria geral de políticos - segundo eles todos corruptos e oportunistas - o que inviabiliza a comprovação de uma realidade fácil de exemplificar: há políticos e políticos, não se devendo confundir os diasloureiros e duartelimas com quem tem levado a vida a remar contra a maré na tentativa de transformar o mundo numa coisa digna e justa.
De uma vez por todas é importante denunciar o discurso demagógico antipolíticos como o melhor aliado de quem quer manter e aumentar as desigualdades seja à pala de uma democracia formal, seja de uma forma de fascismo como a que, por Europa fora, aparece na forma de «Auroras Douradas», «Frentes Nacionais» e quejandos. Porque, como refere Serge Halimi no texto em causa:
Ás vezes um escândalo emporcalha um patrão, às vezes acaba com outro, mas sem pôr em causa as estruturas que pariram a atividade desses homens e graças à qual alcançaram poder. Em contrapartida, a prevaricação de um autarca ou de um ministro, a ostensiva capitulação de um governo diante de um lóbi, o financiamento duvidoso de uma campanha eleitoral recaem de imediato sobre o Estado como um todo. Minando a sua legitimidade para cobrar impostos, para organizar um território, para mobilizar uma nação.
Um pouco por todo o lado no mundo atual, povos exasperados inclinam-se no sentido da mudança. Mas por falta de instrumentos, antigos ou novos, para porem em prática os seus desígnios, hesitam, marcam passo, às vezes fazem marcha atrás. Contradizendo assim todas as suas esperanças.
Esperemos que os sofrimentos de hoje deem sabedoria a quem escolherá outro caminho, quando for caso de comparecer novamente a um ato eleitoral.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

POLÍTICA. Vítor Gaspar ou um chimpanzé - qual a diferença?


A realidade não aprecia economistas. Se um chimpanzé fosse ministro das Finanças talvez a dívida aumentasse, o desemprego subisse e a recessão se agravasse. Ou seja, ninguém notava!
Ricardo Araújo Pereira


MÚSICA: A 9ª Sinfonia de Beethoven pela Western Eastern Divan Orchestra



Um dos grandes projetos artísticos do nosso tempo é o da Western Eastern Divan Orchestra, que Daniel Barenboim e Edward Said fundaram em 1999. Considero que têm sido atribuídos Nobéis da Paz a pessoas e instituições bem menos merecedoras do que esta orquestra, criada para diluir o medo do outro e sabê-lo ouvir.
Num documentário de Birgit Herditschke intitulado «Beethoven pour Tous» em que se acompanha a tournée de 2011, o maestro defende a capacidade de todos poderem abrir-se à beleza das nove sinfonias de Beethoven, independentemente da sua nacionalidade, religião ou idade. E os músicos, sobretudo os mais experientes  na orquestra por já nela colaborarem há vários anos, estabelecem um paralelo entre a maturidade nela conseguida  em paralelo com o próprio compositor, que muito evoluiu da composição da 1ª até à da 9ª Sinfonia.
Importante também o simpósio, que reúne anualmente todos quantos  participam no projeto. Israelitas e árabes juntam-se aos espanhóis para equacionarem a questão candente de cada momento. E, no ano transato, o tema em questão foi o da primavera árabe…
Azar , que a única vez em que assisti a um concerto ao vivo da WEDO já todos os que nela tocavam estavam cansados da longa tournée e só pensavam em voltar para casa. Porque, nas transmissões televisivas, dá para entender que, sem a excelência das grandes orquestras do nosso tempo, a liderada por Barenboim com músicos árabes e israelitas já consegue um desempenho muito meritório…

