Agora que se confirma um passo em frente na ocupação de Portugal pelos representantes dos credores, dá para questionar qual o sentido atribuído pela direita nacional ao conceito de patriotismo.
Questiono-o com a legitimidade de quem, sobre a Pátria, sempre esteve mais perto dos conceitos de Clausewitz (patriota = canalha) do que da versão poética de Manuel Alegre.
Mas condescendamos: sempre vimos a Pátria e os seus símbolos apregoados como valores inalienáveis por parte dos que se situam nesse lado da trincheira política.
Pois bem: então que me dizem ao facto de estimularem a vinda desses gauleiters da ocupação troikista para os ajudar na destruição do que resta do Estado Social?
E que manifesta confissão de incompetência a destes gaspares e coelhos, ao proclamarem a incapacidade para decidirem aonde poderão cortar 4 mil milhões nas despesas do Estado e têm de vir outros, de fora, a identificar o que a sua assumida incompetência não vislumbra.
Como diz Nuno Saraiva no «Diário de Notícias» não pode haver maior prova de capitulação perante os credores e maior confissão de incompetência por parte de um governante que se demite, assim, de desempenhar uma das mais nobres funções para que foi empossado: reformar o Estado.
Mas a tese da incompetência não colhe inteiramente embora Fernanda Câncio a retome no mesmo jornal: o contrato eleitoral entre os partidos da maioria e o País foi quebrado. PSD e PP não submeteram a escrutínio o aumento incessante de impostos e o desmantelamento do Estado social.
Pelo contrário: sabendo que isso implicava um resgate, Passos e Portas rejeitaram o PEC IV por "não aceitarem" subir mais impostos e (não esquecer esta parte) cortar mais nos apoios sociais.
Não sabiam, Passos e Portas, que a esmagadora maioria dos gastos do Estado, juros da dívida à parte, são despesas sociais e salários com elas relacionados?
Devem demitir-se por manifesta e inaceitável impreparação.
Sabiam? Agiram de má-fé. Mentiram.
Mas os menos ingénuos estão cada vez mais cientes de como todo este processo de fracassos sucessivos obedeceu a uma estratégia a que Fernando Ulrich deu a sua verdadeira face esta semana com as declarações sobre a capacidade dos portugueses para aguentarem mais austeridade. Segundo José Manule Pureza, ainda no mesmo matutino, o presidente do BPI foi o porta-voz do misto de desespero e cinismo de uma elite económica e política que vê chegado o tempo da queda das máscaras.
Primeiro caiu a máscara da salvação do País da bancarrota, disfarce de uma estratégia que não tem feito outra coisa senão levar o País justamente para a insolvência sem remissão.
Depois caiu a máscara dos "efeitos inesperados", com a qual o Governo quis camuflar a sua aposta deliberada no desemprego como chantagem sobre o emprego e os salários e na espiral recessiva como desígnio para uma suposta periferização virtuosa da nossa economia. Nem salvação nem desvios imprevistos - apenas estratégia, fria e implacável, de aplicação do dogma liberal. Conclui-se, pois, que o plano B da troika é afinal o plano A de sempre de uma elite que não perdoa ao 25 de Abril ter aberto a porta à transformação das relações sociais em Portugal.
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