O ano já está quase no fim e é altura de começar a fazer balanços sobre as melhores leituras por que passei no ano em curso. E delas devo salientar o título mais recente de Mário de Carvalho, autor cujo percurso tenho acompanhado desde o saboroso »Contos do Beco das Sardinheiras» até este «O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel» com outros romances memoráveis de permeio.
«O Varandim» é a primeira novela do livro publicado pela Porto Editora, dotado, como habitualmente, de uma riqueza vocabular inerente à marca identitária do autor.
A história passa-se num país imaginário chamado Svidânia, que vive um ambiente muito similar ao do Império Austro-Húngaro na viragem do século XIX para o século XX. Ou seja com a tradição ainda muito vincada nas mentes, mas com as ideias progressistas a percorrerem o seu caminho numa sociedade pouco ciente das transformações por que será em breve obrigada a passar.
Será nesse ambiente que um conjunto de anarquistas pouco experientes falham um atentado contra o grão-duque vendo-se condenados à morte.
A exemplo da Roma antiga os nobres e os burgueses da cidade têm pouco com que se divertirem, pelo que uma execução pública aguça obrigatoriamente a curiosidade.
O Varandim do título será, pois, o da casa de um conde arruinado, Zoltan, donde se poderá assistir ao enforcamento dos revolucionários de uma localização privilegiada. Pode-se, então, imaginar quão tormentosos se tornam os dias do bondoso Zoltan que rejeita a pena de morte, mas não se consegue livrar de quem precisa da sua cunha para comparecer ao grande acontecimento do ano.
É esse o enquadramento em que nós, leitores, somos convidados a mudar de tempo e de lugar para nos evadirmos para a demonstração prática de um conjunto de situações semelhantes às do nosso próprio momento histórico. Com gente atraída pelo espetáculo e não pela sua substância, incapaz de se libertar de preconceitos e de se querer valorizar ao máximo no juízo alheio...
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