segunda-feira, 26 de novembro de 2012

FILME: «Contágio» de Steven Soderbergh




E se de repente surgisse uma epidemia a partir do nada e começasse a devastar vidas à nossa volta? Não demoraria muito tempo para que o ordenamento social em que vivemos placidamente os dias fosse posto em causa por tumultos, criminalidade, falta de mantimentos e de combustíveis nos sítios aonde os costumamos procurar. Em suma, teríamos o quotidiano completamente virado do avesso e com uma enorme impotência para contrariar.
Este é o tema de «Contágio», filme-catástrofe de Steven Soderbergh, que parecendo respeitar os cânones do género tais quais foram aplicados nos anos 70, acaba por ir muito mais além na frieza com que vai fazendo suceder os acontecimentos.
Ao contrário das opções dos realizadores de então, a emotividade do espectador não é explorada, nem é convidado a mostrar empatia por este ou aquele personagem em particular. No conjunto tais personagens estão totalmente dissociados de comportamentos estereotipados: Gwyneth Paltrow, por exemplo, é aquela por quem chega a epidemia e, além de mãe de família, apresenta-se como a adúltera capaz de aproveitar uma escala em Chicago para curto encontro amoroso com um antigo namorado.
 Matt Damon, que faz o papel do marido enganado, revela-se um pai abusivamente protetor da filha, que quer impedir a todo o custo de contrair a doença.
Uma das cientistas mais capazes de combaterem a doença, protagonizada por Kate Winslet, acaba vitimada por ela, ainda a batalha vai no início.
O coordenador do combate à epidemia (Lawrence Fishburne) não se exime de incorrer em pecado ético ao mandar a namorada escapulir-se de Chicago antes da capital do Illinois ser declarada zona restrita donde se não poderia sair nem entrar.
Jude Law é o blogger que aproveita a oportunidade para utilizar magistralmente a arte de disseminar boatos e informações falsas de forma a lucrar obscenamente com a influência conseguida junto dos seus milhões de leitores.
Não são, pois, personagens do tipo das desempenhadas outrora por Paul Newman, Steve McQueen ou Ava Gardner neste tipo de filmes. Pecaminosos por natureza, acabam por se revelarmais humanos. E essa é a razão porque qualquer filme de Soderbergh, independentemente de se tratar de uma grande ou de uma pequena produção, aborde a vida do Che ou uma epidemia global, vale sempre a pena ser visto...



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