POLÍTICA: A islamização do Egipto posta em causa



A Praça Tahir volta a encher-se de manifestantes para contrariar o decreto do presidente Mohamed Morsi, que avoca a si poderes extraordinários próprios de uma ditadura.
O que está a acontecer no Cairo dá justa resposta aos receios de vermos as Primaveras Árabes a derivarem para a islamização acelerada das sociedades aonde ocorreram. Nesse sentido Morsi terá tido um engano de cálculo: depois do sucesso diplomático, que foi o estabelecimento de tréguas entre Israel e o Hamas, julgou-se com poder suficiente para se atribuir poderes comparáveis aos do derrubado Moubarak.
Os factos estão a demonstrar que a juventude egípcia e a população cairota não estão tão enfeudadas aos Irmãos Muçulmanos quanto se temia e dispõem-se a impedi-los de desrespeitar a aspiração democrática revelada pela revolução. Ademais a dependência dos 100 milhões de euros do FMI e de outros investimentos internacionais está rapidamente a confrontar Morsi com a realidade. Que poderá obrigar os novos regimes do norte de África a respeitarem o modelo democrático ou a serem substituídos por quem se revelar mais capacitado para tal tarefa.

POLÍTICA: Para acabar de vez com o José Gomes Ferreira (e não é obviamente o poeta!)


Estou a ver o debate da Sic Notícias na sequência da entrevista da TVI a Passos Coelho e considero criminosa a posição do pseudojornalista José Gomes Ferreira a achar que, mesmo catastróficas, teremos de engolir o que o Governo quer impor sob o argumento de não termos tempo para pensarmos em alternativas.
Quando penso que ainda há muita gente a fazer de tal artista um herói, chegando a haver propostas para o levar a primeiro-ministro, diz muito da confusão que paira por aí. O José Gomes Ferreira é um talibã ao serviço deste governo terrorista, que importa deitar para o lixo o mais depressa possível!

DANÇA: «Sfumato» de Rachid Ouramdane



Todos os anos ocorrem catástrofes naturais, que escassas dúvidas deixam quanto à influência das alterações climáticas detetáveis por indicadores cientificamente comprováveis enquanto decorrentes da atividade humana.
Mesmo assim, a Conferência de Doha agora a decorrer nada trará de assinalável quanto à inflexão do rumo assumido pelos principais países poluidores. Apesar do «Sandy», que pôs o Estado de Nova Iorque em estado de sítio na semana das eleições, ou, a nível interno, do tornado de Silves, as consciências ainda não estão suficientemente sensibilizadas para impor uma agenda ecológica. E, no entanto, segundo números da ONU, até 2050, prevêem-se 200 milhões de emigrantes ambientais por causa da seca ou de inundações contínuas.
É ciente desse desajustamento entre a realidade e as políticas internacionais que alguns artistas decidem entrar em tal debate. É o que faz Rachid Ouramdane com «Sfumato», um espetáculo de dança atualmente em cena no Theatre de la Ville em Paris.
No palco os sete bailarinos movimentam-se na representação de corpos condenados à errância, desenraizados, fragilizados. Ora sobre um espelho de água em que os pés mergulham, quer rodopiando como se de tornados se tratassem. Trata-se, pois, de uma metáfora visual do sofrimento gerado por um grave problema atual.

BANDA SONORA: No aniversário do nascimento de Jean Baptiste Lully


Em 28 de novembro de 1632 nascia em Florença um dos maiores compositores da música francesa. Fica aqui a  Suite de «Le Bourgeois Gentilhomme» e a Chaconne para recordarmos a efeméride.

