Num dos melhores episódios dos Simpsons, Bart consegue demolir o estúdio televisivo aonde se preparava para assistir ao programa do palhaço Krusty e tenta eximir-se a qualquer responsabilidade proclamando aos sete ventos, que não fora ele a causar tais danos.
Desde que vi esse episódio - já lá vão uns bons anos! -, tenho encontrado muita gente capaz de assumir esse «I didn’t do it!» com o maior dos descaramentos, mas Passos Coelho e Vítor Gaspar arriscam-se a chegar ao Guiness na dimensão do despudor de que se mostram capazes em assumir esse papel.
De facto, é altura de, de uma vez por todas, pormos de lado a tese da incompetência, da incapacidade e da imprevisibilidade deste Governo.
Passos Coelho está a cumprir à risca o papel para ele talhado pelos banqueiros, pelos donos do Pingo Doce e outros que tais, que viram chegado o momento de cobrarem os juros dos sustos por que passaram depois do 25 de abril. Mas, porque se sabem fracos, tentam desculpar-se com as forças poderosas, que lhes servem de capa para fazerem o pretendido.
Não é por desconhecer no que deve conter o plano de destruição do Estado Social, que Vítor Gaspar chamou o FMI para o ajudar a cortar 4 mil milhões no orçamento, mas para convidar a troika a subscrever a inevitabilidade de rever a Constituição sob pena de se acabar o pilim (seguindo aliás uma estratégia enunciada pelo centrista Pires de Lima há alguns meses atrás).
Não é porque não saiba o que deva dizer, que Passos Coelho entra mudo e sai calado das reuniões do Conselho Europeu, mas porque lhe dá jeito passar a imagem interna de não conseguir contrariar os ditames da srª Merkel.
Na realidade a chanceler alemã é mais uma das ferramentas da campanha de manipulação engendrada pelos especialistas de marketing político, que assessoram o primeiro-ministro. Que quer fazer passar a imagem de, coitado!, até detestar os impostos que impõe aos portugueses, ou o desemprego a que os sujeita com as suas políticas “ditadas” pela troika.
É tempo de desmascarar a manobra: não é a troika, nem é a srª Merkel os culpados pelo estado a que chegámos. A única culpa tem de ser assacada a Passos Coelho e a quem o secunda, que aproveitou a crise financeira responsável pelas dificuldades sentidas pelo governo anterior desde setembro de 2008 - quando as criminosas especulações de Wall Street conduziram ao encerramento da Lehman Brothers - para virar do avesso o Portugal transformado pela Revolução de abril.
O que Passos Coelho e os seus cúmplices pretendem é acabar com o ensino tendencialmente gratuito no setor público, com o exemplar serviço nacional de saúde que os portugueses chegaram a conhecer, com a justa remuneração de reformados e pensionistas pelos descontos investidos décadas a fio na Segurança Social, sem falar em pôr uma pedra em cima de todos os avanços conquistados nas infraestruturas básicas do país e na investigação científica, nas energias renováveis e em tudo quanto se tinha apostado para fazer do país um exemplo de inovação e modernidade.
Para azar de Passos Coelho repete-se o guião daquele episódio dos Simpsons: durante uns tempos Bart capitalizava o sucesso da sua estratégia e convertia-se num êxito televisivo. No entanto, depressa se desmascarava a verdadeira versão dos factos e ele passava a enjoar cada vez mais essa audiência até chegar à completa irrelevância mediática.
É o que já hoje acontece com Passos Coelho & Cª: reveladas as mentiras em que se tinham multiplicado quando foram eleitos, ainda repetem desesperados «I didn’t do its!» sempre que têm oportunidade. Atribuindo as culpas ao Sócrates, aos funcionários públicos, aos ciganos do rendimento social mínimo e, já estafados os argumentos anteriores, à troika e à srª Merkel.
Não! A culpa é exclusivamente deste Governo, que urge derrubar. E para o qual não faltam alternativas, por muito que os comentadores e opinadores com ele conotados digam que não existem.
Não falte a coragem para os portugueses continuarem nas ruas a exigirem outras políticas e vamos a ver se eles aguentam!
É nisso que Fernando Ulrich ou o Cardeal Patriarca se enganam: o povo não aguenta mais austeridade e vai continuar a proclamá-lo pelas ruas e avenidas das cidades de norte a sul!
E não aguenta sobretudo com quem anda a lucrar obscenamente com o empobrecimento da generalidade dos portugueses e com a tentativa de os condenar a uma (falta de) qualidade de vida como já nem o regime fascista se atrevia a impor no seu estertor final...
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