Ao ouvir a entrevista de Pedro Passos Coelho, percebi de forma mais evidente do que nunca, que não se trata apenas de um incompetente ou de um cego. O que disse sobre a balança de pagamentos (que ignora os efeitos da crise nas importações e a evolução das exportações muito antes dele chegar ao governo), o que disse sobre o endividamento do Estado e o endividamento privado (que finge não saber qual era um e outro até à crise internacional de 2008), a forma como se refere aos erros das previsões para 2012 (ignorando os efeitos que as suas próprias políticas têm nos indicadores macroeconómicos), a forma como analisou a situação grega (fingindo que esta resulta da não aplicação do memorando da troika) e o olímpico desprezo para todos os avisos sobre as delirantes previsões para 2013 (fingindo não saber que os erros de previsão mais grosseiros têm vindo, aqui e nos restantes países intervencionados, da troika) está tão carregado de falsidades que elas só podem ser deliberadas.
Não é possível que este homem acredite no que diz.. Sentindo-se na necessidade de torcer a realidade de forma tão evidente, não pode acreditar que isto nos tirará da crise. O que o move é mesmo a oportunidade que esta crise lhe dá para aplicar um programa radical que, num momento de normalidade democrática, nunca passaria pelo crivo popular. Como qualquer vanguardista radical, acredita que este é o preço que temos de pagar para as suas medidas purificadoras. Para ele, a troika e a "ajuda" externa não são um constrangimento. São um alibi.
Sem comentários:
Enviar um comentário