POLÍTICA: o comboio descendente


Foi, como disse António José Seguro, o dia  sem regresso, este 27 de novembro em que a maioria, que suporta o governo, aprovou um Orçamento de Estado muito diferente de qualquer outro até hoje validado em tal câmara parlamentar. Que, mais do que nunca, mereceu a deturpação, que dá «para lamentar». Porque, nas palavras avisadas de Nicolau Santos esse documento é  um nado-morto, que será alvo de remendos ao longo do ano. É um orçamento contra os contribuintes, que estimula a economia paralela, a fuga e a evasão fiscal devido à injustíssima carga fiscal que lança sobre os contribuintes. É um orçamento contra a economia. E é um orçamento estúpido porque nos conduz a um abismo económico - mas apesar dos avisos e dos alertas, insiste em caminhar nesse sentido.
Mas, para além de ser um orçamento economicamente estúpido, causará imensa dor e é insano, como refere Marco Capitão Ferreira no «Diário Económico»: O grau de dor provocado pelo OE 2013 será o maior alguma vez visto. Em 2012 muitas famílias fizeram a redução que puderam nas despesas, venderam um ou outro bem, recorreram às poupanças. Em 2013, para muitas delas, já nada restará. (…)
Costuma dizer-se que insanidade é fazer a mesma coisa uma e outra vez e esperar resultados diferentes. A não ser, claro, que o resultado pretendido sempre tenha sido este.
O que se pretende com esta «refundação» do modelo económico existente é fazer vingar uma completa inversão do progresso que trouxera paz e bem estar a quase todas as populações europeias, paulatinamente a pressentirem como exequível a ideia de uma sociedade capaz de lhes proporcionar a satisfação dos seus direitos fundamentais. Segundo Daniel Oliveira no «Expresso», o que está em causa neste orçamento não são apenas números. É um modelo social que garantiu meio século de paz e prosperidade à Europa e que permitiu que Portugal deixasse de ser um país subdesenvolvido para ter lugar no primeiro Mundo. Não está em causa tornar o nosso País mais competitivo e garantir um crescimento económico que corresponda a um desenvolvimento sustentado. Este orçamento, assim como este memorando, transforma, nas acertadas palavras do economista Alexandre Abreu, Portugal num país "em vias de subdesenvolvimento".
E, porque não há como dar voz ao próprio, aqui está como o mesmo Alexandre Abreu qualificou de infame este orçamento no blogue «Ladrões de Bicicletas»: é um OE profundamente destrutivo, pois apenas conduzirá ao alastramento da pobreza, ao aprofundamento da desigualdade, ao aumento do desemprego, à generalização das falências de PMEs, à perda de potencial produtivo da economia, à degradação da qualidade e universalidade de serviços públicos em áreas tão fundamentais como a saúde e a educação, à emigração em massa de população qualificada, à captura - pelos grupos económicos de sempre - de mais sectores de rendas asseguradas, de modo a fazerem uma população cada vez mais empobrecida pagar cada vez mais pelo acesso a serviços básicos.
Este OE infame foi concebido por este governo e aprovado e aplaudido de pé pelas bancadas do PSD e do CDS.
A História julgá-los-á.
Durante a discussão de tal orçamento ainda fomos contemplados com a opinião absurda de dois deputados da maioria, Virgilio Macedo (PSD) e Hélder Amaral (CDS) segundo os quais o problema da restauração é o excesso de estabelecimentos abertos, que urge encerrar. Não o IVA a 23% ou a inqualificável perda do poder de compra dos portugueses causticados pelas suas políticas.
Num país que tem no turismo um dos seus principais potenciais e em que os visitantes sublinham sempre a importância da excelente comida e do seu preço, fica-se estupefacto com a opinião de tais luminárias. Comentava Miguel Abrantes na «Câmara Corporativa»: Todos sabemos que um dos objetivos da contrarrevolução em curso é virar do avesso o tecido económico do país, “expurgando” os pequenos negócios familiares que impedem a concentração do capital. Do que não se estava à espera é que deputados menos experientes da coligação de direita se descaíssem, revelando neste caso o “diagnóstico” feito (e o plano em curso) para o sector da restauração.
Quem melhor os compreenderá? Decerto o eminente sociólogo António Barreto ou para a piedosíssima senhora Isabel Jonet que se preocuparão com os senhores do Pingo Doce e a sua nobva iniciativa empreendedora no negócio da saúde. Em vez de bifes preferirão que se dirijam às novíssimas clínicas a custos imbatíveis e com promoções capazes de porem coxos e marrecos a atropelarem-se para consultas mais baratas. Compreende-se, com mais um exemplo tão lapidar, porque é tão importante para este governo a destruição do Serviço Nacional de Saúde.
Mas nesta já longa nota sobre estes dias de chumbo quedemo-nos a terminar com mais duas notícias de rodapé: uma delas incomoda o governo, sim senhor, mas uma instituição como o Citigroup andou a analisar o que será a economia portuguesa durante o ano de 2013 e não chegou ao –1% do governo. Para o célebre banco a destruição do tecido económico será de tal monta que a recessão por ele prevista será de 4,6%.
No outro caso tivemos as declarações de Miguel Horta e Costa, consultor dos alemães na venda dos submarinos contratada por Paulo Portas, que disse em tribunal o seguinte: os negócios que o atual Governo aceitou como contrapartidas pela compra dos submarinos são “muito maus”. Porque a “nova” contrapartida é “reconstruir um hotel velho no Algarve…”
Os submarinos continuam assim a pôr o periscópio de fora e a revelar a verdadeira natureza desta gente...



