Considero extremamente oportuno a passagem aqui no blogue do excelente documentário de Astrid Schult rodado no Tennesse junto de diversos apoiantes do movimento Tea Party. Tanto mais que se enquadra bem nesta altura dos acontecimentos em que está iminente a eleição presidencial do próximo dia 6.
Embora dobrado em francês - o que constituirá uma dificuldade de monta para alguns! - o filme é extremamente elucidativo sobre a viragem do conservadorismo norte-americano ainda mais para a direita desde que se declarou a crise financeira de 2008 e, sobretudo, desde que um afro-americano passou a ocupar o lugar cimeiro na pirâmide do poder nos EUA.
É típico do comportamento das sociedades: quando os seus alicerces tremem, muitos dos que as integram optam ideologicamente por posições extremistas como forma de catalisarem os medos de um anunciado apocalipse e poderem assim recuperar alguma da sua ilusória sensação de segurança.
A virtude de Astrid Schult esteve em entrevistar quantos aceitaram revelar-se à sua câmara sem tomar qualquer explicito juízo de valor. Não é necessário qualquer comentário em off tão absurdas se revelam essas posições ideológicas a qualquer espectador europeu.
Vemos assim quem defenda intransigentemente o direito de autodefesa, disparando primeiro e perguntando depois numa recuperação da velha lei do faroeste.
Há quem proíba os filhos adolescentes de irem à escola pública para não se sujeitarem a aí arriscarem pensamentos pecaminosos nas aulas de educação sexual.
Há quem difunda através da rádio teses absurdas sobre o risco de Obama europeizar os Estados Unidos numa lógica socializante em que as riquezas são para redistribuir.
Há quem tema as invasões russas, chinesas, venezuelanas ou cubanas em regiões ainda tidas como quintais das traseiras da pátria do tio Sam.
É uma América aterrorizada pelo 11 de setembro, mas sobretudo pela decadência económica, a que se mostra ao longo dos cerca de sessenta minutos de filme.
Vemos um zé-ninguém - que julga ter tudo através do seu pequeno negócio de reciclagem - a gabar-se de não temer a previsível falência porque algo fará para sustentar a família (e vale aqui a pena voltar a equacionar as razões da atração do proletariado pelas idiossincrasias fascizantes!).
Ou a angariadora de seguros, que fala com um ódio visceral de uma apoiante de Obama, por ter feito revelações sobre a sua sexualidade,. Para além de confessar uma preocupante perda de rendimentos ela exibe - sem o suspeitar! - a enorme frustração sexual para que busca uma qualquer sublimação.
Estas imagens de um dos mais retrógrados Estados da União arriscam-se a dar uma imagem comprometedora dos norte-americanos (feios, porcos e maus), que não serão inteiramente verdadeiras. Mas até nisso o assumido distanciamento da realizadora, ao apenas mostrar o que lhe querem revelar, demonstra bem que quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. E os defensores do tea party são de facto lobos vorazes sob a sua pele de cordeiro...
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