Não é preciso ser zandinga para ter por certa, em 2013, uma profunda agudização da luta de classes, quer em Portugal, quer por toda a Europa.
É que a experiência levada por diante sob a direção da Comissão Europeia ( e seus parceiros da troika), e traduzida na implementação de políticas de austeridade, correu mal aos seus inspiradores: em vez da aproximação aos padrões asiáticos de competitividade através da criação de imensos exércitos de desempregados e de redução intensiva das remunerações praticadas, verificou-se a paralisia dos fluxos monetários em instituições bancárias agora desesperadas por não terem aonde os aplicar e uma progressiva consciencialização de camadas sociais cada vez mais amplas em como serão necessários outros paradigmas de governação.
Em ano eleitoral Angela Merkel anda a visitar as colónias para iludir os seus compatriotas da suposta grandeza da Alemanha, novamente à beira de conquistar estatuto de potência dominante. Mas é estratégia condenada ao fracasso tendo em conta a realidade dos factos: a crise dos países do sul da Europa já começa a contaminar os do norte e a própria economia alemã chegará ao fim do próximo ano com crescimento zero.
Não é que Passos Coelho tenha vida política bastante para ver o seu governo durar até lá, mas em Setembro de 2013, quando PSD e CDS conhecerem copiosa derrota nas autárquicas, já a melhor amiga do atual primeiro-ministro estará à beira de também passar à reforma.
Nessa altura já, intramuros, terá estalado a crescente revolta popular, que obrigará o inquilino de Belém a sair da sua ruminante passividade e a abrir espaço para um novo ciclo político.
Com o CDS a querer limitar os danos de ter pertencido a uma coligação, que o terá obrigado a renegar quase tudo quanto prometera a pensionistas, a reformados, a militares, a contribuintes e a feirantes, a queda do governo será uma questão de semanas.
Haverá então quem inste Cavaco a nomear um governo tecnocrático, que salvaguarde para os poucos que beneficiaram grandemente com as políticas decorrentes do memorando da troika as medidas mais regressivas em relação à herança recebida da revolução de abril.
E haverá também quem queira eleições, sobretudo se elas reduzirem a direita à sua mínima expressão histórica e o PS persistir neste discurso pleno de ambiguidades, tão próprio de António José Seguro, mas que o distarão da maioria absoluta.
Em 2013 será, pois provável, que os militantes socialistas venham a confrontar-se com este dilema: perante a necessidade de tomar as rédeas ao país, com quem convirá fazê-lo? Com esta direita, que se revela autista em relação à incapacidade de ver como inviáveis as soluções propostas por um neoliberalismo, que se revelou tão fraudulento nos seus “sucessos”, quanto os propalados em tempos pelos defensores do comunismo tal qual era aplicado nos antigos países de leste? Ou com uma esquerda moderna, hoje representada pelo Bloco de Esquerda e capaz de entrar em processo de syrização se o PS persistir na via da sua inevitável pasokização?
Tenho por mim, que haverá todas as vantagens em não fechar portas ao diálogo à esquerda do Partido Socialista.
O sentido de responsabilidade do PS perante o desafio histórico, que não tardará a bater-lhe à porta, deverá levar os seus militantes a evitarem discursos sectários, a deixarem de remoer ofensas passadas ou a rejeitarem acéfalos comportamentos clubistas.
Os próximos tempos exigirão que o PS lidere as energias mais dinâmicas dos portugueses no sentido de impulsionar uma outra política. E esse esforço não poderá ser levado por diante senão num grande esforço frentista com quem pretenda um país mais justo e orientado para uma redistribuição equitativa dos rendimentos de uma economia novamente em crescimento...
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