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

FILME: «Contágio» de Steven Soderbergh




E se de repente surgisse uma epidemia a partir do nada e começasse a devastar vidas à nossa volta? Não demoraria muito tempo para que o ordenamento social em que vivemos placidamente os dias fosse posto em causa por tumultos, criminalidade, falta de mantimentos e de combustíveis nos sítios aonde os costumamos procurar. Em suma, teríamos o quotidiano completamente virado do avesso e com uma enorme impotência para contrariar.
Este é o tema de «Contágio», filme-catástrofe de Steven Soderbergh, que parecendo respeitar os cânones do género tais quais foram aplicados nos anos 70, acaba por ir muito mais além na frieza com que vai fazendo suceder os acontecimentos.
Ao contrário das opções dos realizadores de então, a emotividade do espectador não é explorada, nem é convidado a mostrar empatia por este ou aquele personagem em particular. No conjunto tais personagens estão totalmente dissociados de comportamentos estereotipados: Gwyneth Paltrow, por exemplo, é aquela por quem chega a epidemia e, além de mãe de família, apresenta-se como a adúltera capaz de aproveitar uma escala em Chicago para curto encontro amoroso com um antigo namorado.
 Matt Damon, que faz o papel do marido enganado, revela-se um pai abusivamente protetor da filha, que quer impedir a todo o custo de contrair a doença.
Uma das cientistas mais capazes de combaterem a doença, protagonizada por Kate Winslet, acaba vitimada por ela, ainda a batalha vai no início.
O coordenador do combate à epidemia (Lawrence Fishburne) não se exime de incorrer em pecado ético ao mandar a namorada escapulir-se de Chicago antes da capital do Illinois ser declarada zona restrita donde se não poderia sair nem entrar.
Jude Law é o blogger que aproveita a oportunidade para utilizar magistralmente a arte de disseminar boatos e informações falsas de forma a lucrar obscenamente com a influência conseguida junto dos seus milhões de leitores.
Não são, pois, personagens do tipo das desempenhadas outrora por Paul Newman, Steve McQueen ou Ava Gardner neste tipo de filmes. Pecaminosos por natureza, acabam por se revelarmais humanos. E essa é a razão porque qualquer filme de Soderbergh, independentemente de se tratar de uma grande ou de uma pequena produção, aborde a vida do Che ou uma epidemia global, vale sempre a pena ser visto...



FILME: «Rebelle» de Kim Nguyen



O tema das crianças-soldado em diversos países de África já tem sido tão abordado, que poderá pecar por cansativo. Até porque não parece conhecer solução eficaz, encontrando-se sempre guerrilhas apostadas em servirem-se de tal reserva de militantes das suas causas quase sempre absurdas.
Mas, por outro lado, se não se a denunciar incansavelmente até se tornar num problema ultrapassado, persistirá com toda a acumulação de vítimas inocentes. Daí o interesse de mais um filme sobre tal assunto, agora estreado nos ecrãs franceses em que uma rapariga de 14 anos fala ao bebé ainda no seu ventre, contando-lhe a própria história, que o espectador de Rebelle irá ver-se a desenrolar no ecrã.
Passado na África subsariana o filme de Kim Nguyen  mostra homens armados, rebeldes a ocuparem a aldeia da jovem Kamona, a quem forçam a assassinar os próprios pais e a quem irão treinar no uso da kalachnikov AK-47, quando chegam à selva.
Amante forçada do chefe Great Tiger, ela inicia-se no vício dos alucinogénios com um jovem albino a quem apelidam de «Mágico», e que lhe trazem de volta os familiares mortos a vê-la na noite escura com os seus olhos iluminados.
A viver no Canadá, foi aí que Kim Nguyen planeou a realização desta obra terrível, a mais impressionante de quantas já foram rodadas sobre as crianças-soldado, simultaneamente vítimas e carrascos, ostracizadas do resto da humanidade.
Poderia tornar-se insuportável, mas o realizador distancia-se do horror, evitando as armadilhas imaginadas no seu próprio argumento, pondo Komona a recusar-se a contar a morte de um certo carniceiro, porque se o fizesse mais ninguém se atreveria a prosseguir no conhecimento da sua história.


