quinta-feira, 15 de novembro de 2012

OPERA: “Pelléas et Mélisande” de Claude Debussy (1902)


A encenação de Pierre Boulez e a realização de Peter Stein.


Publicado em maio de 1892, o drama teatral em cinco atos  “Pelléas et Mélisande” de Maurice Maeterlinck é estreado em Paris, no teatro des Bouffes-Parisiens, em 17 de maio de 1893.
Claude Debussy assiste a uma das primeiras récitas depois de ter lido a obra e, fascinado, decide compor uma ópera nela baseada.
Em agosto desse mesmo ano já conseguira de Maeterlinck as devidas autorizações e, nos dois anos seguintes, redige o essencial da partitura. Faltar-lhe-á apenas a orquestração. Nessa altura já expurgara a peça de Maeterlinck de quatro cenas, além de outros cortes pontuais, mormente ao nível das suas passagens descritivas.
Em 30 de abril de 1902 estreia-se a obra na sala Favart da Ópera-Comique, com Debussy ainda a acrescentar alguns interlúdios orquestrais destinados a cobrir as pausas necessárias para proceder à mudança de cenários.
A ação inicia-se num reino imaginário - Allemonde - em época indeterminada.
No primeiro ato Golaud, neto do velho rei Arkel, e meio-irmão de Pelléas, descobre uma jovem misteriosa desfeita em lágrimas na floresta. Trata-se de Mélisande com quem não tarda a pretender casar de acordo com uma carta enviada para a corte, pedindo para tal a bênção do monarca. É Pelléas quem se vê incumbido de transmitir a anuência do avô. Mais adiante, ele junta-se a Mélisande e a Geneviève no parque do castelo para verem um navio a partir.
No segundo ato, Pelléas e Mélisande dirigem-se a uma fonte e ela põe-se a brincar com a aliança de casada, deixando-a cair à água. Temerosa, pergunta-se como irá explicar a Golaud o desaparecimento do anel, mas Pelléas incita-a a contar-lhe a verdade. Mas o espectador percebe que, nesse mesmo momento, Golaud, cai do seu cavalo.
É enquanto cuida dele que Golaud dá pela falta do anel e Mélisande conta tê-lo perdido numa gruta à beira-mar. Pelléas e Mélisande vão juntos explorar esse local e dão com três mendigos adormecidos, que os assustam...
O ato III começa pela célebre cena da janela: Mélisande liberta os seus longos cabelos, que Pelléas acaricia com ternura. Mas são interrompidos brutalmente por Golaud, que pega no meio-irmão e leva-o até às lúgubres caves do castelo, instando-o a afastar-se de Mélisande, que está grávida.
Enciumado, Golaud interroga o pequeno Yniold, filho do seu primeiro casamento, sobre o comportamento de Pelléas e de Mélisande. E põe-no aos ombros para que lhe conte o que vê pela janela: este revela-lhe que Pelléas e Mélisande estão juntos e sentados, mas perante a reação agreste do pai, recusa-se a acrescentar o que quer que seja.
No quarto ato, Pelléas decide partir a conselho do pai. Golaud aparece, enciumado e brutaliza Mélisande agarrando-a pelos cabelos. Só a intervenção de Arkel o acalma. Mas, quando Pelléas quer vir despedir-se de Mélisande e ambos confessam o mútuo amor, a porta do castelo fecha-se. Golaud aparece e mata Pelléas com a espada, enquanto Mélisande foge.
O último ato ocorre no quarto de Mélisande, que dá à luz um filho. Está moribunda, com Arkel, Golaud e o médico à cabeceira.
Golaud arrepende-se, mas o ciúme fala mais alto e quer saber se a paixão da mulher por Pelléas foi «culposa». Mélisande morre sem ter respondido a tal questão.
Com “Pelléas et Mélisande”, a sua única obra lírica concluída, Debussy baralha o género operático. Rompendo com o realismo do século XIX identifica-se com o simbolismo da peça de Maurice Maeterlinck: tudo é sugerido, a música  serve de complemento ao texto em vez de ter neste o sustentáculo. O compositor retoma certos processos wagnerianos, nomeadamente o recurso a «leitmotivs», mas de forma disfarçada, e a continuidade do discurso: de uma certa perspetiva, «Pélleas et Mélisande» é uma conversa em forma de música com um sentido de declamação melódica bebida em Moussorgski. E, se a utilização de temas recorrentes adaptados ao contexto e às alterações de sentimento dos personagens evoca Wagner, não deixa de, a nível de linguagem e das conceções dramáticas, surgirem  inovações relevantes na obra de Debussy.
Qualificou-se esta obra de impressionista por causa da sua paleta sonora de uma finura nos limites do irreal: os contornos esbatem-se, as cores afirmam-se, o desenvolvimento clássico das linhas melódicas e a retórica desaparecem.
Todos estes processos, já presentes em «Prélude à l'après-midi d'un faune» (1894) afirmar-se-ão também em «La Mer» (1908) e nos «Préludes» para piano (1910-1913)
Baralhada pela inovação da obra, a imprensa virou-se violentamente contra Debussy, criando uma das mais famosas campanhas negativas da história da música. O ambiente a tal propício já estava preparado pela rutura entre Maeterlinck e Debussy, quando o primeiro pretendia exigir para a amante, Georgette Leblanc, o papel de Mélisande. Depois foi só constatar a ausência de árias, a continuidade do discurso, a precisão da prosódia e uma linguagem harmónica até então desconhecida, e que no seu conjunto rompiam com as tradições estabelecidas.

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