É claro que não pertenço ao imenso coro de vozes há dias afinado a elogiar a polícia a propósito dos incidentes subsequentes à greve da CGTP.
Por muito «idiotas úteis», que os hooligans eventualmente ali misturados com os infiltrados da polícia, tenham sido para darem ao governo e a quem o apoia a oportunidade para escamotear a dimensão e a importância da greve geral, a realidade continua a mesma: muito mais violentos do que os atiradores de pedras à polícia, são os ministros e deputados responsáveis por tanta miséria, desespero e mortes resultantes da continuação da sua criminosa governação. Por isso subscrevo por inteiro o texto hoje publicado por Nuno Ramos de Almeida no «i» e em que ele diz: Nas últimas manifestações há cada vez mais gente desesperada, um sem-número de pessoas que não aguentam a situação em que sucessivos governos deixaram Portugal.
Nos bairros dos subúrbios os filhos nunca tiveram emprego e os pais já não têm. Temos uma falsa democracia, em que os manifestantes são espancados mas os antigos responsáveis do BPN, banco em que desapareceram para os bolsos de alguns milhares de milhões de euros, nunca foram presos e tornam-se conselheiros do primeiro-ministro.
Portugal é um país com milhão e meio de desempregados. As estatísticas falam de um número recorde de pessoas na pobreza, de gente expulsa das suas casas e sem dinheiro para comer.
A violência é filha de um país sem saída.
Como querem ter a paz social da Suécia com a miséria da vida da Grécia?
Desenganem-se, a guerra está no início e a violência vai encher as ruínas das nossas cidades desertificadas por uma política que serve apenas os poderosos.
Já noutra coluna de opinião, Pedro Tadeu dá no «DN» um exemplo bem concreto da pauperização dos portugueses, de nada adiantando que sejam profissionais competentes e respeitados no seu ofício: Uma jornalista que me acompanhou na mesma redação durante cinco anos, uma jovem de reputação profissional impecável e que, nos bons tempos, era disputada entre duas ou três publicações, atravessou o período do subsídio de desemprego e trabalha agora a servir cafés num centro comercial.
Ganha menos do que o salário mínimo e gere, com um filho, um horário louco.
Imagino os palavrões que lhe devem sair da boca, como a milhares e milhares de outros profissionais que vivem situações semelhantes, quando o primeiro-ministro, perdão, o ministro das Finanças, proclama a sua satisfação com a aplicação destes 95% de medidas do memorando da troika.
Mas olho a cara de Vítor Gaspar e vejo, juro, honestidade. Só restam, portanto, infelizmente, duas hipóteses: autismo ou tolice.
A receita deste Governo precipita-nos para o desastre como reconhece o FMI, muito embora não saia da cartilha de ser mantido o esforço de austeridade, que só tem acumulado fracassos: O FMI diz que há o risco de o crescimento recuperar de forma demasiado lenta para conseguir baixar o elevado desemprego. A consequência será a emigração de uma geração jovem e qualificada. Um fenómeno que, avisa, poderá ser difícil de reverter.
Sem jovens - muitos dos quais já começam a requerer a nacionalidade dos países aonde as suas competências e capacidades foram acolhidas interesseiramente - o envelhecimento da população portuguesa é irresistível. A médio prazo o país todo tenderá a converter-se numa daquelas aldeias do nosso interior aonde velhos esperam a morte na solidão e na pobreza mais constrangedora. Números do INE já revelam que para cada 100 jovens, há 129 idosos.
No meio de tudo isto seria risível, se não fosse trágico, o despudor de um Secretário de Estado - por sinal aquele que assinou pelos bancos as célebres PPP’s, que a direita pretende atribuir fraudulentamente como responsabilidade exclusiva dos socialistas - a propor uma estátua a Pedro Passos Coelho pelos bons resultados da sua governação. O que levou João Lemos Esteves a comentar no Expresso Online: O Secretário de Estado dos Transportes tem razão: Passos merece uma estátua. É que normalmente quem tem uma estátua já terminou a sua carreira política - portanto, se a estátua de Passos significar que já abandonou o exercício das funções de Primeiro-Ministro, será uma excelente notícia para Portugal! Venha a estátua! Eu próprio a posso contribuir para o financiamento com os 5 cêntimos que me sobram mensalmente depois de o Estado me tirar dinheiro e ter de pagar as despesas de um cidadão comum em Portugal...
Eu acrescentaria que haveria uma vantagem suplementar nessa estátua: ser alvo fácil para os portugueses irem garantir alguma catarse da sua indignação projetando nela tudo quanto gostariam de atirar à cara do suposto homenageado.
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