POLÍTICA: Porque é que os franceses não vão em cantigas


No «Nouvel Observateur» desta semana o diretor Laurent Joffrin insurgiu-se contra mais uma malfeitoria praticada por uma das agências de rating relativamente à dívida francesa.
Porque o seu editorial também serve de interpretação adequada para a situação, que vivemos, aqui fica a tradução de um excerto particularmente pertinente:
Para estes procuradores mecânicos o mal francês tem uma única causa: o papel excessivo do Estado. Com uma despesa pública imensa e uma proteção social paralisante, a França enfrentaria a competição internacional com chumbos nos pés.
Para sair dessa situação uma única solução: liberalizar à maluca, fazer o Estado recuar, desregulamentar o mercado do trabalho, baixar os impostos aos mais ricos.
Ora, se é verdade que se impõe uma reforma do Estado e da proteção social, é completamente errado pretender o alinhamento da França pelo modelo liberal tão do agrado dos redatores do «The Economist».
Poderia pensar-se-nisso se os países, que tomaram essa via obtivessem resultados sociais e económicos claramente superiores aos da França. Ora, contrariamente a essa ideia comum, os países mais liberais não são os mais eficazes e ainda menos aqueles em que a sua população viva melhor. Longe disso.
No passado a França, esse país tão estatal e tão invadida por regulamentos, quase bolchevique aos olhos do mundo anglo-saxão, conheceu um desenvolvimento espetacular. Se a ação do Estado era naturalmente prejudicial, como explicar que a França tenha chegado ao pelotão da frente das economias ocidentais, que a sua taxa de crescimento tivesse sido durante muito tempo superior ao da maioria dos demais países e que, ainda hoje, apesar de todos os constrangimentos , continue a ser uma das economias mais ricas e poderosas do planeta?
Afirma-se frequentemente que os franceses vivem acima das suas posses. Que dizer dos americanos, cuja dívida pública é comparável à nossa e a dívida privada muito superior?
Que dizer de tantos outros países europeus com uma dívida pública comparavelmente superior? A Grã-Bretanha, que está a levar por diante as «reformas estruturais» tão reclamadas pelos liberais, sofre uma taxa de crescimento quase nula e desigualdades sociais como não existem em nenhuns outros países ocidentais.
Os países do Sul, aos quais «The Economist» atribui tantos elogios por causa da sua cura de austeridade, estão mergulhados na recessão catastrófica e impõem aos seus cidadãos inauditos sofrimentos sociais.
A austeridade imposta a todo o continente pelo dogma conservador está a matar o escasso crescimento, que ia havendo apesar da crise financeira, ela mesma desencadeada pelas loucuras da desregulamentada finança.



domingo, 25 de novembro de 2012

MÙSICA: o maestro Andris Nelsons


Ainda não está no youtube um excelente documentárioque vi na ARTE sobre Andris Nelsons, mas este não deixa de também ser interessante para conhecer o maestro letão de 33 anos, agora à frente da Orquestra de Birmingham.
Sobre o outro escrevi o seguinte:

