É comum encontrar na História de cada nação algumas personalidades tão execráveis que se tornam unanimemente vituperadas no julgamento dos seus concidadãos.
Em França também assim sucede a respeito do marechal Pétain que, de herói da batalha de Verdun durante a Primeira Guerra Mundial, se converteu no pior dos crápulas com a atitude de apoio ativo à invasão germânica durante o conflito seguinte.
Na França de Vichy os judeus foram arrebanhados pela polícia do regime para o campo de Drancy e enviados para os fornos crematórios. Os resistentes eram sumariamente executados e, acaso não fossem capturados depois de um atentado, viam reféns civis pagar com a vida o custo das suas ações. Sempre com o apoio das instituições e dos jornais dirigidos pelo referido colaboracionista.
Não fosse ele um ancião senil na altura de do julgamento dos seus atos ignóbeis e não teria escapado ao pelotão de fuzilamento em que foram eliminados os traidores.
Vem isto a propósito do artigo de Sandro Mendonça no «Económico» em que ele conota o Governo de Passos Coelho com o de Pétain: Este governo converteu o país numa república de Vichy. Assume-se como uma administração delegada de forças poderosas e atua como cúmplice dos interesses locais de sempre. É esta administração que, para nos distrair do debate do Orçamento do Estado, fala em desativar a dimensão social do Estado.
Confesso que ainda me não lembrara de tal aproximação, mas ela é pertinente: Passos, Gaspar & Cª prestam-se ao papel de fiéis mandatários de uma estratégia do capitalismo europeu, aparentemente comandado por Merkel, Barroso, Draghi e outros que tais, muito embora estes mais não sejam do que marionetas de gente muito mais perigosa à frente de monopólios financeiros e industriais, que lhes ditam os caminhos a trilhar. E que, convenientemente, não aparecem à luz do dia!
Cabe-nos perguntar se lá bem fundo de si mesmo, de manhã, enquanto se barbeia a trautear a Nini em frente ao espelho, o primeiro-ministro não se interrogará sobre o papel que a História lhe atribuirá na destruição do país, que jurou servir, e que está a entregar completamente a interesses estrangeiros? Gostará de imaginar que os filhos ou os netos arcarão com o pesado fardo de terem como antepassado um tão detestado governante?
É por isso que não concordo totalmente com a interpretação de Tomás Vasques no sobre a origem alemã dos nossos padecimentos: o Orçamento de Estado para 2013, aprovado na generalidade, e a “refundação em curso” são apenas instrumentos da planeada estratégia alemã – Estado mínimo, elevado desemprego, mão-de-obra barata, miséria a rodos. Depois de cinquenta anos de “construção europeia”, aproximamo-nos a passos largos da profunda pobreza resultante das “economias de guerra”, que a Europa conheceu, mais do que uma vez, nos últimos dois séculos.
Não é de agora a evidência em como o grande capital não tem pátria. E como está muito acima de qualquer governo quando este é eleito por quem não desconfia da demagogia do discurso político feito de mentiras e de acenos de ilusões.
É por isso que, sorvido já suficientemente o veneno de um projeto demasiado doloroso para a grande maioria dos portugueses, há que subscrever o voto de Mário Soares, que deseja ver o Governo demitir-se ou ser demitido. Para que volte a ser possível um país aonde os jovens tenham emprego, os casais possam apostar em filhos e em que a saúde, a educação e uma vida digna possam ser mais do que direitos inscritos na Constituição.
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