Muito interessante um documentário sobre o jovem maestro letão Andris Nelsons. Realizado por Astrid Bscher, «Genius on Fire - Maestro Andris Nelsons» acompanha-o durante quase dois anos, quer na direção da Orquestra de Birmingham cuja liderança assumiu em 2008, até Bayreuth aonde se encarregou da exigente «Lohengrin».
Rattle não lhe poupa em elogios pela liberdade concedida aos músicos tão bem seus conhecidos e pela vivacidade, que deles garante na interpretação das mais difíceis composições.
A mãe, musicóloga, também recorda como, desde muito cedo - ainda na época soviética de que ele retém os lados positivos na educação rigorosa -  se dedicou ao trompete, apostado em ser um dos melhores solistas desse instrumento. Mas, mais tarde, já integrado na Orquestra da Ópera de Riga, cresce nele a vontade de passar à direção de orquestra pelo que se esforça por conjugar essa sua atividade local com os estudos no Conservatório de São Petersburgo.
Agora com 33 anos, ele é um dos mais interessantes maestros da atualidade, distinguindo-se pela expressividade do seu rosto, tão importante quanto os braços para conseguir das orquestras os resultados pretendidos.
Trata-se, pois, de uma carreira a seguir com grande interesse.

sábado, 24 de novembro de 2012

POLÍTICA: os números da execução fiscal


Com a devida vénia cito da página de facebook do deputado Paulo Campos:
A nova estratégia de comunicação deste tipo de governo faz com que ás sextas-feiras depois das 18 horas sejam anunciados os desastrosos resultados da execução orçamental.
E os resultados são:
Deficit do sector estado a subir para 8,14 mil milhões (cresceu 2,3 mil milhões num mês), em Setembro estava em 5,85 mil milhões.
Receita fiscal, desce, face a 2011, 4,6% (menos 1,2 mil milhões).
Despesa corrente sobe, face a 2011, 1,9% (mais 800 milhões de euros)
O risco destes números sempre desastrosos seria o de nos enfadarem por exaustão: eles são sempre piores que os anteriores, que quase somos tentados a ignorá-los.
O problema é que eles traduzem depois os impostos que vamos pagar, as retribuições que nos irão ser reduzidas, o aumento das contribuições para a educação e a saúde, que deveriam ser tendencialmente gratuitas.
Ao constatá-los podemos, por outro lado, abrirmos um sorriso amarelo para notícias dos últimos dias que dão Vítor Gaspar como um dos melhores ministros europeus das finanças segundo os imparcialíssimos conceitos do Financial Times!
Caso para nos perguntarmos: não valeria a pena que tivéssemos um «bem pior» responsável por tal setor da governação? Com resposta óbvia: esta é daquelas situações que quanto melhor para os senhores de Wall Street e da City, pior para nós…

POLÍTICA: Atrás de tempos, tempos vêm


Na edição do «Negócios» de hoje, o Fernando Sobral publica alguns textos, que merecem referência não só pela erudição que sempre é seu apanágio, mas sobretudo pela pertinência do que neles se diz.
Comecemos, então, por esta Europa tão pouco comunitário, que acena pavlovianamente euros aos gregos sem os chegar a largar da mão, mesmo depois de os ter humilhado das formas mais inimagináveis que, do ponto de vista ético, deveria presidir às relações entre estados. Para o jornalista em causa a asfixia financeira da Grécia simboliza a cicuta que toda a Europa está a tomar e que destruirá todo o projeto europeu a prazo.
Não é só a nível financeiro, que a Europa está a precipitar-se para o abismo em nome da supostamente virtuosa sobriedade dos seus nordestinos protestantes: A Europa, na sua ânsia de que os culpados expiem cruelmente os seus devaneios, está a tornar-se moralmente insolvente.
Pelo contrário, os pecaminosos sulistas, a que se juntaram agora os cipriotas, já começam a fazer a pergunta vital: vale mais perecer num clube de falsos amigos que estão à espera de espetar-nos uma faca nas costas, ou sozinhos mas orgulhosos?
Mas não é só sobre a Europa no seu todo que Fernando Sobral disserta: a Espanha também merece a sua análise a propósito das eleições catalãs deste fim-de-semana. E conclui: o PSOE vive a crise da social-democracia europeia, continua a discutir o curto prazo e é incapaz de ver as mutações sociais que se sucederam. Como pano de fundo, a classe média empobrece e a social-democracia perde a sua base de apoio. A democracia está nos cuidados intensivos. E não tem dinheiro para pagar a sua recuperação.
Quando ainda começava a conceber  a Revolução, que o levaria anos depois à proclamação da República Popular da China, Mao Zedong operou uma análise fundamental sobre as características das diversas classes que integravam a população do seu país, perspetivando quais as que poderiam ser suas aliadas e suas inimigas. Foi assim que lançou as bases para a conquista do Poder.
Independentemente de, depois, o resultado ter sido muito diferente dos amanhãs que cantam então prometidos, a receita mantém-se atual para quem não se conforma com os changkaicheks de hoje que limitam as liberdades democráticas por parte do cada vez mais autista capital financeiro e seus aliados.
Para contrariar a dinâmica neoliberal que nos está a acossar não bastarão alternativas reformistas. Não se recauchuta o que se herda podre e irrecuperável, que será o estado em que o país se encontrará quando os passos e os gaspares forem excomungados.
No panelão de lutas sociais em que a sociedade europeia está encerrada, o fecho sucessivo das válvulas de segurança tem conduzido a uma tal sobrepressão, que não surgirá rolha suficientemente forte para a aliviar de mansinho.
É a ciência que no-lo demonstra: uma ação suscita sempre uma reação. E ela é quase sempre mais forte do que aquela que contraria...

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

POLÍTICA: Desemprego, suicídio e pornografia em forma de romance


A leitura do «Público» de hoje sugere-me a seleção de três notícias particularmente definidoras dos tempos, que vamos vivendo.
Numa delas explica-se algum do crescimento do desemprego pelo silenciado despedimento de muitos milhares de trabalhadores das grandes e médias superfícies.
A queda do consumo leva os belmiros, os soaressantos e quejandos a rescindirem o vínculo de muitos dos que aí vendiam a sua forma de trabalho, mesmo que a custo horário irrisório, gerindo-se cada loja com menos 15 a 30% do número de empregados anteriormente aí alocados.
A segunda notícia pode ser vista como um desenlace possível para muitos dos que vão conhecendo o desemprego e a falta de alternativas para sobreviverem: o suicídio. Embora os números oficiais escamoteiem essa realidade através das eufemísticas causas desconhecidas, as mortes por suicídio já ultrapassam a média de três casos diários no nosso país. E o que verdadeiramente deveria ser anotado nas respetivas certidões de óbito nem seria o suicídio, mas o homicídio voluntário da responsabilidade desta política criminosa, que atende aos interesses dos credores da dívida soberana e aos interesses cúpidos dos que anseiam por se apossarem de empresas em vias de serem privatizadas enquanto é completamente indiferente ao sofrimento causado a milhares de desesperados.
Em contraponto a esta vertente da realidade só pode ser vista como trágica uma outra notícia, que conclui já terem sido vendidos em Portugal mais de duzentos mil exemplares do porno-romance de E.L. James em que está em causa a relação de submissão de uma jovem mulher relativamente aos prazeres sádicos de um administrador de empresas.
Que o sexo possa assumir uma forma de compensação para as frustrações das realidades políticas e económicas à nossa volta, nada a objetar. Mas que o sucesso derive de uma relação doentia de uma mulher perante um homem, de uma explorada em relação a um explorador, só pode ser visto como um sintoma inquietante dos fantasmas existentes no imaginário coletivo de quem nos rodeia.
Essa realidade que Baptista Bastos tão bem caracteriza na sua crónica do «Negócios» em que escreve: Os últimos setenta anos foram terríveis em Portugal. Já vinha de trás a história da nossa grande dor. Inquisição, perseguição aos judeus, impossibilidade de se ser feliz, cinquenta anos de fascismo e, depois de uma breve luz, isto, isto que nos aconteceu e acontece, as sombras de um desespero incontido, a impotência de nos vermos cercados por todos os lados, o infortúnio de havermos perdido referências e as esperanças que as referências nos dão.
Só contrario a perspetiva do autor de «O Secreto Adeus» pelo facto de o ter escrito numa época (1963) em que as razões para tanto pessimismo eram sobejamente fortes. Mas que que não impediram Daniel Filipe concluir o seu célebre poema de dois anos antes com os versos:
(Mas um grito de esperança inconsequente vem
Do fundo da noite envolver a cidade
Au bout du chagrin une fenêtre ouverte
Une fenêtre eclairée)